Breve histórico dos "Caminhos do Mar"

Desde que pisaram o solo brasileiro, os colonizadores portugueses, para ocuparem a terra e se deslocarem, se aproveitaram das inúmeras trilhas abertas pelos índios por todo o território. À medida que a colônia se desenvolveu, as estreitas e perigosas trilhas se transformaram em caminhos que permitiam a passagem de animais de carga. Por fim, vieram as ferrovias e as modernas rodovias que conhecemos hoje.

A seguir apresentamos um breve histórico das principais vias que, vencendo a majestosa barreira da Serra do Mar, permitiram os deslocamentos entre São Paulo e a Baixada Santista.

Os portugueses, inicialmente fixados na faixa costeira, começaram a subir a Serra do Mar, contando para isso com as trilhas indígenas então existentes que ligavam com a costa as aldeias do interior. A Trilha dos Goianases, mais tarde Caminho de Piassagüera, foi o caminho mais antigo usado pelos colonizadores até o Planalto de Piratininga. Por ali passaram os pioneiros João Ramalho e Martim Affonso de Souza. Muito antes da chegada dos lusos, o caminho foi aberto pelos índios tupiniquins que desciam ao litoral para pescar. A trilha passava pelo vale do rio Ururaí, atual rio Moji. Por atravessar terras dos índios tamoios, inimigos dos portugueses, o caminho tornou-se perigoso. Seu traçado foi aproveitado na implantação da primeira linha da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, construída pelos ingleses entre 1896 e 1901.

·         Caminho do Padre José de Anchieta (mais informações)

Em razão dos perigos do Caminho dos Tupiniquins, foi aberta uma nova trilha que subia pela Serra de Paranapiacaba (Serra de Cubatão) a oeste do rio Perequê até encontrar o rio Grande, já no planalto. A partir dali podia-se continuar em embarcações pelos rios Jurubatuba (Pinheiros), Anhembi (Tietê) e Tamanduateí, que corria junto ao morro do Colégio, ou então tomar a direção do Ipiranga, convergindo depois para a região do Colégio. O trajeto desde Santos era de aproximadamente 60 a 70 km.

·         Calçada do Lorena (mais informações)

As péssimas condições do Caminho do Padre José de Anchieta inviabilizavam o transporte do açúcar até o porto de Santos. Assim, entre 1790 e 1792, foi construído um novo caminho, calçado, por ordem do governador Bernardo José Maria de Lorena. Esse caminho continuou se chamando Caminho do Mar, ficando conhecido por Calçada do Lorena só a partir do início do séc.20. No trecho da planície, não houve muitas mudanças. A subida da serra após a travessia do rio Cubatão era feita pelo vale do rio das Pedras, passando em áreas atualmente pertencentes à Petrobrás, à EMAE e ao Parque Estadual da Serra do Mar, no município de Cubatão. O trajeto totalizava ± 50 km, reduzindo em de mais de 20% o percurso entre São Paulo e Santos. Além disso, a Calçada do Lorena era muito menos íngreme.

·         Estrada da Maioridade / Estrada do Vergueiro

O Caminho do Mar, com o passar dos anos, ganhou movimento e alguns melhoramentos. Já no Império, uma lei autorizou a existência nas estradas de barreiras em que era cobrada uma espécie de pedágio, devendo os recursos serem aplicados na manutenção da própria via. Aproveitando-se dessa lei, em 1837 o governador de São Paulo, Brigadeiro Tobias, deu início à abertura de uma nova estrada para Santos, utilizando alguns trechos do Caminho do Mar. A obra foi concluída em 1844, e o novo caminho recebeu o nome de Estrada da Maioridade, em honra da proclamação antecipada da maioridade do imperador D. Pedro II (1840). O memorialista Vieira Bueno desceu a Santos, na época, pela Calçada do Lorena, isto é, antes da abertura da estrada, e voltou depois pelo novo caminho. Ele deixou o seguinte registro: "Quando por alguma abertura avistava algum trecho da calçada da estrada velha, parecia-me um paredão a pique, tão íngreme era ela". Com o fim da lei da "Renda da Barreira", a estrada foi abandonada até 1905, pois começou a sofrer a concorrência da linha férrea, inaugurada em 1867. Em 1913, a estrada comerçou a ser recuperada, e, em 1920, foi criada por Rudge Ramos a "Sociedade Caminho do Mar", que reconstruiu a estrada e restabeleceu o pedágio.

·         Estrada Velha de Santos (SP-148)

Em 1922, o presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís, decidiu pavimentar em concreto o trecho mais íngreme da estrada. Visando ressaltar a importância não apenas das obras mas também do caráter histórico dos caminhos da serra tanto para São Paulo como para o litoral, Washington Luís determinou a construção de um conjunto de monumentos ao longo da nova estrada. Assim, surgiram o Pouso Circular, o Rancho da Maioridade, o Padrão do Lorena, o Pouso de Paranapiacaba, o Belvedere e o Cruzeiro Quinhentista, todos existentes até os dias de hoje. Em 1923, o governo do Estado adquiriu a "Sociedade Caminho do Mar" e abriu a estrada ao público, cessando a cobrança de pedágio. Alguns anos mais tarde, em 1928, parte do trecho entre Santos e Cubatão foi asfaltado e já se começava a discutir a construção de uma nova via. Atualmente, o Caminho do Mar ou Estrada Velha de Santos está fechado à circulação entre os quilômetros 43 e 53, em razão dos desabamentos decorrentes das chuvas de 1992. O governo do Estado realiza obras de recuperação, mas tudo indica que será apenas uma rodovia para fins turísticos e escolares.

·         Rodovia Anchieta (SP-150)

No ano de 1929, a Câmara dos Deputados de São Paulo, hoje Assembléia Legislativa, concedeu o direito de construção de uma nova estrada entre São Paulo e Santos a particulares. Mas a grave crise mundial daquele ano impediu a obtenção dos financiamentos para a obra. A construção foi autorizada em 1934, mas só teve início em 1939. Foram utilizadas técnicas de alto padrão, de forma que as autoridades do Estado Novo de Getúlio Vargas consideraram a obra de alto custo e desnecessária. Em 1940, com a terraplenagem de apenas 10 dos 56 km concluída, os trabalhos na Via Anchieta tiveram seu ritmo prejudicado em função da Segunda Guerra Mundial. A inauguração da pista ascendente deu-se em 1947 e a da pista descendente em 1953. A Rodovia Anchieta, com 58 viadutos, 18 pontes e 5 túneis, veio a incrementar o crescimento do porto de Santos e da Baixada Santista e constitiu-se num dos mais importantes corredores de exportação do país.

·         Rodovia dos Imigrantes (SP-160)

 

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