História dos RRs
Incluindo:
O Que Nunca Contaram...


A História dos RRs é:

"... uma história tão velha e intrigante como as Ruinas de Zimbabué..."

Palavras de Mylda Arsenis, especialista internacional em RRs.

Citado por: Sian Hall, especialista internacional em RRs e Cães da África.


“Todo O Conhecimento, A Totalidade De Todas As Questões E Respostas,
Estão Contidas No Cão.”

Franz Kafka (1922): Investigações de um Cão


Resumo

Para compreender a essência da natureza dos RRs é necessário conhecer o que é práticamente desconhecido: a história do Cão Africano que forneceu os Genes da Crista Dorsal. Segundo os relatos dos Europeios envolvidos na invenção da Raça RR, o Cão dos KhoiKhois ou Khois (Cão Khoi) foi quem contribuiu para tal caraterística inigualável. Por isso, parece importante entender quem eram os Khois. Entendendo os Khois é possível entender ou extrapolar quem eram seus cães, como viviam, o que é que eles comiam, etc. A história contada abaixo é bem diferente ao que o leitor pode encontrar na maioria das páginas de internet dedicados à raça RR. Acreditamos que é necessário esclarecer que, a pesar to título dos RRs conter o termo Rhodesian (que quer dizer da Rodésia), o RR é a raça nacional do país chamado África do Sul, já que na realidade foi nesse país onde foi desenvolvida a raça. Foi Rodésia o país onde foram realizadas as tarefas administrativas que levaram ao sucedido reconhecimento da raça. Na época, Rodésia estava formada por várias regiões. O que hoje é Zimbabué, era Rodésia do Sul. Junto a Rodésia do Norte (hoje Zambia) e Nyasaland (hoje Malawi), os três países formavam a Federação Central Africana (criada por Inglaterra). [ Observação: Usamos o termo África do Sul para indicar o país e o termo Sul da África para indicar a região geográfica. Temos detectado confusão em algumas traduções que usam esses dois termos. Essa confusão parecer ser criada pelas palavras em Inglês: South Africa (o país) e South of Africa (região geográfica) ].


A L E R T A ! Em toda a literatura da época da invenção da Raça RR, os Khois são chamados de Hottentots, uma palavra que quer dizer gagejeador em Holandês e Afrikaans. Os Khois eram considerados quase bestas pelos colonos brancos e usavam a palavra Hottentot para satirizar e denigrar tanto a esse grupo Africano como as pessoas brancas alvos de ataque. Os Khois foram o grupo étnico mais discriminado pelos colonos Europeios. Foi com os Khois que começou a Ciência das Raças (i.e. racismo existia mas não cientificado). Para mais informação, veja Hudson (2004). A mensagem para levar à casa é a seguinte: Não caia no erro da maioria... Evite usar a palavra Hottentot pois demonstra ignorância e insulta aos Africanos e seus descendentes.


A Era Pré-RR


Abaixo damos informação do Learner Channel e de fontes populares de RRs.

10.000 AC: Por milhares de anos, o Sul da África estava ocupado por grupos étnicos, chamados coletivamente San, que caçavam e coletavam da natureza. Murais do Antigo Egipto, de 7000 anos atrás, sugerem cães cristados. As primeiras imagens de Cães Africanos são dos homes San ou Bushmen (homes do mato). Essas pinturas rupestres datam de milhares de anos atrás.

Desenho numa caverna perto de Rusape



Os cães Africanis de hoje descendem de cães existentes hà quase 10.000 anos.

Os cães I-Nqeqe e I-Makudos grupos Xhosa e Zulu (respectivamente), parecem ser Africanis mas são mais robustos, tem orelhas semi-caídas e cauda enrolada. Frequentemente eles mostram uma Crista Dorsal e são bem parecidos com os desenhos coloniais dos Cães Khoi.

Alguns autores acreditam que o uso do termo Africanis (que inclui o Cão Khoi) é incorreto porque desconsidera a variabilidade genética entre diversos grupos de cães da África.

100 AC: Os Khois e muitos grupos Bantús começaram a migrar para o que hoje é África do Sul, levando com eles as tecnologias do ferro e da agropecuaria. Essa migração foi forçando ao povo San a migrar mais para o Sul. No entanto, houve integração parcial entre esses grupos étnicos.



Desenhos da Época Colonial dos Khois e Seus Cães Cristados
Imagens de Mieliestronk , Tabikiana e Sealous.

1652: O primeiro asentamento Holandês é estabelecido no Cabo de Boa Esperança. O assentamento operava como uma estação de provisos para os naus da Dutch East India Company. Inicialmente, os Holandeses planejavam manter um asentamento pequeno e usar o comercio para obter alimentos da população indígena. Quando ficou evidente que os indígenas não estavam interessados no comércio, os Holandeses começam a trabalhar a terra, importando escravos Asiáticos e Africanos para realizar o trabalho necessário. Esses colonos foram conhecido como Boers, a palavra Holandesa para fazendeiro.

1659-77: Guerras entre os Khois e os Holandeses terminam com os Holandeses conquistando as terras de pasto do gado dos Khois.

1700: Em resposta à expansão Europeia (primeiro pelos Holandeses e depois pelos Franceses), a maioria dos grupos Sans e alguns grupos Khois procuraram paz e tranquilidade. Por isso, eles migraram para o Norte onde encontraram regiões inacessíveis e áridas. Casamentos entre os Europeios e os Khois resultou no que a África do Sul rotulou população Colorida.

1730: Epidemias repetidas de varíola mataram a maioria dos Khois e destruiram sua economia agropecuaria. Os colonos Europeios se expandiram ainda mais para satisfazer suas necessidades agropecuarias. Os títulos de terra foram vagos ou não-existentes já que os Khois restantes e os pecuaristas brancos migraram com cada estação na procura de terras de pasto.

1750: Os Boers se deslocam para o leste em áreas ocupadas pelos Xhosas, um povo de lingua Bantú. Os Xhosas estiveram nessas áreas por mais de 250 anos.

1805: Na segunda parte do século XVIII, e na maior parte do século XIX, muitas guerras ocurreram entre os Europeios e os Xhosas. O resultado dessas guerras foi mais conquistas de terras pelos Holandeses.

1806: Como resultado das guerras na Europa, os Británicos toman (permanentemente) dos Holandeses a província do Cabo e começam ativamente a estimular a immigração dos Ingleses.

1818: O grande líder militar Shaka unifica o Reino Zulu usando técnicas de combate novas e revolucionarias. Grande número de pessoas migram para escapar as guerras. Os Ndebeles se deslocam para o que hoje é Zimbabwe, os Sothos para Zambia, e os Nguni para Zambia, Malawi e Tanzania. Os Mflengu escapam para o oeste na colonia Británica do Cabo.

1834: Numa migração que é conhecida como A Grande Viagem Longa e Difícil, 12.000 Boers escapam da Provinça do Cabo (sob controle Británico), viajando leste e norte. A medida que se deslocam além do Río Orange (Laranja), os Boers lutam com os residentes povos negros. Grandes batalhas tem lugar com os Zulus e Ndelebeles. Os Boers estabelecem as repúblicas independentes de Natal, o Estado Livre de Laranja ou Orange Free State, e o Transvaal. Os Boers colocam aos negros Africanos em reservas dentro desses estados, onde eles moram separadamente dos colonos brancos, mas trabalham para eles quando os colonos brancos precissam deles.

Segundo Swart (2003), em 1859 teve lugar o primeiro Dog Show moderno em Newcastle upon Tyne e esteve limitado a 2 raças.

1867-70: Em 1867 foram descobertos diamantes em África do Sul. Em 1870, ouro foi descoberto. A riqueza mineral aumenta grandemente o valor das terras da África do Sul nos olhos das potencias coloniais, resultando em um grande estímulo do desenvolvimento económico. Esse desenvolvimento aumenta a demanda por trabalho barato. A maioria da população negra é forçada a abandonar a agropecuaria familiar.

Segundo Swart (2003), em 1870 teve lugar um Show muito maior em Crystal Palace. Em 1873 esse Show admitiu 975 cães. Hoje, o maior Dog Show, Crufts, atri 20.000 cães, classificados em 166 raças.


A Era RR


Os primeiros colonos levaram com eles varias raças de cães Europeios dos tipos Bloodhound (para caça), Mastín (para guarda) e muitos outros como o Vuilbaard (Cão de Barba Suja ou Bouvier des Flandres). Com o tempo, essas e outras raças (alguns citam até 7 raças diferentes) foram cruzadas com os cães nativos de crista dorsal (cães Khois). Uma das primeiras documentações dos cães cristados estava num desenho do livro de Livingstone de 1875: Missionay Travels in South Africa.

Em 1879, o Reverendo Charles Daniel Helm levou 2 cadelas de crista dorsal a sua casa em Rodésia. A missão que ele chefiava era um local visitado por caçadores brancos de grandes animais africanos. O supracitado artigo de Sian Hall fornece prova de que essas cadelas tinham crista. Específicamente, Jessie Lovemore, filha do Reverendo Helm, escreveu:

"En 1875 meus pais viajaram por vagão desde Swellendam a Bulawayo. Durante a viagem, alguem lhes deu um par de cães com uma crista nas costas de cada um deles. Lembro que, cuando eu era criança, eu tinha esses cães e que, algum tempo depois, quando o Senhor Van Rooyen ia em suas viagens de caça, que ele emprestava alguns desses cães de nós e que ele achou que esses cães eram muito bravos quando caçavam leões e leopardos."

Também em 1879, o Reverendo Helm casou Cornelius van Rooyen (de 19 anos de idade) com Maria Margareta Vermaak (de 14 anos de idade). Van Rooyen era um famoso caçador da época que ficou muito interessado nos cães de Helm e solicitou a esse último permissão para cruzar as duas cadelas de crista dorsal (de Helm) com seus cães de caça. Os resultados desses cruzamentos foram satisfatórios. Por isso, van Rooyen continuou melhorando seus cães, que começaram a ser chamados Cães van Rooyen - muitos dos quais tinham a crista dorsal ou ridgeback. Van Rooyen foi quem nessa época mais desenvolveu e popularizou o RR para propósitos de caça. O Princípio de Seleção que ele usava era: “O cão que sobrevive a caça do leão”. Os melhores cães de van Rooyen eram caraterizados por suas múltiplas feridas e/ou cicatrizes.


Cornelis van Rooijen (Nelis) e seu RR favorito Vlaam
Imagem do livro de Selous (1882)

Em 1897, Francis Richard Barnes (FRB) foi o Secretario e o Fundador do Kennel Clube de Salisbury (Harare, capital de Zimbabué atual). FRB também foi juiz de seu Clube para o Show de Todas-As-Raças. FRB desempenhou um papel fundamental no reconhecimento da raça RR. Essa experiência lhe iria servir para viabilizar o reconhecimento dos RRs como uma nova raça reconhecida internacionalmente.


1899: Entre 1899 e 1902, os Británicos e os Boers lutam a Guerra Boer (também conhecida como a Guerra de África do Sul). Desde os 1870s, Inglaterra aumentou os esforços para controlar as terras e recursos da região Sul da África, lutando contra os Boers, Xhosas e Zulus. Com a victoria Británica, todos os territórios Boer são combinados com os Británicos para formar o país conhecido como União de África do Sul. No começo do século passado, a população da África do Sul com ancestrais Europeios chegava a 1 milhão.

1910: O país conhecido como União da África do Sul torna-se independente. Afrikaaners (descendentes de colonos Holandeses) formam a maioria da população branca dentro de uma nação de maioria negra. Na primeiras eleição nacional, a maioria dos cidadãos negros não é permitida votar. Somente negros, e outros grupos não-brancos, com grandes propriedades dentro a antiga Colonia do Cabo, mantem seus direitos ao voto. Ao longo dos anos, o requisito de ser proprietario de terra para votar fica aumentando a quantidade de terra possuida a medida que cai a abilidade da população negra de possuir terras. Em 1911, o primeiro censo nacional descobre que 21,3% da população de África do Sul é branca. Essa percentagem tem caido constantemente desde então.

Em 1910, FRB foi para Bulawayo onde ele ficou interessado nos Cães da Crista Dorsal.

FRB foi juiz de seu Clube para o Show de Todas-As-Raças.
Foi FRB quem fez com que a raça fosse reconhecida oficialmente.

1913: Com a formação da União de África do Sul, a lei é usada para aumentar a carência de terras tradicionais pelos negros. A Ata das Terras dos Nativos separa uma fração pequena do territorio de África do Sul para os negros. Também proibiu aos negros de alugar terras em intercâmbio pela labor manual.

Em 1915, já em Bulawayo, FRB obteve seu primeiro Cão Cristado de Graham Stacey, dono de uma fazenda perto de Figtree.

No começo do século passado, as caraterísticas dos RRs eram tão esquisitas para os Europeios que em 1920 dois exemplares RRs foram exibidos no Zoológico de Pretória (África do Sul). Note que ainda os RRs não tinham sido reconhecido como raça.

FRB determinou que um Clube fora formado e de que esse Clube implantara um padrão para a raça RR. Em 1922, durante uma reunião informal, o Rhodesian Ridgeback (Lion Dog) Club foi formado. Logo depois, ainda em 1922, os donos de cão leão de Rodésia assistiram uma reunião que estava tendo lugar junto ao Show do Bulawayo Kennel Club. Mais de 25 pessoas assistiram (com ou sem cães) e o padrão foi estabelecido. Nos anos que seguiram, muitos criadores de RRs desempenharam um papel importante no desenvolvimento da raça segundo o padrão aceito. Anos depois, FRB admitiu que antes dessa reunião ele já tinha a idéia de que o padrão dos RR deveria seguir aquele do Dálmata. Crédito deve ser dado a FRB por sua perseverância e grande antecipação por ter formulado o padrão dos RRs, por ter fundado o Parent Club, e por sua tenacidade em ter reconhecidos em 1924 a raça e o Club pela South African Kennel Union (SAKU) agora Kennel Union of Southern Africa (KUSA).

Em 1926, FRB registrou seus 6 cães de crista dorsal.


Esquerda: Stacey e sua matilha. Direita: FRB em Elksdale.


Vernon H. Brisley, Viking Kennel
Tomado de Da Hutchinson’s Dog Encycopaedia (1935).

No inicio do século passado, o Professor Ludvic von Schulmuth, um conceituado cinologista, passou muito tempo na África, estudando a historia dos cães Africanos.

Ele ficou convencido de que o cão dos Khois era uma raça muito antiga e tinha descendido de um animal que não era de raça pura (como é conhecido hoje) mas era parecido com um jacal ou hiena.

Em 1936 ele desenterrou (perto do rio Orange) os restos de vários cães dos Khois. Esses ossos ajudaram formar uma imagem clara do fenôtipo dos cães. Um caso em particular estava tão bem preservado que ele mostrava a crista dorsal, as orelhas erectas, o cranio largo e plano e a cauda peluda. Todas essas eram as carateristicas dos cães dos Khois.

Entre 1930 e 1948 o RR é propagado no Sul da África. Durante a dominação da África pelo Império Británico, a propagação do RR é facilitada porque não tinham fronteiras, porque existia muito empolgamento dos brancos com a raça e porque ter um RR era percevido como um símbolo de distinção pela classe privilegiada, rica e dominante. ( Observação: Não devemos ficar surpresos se ainda encontramos pessoas com essa idéia já que aconteceu e acontece com outras raças ).


1948: O Partido Nacional Afrikaner tomou o poder na África do Sul e intensificou a relocação de negros para asentamentos negros (ghetos) chamados Bantustans. Sob essa política, conhecida como Apartheid, as poucas comunidades agricultoras negras que ainda tinham terras foram destruidas numa operação policial massiva. Esta política continuou por quase 50 anos, com os negros Africanos sofrendo a separação de suas terras e seu congestionamento em pequenas reservas de terras que geralmente não eram adequadas para a agricultura. Como resultado, os negros ficaram ainda mais pobres. Esses negros da África do Sul formaram uma fonte de trabalho barato para as industrias e fazendas dos brancos.


A Era Pós-RR


Diversos fanáticos de RRs seguem os padrões Europeios e Norte-Americanos para o chamado “melhoramento da raça”, esquecendo que o maior fator contribuindo aos RRs foi o fator do Cão Khoi, um cão que se desenvolviu sem intervenção humana. Hoje os RR podem se dividir em RRs de Show/Exposição e RRs de Trabalho. Os primeiros são principalmente desenvolvidos na Europa e América do Norte. Os últimos são principalmente desenvolvidos na África por aqueles que conhecem de perto a História dos RRs.


A Invenção dos RRs


Várias homepages de internet falam da historia dos RRs. Uma forma resumida, em Português, é dada por Wikipedia. A versão em Inglês é mais completa: Wikipedia-Inglês.

É muito raro, mas é possível encontrar RRs com crista até o pescoço ou até a cabeça e até podem ter juba no pescoço (Hall, 2005).

Pelos comentários de alguns visitantes a nosso canil, parece que essas raridades tem sido observada em alguns RRs de Sergipe.

O leitor encontrará o seguinte Mantra (repetição):

“A raça conhecida como RR foi estabelecida em 1922 graças à paxião e determinação do Senhor Francis Richard Barnes.” (FRB).

Entretanto, acreditamos que de nada adianta ter paixão e determinação se não se tem o mais importante: o conhecimento. E isso tinha FRB.

Como descrito acima, já em 1922, FRB era muito experiente na matéria de registrar raças e usou essa experiência para pressionar à FCI e que essa organização reconhece-se aos RRs como raça.


Foto de FRB
(Cortesia do Clube de RR de Zimbawe-antiga Rodésia ou Rhodesia em Inglês)
Esse Clube é conhecido como The Parent Club
ou
O Original, O Primeiro, O Clube de Todos os Clubes

Nossa revisão bibliográfica (de fontes oriundas da África ou familiares com a África) nos faz concluir que, como acontece em todas as histórias que conhecemos, as histórias sempre refleitam aos autores das mesmas e, por tanto, consciente- ou inconscientemente distorcem a realidade.

No caso da história dos RRs, a contribuição dos animais nativos (a dos bravos e valentes Cães Khoi) não é estudada como achamos deveria de ser. Assim, a história dos RRs parece começar somente com a chegada dos brancos Européios à África.

Certo que é importante reconhecer os esforços do colonos brancos ao estabelecimento da raça. Entretanto, é importante conhecer a verdadeira história dos ancestrais Africanos porque eles são o fator decisivo diferencial dos RRs e porque assim podemos entender todos os aspectos do comportamento dos RRs.

Em outras palavras, acreditamos que é um erro (que precisa ser rectificado) concentrar-se somente no padrão físico (i.e. em seguir as dimensões dos RRs) e esquecer o caracter, espíritu, psicologia, resistência física, etc, dos RRs originais (i.e. o conceito original) que ajudou tanto aos caçadores de feras na África. Esse erro é bem ilustrado pela Experiência das Raposas Siberianas feito na Rúsia.

Nós optamos pela última filosofia de criação e pretendemos recapturar essa distinção original dos RRs através da aplicação de conceitos científicos avanzados e atualizados.

Nossa Filosofia coincide com a de aqueles mais experientes com RRs e com África. Para detalhes, clique aqui .

A primeira menção dos Cães Cristados dos Khois foi feita por Kolben em Hawley. Ele escreveu:

“Existe outro tipo de cão domesticado que existia no país no começo e que os Hottentots, aparte de usar-los para caça, também os usavam para proteção, e dos quais os Europeios fazem uso. Eles tem a cabeça pequena e um focinho muito agudo. A pele é cinza. As orelhas são erectas e pontiagudas. No restante, eles tem muito em comúm com outros cães, sendo tratáveis como os cães Europeios. Eles são particularmente fiéis quando seus donos estão em perigro por conta dos leões, lobos e hienas... Por essa ração eles são valorados e procurados pelos Europeios e os Hottentots. Quando os Europeios reconheceram os instintos de caça e proteção do cão Khoi, eles começaram a usa-lhos e a cruza-lhos com varias raças Europeias. Esses cães realizavam essas funções com mínima comida, água e atenção veterinária. Esses cães realizavam esas funções em temperaturas extremas, desde -5 a +35 graus Celsius, em terrenos difícis, duros o rochosos, covertos por espinhos, frequentados por cobras, e insetos parasíticos ou venenosos. Nenhum cão poderia sobrevivir sem as qualidades de resistência física e agilidade.”


Jovens Zulus (de KwaZulu-Natal) caçando com cães tipo Africanis.
Esses cães foram recentemente reconhecidos como raça.
Alguns grupos deles tem muita semelhança com os cães dos Khois, incluindo história e Crista Dorsal.
Fonte: SouthAfrica.info. Guia Oficial e Portal da África do Sul.


Cães de Crista Dorsal são encontrados em muitos locais da África.
Foto de Cão Cristado dos Massai


Cães de Crista Dorsal em Outras Regiões


Existem cães com Crista Dorsal em outros lugares do planeta: na ilha de Phu Quoc (Golfo de Sião – atual Vietname), no Cambodia, no sul da Tailândia (onde são conhecidos como Mha Kon Klab), em Timor (onde são conhecidos como Riscas), na Bahia dos Tigres no Sul de Angola, etc. Nos 3 primeiros casos, as opiniões dividem-se quanto à proveniência desses cães. Alguns opinam de que foram comerciantes Árabes que levaram esses cães. Outros opinam que foram os Holandeses que trabalhavam para a Companhia das Índias (cujos navios iam para o Cabo e Malaca). Outros acreditam que foram os Portugueses porque suas naus, antes de atravessarem o Océano Índico, faziam a última aguada em Moçâmedes (atual Namibia), terra dos Khois. Não pode ser esquecido que muitos antes dos Holandeses já os Portugueses comandavam o Golfo e Reino de Sião e Malaca. Devemos ter em conta ainda que os Portugueses tiveram um tratamento preferencial e que inclusive, deixaram-los estabelecer-se em Ayuntya, antiga capital de Sião. Por isso, não será de estranhar a existência desses cães exatamente onde os Portugueses, antes de todos os outros, fizeram a sua comercialização, sendo que a ilha de Phu Quoc (Vietname), pertencia ao Reino de Sião, um lugar que com certeza era visitado pelas naus Portuguesas que utilizavam cães (muito provavelmente dos Khois dada sua resistência física) para defender as provisões dos ratos.

No que respeita ao cão da Baia dos Tigres da Angola, a situação é totalmente clara.

No principio do século XX ocorreu um surto de raiva na zona de Moçâmedes. Por isso, o governador provincial decretou que todos os cães fossem imediatamente exterminados. No entanto, algumas pessoas revoltadas com tal decreto embarcaram duranta a noite algumas dezenas de cães e rumaram ao Sul. Essas pessoas desembarcaram numa zona inôspita chamada Baia dos Tigres (outrora uma península mas transformada pela natureza em ilha desde 1940). O governador apercebendo-se da situação, manteve o decreto por 5 anos e esta nova situação inviabilizou a recuperação dos cães. Na Baía dos Tigres imperou a Lei da Selva, com imaginárias cenas de autêntico terror e canibalismo entre os cães, dada a falta de alimentos. Só os mais fortes e capazes sobreviveram. Entre eles estavam alguns cães Khois e alguns com eles cruzados (como acontecera também no Cabo quando os Portugueses cruzaram os seus cães com os dos Khois). Por via do fator genéticamente dominante, hoje exitem matilhas de cães selvagens que na sua maioria ostentam na sua pelagem uma ponta de lança no dorso (com a ponta voltada para a cauda). Estes cães alimentam-se de peixe, focas e albatrozes. Eles são excepcionais nadadores, tendo-se adaptado às condições mais duras e adversas de Angola (e talvez do planeta). Estes cães são de uma ferocidade a auto-defesa incríveis, inclusive para se dessendentarem. Em virtude da água potável ser inexistente nessa região, eles bebem as pequenas partículas de água doce que existem no topo das ondas do mar quando arrebentam na beira das praias.

Alguns cinologistas sugerem que o Cão Khoi veio, muitos séculos atrás, da ilha Phu Quoc (Golfo de Sião, Tailandia). Entretanto, a evidencia disponível sugere o contrario. Mil anos atrás, e bem no século XIX, os traficantes de escravos Árabes transportavam seus cargos da África a Asia. Depois, Portugueses e Holandeses velejavam entre África e Ásia. Por isso, é bem provável que essas pessoas levavam com eles esses cães cristados. A ilha de Phu Quoc pode ter servido como ponto de reabastecimento e os cães podem ter sido trocados pelos comerciantes e assim deixados na ilha.

Outra possibilidade é que alguns naus afundaram na costa da ilha e os cães sobreviveram na ilha, resultando no Cão Cristado da Tailândia (o único outro cão de raça reconhecida que tem crista dorsal). Nesse caso, esse cão pode representar o Cão Khoi original.


As 3 Raças da África do Sul


Em seu artigo (ver Bibliografia abaixo), a historiadora, Dra. Sandra Swart, da Universidade de Stellenbosch em África do Sul, discute as 3 raças mais marcantes da Sociedade da África do Sul e da região do Sul da África: (1) os RRs, (2) os Boerboels, e (3) os Africanis. Dada a relevância de seus comentários a nossa Filosofia de Criação de nossos RRs, daremos alguns segmentos desse artigo (original em Inglês). A tradução dada é facilitada para o leigo. Isto é, termos complicados tem sido evitados ou substituídos por outros mais comúns. Aqueles que querem revisar o trabalho completo podem faze-lho visitando a página de Internet dada abaixo na Bibliografia.

O termo Raça é difícil de definir. Uma Raça pode ser interpretada como animais que, através de seleção e criação, tem se tornado parecidos uns com outros e repassam seus caraterísticas uniformemente a seus descendentes. Uma Raça pode definir-se como uma população em equilibrio e diferenciada de outras Raças por conta de sua composição genética. Isto quer dizer que uma Raça é uma população que conforma a seus ancestrais. Assim, um animal de Pura Sangue pertence a uma Raça idenficável que obedece a caraterísticas prescritas: origem, apariência, e um padrão com um mínimo de caraterísticas. Como Lush discutiu (J.L. Lush, The Genetics of Populations, Mimeo, 1948), o termo Raça é elusive e subjetivo. Segundo ele:

Uma Raça é um grupo de animais domésticos, referidos assim por um grupo de criadores que tem um entendimento comúm... Ninguém tem guarantia de oferecer uma definição científica e em dizer que os criadores estão errados quando eles decidem deviar-se do padrão.”

Então, o momento no qual um conjunto de animais é transformado em Raça é puramente commercial/administrativa e não baseada em genética.

Os Zulus rurais reconhecem 3 tipos de cães. Os Ndebeles rurais da região Hwange em Zimbabué reconhecem uma mistura de Raças. É interessante que não existia termo para animais parecidos ao tal de Africanis já que eles eram desconsiderados como simplesmente um cão tipo viralata.

Segue mais adiante a Dra Swart.

Três Raças em Busca de Um Autor

Existem 3 raças de cães no Sul da África: RR, Boerboels e Africanis. A diferência das 2 primeiras Raças, que foram desenvolvidas pelos colonos brancos Europeios, os Africanis (popular nas favelas dos negros) eram considerados viralatas.

Recentemente, ouve uma re-investigação do assunto. Um argumento foi feito de que o Africanis não é um descendente dos cães viralatas dos colonos brancos mas de que ele descende do Lobo Árabe (Canis lupus arabs), de onde vem os cães domésticos do Oriente Medio. Esses cães chegaram ao Sul da África em 1000–1500 AC com comeciantes Árabes e com pastores Bantú e Khoi no início da Era do Ferro.

Em 1497, Vasco De Gama observou que os Sans tinham cães.

Em 1595, Cornelis de Houtman observou que os Khoisans tinham cães.

Entre 1700 e 1800, pessoas que viajavam ao interior comentavam sobre os cães dos diferentes grupos indígenas que eles encontravam.

Em 1811, Burchell descreveu cães dos Sans como uma espécie pequena, completamente branca, com orelhas erectas e sendo uma Raça peculiar desses grupos.

Em 1861, Casalis notou que os Sothos afirmaram que eles tinham cães desde tempo imemorial.

Soga (1905) e Bryant (1967) deram ethnografias dos Xhosas e Zulus (respectively) que oferecem a melhor descrição dos cães indigenas e suas funções sociais. Ambos expressaram sua preocupação com a extinção desses cães.

Mais na frente…

Idéias sobre o Cão Africanis tem muito a ver com a ideologia da reconquista dos valores indígenas e da reconstrução do conhecimento indígena. Na terminologia política atual Sul Africana e Pan-Africana, é uma tentativa de Renascimento para resgatar e restaurar as costumes e conhecimentos antigos esquecidos por causa da colonização pelos Europeios. Esso tem sido promovido pelo Presidente da África do Sul: Thabo Mbeki. Os Cães Africanis estão sendo usados para esse Renascimento porque representa A História do Povo, Sua Herança Cultural. Gallant os chama “Nosso Patrimônio Cultural e Biológico”. Eles estão sendo comercializados como símbolos da importância dos indígenas e simultâneamente promovendo-os e utilizando-os como ferramentas para a auto-estima psico-social – um elemento fundamental do Renascimento Africano.

A propaganda dos criadores dos Africanis é como segue.

“O Africanis é o Cão Africano Real, formado na África para África... Ele é parte da herança cultural e biológica da África... Sua herança data de 7000 anos atrás. O Africanis descende dos cães desenhados nos murais Egipcios. O registro mais antigo de cão doméstico na África é do delta do Nilo e data de 4700 AC. Hoje, o Africanis é visto no subcontinente do Sul da África. O Africanis é conhecido por vários nomes, en diferentes linguas. Por isso é que usamos o nome universal de canis (cão) de África – Africanis.”

Mas é o Africanis um Viralata?

Definitivamente no! O Africanis é o verdadeiro cão da África. O tipo tem sido precisamente definido, apesar de algumas variações em apariência. O Africanis é o resultado de Seleção Natural e da Adaptação Física e Mental a condições ambientais. Eles não tem sido Selecionados ou Criados pelo Homen. É o Cão para África. Em conformidade com a Filosofia Tradicional do Sul da África, o requisito mais importante para um cão é que ele deve ser ‘experto’. Por séculos, os cães mais adaptados e mais sabidos sobreviveram para oferecer uma das poucas raças de cães naturais que restam no mundo.

Contrastando com esse discurso patriotic, a Dra. Swart continua...

Os Cães Afrinais são imaginados e comercializados como criaturas de sangue e terra, um cão muito ligado a seu terreno, parte de seu paisagem aborígene e original, e parte de uma forma de vida tradicional Africana.

No entanto, a raça é comercializada numa forma moderna capitalista na Internet (http://www.sa-breeders.co.za/org/africanis). Ainda mais, a rehabilitação do ‘Cão Kaffir’ (viralata) parece ser, principalmente, um exercício dos brancos, sem apoio da maioria negra. Os colecionadores estão mais interessados nas raças primitivas (vistas como a essência canina) que nas refinadas raças Europeias e Britânicas. As raças primitivas são discutidas como generalistas (que comem qualquer coisa) úteis, independentes, e relativamente livres dos problemas genéticos causados pelos métodos de criação de raças.

Na segunda metade do século XIX, os criadores Britânicos estavam escrevendo padrões de raças e realizando exposições. Quando uma nova raça era proposta, os amantes dessa raça escreviam um padrão baseado na raça que eles possuiam. A medida que a costume espalheu, amadores prominentes ou criadores recolhiam grupos de cães e os caraterizavam num padrão de raça e decretavam o descobrimento de uma raça antiga (o método que usou Francis Richard Barnes para os RRs). Orgulho nacional ou regional frequentemente dictava as menores diferencias que identificavam um raça como pertencente a um país ou a outro.

Assim como os Africanis são usados para o nacionalismo Africano, os Boerboels são usados como símbolos pelos Afrikaans e, óbviamente, na África do Sul são considerados pelos negros como símbolos do Apartheid, do racismo dos brancos contra os negros.

Os RRs são considerados como o ponto medio, como a ponte entre as duas raças, combinando o Europeio com o Africano. Ou seja, os RRs são brancos com um pouquinho de negro.

Um cão é, por tanto, um maço de pelos, dentes, caraterísticas hereditárias, símbolo social e atributos culturais... Em essência, um cão é história social que pode latir.


Bibliografia


Abaixo damos algumas referências de importância.



Bacchini Carr G. (1996)
Rhodesian Ridgeback
Work Dogs – Novembro de 1996



Livingstone D. (2007)
Missionary Travels in South Africa (Adobe PDF)
eBook Mall



Livingstone D. (2005)
Missionary Travels and Researches in South Africa (reprodução)
Amazon



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The Rhodesian Ridgeback Today
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