PLANTÃO NOTURNO

 

Lutando contra o sono para enfrentar mais uma jornada de trabalho, na madrugada fria e nebulosa, Lúcia entra em seu carro na Octogonal 04 Brasília e parte em sentido ao hospital pegando a via dos militares. Na altura do cemitério, o motor do carro começa a engasgar. Quando ela olha o ponteiro da gasolina, se lembra que esqueceu de abastecer.

- Céus e agora... sem gasolina!

Ela tenta encostar o mais que pode no canteiro e o carro dá seu último suspiro.

Ao olhar fora do carro, em sua volta, vê que está tudo deserto. Não passava uma viva alma.

A chhuava cai fina e fria. Lúcia pega sua capa no banco de trás, desliga o rádio, liga o alerta e salta do carro para ir ao posto de gasolina que fica dali a uns 2 Km. Começa a andar pensando.

- É só ter calma que tudo se resolve. Mas logo aqui o carro foi enguiçar... em frente ao cemitério!!!

E segue, andando pelo canteiro gramado. Suas costas com a capa branca reluzem na noite. De repente, alguém a alcança colocando a mão em seu ombro. Ela olha para trás sem acreditar no que está acontecendo.

- Oi não se assuste. O meu carro enguiçou lá atrás e eu estou com medo de ir sozinha até ao posto, por isso corri para te alcançar...meu nome é Marlene e o seu?

- Lúcia. Que bom pela companhia mas confesso que você me assustou ao me tocar. Estava pensando agora mesmo no lugar que tive o desprazer de enguiçar o carro.

- Você tem medo de almas penadas Lúcia?

E seguiram caminhando na noite escura e fria...

- Não sei se tenho. Nunca vi nenhuma.

E começaram a rir. Logo à frente delas há mais ou menos un 5 metros de distância, viram uma luz piscando e crescendo de tamanho. Esta luz vinha do chão.

-Você está vendo aquela luz Marlene? O que será?

Num instante a luz tornou-se um clarão impossível das duas fixarem os olhos. Lúcia gritou colocando as mãos nos olhos, enquanto Marlene a olhava. O clarão as engoliu.

-Lúcia, Lúcia acorde; disse Marlene.

Lúcia meio atordoada caída ao chão, meio tonta, parecia estar acordando de um desmaio. Tudo em sua volta era escuridão.

-Marlene! O que houve? Onde estamos?

E Marlene não respondeu. Lúcia abria os olhos o mais que podia mas era impossível ver algo naquele breu. Conseguiu levantar-se e com a mãos e os braços esticados tal qual uma  cega, tentou seguir em frente.

-Ah! Que horror meu Deus! Será que estou cega?

Abaixou, colocou as mãos no chão e sentiu que era barro ainda úmido. Direcionou as mãos para os lados e constatou que haviam paredes dos dois lados também de barro úmido.

- Meu Deus onde será que estou?!!!

Andando sempre em frente desesperada, tremendo de medo e de frio, foi quando tudo clareou novamente e ela reencontrou Marlene que lhe disse:

-Não olhe para trás! E começou a correr à sua frente fazendo sinal para que ela viesse também.

Lúcia começou a segui-la chamando-a mas Marlene parecia não ouvi-la. Continuava correndo por entre os becos que haviam para todos os lados do labirinto. Sem ela acreditar, o chão começou a ficar movediço. Mãos esqueléticas surgiam do chão para agarrarem suas pernas e ela começou a gritar e a correr tentando se desvensilhar chutando os braços e cabeças que surgiam do chão todo enlamaçado. Gritava por Marlene e Marlene continuava a correr e a sorrir para ela chamando-a. Foi quando aconteceu o inesperado: dois corpos em putrefação a agarraram falando: - Lúúciaa fique aqui!!!

Ela não pôde mais seguir Marlene e começou a empurrá-los, mas eles eram fortes demais. E finalmente ela se deu por vencida; começou a se sentir sufocada pois eles a derrubaram e começaram a jogar barro em cima dela, querendo enterrá-la viva. Desfaleceu.

O dia amanheceu por entre os pinheiros do parque da cidade. O vigia noturno fazendo a sua ronda matutina avistou um corpo de mulher com uma capa branca toda enlameada caído ao chão.

- Moça, moça! Acorde! A senhora está bem? O que está fazendo aqui?

Lúcia acordando muito tonta e atormentada quis se levantar mas alguém segurava a sua mão. Era a mão de uma mulher.

- Marlene! Senhor me ajude! Precisamos desenterrar minha amiga!

O homem começou a cavar, a ajudar a desenterrar aquele corpo inerte.

Quando conseguiram desenterrar metade do corpo que já estava em decomposição, parecendo estar ali há vários dias, Lúcia começou a gritar sem parar e em estado de choque dizendo: - Não pode ser, não pode ser...

***

No Hospital, já restabelecida, evolta a lençóis limpos e brancos, na cama da enfermaria, Lúcia está a tomar seu desjejum, quando um senhor alto e vestido de terno dizendo ser agente da polícia civil, começou a dizer:

-Estranho como a senhora foi encontrada no parque em estado de choque não dizendo coisa com coisa em cima do corpo de uma mulher desaparecida há meses...

- Senhor! Onde está Marlene? O que houve com ela?

E o detetive respondeu:

- A senhora não sabe ainda?!

Onde a senhora foi encontrada, achamos o corpo de uma mulher desaparecida há vários meses. Ninguém sabia de seu paradeiro. Graças à senhora conseguimos achá-la embora neste fim trágico. E ela poderá agora ter pelo menos um enterro descente. Estamos no encalço do assassino que não tardará a ser encontrado. Pobre mulher...

Lúcia entendeu que Marlene havia lhe pedido ajuda para encontrá-la. Marlene agora coseguiria descansar em paz.

 

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