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Belezas de Oxum

No meio da oração ela surgiu radiante e esplendorosa. Suas roupas douradas
lembravam-me o nascer do Astro Rei. Sim, a Mamãezinha do Amor passou por
aqui e me convidou a dançar junto dela.

Em sua dança cadenciada, o ritmo e o axé do belo fluir dos rios. Em seu
canto, a beleza que não se entende, mas se sente, aos pés de uma cachoeira.
E então, meu coração expandiu-se na vibração dessa Mãe e a rosa da compaixão
desabrochou.

Compaixão pelo mundo. Os homens e mulheres não sabem, mas Oxum canta e dança
o tempo todo, e é por isso que a vida é tão cheia de encantos. Ela é a
senhora da beleza e da formosura, do carinho e do alento, da felicidade
íntima. Ah, se a humanidade visse, mesmo que uma única vez, as belezas de
Oxum, tudo mudaria. Pois as ondas de amor que brotam dessa Mãe, tudo pode
mudar...

Menina doce, que anima os brilhos dos olhos das crianças. Chama dourada, que
infla o amor entre os casais. Mãezinha boa, que chora as dores de seus
filhos e por eles enche de rosas os caminhos...

Em seu corpo, vejo o bálsamo para as dores do mundo. Em seus olhos, a
esperança do nascer de um novo dia. Em seu abebê, o símbolo de seu poder. Em
suas jóias e brincos, toda beleza do Universo. Em seu coração, o amor que
dissolve os mais pesados climas de ódio e vingança. Em sua boca, o canto da
paz espiritual de Oxalá.

Aspecto amoroso da Mãe Divina, aspecto que concebe. Útero gestador do
cosmos, eterna dança criadora. Encontro entre o macho-fêmea que procria.

Mãezinha Cinda, que flui nas águas doces do planeta. Mãezinha do ouro
espiritual. Senhora dos tesouros imperecíveis do espírito. Menina do pingo
d'água que refresca a alma. Belezas de Oxum...

Ah, tantas são suas qualidades e mistérios, que meus olhos não podem a tudo
contemplar. Assim como a linha do horizonte, e a imensidão do firmamento, Tu
És infinita em Si. Quantos mundos residem em Teu ventre, Mãe? Quantas vidas
a testemunhar-se dos teus olhos? Quantas estrelas ainda brotarão de Teus
belos lábios?

Cada palavra de Olorum faz surgir um Orixá. E foi em um canto misericordioso
e bondoso que o Pai-Mãe da Criação manifestou-Te. Desse dia, pouco se sabe,
mas o coração do poeta sente, que então o primeiro sorriso foi dado e as
belas palavras de amor surgiram.

A poesia estava inventada e a música finalmente seria tocada. Juras de
carinho eterno cobririam o mundo e a singela voz de um colibri a todos
encantaria. Pois é Ela, Oxum, quem inspira a linguagem do coração. E apenas
por Ela, tudo isso pode existir...

Aye yê eram as palavras que os antigos yorubanos utilizavam para saudar-Te.
Foram as pretas-velhas quem preservaram e trouxeram a tradição. Foram as
Caboclas que levaram sua presença a todos os templos. Foram as Pomba-giras
que nos ensinaram seus mistérios. E foi na linha das crianças, que a mais
bela de suas flores desabrochou.

Ah, Mamãe do manto dourado... Cobre de bênçãos esse planeta! Nem todos ainda
Te conhecem, mas Tu, ó bela Cinda, residi em todos. Nem todos Te amam, mas
Tu, Ó Oxum, a todos ama. Nem todos Te prestam culto, mas Tu, Ó Apará,
protege todos que tem coração puro. E é por isso que os animais te amam, e
as flores e árvores prestam-lhe culto no silêncio. Nem todos podem escutar
seu canto, ó Mãe, mas o planeta escuta e por ele continua a viver.

Cinda, Oxum, Menina ou Mamãe... Nascida das juras de amor que Olorum fez à
Criação. Por favor, nunca deixe de encantar e cobrir essa Terra de Orixá,
com a sagrada benção de suas belezas...

Ayeyê, Mamãe...
Ayeyê, Oxum!