No meu sonho, a esposa vem de branco. Em câmera lenta como num comercial de xampu. Tem os pés descalços e flores na cabeça.

Eu também estou de branco, calça branca, camisa “largona” com cara de Havaí, flores na...Não, não, tira as flores. Tira os meus óculos também. Miopia não combina com sonho no Caribe. Nem com clima de romance. E por falar em romance, a gente se encontra num abraço ao som de “Unforgettable”. Natalie Cole está cantando no saguão do aeroporto. Eu e a esposa rodopiamos no ar.

Os cabelos dela movem-se lentamente. Se eu tivesse cabelos talvez se movessem também. Ouve-se o espocar do champanhe e um garçom nos oferece duas taças.

O que faz um garçom no meio do saguão do aeroporto, não faço a menor idéia. Mas se Natalie Cole está no saguão, no meu sonho, tudo é possível.

Brindamos eu e ela. Abraço o garçom. Sem óculos, só percebo que é ele porque minha careca roçou em sua barba. Ponho os óculos de volta. Quero ver tudo muito bem.

O sonho já pula para o Caribe. Finalmente, Antigua: uma das mais belas ilhas da região.

Uma “van” nos apanha no aeroporto. O sol brilha. O céu é de um azul profundo. Vejo campos de cana-de-açúcar. Vejo crianças brincando. Vejo o MOTORISTA DIRIGINDO NA CONTRA-MÃO! E DO BANCO DO PASSAGEIRO! PÁRA ESTE SONHO QUE EU QUERO DESCER.

Deixa eu pensar.

Antigua foi colônia inglesa, tão inglesa quanto o chá das cinco que ainda acontece com tempero tropical só para ter o sabor de paraíso. São e salvos, chegamos no hotel. Vista para o mar. A recepcionista é a Sharon Stone. E fala português.

Sei, sei, eu sou casado e bem casado, mas o sonho é meu e ponho aqui quem eu quero. E a Sharon sorri e me diz: “bem-vindo”. Ela me chamou de “bem”!!! “Quarto para casal?”, ela pergunta. “Que casal?” E a esposa me olha feio. A Stone sai. Nós também. Vamos passear pela Ilha. Vamos ao Nelson’s Dockyard, o porto restaurado, testemunho de lutas navais, brigas de piratas e guerras
napoleônicas.

Dali à praia é um pulinho. Para ser exato,  365 pulinhos: o número de praias na ilha. Todas lindas, indescritíveis...

Assim como todo mundo que diz que quando uma coisa é indescritível, tem que descrever, aqui vou eu: às vezes o mar é verde, às vezes azul profundo...Sei lá...A areia....Ah, a areia...Pode ser marrom como na Praia das Cinco Ilhas, ou branca como em Carlisle.

É mesmo um paraíso: de compras, de sol, de deliciosa gastronomia, de frutas frescas no mercado...Queria esta terra pra mim, mas estou atrasado um pouco mais de 500 anos. Cristovão Colombo chegou primeiro. Não faz mal. Nesse sonho, ela é minha.

Deixo a ilha com tristeza. No avião de volta, a aeromoça é a Sharon Stone. A esposa não percebe. Sharon se aproxima, dá uma piscadela e entrega um jornal. A machete diz que o País está feliz com um presidente do PT, que a gasolina vai baixar de preço e que o dólar está beirando os dois reais.

Será que ainda estou sonhando? Se estou, por favor, não me acorde.
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