Entretenimento a bordo:
a diversão levada a sério

Houve um tempo, num passado não muito distante, em que a diversão dentro de um avião se resumia ao serviço de bordo, quando desfilavam pelo corredor diversos carrinhos, capitaneados pelas aeromoças que começavam servindo algumas bebidas, drinks e em seguida o almoço, sobremesas e pequenos lanches entre as refeições principais e, finalmente, o jantar,  num ritual que se repetia por horas a fio. O telão central, exibindo um filme ou documentário, era a outra atração oferecida. Hoje o panorama é bem diferente. Telas individuais nos encostos das poltronas permitem aos passageiros assistir a várias opções de filmes, programas de TV e vídeos diferenciados, além dos vários canais de música para todos os gostos, jogos interativos e opções de conexão para computadores portáteis, sem falar nas revistas específicas e nos principais jornais dos países de saída e de destino.

O leque de alternativas vem sendo ampliado continuamente e cada companhia aérea procura inovar e se esmerar para oferecer o que há de melhor aos passageiros, inclusive aos da classe econômica. A tendência atual é a de deixar o ambiente de bordo cada vez mais parecido com o que o passageiro possui em sua própria casa. Por exemplo, pode-se zapear pela TV para escolher o programa que mais o agrada, ou assistir a  um filme na hora em que deseja com direito a uma pausa para um cochilo para voltar a vê-lo mais tarde. É possível também conectar o computador pessoal para checar e-mails ou fazer algum trabalho, ouvir música, entre outras atividades de lazer.
Edward Couto, gerente de Produto Inflight da Varig, explica que esse processo começou há cerca de 10 anos, seguindo uma tendência internacional. “Inicialmente eram oferecidas opções diferenciadas para os passageiros da primeira classe que, aos poucos, passaram a ser disponibilizadas também para os da classe executiva e, finalmente, para os da econômica”, comenta. Segundo o executivo, atualmente o conceito de bem estar e de conforto a bordo é estendido para todas as classes, mas as companhias sempre acabam oferecendo um algo a mais para a primeira classe e a executiva, justificado pelas diferenças de custo das passagens.
O entretenimento é levado a sério por todas as companhias por ser uma forma de tornar a viagem mais agradável e também de acalmar, de certa forma, aos que têm medo de avião.  Embora cada empresa tenha a sua própria fórmula do que oferecer, algumas práticas são comuns a todas, como a de fazer pesquisas para conhecer o gosto dos passageiros, seu nível de satisfação e desejos para, dessa forma, atender às suas necessidades. Outro cuidado que todas seguem é o de não exibir filmes sobre tragédias (e especialmente de desastres aéreos), ou com conteúdo muito violento ou erótico. Em geral, os filmes exibidos no telão central costumam ser editados (as cenas mais fortes são cortadas), seguindo os critérios estipulados pela Associação Mundial de Companhias Aéreas.
O Cartão de Embarque entrevistou quatro empresas – duas brasileiras e duas estrangeiras – para conhecer mais de perto como lidam com a área de diversão a bordo. Nesta primeira parte da matéria, confira o que a Varig e a Japan Air Lines oferecem para os passageiros. Na segunda parte da matéria, que irá ao ar no final de agosto, o foco estará sobre a Tam e a Lufthansa.

Ao gosto do freguês

Na busca por tornar a viagem o mais agradável possível e, de quebra, apresentar um diferencial em relação à concorrência, cada empresa procura ser o mais original e inovadora possível. A Varig, por exemplo, foi uma das três primeiras companhias no mundo a empregar em seus vôos internacionais a tecnologia On Demand (sob demanda). Com esse recurso, os filmes exibidos nas telas individuais não são baseados em fita, mas sim em hard drive e ficam armazenados nos servidores (computadores)  instalados no avião. No Boeing 777 (com capacidade para 300 passageiros) há um servidor para cada grupo de 75 pessoas. “Com isso, é possível escolher não só um filme ou vídeo, como também o horário em que se deseja vê-lo e até dar uma pausa para fazer outra coisa e voltar ao filme mais tarde”, explica Edward Couto. Atualmente são disponibilizados oito canais com a tecnologia on demand (para áudio e video), devendo passar para 12 em breve. Mas há também opções em DVD. Na rota para Nova York são oferecidas 14 opções de filmes para a primeira classe e nove para as executiva e econômica. Em outras rotas há ainda a Varig TV, exibindo uma compilação dos melhores programas da GloboSat, sitcoms, noticiários (europeus e brasileiros) e a série Bem Estar, trazendo dicas de exercícios e de cuidados com a saúde para proporcionar maior conforto a bordo.
Outro diferencial apresentado pela Varig é a oferta de uma programação musical feita por algumas das melhores emissoras de rádio brasileiras, como a MPB FM e a Fluminense (só toca classic rock), ambas do Rio de Janeiro, e a Rádio Mix FM, de São Paulo, voltada para o público jovem. Essas empresas foram contratadas para dar conta dessa missão, numa iniciativa inovadora da Varig criada no início de 2004. E não parou por aí. Para ouvidos mais exigentes e que gostam de se deliciar com o jazz da mais alta qualidade, a companhia chamou ninguém menos que Ed Motta, dono do maior repertório em vinil do Brasil, para selecionar e apresentar as músicas nesse canal. Já os amantes da música clássica  podem literalmente viajar no repertório selecionado por João Carlos Martins, um dos maiores pianistas brasileiros, reconhecido mundialmente. A programação de rádio é completada pelos canais exclusivos gerados por gravadoras de primeiro time e casas noturnas especializadas como a OO do Rio.
A mais recente novidade está reservada para os vôos a partir de setembro: a apresentação de entrevistas exclusivas realizadas com artistas de renome internacional. Duas delas já estão sendo preparadas.
A primeira será com o guitarrista do Dire Straits,  Mark Knopfler, e a outra, com a brasileira Leny Andrade, uma das maiores cantoras de samba-jazz.

Arte a bordo

A Japan Airlines (JAL) é outra companhia que não deixa a desejar quando o assunto é entretenimento. “Trabalhamos com rotas de longa duração e por isso procuramos oferecer o melhor em termos de diversão para que a viagem seja o menos desgastante possível”, justifica Mieko Otsuki, da área de Vendas da JAL. Além dos filmes escolhidos pela matriz, no Japão, são cuidadosamente selecionados vídeos, jogos e áudio para o público adulto, renovados mensalmente e disponibilizados em monitores individuais, nos encostos das poltronas.
A companhia também se preocupa com o público infantil, oferecendo atividades lúdicas para crianças, como montagem de maquetes de aviões, jogos de quebra-cabeça, origami (dobradura em papel),
réguas para desenhar e baralho.
Há ainda papel para carta e cartões postais, para os que desejam escrever no avião, e até kit costura para os casos de emergência. Os que gostam de jogos eletrônicos encontram uma grande variedade a bordo, incluindo Free Cell, Logjam, Solitaire, Matching Squares, Backgammon, entre outros.
Para os passageiros da primeira e da classe executiva, a JAL oferece serviços diferenciados como mailing service, guia de viagem, pijama (só para a primeira classe), chinelo, máscara para olhos e tampão para ouvidos, assegurando um sono tranqüilo. “Nossos comissários de bordo recebem treinamento na matriz, em Tokyo, para prestar serviços com qualidade. Além dos japoneses, temos também comissários brasileiros que falam inglês e português”, completa Mieko Otsuki.