Coluna "Acelerando no
Tempo"
- Bobby Rahal
Sob as Encostas Nevadas do Monte Fuji

O
Fuji Speedway recentemente foi reformado pela Toyota para futuramente receber
a F-1.
As obras de
reforma do circuito japonês de Fuji Speedway foram concluídas e a
sua reestréia triunfal aconteceu em abril de 2005, com uma corrida
de 500 km de carros esporte válido para o campeonato de Super GT
(antigo JGTC).
Essa pista está localizada aos pés do Monte Fuji, um vulcão ativo
nevado e fotogênico que é o ponto mais alto do território japonês, e
recentemente foi comprada pela Toyota, em contrapartida ao seu
grande concorrente no mercado japonês e mundial, a Honda, que por
sua vez possui as pistas de Suzuka e de Twin Ring Motegi. Os que
conhecem os videogames da série Gran Turismo, para Playstation e
Playstation 2, devem estar bastante familiarizados com a pista de
Fuji, ou pelo menos com o que ela era.
Visando modernizar a pista e adequá-la as exigências da atual
Fórmula 1, a Toyota contratou maior o superstar dos atuais
projetistas de pistas de corrida: o alemão Hermann Tilke. No geral a
personalidade da pista parece não ter sido muito alterada, com a
permanência do retão principal, mas o antigo curvão que antecedia
essa reta foi bastante retalhado em trechos travados, o que fornece
combustível para as críticas daqueles que torcem o nariz para o
trabalho de Tilke.
Pois bem, o que tem essa coluna a ver com as notícias de um circuito
no outro lado do mundo e que está inacessível a anos-luz de
distância da Champ Car?
Simples. A reconstrução da pista sepultou para sempre um trecho
abandonado há mais de 30 anos do antigo circuito de Fuji, que era um
curvão de altíssima inclinação, ao estilo de circuitos ovais
norte-americanos. No local onde ele se situava foi construído um novo kartódromo.
Quando o circuito de Fuji foi construído no início dos anos 1960,
pretendia-se que ele tivesse também um enorme superspeedway de 2
milhas e meia de alta inclinação nas curvas. O dinheiro na época era
curto e acabou logo após a construção do misto, e por isso o Fuji
Speedway ficou como um circuito meio misto meio oval. O Japão da
época não era essa potência econômica de hoje e ainda se recuperava
das conseqüências da derrota na Segunda Guerra Mundial, terminada há
menos de 20 anos.
O sentido da pista era originalmente anti-horário e a última curva
era o trecho de alta inclinação que antecedia o retão principal. Que
categoria seria então melhor para extrair dessa pista a velocidade
máxima possível senão os Indycars norte-americanos?
Isso aconteceria realmente em outubro de 1966, na pista
recém-inaugurada. Já se passavam oito anos desde que os monopostos
norte-americanos haviam corrido fora do país pela última vez, na
“Corrida dos Dois Mundos” de 1958 em Monza, na Itália e mais uma vez
a USAC fez história no automobilismo.
Um público de 60 mil fãs compareceu ao Fuji Speedway para ver Jackie
Stewart ultrapassar Graham Hill a menos de cinco voltas do fim da
corrida e vencer a prova a bordo de um carro da USAC pertencente a
John Mecom. Bobby Unser terminou em segundo, seguido por Arnie
Knepper, Gary Congdon e Graham Hill. Um final digno para um grande
evento, abrilhantado ainda mais pela participação de dois monstros
sagrados da Fórmula 1 que nos anos 1960 deram o ar da graça na
categoria americana que um dia viraria a atual Champ Car.
Segundo conta o site oficial da IRL em um artigo publicado há três
anos atrás, o maior problema enfrentado na época foi a logística do
transporte dos carros e equipamentos para o Japão. Naquela época
pré-microcomputadores tudo era muito mais difícil e as distâncias
maiores.
O principal problema aconteceu na ida: o avião Flying Tiger que
deveria levar os carros e os equipamentos para o aeroporto de
Tóquio, no Japão, chegou 12 horas atrasado a Indianápolis, o ponto
de partida para a grande viagem. O pouso aconteceu sob uma
verdadeira tempestade e a empresa responsável pela logística,
chamada Cagle and Thompson, percebeu que não tinha equipamentos para
carregar os carros dentro do avião. Então caixas de até 3500 kg
tiveram que ser carregadas e arrumadas na força do braço mesmo.
De qualquer forma, a despeito do sucesso da corrida a USAC nunca
mais retornaria ao Japão. Em 1979 aconteceria a cisão que
posteriormente criaria o campeonato da Cart e somente em 1998, por
influência da Honda, então principal fornecedor de motores para a
categoria, os monopostos norte-americanos retornariam ao Japão, no
circuito oval de Twin Ring Motegi de propriedade da própria Honda.
Depois de quase 32 anos o mundo havia mudado muito e os monopostos
norte-americanos eram bestas brutais com motores turbos de mais de
900 cavalos e que atingiam mais de 400 km/h de velocidade máxima,
pilotados por alguns dos melhores ases da velocidade do mundo.
Quanto ao Japão, ele era agora um país muito rico, recheado de
grandes companhias e por isso um mercado cobiçadíssimo. E a Champ
Car não poderia ficar fora dele.
A Champ Car correu em Motegi de 1998 até 2002, mas apesar de ser um
superspeedway de 2 milhas com pista larga e que possibilita altas
velocidades, infelizmente nenhuma dessas corridas foi tão memorável
assim, pela tendência da pista de espalhar os carros, dificultando
disputas acirradas entre eles. Abrindo um parêntese aqui, para se
ter uma idéia do sucesso da Champ Car há poucos anos atrás, a prova
inaugural de 1998 em Motegi levou a pista nada menos que 30 carros
(hoje são apenas 18, com alguma boa vontade talvez até 20), o maior
grid da categoria desde a Indy 500 de 1995 pré-cisão da IRL.
Mas a partir de 2003, com a partida da Honda para a Indy Racing
League, a prova no Japão saiu definitivamente do calendário e agora
com o nome da categoria mudado para Champ Car e com o anúncio das
corridas nos vizinhos países da Coréia do Sul e da China, se cogita
um retorno ao Japão para 2007 ou além.
Seria esse retorno possível no reformado Fuji Speedway?
Dificilmente, já que a prioridade da Toyota parece ser a Fórmula 1,
tomando o GP do Japão das mãos da Honda e trazendo-o para a sua
pista. E no automobilismo norte-americano, por enquanto a prioridade
é a Indy Racing League. Mas tudo é possível, já que por outro lado a
Toyota fornece apóia o Grand Prix of Long Beach, a jóia da coroa do
campeonato da Champ Car.
Quanto ao Fuji Speedway, após 1966 ele continuou a realizar provas
de campeonatos locais e o trecho de alta inclinação da pista provou
ser extremamente perigoso, provocando vários acidentes graves.
Então em 1974 ele foi suprimido do traçado, ao mesmo tempo em que o
sentido da pista foi invertido, passando a ser horário. A pista
tinha um formato bastante simples: tinha um retão e uma parte oposta
composta de três corcovas, como uma letra E. A parte inclinada
correspondia a uma das corcovas, que após cortada deixou a pista com
formato de letra F.
Assim, a partir de então ao se percorrer o retão chegava-se a um
hairpin ao invés de entrar no trecho inclinado e entrava-se num
trecho de curvas longas. Com essa nova configuração o circuito de
Fuji entraria para a Fórmula 1 nos anos 1970, com os GPs do Japão de
1976 e de 1977.
Se não fosse um grave acidente quando a Ferrari de Gilles Villeneuve
foi arremessada para fora da pista pelo Tyrrell de Ronnie Peterson
após baterem na corrida de 1977, acidente esse que matou alguns
espectadores japoneses postados perigosamente ao longo da pista,
talvez a pista de Fuji tivesse continuado na Fórmula 1 ao longo dos
anos 1970 e 1980 e até virado lenda. Ou talvez tivesse sido
retalhada ou enchida de chicanes bem antes da reforma atual, como
foram Hockenheim, Paul Ricard, Spa-Francorchamps, Monza e outras
grandes pistas de outrora. Pensando bem, a Fórmula 1 é a maior praga
que pode acontecer a um circuito de corridas que tenha
personalidade...
De qualquer forma a Fórmula 1 também não poderia dispensar o
formidável mercado japonês e retornaria ao Japão apenas 10 anos
depois, já em Suzuka, outra pista pertencente a Honda, onde
permanece até hoje, realizando anualmente o Grande Prêmio do Japão.
É isso, assim termina a nossa fascinante saga histórica da Champ Car pelo Japão e pela Ásia, com a esperança de que as corridas
na Coréia do Sul e no Japão realmente consolidem a presença da
categoria naquela região do mundo e garantam anos e anos de sucesso
para a nossa categoria preferida.
Um abraço, cuidem-se bem e
tenham uma grande semana!
Bobby Rahal
bobby-rahal@bol.com.br

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Uso o nick de “Bobby Rahal” mas devo dizer que nem fã dele eu sou e
muito menos sósia. Esse nick surgiu quando eu era forista do saudoso
fórum Warmup (do site do Flavio Gomes) e um colega meu (esse sim um
careca sósia do Bobby Rahal) postou no fórum Warmup com esse nick e
foi embora deixando o cadastro feito. Sendo assim, já que estava
cadastrado mesmo, continuei usando o nick até que o fórum Warmup
acabou. Fui para o fórum SuperLicença e me cadastrei como “Bobby
Rahal”, já que estava acostumado com o nick e assim permaneço até
hoje com ele.
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