MENUDOS QUEREM SER "MÚSICOS"
SEM "CAIR NO BATENTE"

O recente fenômeno dos novos menudos, composto por Backstreet Boys, N'Sync, Five, Westlife, Boyzone e milhares de outros que surgiram ou desapareceram na virada dos anos 90 para o século XXI, incomoda não apenas pelo vazio artístico desses grupos de cantores.

O que causa mais indignação é que tais agrupamentos são agora denominados de "bandas", mesmo quando seus integrantes, meros cantores e dançarinos, não tocam um instrumento sequer. É até constrangedor ver, nos documentários das supostas "boys bands", cada integrante do N'Sync, Backstreet Boys ou similares dedilhar um violão ou teclar um piano da maneira que um leigo toca esses instrumentos. Parecem até bebês diante de instrumentos musicais. E olha que Wolfgang Amadeus Mozart, quando criancinha, era exímio pianista.

Todo mundo que conhece bem música sabe que o termo "banda", segundo os dicionários e enciclopédias mais conceituados, é um substantivo coletivo referente a músicos. É um coletivo de músicos, assim como "multidão" é um coletivo de pessoas. Mas a burrice da mídia atual faz com que qualquer amontoado de idiotas seja uma "banda", e aí haja pedantismo, vide o caso do grupo brasileiro 6L6, apadrinhado pelo compositor brega Michael Sullivan, cujos integrantes, que nem sequer compõem, citavam jargões do universo instrumentista, como "acordes", numa entrevista ao programa "Vídeo Show" da Rede Globo de Televisão.

Isso tudo ofende a classe dos músicos, porque um músico de grande talento sempre passa por muito sacrifício para atingir sua competência. Um músico que leva tempos desenvolvendo coodenação motora no uso dos instrumentos - um iniciante de violão, por exemplo, sente os dedos das mãos e os braços doerem para executar um acorde - , não pode dar lugar a um reles cantor e dançarino que, sem o menor conhecimento de música, nem mesmo de canto, hoje por uma coreografia compartilhada com os colegas em turnês movidas a playback já é considerado "músico", e seu grupo, como "banda". Desrespeito pior do que esse não há.

Um músico verdadeiro trabalha, se sacrifica, incomoda vizinhos e parentes, às vezes chega a perder namorada ou esposa por causa do violão, tudo para mostrar o que ele pode fazer pela música. Tantos jovens sonham em formar bandas, usando as próprias mesadas para comprar instrumentos e cancelando suas atividades de lazer para comporem e fazerem ensaios. Se ausentam ou até mesmo abandonam as aulas por causa de ensaios, composições e concertos. Enfim, ser músico não é tarefa fácil.

O pior disso tudo é que essa idéia equivocada de "banda" se origina dos "esclarecidos" EUA. Até um programa de tevê, dedicado aos novos menudos, se chama "Making the band". Este hábito terrível, além de desestimular os jovens a aprender a tocar instrumentos e compor, pode causar muito prejuízo para professores e profissionais da música, reduzindo o trabalho de instrumentistas a meros músicos de apoio e de bastidores, que estão sujeitos a ter seu reconhecimento ignorado, enquanto o prestígio sempre acaba caindo aos meros dançarinos cantantes, marionetes de empresários artísticos e integrantes dessas supostas "boys bands".

 

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