O marketing da número 1
De volta ao MorumbiFashion, Gisele Bündchen é celebrada por saber vender sua imagem, capitalizar com namoros, caretas e beijos em meninos de rua

Ela nem sequer estava em cima de uma passarela. Muito menos dentro de um estúdio fotográfico. Mas Gisele Bündchen soube vender seu peixe. O cenário era o Teatro Municipal de São Paulo. A superestrela brasileira, modelo nº 1 do mundo, esteve lá, na segunda-feira 26, para receber o prêmio de modelo do ano de 1999, oferecido pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT). Enquanto aguardava o anúncio de seu nome, percebeu que um menino de rua lhe acenava do lado de fora de uma das janelas da sala, onde ela e uma penca de entendidos da moda permaneciam. Prontamente, Gisele se levantou de uma cadeira, furou o cerco de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos e se aproximou da janela:

— Oi, como você se chama?, perguntou ao menino de 13 anos.
— Marcelo Alves. E você, tia?, devolveu-lhe o menor.
— Gisele. O que você quer?
— Dinheiro.
— Estou saindo daqui já, já, e encontro com você aí fora.

O menino arregalou os olhos como se não acreditasse que aquela fascinante mulher perseguida por fotógrafos fosse lhe descolar um trocado. Reação parecida teve quem testemunhou.

E não é que meia hora depois Gisele, de 19 anos e dona de um faturamento anual de US$ 5 milhões, deixava o teatro à procura de Marcelo pelas ruas do centro de São Paulo? Foi um show à parte. A disputa pelo melhor ângulo travada pelos cinegrafistas, a quantidade de flashes espocando e o empurra-empurra dos repórteres, deixaram bem claro que, espontaneamente ou não, Gisele produziu uma cena. O menino Marcelo, que estava acompanhado do colega Carlos Daniel, 12 anos, foi cumprimentado com um beijo e logo pediu R$ 10 de esmola. Gisele não tinha. Tentou algum trocado com sua empresária, Mônica Monteiro, que também estava sem um centavo no bolso. Marcelo acabou ganhando algumas balas e Gisele, mais um pouco de divulgação.

Tem sido assim desde que o mundo da moda a colocou no topo. “Gisele convence todo mundo. É uma business woman”, diz Mônica, sua empresária. “Seu diferencial é que ela sabe quanto sua imagem vale. Por que ela é mais cara? Porque todo mundo quer fotografá-la. É a mídia espontânea. Ela vende e percebeu isso muito rápido.”

Vende mesmo. Mônica contou à Gente que Gisele recebeu convites para estrelar um seriado na Rede Globo e para atuar num filme nacional. “Ela até já pensou em ter um programa jovem na tevê”, afirma. Na tarde seguinte ao seu primeiro encontro com os meninos de rua, Gisele retornou à porta do Municipal, sem que a imprensa soubesse. Prometera realizar um sonho de Marcelo e Carlos. E assim foi feito: a modelo os colocou dentro de um Ômega blindado e por duas horas comprou presentes, roupas e alimentos para eles. Ao serem informados de que Gisele era considerada uma das mulheres mais lindas do mundo, eles disseram: “É mesmo? Mais do que a Carla Perez?”

Há quem duvide de tamanha generosidade dos atos de Gisele. John Casablancas, criador da Elite, agência que lançou Gisele, diz ter certeza de que “não passa de fachada essa imagem simpática e humilde” da modelo. “Ela é uma jogadora de xadrez, que faz um esforço para ser amada por todos e conquistar as pessoas. É insegura, inquieta, uma relações públicas e marqueteira profissional. É 50% de marketing e o restante de talento.” Verdade é que Gisele sempre foi ambiciosa, o que não é crime, mas um traço de sua personalidade. O gaúcho Dilson Stein, que ministra cursos de modelo e trouxe Gisele do Sul para ser apresentada para a Elite, em São Paulo, lembra de uma história curiosa: “Quando voltávamos de ônibus para casa ela disse que iria fazer sucesso, ganhar muito dinheiro e que, em primeiro lugar, compraria um cavalo. Aconteceu desse jeito”.