“Posso voltar a andar”
Jovem de Cambeses ficou tetraplégico depois de um mergulho numa praia do Algarve
28-2-2007


Uma cirurgia pode restituir a Abílio Moreira a vida que tinha antes de Setembro de 2002.

O rasgar de uma onda num local de pouca profundidade mudou para sempre a vida de Abílio Moreira. Um mergulho, em Setembro de 2002, ditou que ficasse tetraplégico e agarrado a uma cama. Desde então começou a lutar por pequenas grandes coisas, como o recuperar de movimento de um dedo. De Lisboa surgiu a oportunidade de poder ter uma vida normal: uma cirurgia que lhe pode restituir o andar. Os custos da cirurgia são elevado e por isso Abílio Moreira pede ajuda.
“Estava a passar férias, com a minha namorada, em Albufeira, quando tudo aconteceu. Estávamos em Setembro de 2002 e fui dar um mergulho, ou melhor, rasgar uma onda como se costuma dizer. Só que em determinadas praias a profundidade da água é reduzida e eu não dei conta disso”, começou por recordar, Abílio Moreira, o trágico momento que lhe ditou a sentença de ficar retido numa cama. “Lembro-me de ter entrado na onda e de repente chocar com o fundo. Senti uma dor lancinante e fiquei ali no fundo”. Um amigo que seguiu o percurso de Abílio Moreira apercebeu-se que alguma coisa não tinha corrido bem e correu em auxílio. “Esse meu amigo veio ter comigo e retirou-me do mar, arrastando-me pelas costas. Estive debaixo de água cerca de trinta segundos, não tendo desta forma sentido a sensação de me estar a afogar”.
Abílio Moreira afirmou à Voz do Minho que assim que foi arrastado para a areia, ouviu os comentários das pessoas a sublinhar que se tratava de algo muito grave. “E não se enganaram. Fui levado para o hospital no Algarve e fui depois transferido para Lisboa onde estive quatro meses e meio. Nunca tinha ouvido em falar em tetraplegia e só então tive noção do que me tinha acontecido. Não sentia nada e não conseguia sequer respirar”. Depois de ter conseguido recuperar a funcionalidade dos órgãos vitais Abílio Moreira passou para a etapa de reaver a sensibilidade nas mãos para poder conduzir a cadeira eléctrica. “Fui fazer essa recuperação em Alcoitão e lá conheci muitos jovens na mesma situação e fui aí que também tive conhecimento de um neurocirurgião português que faz cirurgias que nos podem devolver o andar. Ainda considero isso inacreditável”.

Cirurgia pode devolver o andar

Trata-se do neurocirurgião António Reis que trabalha no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa em Lisboa.
Abílio Moreira começou por ir às consultas do clínico tendo sido já operado à questão de três semanas. “Desde o dia que tomei conhecimento desta possibilidade que desenvolvi esforços para chegar ao tal médico e não esperava que ele me quisesse operar quase logo. Fui operado e confesso que já sinto melhoras”.
Apesar de muito tentador Abílio Moreira debateu-se com o problema de não ter meios financeiros para a cirurgia. A mãe, confessou, adiantou logo a hipótese de vender ou hipotecar a casa. Uma solução que não agradou a Abílio que conseguiu arranjar parte do dinheiro junto de um tio. “Ele emprestou-me todo o dinheiro que tinha juntado durante toda a vida de imigrante. È que estamos a falar de uma operação que custou 23 mil euros. Eu não tenho esse dinheiro e por isso só peço, agora ajuda, nesse sentido”, desabafou.
Para o efeito está já aberta uma conta na Caixa de Crédito Agrícola de Nine com o NIB: 004512824021008193077.

Amor à distância

Em Setembro de 2002 Abílio Moreira namorava com uma jovem francesa que o acompanhou durante o primeiro ano após a tragédia. Abílio Moreira confessou à Voz do Minho compreender a situação. “Ela acompanhou-me naquele período mais crítico e depois como não tinha meios e posses para a sustentar cá acabou por regressar a França. É compreensível ela tinha que seguir a vida dela porque eu nada posso fazer”.
Mas mesmo assim confessa que ainda se mantêm em contacto e, Abílio Moreira, não põe de lado a hipótese de ficarem juntos. “Tenho ainda esperança de poder fazer com que ela regresse e fique aqui comigo ou mesmo o contrário de ser eu a ir viver para França. Nós mantivemo-nos sempre em contacto e como tal acredito que ainda sejamos namorados. Tenho ainda esperança que ainda possamos ficar juntos”, desabafou.

Paraplégico e Tetraplégico

A diferença entre um paraplégico e um tetraplégico nem sempre é do conhecimento geral. O paraplégico é, em termos simples, aquele deficiente cuja medula é lesionada a nível lombar ou torácico. Ele perde a coordenação motora assim como a sensibilidade das pernas. No entanto um paraplégico mantém o controle do tronco e movimentos assim como força dos braços e mãos.

Um paraplégico pode conduzir sozinho, a cadeira de rodas assim como transpor obstáculos, fazer transferências cama-cadeira-carro e vice-versa, para além de conseguir praticar a maioria dos desportos adaptados, assim como todas as outras actividades de vida diária o que lhe permite uma vida quase que totalmente independente.

Um tetraplégico, no entanto, é aquele que lesiona a medula a nível cervical – pescoço – e perde a mobilidade de quase todo o corpo, sendo, portanto, dependente de outras pessoas para tarefas simples como tomar banho, alimentar-se, evacuar, fazer transferências e todo e qualquer tipo de actividades físicas.
Resumindo o tetraplégico é totalmente dependente de outros para sobreviver.

Susana Caravana in A Voz do Minho
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