Anjos e Demônios
(Angels and Demons)

 

Direção: Ron Howard

Roteiro: David Koepp, Akiva Goldsman
Elenco: Tom Hanks, Ewan McGregor, Stellan Skarsgard
Ano: 2009

 

Atualmente, parece vigorar uma lei em Hollywood composta por apenas uma idéia geral: “Se o livro vendeu muito, mesmo sendo literatura barata, ele deve virar filme. Se o filme lucrou muito, mesmo sendo medíocre, ele deve ganhar sequência”. Bem, “Anjos e Demônios” cumpre a tal “lei” em todos os sentidos.

Adaptado do romance homônimo de Dan Brown, “Anjos e Demônios” se tornou uma sequência da primeira adaptação para a telona do maior sucesso de Brown, “O Código da Vinci”. Dirigido por Ron Howard (“responsável” pelo filme anterior), nesta história, Robert Langdon, vivido novamente por Tom Hanks, é convocado para solucionar o sequestro dos “preferitti”, os quatro padres que podem assumir o comando da Igreja Católica após a recente morte do papa. Enquanto os demais padres devem iniciar o conclave (reunião para a escolha do futuro papa), Langdon, uma cientista, a polícia e a Guarda-Suiça (responsáveis pela segurança no Vaticano), tentam evitar a morte de cada um dos padres, que parece estarem sendo executadas por uma organização secreta considerada extinta, Os Illuminati.

Ao ler a síntese do filme, até parece que algo de bom pode surgir, afinal, o livro teve boa vendagem e, se encarado como um passatempo despretensioso, cumpre a sua função. Porém, não é isso que acontece na versão para a telona.

O filme inicia com a comoção pela morte do papa e, abruptamente, passa a mostrar um grupo de cientistas (com um intergrante da igreja), desenvolvendo uma pesquisa científica de alto grau de periculosidade. Ora, o que uma cena tem a ver com a outra? Bem, ao esperar várias cenas, inclusive Tom Hanks nadando na piscina e sendo observado por alguém, cujo primeiro foco que recebe é no par de sapatos, descobrimos que o tal laboratório fazia uma experiência para criar matéria e que, ao ser roubada, está sendo utilizada como um cronômetro da morte em algum lugar dentro do Vaticano. A partir daí, uma sequência de cenas clichês se amontoam no filme, fazendo parecer que o diretor estava interessado em seguir a referida lei acima, fazendo um filme “feijão com arroz”. Como exemplos, podemos citar a cansável tentativa de aplicar sustos baratos nos telespectadores, como quando crianças usam bombinhas em uma praça ou quando a câmera foca um par de botas – sem pés – dentro de uma igreja (clichê esse que parece reutilizado, já que falamos de Langdon na piscina) ou, ainda, a pretensa tensão gerada em cada votação dos padres (será fumaça preta ou branca?), o uso de música alta nas perseguições de carro ou o foco em tipos suspeitos (novamente, recurso utilizado duas vezes no filme).

Contudo, o que talvez torne o filme ainda mais irritante é o constante e exagerado uso dos efeitos especiais. Em várias cenas é nítida a utilização da digitalização, deixando o filme com uma atmosfera artificial, vide os momentos que focam o público na Praça de São Pedro: tanto um como o outro não são reais, tornando claro para o telespectador que aquilo é um filme. Isso pode soar estranho mas, um bom filme, deve mergulhar quem o assiste na história de tal forma que não pareça ser um filme.

Talvez, o único que escape no filme seja Ewan McGregor, interpretando o carmelengo, de voz suave, pensamento rápido e totalmente sem autoridade. Hanks, abandonando o criticado penteado do filme anterior, parece estar atuando no piloto automático, bem como o ator Stellan Skarsgard, o qual, durante toda projeção, parece que vai dizer “quero voltar para os 'Piratas do Caribe'. Ser pai do Orlando Bloom é muito melhor do que estar aqui, ouvindo o Tom Hanks”.

No geral, um filme razoável e esquecível para uma tarde no shopping. E só.

 

31/05/09