A História abaixo é extraída do Mahabharata; passa-se durante o último ano de exílio dos irmãos Pandavas, na qual cada um teria que arranjar um disfarce e viverem sem serem reconhecidos em um dos reinos da Antiga Índia. O reino escolhido foi o de Matsya, do rei Virata(...)

O Disfarce de Arjuna.

No decorrer daquela noite, Arjuna permaneceu sentado nas campinas debaixo das estrelas, reunindo suas forças profundamente dentro de si. Quando a lua desapareceu, ele disse: - Convoco agora a maldição de Urvasi: que a minha virilidade desapareça por um ano. Quando a lua pairava a oeste, pouco acima do horizonte, ele disse: -Que meus cabelos se tornem longos como minha sombra. E quando nasceu o sol, disse: - Que ornamentos dourados aumentem a minha graça. Grossos braceletes de ouro cobriam as cicatrizes brancas deixadas pelas cordas do arco em ambos os braços, e os longos cabelos escorriam até os joelhos, realçados por brincos e adornos. Quando Arjuna apareceu na corte de Virata na manhã seguinte, o rei mandou chama-lo e perguntou: - Quem é você? Veste-se como mulher, mas não foi como mulher que nasceu. - Eu sou Vrihannala - respondeu Arjuna -, um filho ou uma filha, sem pai e sem mãe. - Como isso pode acontecer com alguém como você? - Majestade, que proveito poderá tirar oouvindo uma história que só ira de me causar dor ao contá-la? Mas sou hábil em cantar e dançar e em tocar o alaúde. Tudo isso posso ensinar a sua filha Uttarah, para que tenha talentos a enriquecer sua beleza. Quando Virata ouviu a música celestial que Vrihannala aprendera com Chitraratha, ordenou a seus criados que confirmassem se não era mais homem e o levassem aos aposentos das mulheres no palácio. Lá, nos apartamentos internos, Vrihannala começou a ensinar música e dança à princesa e, com um disfarce indevassável, ficou morando com as mulheres.

(Ao findar do último ano de disfarce)...

Em Hastinapura, o último dos espiões de Duryodhana retornou e prestou contas: - Sumiram sem deixar vestígios. Ou morreeram anônimos, ou fugiram de medo. Além disso, Kichaka, do reino Matsya, está morto, e o velho rei Virata encontra-se sem general. Quando Ouviu isso, Duryodhana tirou os Pandavas da cabeça e enviou uma mensagem a seu amigo Susarman, o rei Trigarta, dizendo: "Tomemos de assalto o castelo de Virata enquanto ele está desamparado". O Rei dos Três Castelos reuniu seus homens das montanhas nórdicas e marchou para Hastinapura. Duryodhana lhe disse: - Vá primeiro e atraia Virata para fora da sua cidade. Depois retorne aqui e dividiremos o castelo entre nós. Susarman partiu então para Matsya e, no dia seguinte, Duryodhana e os Kurus o seguiram pela mesma rota. Quando os Trigartas cruzaram os rios gêmeos e entraram em Matsya capturando algumas cabeças do gado de Virata, os vaqueiros rapidamente avisaram o rei. Virata, Kanka (Yudhishthira), o brâmane, Vallabha (Bhima), o cozinheiro, o vaqueiro Tantripala (Sahadeva) e Granthika (Nakula) partiram da cidade de Matsya em carros de guerra, em perseguição a Susarman. Atrás vinham os elefantes, como montanhas moventes; e depois os cavaleiros, como trovões. Ao anoitecer puderam ver as fogueiras do acampamento dos Trigartas. Mas no dia seguinte, chegando ao local onde os fogos haviam ardido, só encontraram, abandonado, o gado roubado e, à distância, descortinaram o exército de Susarman, dividido em centenas e centenas de unidades, impossíveis de serem vencidas. Naquele mesmo dia Duryodhana e os Kurus tomaram todo o gado restante de Matsya. Novamente o alarme chegou à cidade, mas todos os guerreiros haviam partido com Virata; no palácio, restara apenas seu filho, Uttara, governando o reino na ausência do pai. O jovem príncipe disse: Eu os expulsaria, mas não restou um só auriga em Matsya! Arjuna ouviu-o e pediu a Draupadi: -Diga ao príncipe que Vrihannala, certa ocasião, há muito tempo, foi um auriga e que hoje dirigirá para ele a sua quadriga. Draupadi disse a Uttara: - Venha comigo aos aposentos das mulheres. Uma vez, quando a floresta Khandava se incendiou, Vrihannala segurou as rédeas da carruagem de Arjuna. Uttara começou a vestir seu arnês. Peça à minha irmã - disse ele - que traga Vrihannala até aqui imediatamente! Uttarah correu a Vrihannala da pele morena como o relâmpago vai ao encontro de uma nuvem de trovões. Vestindo apenas seu pesado colar de ouro e um cintel de pérolas em torno dos quadris, pendendo da delgada cintura, brilhando de excitação, ela abriu-lhe os braços perfumados com sândalo. - Meu irmão. Estão roubando nosso gado! Venha! Ela o levou à carruagem de Uttara, ornada com estandartes de leões; então Arjuna disse ao príncipe: - Se houver canto ou dança, saberei o que fazer, mas eu... - Se sabe cantar ou dançar ou qualquer outra coisa - disse Uttara -, não importa; basta que segure as rédeas e me leve aos Kurus! E enquanto todas as mulheres do palácio observavam, zombando e dando risadas, Arjuna tentou colocar sua armadura como se fosse um vestido. Parecia não saber onde se encaixava cada peça, e o próprio Uttara foi obrigado a amarrar sua cota. Por fim, estavam ambos na quadriga, armados com incontáveis flechas e um sem-número de arcos trazidos pela princesa. Uttara disse à sua irmã: - Não tema. Os Kurus jamais teriam vindo se soubessem que estaríamos aqui para combatê-los! Uttarah e suas damas gritaram para Vrihannala: - Procure ter coragem. E traga de volta para nossas bonecas tecidos arrancados dos finíssimos trajes de guerra dos Kurus. A carruagem partiu velozmente da cidade. Logo Uttara divisou os invasores; viu Karna e Bhishma, Duryodhana e Kripa, Drona e Aswatthaman, e todos os pêlos do seu corpo se eriçaram de medo. - Pare, Vrihannala! Acalme-se - retrucou Vrihannala. - Ainda não chegamos nem perto deles. Príncipe, ouvi o senhor dizer: "Leve-me àqueles Kurus". Devemos, portanto, prosseguir até lá. - Deixe que sigam em paz. Que o povo escarneça de mim. Isso não é motivo para enfrentá-los! - Uttara atirou fora seu arco e pulou da quadriga, partindo em correria, de volta à cidade. Vrihannala correu atrás dele, com os longos cabelos ondeando ao vento, as vestes femininas esvoaçando por sob a armadura. Agarrou Uttara e arrastou-o de volta à carruagem. - Vrihannala, doce Vrihannala de esbelta cintura, solte-me - implorou o príncipe. - Uma longa vida é o melhor de tudo. Não tenho ninguém comigo. Não posso enfrentar aqueles guerreiros altos como árvores. Arjuna riu e instalou Uttara na boléia. - Pois então dirija a quadriga para mim. Voltemos à cidade, à árvore do Cemitério. - Ah! Que a cidade pereça num deserto! Não há necessidade de uma batalha. - Acalme-se. Leve a carruagem até a árvore Sami. -Lá chegando, Arjuna ordenou: - Suba e traga o pacote embrulhado em pele de veado. - Mas há um corpo dependurado! - exclamou Uttara. - aos vivos que se deve temer, não aos mortos. Uttara galgou a árvore e trouxe o pacote, cortando-o para abri-lo. Dentro havia cinco arcos e cinco espadas que brilhavam como o despontar dos planetas, e cinco búzios transcendentais, e a coroa de raios e relâmpagos, e flechas. - A quem pertencem, Vrihannala? - Aquele arco comprido - disse Arjuna -, com uma centena de adornos dourados em relevo, sem nódulos e indeformável, é Gandiva, o arco de Arjuna. Este com elefantes dourados é de Bhima. O arco, ornado com sessenta escaravelhos de ouro, pertence a Yudhishthira. Aquele com três sóis é de Nakula, e este último, cravado de diamantes e gemas preciosas, pertence a Sahadeva. - Mas os Pandavas... - Por favor, fique quieto. Vejamos, as mil flechas em duas aljavas são de Arjuna, e esta é sua espada, que ostenta uma rã no cabo. As setas de ferro pertencem a Bhima, e a espada na bainha de pele de tigre com guizos também é dele. O carcás com cinco tigres gravados e a espada azul-escura em bainha de pele de cabra são de Nakula. As flechas de Sahadeva são todas multicoloridas, e estas grossas, de ponta tríplice, pertencem a Yudhishthira. A cimitarra encurvada é de Sahadeva, e o padre flexível de reluzente aço Nishada também pertence a Yudhishthira. Mas... - Cale-se. Será por acaso o único a não saber que os Pandavas devem passar um ano ocultos numa cidade? Eu sou Arjuna. Kanka, o bramane, é Yudhishthira, Vallabha o cozinheiro é Bhima, Tantripala é Sahadeva, Granthika é Nakula (os vaqueiros), e Sairindhri é Draupadi. - Ah! Bem-vindo seja, Arjuna! Mas como veio a perder sua condição de homem? - Eu me disfarcei deste modo, mas agora isso está terminado. - Arjuna retirou seus braceletes e vestiu suas luvas de arqueiro feitas de pele de lagarto. Prendeu os cabelos, colocou sua espada e seu diadema e arrumou seu arco e suas flechas na quadriga. Tomou seu búzio transcendental e disse: - Guarde o resto de volta na árvore, e partamos. Enquanto Uttara galgava a árvore Sami, Arjuna sentou--se de frente para o oriente e pôs-se a meditar sobre todas as suas armas celestiais, e a magia e os encantamentos que delas emanam. As armas surgiram e uniram suas mãos às de Arjuna, afirmando: - Aqui estamos, Bharata, para servi-lo. E ele respondeu, em silêncio: - Habitem em minha memória. Uttara prostrou-se à sua frente. - Ordene-me. Em qual parte das Kauravas devemos penetrar? Arjuna fez sinal para que subisse na quadriga e soprou a concha Devadatta. Os cavalos puseram-se de joelhos. Uttara caiu sentado na boléia com um solavanco. Agni, o Senhor do Fogo, ouviu o som do búzio, e do céu atirou o estandarte de Arjuna, o pendão com Hanuman, o chefe dos macacos. O mastro despencou dentro do seu encaixe, e a bandeira não exibia apenas a figura de Hanuman, mas o próprio Hanuman, soltando guinchos e berros pavorosos, capazes de inverter o fluxo do sangue nos corpos. Até mesmo o leão do pendão de Uttara começou a rugir e a abanar a cauda. - Agora aperte os pés contra o piso do carro, e não seja medroso como uma pessoa comum! - bradou Arjuna. E pulou para dentro da quadriga. - Segure-se firme, que vou soprar Devadatta novamente! Levou a concha aos lábios e soprou. Ouviu-se um segundo clangor e os pássaros tombaram aturdidos de todas as árvores. Uttara riu. - Considerando quem o senhor é, como posso afirmar que se trata de algo maravilhoso? - Disse algo silenciosamente para os quatro cavalos, e eles souberam então que tinham um mestre auriga a comandá-los. A carruagem partiu com grande estrondo. Arjuna retesou agilmente seu arco, puxando-o e soltando-o, e a corda vibrou no ar. Duryodhana, montado em seu elefante, aproximou-se da carruagem de Bhishma. - Não pode ser outro que não Arjuna - disse. Nós o descobrimos, e ele terá que retornar à floresta por mais doze anos! Bhishma sorriu. Duryodhana, prepare-se, e saiba optar entre guerra e paz, pois o décimo terceiro ano se completou quando ouviu o clangor de Devadatta e o tanger do arco Gandiva. Drona chegou em sua quadriga. - - Vejam lá, um chacal ataca nosso exército e escapa sem ser atingido. Estrelas vertem do céu, embora seja dia, e vacas mugem tristemente sob um sol que vai empalidecendo. Nossas fogueiras se apagam, nossas armas não brilham, nossas flores murcham, e grossa poeira tolda o ar. - Não devolverei o reino dos Pandavas - afirmou Duryodhana. - e - Tome então a metade do exército - disse Bhishma parta para Hastinapura com o gado. Nós combateremos Arjuna com o restante. Drona afastou sua quadriga e ficou observando Arjuna. Do arco de Gandiva duas flechas vieram cair junto aos seus pés. Duas outras zuniram por sua cabeça, e as penas roçaram suas orelhas. Drona retesou o arco. - Arjuna me saúda, e sussurra aos meus ouvidos. Quem haverá de vencer hoje? Arjuna disse: - Ouça e não se esqueça. À frente está Karna, com uma bandeira branca ostentando um elefante. Atrás, como sempre, Duryodhana, sobre um elefante; seu lábaro dourado ostenta também a figura de um elefante. Kripa vai à frente, vestido de pele de tigre; sua quadriga é puxada por cavalos escarlates; seu pendão é azul, e exibe um altar de ouro. E lá está Drona, com uma bandeira dourada na qual se vêem a cuia de um eremita e um arco. Ao seu lado está Aswatthaman, cujo estandarte é negro e mostra a cauda de um leão. Lá está Bhishma, de lábaro azul com uma palmeira e cinco estrelas, todas prateadas, vestindo um capacete branco e uma armadura de prata, com um pálio alvo como a neve. Circunde agora o exército e leve-me a Duryodhana. Uttara manobrou a carruagem por labirintos e círculos estonteantes, de modo que ninguém conseguiu atingi-los. Interceptou o gado e mandou-o de volta a Matsya numa debandada, com grande estardalhaço e sonoros mugidos. Arjuna gritou: - Fuja, Duryodhana, e seja ligeiro! Duryodhana retrocedeu, e Arjuna e Uttara ficaram cercados. Mas ninguém conseguia atingi-los. Continuaram todos tentando até seus olhos se enevoarem, mas nem um só cogitou de repelir os mantras de Arjuna. Assim, enquanto milhares de flechas caíam ao redor de ambos, Arjuna lançou uma seta para o céu e invocou a arma do sono. Todos os Kurus adormeceram, exceto Bhishma. Arjuna e Uttara mantiveram-se afastados dele e foram passando por entre os outros, cortando pedaços das vestes brancas de Drona e de Kripa, dos trajes fulvos de Karna e das túnicas azuis de Duryodhana e de Aswatthaman. Bhishma lançou algumas flechas em sua direção, mas eram débeis e não os alcançaram. Uttara dirigiu a quadriga de volta a Matsya; Duryodhana despertou a tempo de vê-los indo embora. - Bhishma, não os deixe partir! - gritou ele. - Onde está meu arco? - Caído no chão - disse Bhishma -, como seria de se esperar quando se dorme no meio de uma batalha. Duryodhana esfregou os olhos e rangeu os dentes. - Ele jamais me ludibriará dessa maneira outra vez. Teria repelido o encantamento, se eu ao menos o houvesse concebido! Uttara dirigiu alucinadamente até o átrio do palácio, onde Uttarah e suas damas correram ao seu encontro. Mas quando a princesa viu que era seu irmão que dirigia e que havia um implacável e sinistro guerreiro desconhecido no carro, com uma bandeira fumegante a vibrar, sustou a respiração e estancou, pasma. Arjuna pulou para fora e curvou-se diante dela. - Aqui estão, conforme prometi, finas roupas para todas vocês. Uttarah fitou o irmão, e seus olhos lhe perguntavam: "Quem é este homem?" Uttara inclinou-se e sussurrou ao seu ouvido. Ela enrubesceu, olhando furtivamente para Arjuna. - E pensar que foi com você que aprendi a dançar. . . - disse ela, e correu para o interior do palácio. Arjuna sorriu para o príncipe. - Leve os cavalos para a estrebaria. Finque a flâmula no chão. Guarde minhas armas e, sem que ninguém nos veja, leve-me a uma sala particular. Traga então sua irmã e o rei e meus irmãos, quando voltarem. Quando Virata retornou naquela tarde e soube da vitória sobre Duryodhana, mandou decorar Matsya com flores e bandeiras e enviou um arauto num elefante a proclamar o evento onde as quatro estradas se cruzam. Uttara conversou com os Pandavas, um a um, e levou-os a Arjuna. Sua irmã encontrou Draupadi e, junto com o rei, também a levou a Arjuna. Virata fitou os Pandavas: - Abençoados sejam, rei Yudhishthira, e Bhima, e Arjuna, e Nakula, e Sahadeva! A bênção a você, Draupadi! Como é bom poder pronunciar os seus nomes! - O idoso rei abraçou-os a todos, cheirando suas barbas e repetindo sem cessar: - Eis a boa fortuna. Estiveram aqui todo o tempo, a salvo, em meu reino. Virata sentou-se, então, e disse: - Aceitem esta terra como sua. E que Arjuna aceite Uttarah como esposa. Yudhishthira tomou a palavra: Não queremos Matsya, Majestade. Mas que Arjuna responda pela outra oferenda. - Não hesite - insistiu Virata. - Aceite-a, Arjuna. - Está bem. - Ótimo - disse o rei. Uttarah deixou de prender a respiração e deu a mão a Arjuna. Arjuna e Virata enviaram convites de casamento a todos os seus amigos. Drupada veio, e Dhrishtadyumna, e seu irmão Sikhandin. Krishna veio de Dwaravati, com seus parentes Satyaki e Kritavarman, e trouxe da floresta Kamyaka as carruagens que os Pandavas haviam escondido. Seu irmão Balarama e sua irmã Subhadra também compareceram; e Sudeshna, a rainha de Matsya; e a mais bela de todas, Draupadi, a nascida do fogo. Vinho e veação, historias e musicas, o brilho de jóias e de lindos olhos! Virata entregou sua filha, e com ela setecentos mil cavalos, duzentos elefantes e um milhão de jarros de ouro rubro. Ofertou presentes a todos, derramou manteiga em todos os fogos, alimentou toda a sua cidade por uma semana. Carruagens, leitos, comidas, bebidas, terras - tudo foi dado e dado de novo, muitas e muitas vezes, em Matsya, naqueles dias. - Vacas, cavalos, túnicas, adereços, ouro e prata - disse o rei. - De graça e com os melhores votos de felicidades! E, após os banquetes e os mágicos e os dançarinos e os desfiles e os acrobatas e os discursos, houve sinos para Draupadi dançar, e a flauta de Krishna, e um tambor duplo para Arjuna. O rei Virata, sonolento em seu trono, acompanhava com a cabeça a música mais maravilhosa de todo o mundo.

(Extraído do Mahabharata).


Anjos & Demônios / KURMA AVATAR

Pela maldição do sacerdote do mau Durvasa, os Devtas (os anjos de Deus que vivem no Swarga (Céu)) foram transformados em seres fracos e sem poder. Seus inimigos, os Asuras (demônios) eram fortes. Os Asuras começaram a torturar os Devtas. O rei dos Devtas, Indra, foi procurar o criador, o Senhor Bramha para pedir ajuda. Bramha escutou cuidadosamente ao seu dilema. Ele sugeriu que eles devessem procurar o Senhor Vishnu, o preservador de toda a criação. O Senhor Vishnu estava descansando pacificamente em sua cama composta da serpente enrolada, Sheshnaga. Ele tinha quatro braços, com uma flôr de lotos em uma mão, uma concha em outro, um chakra (roda eriçada) na terceira e uma maça na quarta mão. Sua esposa , Lakshmi estava a seu lado. Ele escutou aos lamentos dos Devtas e propôs uma sugestão. Ele lhes falou que o único modo para que os Devtas se recuperassem, era que eles adquirissem o néctar da imortalidade e o bebessem. Os Asuras nunca poderiam os matar jamais, se eles fossem imortais. Indra quis saber como ele poderia adquirir o néctar da imortalidade. O Senhor Vishnu lhe disse que era uma difícil mas não impossível tarefa. Em primeiro lugar eles terião que fazer as pazes com os Asuras. Então com a ajuda dos Asuras eles terião que trazer a montanha Mandara para o mar. Eles terião que jogar todos os tipos de plantas, ervas, gramas e vinhas no oceâno. Então eles terião que amarrar o rei das serpentes Vasuki ao redor da montanha Mandara e agitar o oceano com a ajuda dos Asuras. O oceano assim produziria o néctar da imortalidade. O Senhor Vishnu lhes disse que eles não deveriam lutar para recuperar o néctar se os Asuras o pegassem. Ele prometeu que ele não permitiria que os Asuras bebessem do néctar. Indra reuniu todos os Devtas. Eles foram procurar os Asuras. O rei deles os saudou desde que eles tinham entrado em paz. Indra lhes falou sobre a proposta e que o néctar seria dividido em duas partes, a metade para os Devtas e a outra para o Asuras. Prontamente o rei dos Asuras ficou de acordo, pensando consigo, que assim que eles adquirissem o néctar, ele o tomaria todo para si e para os Asuras. Todos os Devtas e Asuras foram para a Montanha Mandara e a desarraigaram da terra. Todos ajudaram a erguer e eles começaram a levá-lo para o mar. A jornada deles estava no meio do caminho quando todos cederam totalmente ao canssaço. Vendo isto, o Senhor Vishnu pediu para a sua montaria, o passáro Garuda, para voar até eles. Ele ordenou a Garuda para apanhar a montanha e voar levando-a para o oceano. Garuda tinha poderes divinos e pôde erguer a montanha sozinho. Ele a colocou com suavidade no mar. O Senhor Vishnu pediu então para Vasuki, o rei das serpentes para se enrrolar ao redor da montanha Mandara. Os Asuras então agarraram o rabo da serpente e os Devtas agarraram a outra extremidade de Vasuki, sua cabeça. Eles começaram então a agitar o oceâno. Depois de um momento, todos ficaram exaustos e não conseguiram mais segurar Vasuki, deixando a montanha cair no oceâno. O Senhor Vishnu vendo isto, tomou a forma de uma tartaruga gigante. Esta forma de Vishnu é conhecida como a encarnãção (avatar) de Kurma (tartaruga). A tartaruga mergulhou no fundo do oceâno e ergueu a montanha de forma que os Devtas e os Asuras podessem agitá-la com Vazuki novamente. Eles tentaram de novo, mas novamente cairam exaustos. O Senhor Vishnu veio mais uma vez ajudá-los e ele mesmo (na forma da tartaruga), começou a agitar o oceâno. A primeira coisa que saiu do oceâno foi Halahal, um veneno muito potente. Os fumos tóxicos do Halahal encheram a atmosfera. Foram encobertos os Devtas e os Asuras e eles ficaram sufocados. Eles correram então ao Senhor Shiva para pedir ajuda. O Senhor Shiva veio e bebeu todo o Halahal. O veneno transformou a pele do Senhor Shiva para a cor azul que é como nós vemos o Senhor Siva hoje em seus quadros e estátuas. Depois que o Halahal se foi, a agitação do oceâno foi retomada. Muitas coisas preciosas vieram à superfície, mas a espectativa de todos estava no néctar. Finalmente uma forma humana emergiu do mar. Era Dhanwantari. Ele trazia um jarro cheio de néctar. Os Asuras roubaram o jarro imediatamente e começaram a correr. Eles começaram a lutar entre si pelo primeiro gole da bebida. Os Devtas não os procuraram para lutar, como tinham prometido para o Senhor Vishnu. O Senhor Vishnu tomou a forma de Mohini, uma linda mulher. O Asuras a viram e ficaram tão encantados por sua beleza, que se esqueceram do néctar por um momento. Eles confiaram o jarro a Mohini. Mohini lhes disse que ela distribuiria o néctar, e que eles não poderiam questionar suas ações. Os Devtas se sentaram em uma fila e os Asuras em outra a espera pelo néctar. Mohini começou distribuindo o néctar primeiro para os Devtas. A intenção dela era terminar o conteúdo do jarro antes que alcançasse os Asuras. A meio caminho da distribuição, o Asuras Rahu, percebeu que os Asuras estavam sendo enganados. Ele se disfarçou como Devta e se uniu a fila dos Devtas próximo a Surya o Sol. Como Mohini estava a ponto de lhe dar o néctar, Surya mostrou que ele era um Asura. Rahu tentou agarrar o jarro com o néctar. Na confusão, parte do nectar caiu em sua face e pelo seu corpo. O Senhor Vishnu pegou seu chakra e cortou imediatamente a cabeça de Rahu. Considerando que o néctar tinha imortalizado o corpo e a cabeça de Rahu, ambos sobreviveram embora eles não fossem unidos. O corpo teve o nome de Ketu. Para tomar sua vingança contra Surya, Rahu tenta tragar Surya (sol) periodicamente mas Surya sai prontamente de sua garganta. Esta é a explicação mitológica hindu a respeito do eclipse do sol. Quando todos os Devtas consumiram o néctar e o jarro estava vazio, os demônios exigiram a sua parte. O Senhor Vishnu mudou de Mohini à sua forma original e sorriu para eles. Os Asuras ficaram furiosos e empreenderam uma guerra. Por este tempo o Devtas ficaram imortais. Os Asuras não ganharam nenhuma batalha e foram derrotados e proscritos para o Paatal (Inferno), onde eles vivem até hoje. Os Devtas ficaram no Swarga (Céu) e sua glória perdida foi restabelecida.


Savitri, Uma História de Amor

Ouça:

Savitri, filha de Aswapati, o rei Madra, era jovem e lindíssima. Muitos homens vinham à corte de seu pai para desposa-la, mas ela a nenhum desejava, por serem todos desgraciosos, fúteis e vaidosos, inchados de orgulho e rígidos em sua oca presunção. Savitri disse, então, a seu pai: - Eu mesma partirei em meu carro dourado de guerra, e não retornarei antes de encontrar meu marido. E assim visitou cidades e vilas, mas os habitantes a temiam, de modo que decidiu entrar nas florestas em busca do seu companheiro. A carruagem foi abrindo caminho pela mata com violência; os pássaros saíam voando de medo, e quanto aos animais, alguns fincavam pé a observá-la, outros escondiam-se atras das pedras, ou em tocas, ou cavavam buracos e enfiavam-se dentro da Terra, e outros, ainda, ocultavam-se nas arvores e fechavam os olhos. Savitri chegou aos retiros dos brahmanas e ksatrias que haviam trocado o mundo pela floresta, e certo tempo depois voltou para Aswapati e disse: - Eu o encontrei. - Quem? - perguntou o rei. - Satyavan - respondeu Savitri. - Como o Tempo tirou a visão do rei Dyumatsena, tornando-o cego, um inimigo arrebatou-lhe o trono de Salwa, e ele foi viver na floresta com sua esposa e seu único filho, Satyavan. - Fico feliz disse o rei. - Começarei os preparativos; iremos juntos até ele. Quando Savitri o deixou, Aswapati chamou seu ministro e perguntou: - O que sabe de Satiavan? - Majestade - respondeu o ministro, - ele nasceu na cidade de seu pai, mas, ainda bebê, foi levado para a floresta, onde vive desde então. E leal e bondoso, belo como a Lua, e possui o vigor e a energia do Sol. É generoso, cheio de coragem e paciente como a Terra. Possui apenas um defeito, e nenhum outro: dentro de exatamente um ano Satyavan morrerá. Aswapati contou a Savitri o que descobrira e lhe disse: - Mude de idéia. Não se case para a infelicidade. Savitri replicou: - Duas vezes não escolherei. Seja sua vida curta ou longa, já tomei Satyavan por marido em meu coração. Aswapati viu que o coração da filha não vacilara. - Será então como diz. Amanhã iremos ter com Dyumatsena na floresta. A pé, o rei levou Savitri ao eremitério de Dyumatsena, onde se sentou sobre esteiras de capim ao lado do monarca cego, debaixo de uma árvore, e pediu-lhe que aceitasse Savitri como filha. - Como ela irá suportar viver na floresta? - perguntou Dyumatse na. - Tanto ela como eu sabemos que a alegria e o pranto seguem seu curso onde quer que estejamos - disse Aswapati. - Saúdo-o em amizade. Não me desconsidere; não destrua minhas esperanças. - Seja bem-vindo - disse Dyumatsena. - Abençoados sejam ambos. Os dois reis consumaram o matrimônio de Savitri e Satyavan, e Aswapati retornou à sua cidade. Repleto de amor e graças a um casamento feliz, o ano restante da vida de Satyavan transcorreu rapidamente, e Savitri foi contando os dias, até que só restava o derradeiro. Na véspera da morte, ela passou a noite a observar o marido, até de madrugada. Preparou-lhe uma refeição, mas ela mesma nada comeu, esperando a hora e o momento, e pensando: "Hoje é o dia". Quando o sol estava a dois palmos de altura, Satyavan pôs o machado sobre os ombros e partiu com Savitri floresta adentro para recolherem lenha. Cheia de doçura, ela o seguiu, sorridente, observando as nuanças do seu espírito. Logo encontraram uma árvore caída. Satyavan pôs-se a cortar os galhos, mas tinha calafrios e estava encharcado de suor. Quando parou para enxugar-se, sentiu a cabeça la-tejar; a luz incomodava e fazia arderem seus olhos. Largou o machado e deitou-se no colo de Savitri para descansar. Ao fechar os olhos, sua face retorceu-se e empalideceu por um momento. Logo a cor lhe voltou e, com a cabeça sobre a coxa da esposa, ele adormeceu serenamente. Savitri correu os dedos por seus cabelos úmidos. Mas sentiu que alguém a observava, e ergueu os olhos. Um homem alto e encorpado fitava Satyavan com olhos escuros e fixos. Sua pele era verde-escura, ele trajava vestes rubras, e tinha uma flor vermelha nos negros cabelos soltos. Estava de pé a não mais que a distancia de um arco de Satyavan, segurando um pequeno laço de fibras douradas na mão esquerda e encarando firmemente o marido de Savitri, com um olhar de grande paciência e bondade. Savitri depositou gentilmente a cabeça de Satyavan na Terra. O deus olhou para ela, mexendo a cabeça, mas jamais seus olhos escuros, e ela disse: - Senhor Yama, eu sou Savitri. Yama disse com brandura: - Os dias da vida de Satyavan estão completos, e eu vim buscá-lo. O Senhor da Morte estendeu a mão para o peito de Satyavan, do lado esquerdo, nas proximidades do coração, e arrancou fora sua alma, um ente não maior que um polegar. Amarrou-a em seu laço. Quando a alma havia sido tomada e agrilhoada, o corpo de Satyavan não mais respirou e tornou-se frio. Yama se retirou para a floresta, mas Savitri seguiu-o, caminhando ao seu lado. Ele parou e disse: - Volte e prepare o funeral. - Ouvi dizer - respondeu Savitri - que você foi o primeiro homem a morrer que encontrou o caminho da morada que não pode mais ser tomada. - É verdade - disse Yama. - Agora volte. Não pode seguir-me além daqui. Está livre de qualquer elo com Satyavan, e de qualquer compromisso. - Todos os que nascem devem um dia segui-lo. Permita-me apenas ir um pouco mais, como sua amiga. Yama estancou e, voltando-se lentamente, olhou para Savitri. - Tem razão. Você não tem medo de mim. Aceito-a como amiga, e aceite também em troca uma dádiva minha, o que eu lhe puder dar. Mas não posso devolver a vida a Satyavan. A amizade só se consuma após sete passos dados juntos - disse Savitri. - Que a cegueira de Dyumatsena o abandone. - Já o abandonou. Agora volte, pois está cansada. - Não, nem um pouco - disse Savitri. - Estou com Satyavan pela última vez. Dê-me permissão para caminhar com você mais um pouco. - Eu a dou. Eu sempre tiro, e novamente tiro. É bom poder dar. Siga-me então, se quiser, e aceite outro presente meu, exceto aquele que não lhe pude dar da outra vez. - Que Dyumatsena recupere o seu reino - pediu Savitri. - Ele há de recuperá-lo - disse Yama. Prosseguiram ambos rumo ao sul, e os galhos e ramos pendentes se abriam para deixá-los passar, fechando-se em seguida. Chegaram a um riacho, e o Senhor da Morte deu de beber a Savitri da sua própria mão. - Não é difícil dar - disse Yama. - Quando a vida é finda e, tudo precisa ser entregue, dar não é difícil. Durante a vida existe dor, mas nenhuma na morte. O que é muito difícil é encontrar alguém digno de receber. Ninguém me escapa. Eu já vi a todos. - Olhou para Savitri. - E, contudo... esta água não é mais límpida que seu coração. Você busca o que almeja, você escolhe e a questão se encerra; não deseja ser nenhuma outra pessoa. Há muito que não vejo isso. Faça-me outro pedido, tudo menos a vida de Satyavan. - Que meu pai tenha uma centena de filhos. - Ele os terá - disse Yama. - Mas peça-me algo mais, para si mesma, tudo menos a vida de Satyavan. Savitri respondeu - Que eu também tenha cem filhos de meu marido. Yama sentou-se na margem do rio, contemplando a água que fluía como uma serpente de prata. - Sem pensar, você me respondeu. E falou a verdade. - Como há de ter filhos de Satyavan se ele está morto? Mas você não pensou nisso. - Não. - Sei que não. Mas eis que, não há mais vida nele; tudo está encerrado. - Pôr isso nada pedi para mim mesma, eu que estou metade morta, e não mais anseio sequer pelo céu. Yama suspirou. - Sou perenemente imparcial para com todos os homens, e eu, mais do que ninguém, sei o que são a verdade e a justiça. Sei que todo o passado e todo o futuro são mantidos coesos pela verdade. O perigo dela foge e se esquiva. Quanto vale sua vida sem Satyavan? - Nada, Senhor. - Entrega-me metade de seus dias na Terra? - Sim, eles são seus - disse Savitri. Novamente os olhos fixos e impassíveis de Yama pousaram em Savitri. Por fim, ele disse: - Está feito. Tomei os seus dias e dei-os a seu marido como se fossem dele. Quer que eu lhe diga o número desses dias? - Não. Voltaremos agora? O Senhor da Morte ergueu seu laço, e nele nada havia. - A alma de Satyavan descansa com você. Terá de levá-la de volta você mesma. Yama levantou-se e prosseguiu só, para o Reino dos Mortos, com um laço que nada continha. Quando Savitri deu a volta para retornar, um raio fulminante atingiu uma arvore perto de sua casa. Era noite quando Savitri chegou, e o cadáver de Satyavan permanecia gélido ao luar. Ela sentou-se ao seu lado, com a cabeça do marido no colo, e sentiu a pele aquecendo-se ao contato do seu próprio corpo. Satyavan abriu os olhos para ela, como alguém retornando de longa viagem olha o seu lar quando o vê novamente. Sentou-se, então, e disse: - Passei o dia inteiro dormindo. Tive um sonho, e nele eu ia sendo levado embora. - Isso já passou - disse Savitri. - Não foi um sonho? - É tarde. Eis que ali arde uma árvore para nos guiar de volta. - Ajudou Satyavan a levantar-se e a equilibrar-se, pondo os braços do marido em torno de seus ombros, e os seus próprios braços em torno da cintura dele. - Eu levarei o machado - disse ela -, e conversaremos quando estivermos em casa. No eremitério, Dyumatsena alimentava o fogo com lenha e contava a sua mulher histórias de reis de tempos passados. Voltou-se para Savitri e Satyavan quando chegaram, e disse: - Há estrelas em seus cabelos para meus novos olhos, e o ouro reluz do fogo que brilha em sua pele. Hoje eu recuperei a visão. Sentaram-se, e Savitri disse: - Yama veio para buscar o seu filho, mas partiu sem ele. Em sua bondade devolveu-lhe a visão, e em breve o seu reino, e também dará filhos a Aswapati e a nós. Fique, e eu prepararei a ceia. Mas Dyumatsena pôs as mãos nos ombros da nora, e não permitiu que ela se levantasse, mas trouxe-lhe ele mesmo a comida. Ao terminarem, chegou um mensageiro de Salwa, e Dyumatsena disse: - Se não for segredo, diga-nos por que veio. - Não há segredo a guardar - disse o homem. -Venho da parte do ministro do rei, que manda avisar: "Ma-jestade, com faca nova eu tomei a vida do rei ilegítimo, e os amigos dele abandonaram a cidade e não ousam olhar para mim. Guardo-lhe o reino com estas mesmas mãos. Aja agora como julgar melhor". - Esta é minha história, princesa - encerrou Vyasa. - Savitri transformou a desgraça em alegria. Siga-lhe o exemplo em relação a seus maridos, pois, embora estejam desterrados no exílio, não perderia o animo e a esperança tendo-a para amar.


A Vaidade dos Deuses!

Em determinada ocasião, os deuses obtiveram uma vitória sobre os demônios e, apesar de o terem feito apenas através do poder de Brahman, ficaram extremamente vaidosos. Eles disseram a si próprios: "Fomos nós que derrotamos os nossos inimigos, e a glória é nossa." Brahman percebeu a vaidade deles e apareceu diante deles. Porém eles não o reconheceram. Os outros deuses então disseram ao deus do fogo: "Agni, descobre para nós quem é esse misterioso espírito." "Sim", disse o deus do fogo, e aproximou-se do espírito. O espírito lhe disse: "Quem sois vós?" "SOU o deus do fogo. Aliás, sou muito conhecido." "E que poder exerceis?" "Posso queimar qualquer coisa que exista sobre a Terra." "Queimai isto", disse o espírito, colocando palha à sua frente. O deus do fogo caiu em cima da palha com toda a sua força, mas não pôde consumi-la. Então voltou rapidamente para junto dos outros deuses e disse: "Não posso descobrir quem é esse misterioso espírito." Os outros deuses disseram então ao deus do vento: "Vayu, descobri para nós quem é ele." "Sim" disse o deus do vento, e aproximou-se do espírito. O espírito lhe disse: "Quem sois vós?" "Sou o deus do vento. Aliás, sou muito conhecido. Vôo velozmente através dos céus." "E que poder exerceis?" "Posso soprar para longe qualquer coisa que se encontre sobre a Terra." "Soprai isto para longe", disse o espírito, colocando palha diante dele. O deus do vento caiu em cima da palha com toda a sua força, porem foi incapaz de movê-la. Então, voltou rapidamente para junto dos outros deuses e disse: "Não posso descobrir quem é esse misterioso espírito." Os outros deuses disseram então a Indra, o maior deles todos: "Ó respeitável, descobri para nós, vos suplicamos. quem é ele." "Sim", disse Indra, e aproximou-se do espírito. Porém o espírito desapareceu, e em seu lugar surgiu Uma, a Deusa-Mãe, bem-adornada e de urna beleza extraordinária. Contemplando-a, Indra perguntou: "Quem era o espírito que apareceu para nós?" "Aquele", respondeu Uma, "era Brahman. Foi através dele, e não de vós mesmos, que obtivestes a vitória e a glória." Desse modo, Indra, o deus do fogo e o deus do vento, reconheceram Brahmam. O deus do fogo, o deus do vento e Indra - eles superaram os outros deuses, pois chegaram mais perto de Brahman, e foram os primeiros a reconhecê-lo. Porém, dentre todos os deuses, Indra é supremo, pois ele foi dos três o que chegou mais perto de Brahman, e foi o primeiro deles a reconhecê-lo. Essa é a verdade de Brahman com relação à Natureza: Seja no clarão do relâmpago, ou no piscar dos olhos, o poder que aparece é o poder de Brahman. Essa é a verdade de Brahman com relação ao homem. nos movimentos da mente, o poder que aparece é o poder de Brahman. Por esse motivo.. um homem deveria meditar sobre Brahman de dia e de noite. Brahman, é o adorável ser em todos os seres. Meditai sobre ele assim. Aquele que medita desse modo sobre ele é respeitado por todos os outros seres.


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