Colunas 2006


"Coluna do Hyder" - Fabio "Hyder" Azevedo

É grave a crise

 

Durante prova da IRL em Milwaukee, fãs pedem por "socorro": eles querem a fusão com a Champ Car.

 

Olá pessoal. Estive conversando com amigos e com o pessoal daqui do site e percebi algo que está me deixando bem preocupado. Hoje estarei saindo um pouco do foco das tradicionais colunas. Estou escrevendo algo que há tempos tenho percebido e que tem deixado uma pulga atrás da orelha. Este texto não se trata de nenhum revanchismo ou coisa assim, apenas uma preocupação e uma constatação que talvez outros já tenham percebido também. Nos últimos anos, com o aumento da crise de identidade entre a Champ Car e a IRL e o crescimento da Nascar no cenário mundial, assim como os altos custos da F-1 e seu desinteresse (coisa que tem preocupado a alta cúpula da FIA) tem provocado algo extremamente grave: Os pilotos em formação estão partindo para as competições de categorias turismo e deixando o automobilismo de fórmula para o lado.

É impressionante ver como categorias como American Le Mans Series, Grand-Am (e eu nem falo na Nascar), assim como os nacionais de turismo na Europa, Japão (o Drifting em especial) e América do Sul tem polarizado certos mercados que antes eram quase que exclusivos de categorias de fórmula. No Brasil, primeiramente, chegamos a ter duas categorias fortes de F-3, assim como a revolucionária F-Renault e o grande interesse de montadoras como a Ford e a GMC (Respectivamente F-Ford e F-Chevrolet). Hoje em dia...

Acreditando ou não, a cisão da Indy (entre a Champ Car e IRL) foi um dos elementos causadores disso, pois o que move o automobilismo é a combinação entre patrocínios fortes e envolvimento, direto ou indireto, com montadoras. E em ambos os casos, houve uma tremenda desconfiança com estes campeonatos no inicio do século 21. Isso sem contar que os altos custos envolvidos para uma temporada decente deixaram muitos pilotos sem condições de poder barganhar patrocínio. Alheio a isso, as categorias de turismo vêm num grande crescimento e isso pode ser visto claramente no Brasil com o apoio que a Rede Globo tem aplicado na Stock Car brasileira. Com os custos moderados e um grid cheio (aproximadamente 37 carros se não me engano), os investidores/patrocinadores estão recebendo a exposição de suas marcas com uma grande audiência. Nos Estados Unidos, o forte crescimento da IMSA (Conhecida hoje como Grand-Am) e o ressurgimento da American Le Mans Series, com custos muito menores e um grande envolvimento de montadoras como Mercedes, Porsche, Ford e GM fazem com que os jovens em formação, antes direcionados as categorias Open Wheel revejam as suas opções.

No campo interno, posso perguntar o seguinte: Quem se lembra da ultima vez que a F-3 passou em destaque na TV brasileira e teve a cobertura de mídia escrita e virtual? É triste, mas isso começou quando os dirigentes começaram a investir e inflacionar demais o campeonato, que começou a sofrer um sério processo de esvaziamento. Com a VICAR (empresa que promove a Stock Car no Brasil) oferecendo TV aberta e fechada com transmissões ao vivo para todo o país em horários nobres, os patrocinadores não pensaram duas vezes em direcionar os seus investimentos. A Stock brasileira é muito forte em relação a outras categorias como F-Renault e F-3. E o que mais parece claro e, infelizmente, triste neste cenário é que se nada for efetivamente, for feito de imediato, estas categorias sucumbirão para sempre, pois os nossos jovens talentos logo estarão indo para a Europa e Estados Unidos cada vez mais cedo, deixando os fãs brasileiros reféns de canais de TV ou Internet, privando-os (e incluo-me nesta) do contato nas corridas locais ou regionais.


Fora isso, estamos chegando num momento critico também em relação aos nossos tradicionais autódromos. O autódromo de Jacarepaguá (conhecido por ser um dos poucos de alta velocidade na América Latina) e o de Brasília (por coincidência chamam-se Nélson Piquet) estão sucumbindo aos interesses imobiliários de políticos com interesses cada vez mais duvidosos. No caso do autódromo do Rio de Janeiro, uma vergonha fez com que uma geração promissora fosse desfeita. Quem tinha melhores condições pôde ir para São Paulo ou outras praças. Quem não pôde, teve de encerrar a carreira. Fora isso que internacionalmente isso pesa muito contra o Brasil. São pelo menos dois autódromos internacionais que estão, além de perder a certificação internacional (que é muito difícil de ser obtida pela FIA), sendo literalmente mutilados e excluídos de suas principais funções, que é do desenvolvimento do esporte motor.

É algo preocupante e que deve ser uma tarefa de todos. Não salvar apenas os autódromos, mas salvar a base de nosso automobilismo num todo, pois deixaremos se já não deixamos, de ser o celeiro mundial de pilotos. Apenas para questão comparativa, veja a geração de pilotos maravilha que o Brasil produziu nos anos 1990: André Ribeiro, Gil de Ferran, Christian Fittipaldi, Hélio Castro Neves, Tony Kanaan, Rubens Barrichello, Vitor Meira, Hoover Rossi, Cristiano da Matta, entre outros. Muitos destes começaram as suas carreira no final dos anos 1980, mas o ápice de cada um foi na década seguinte. Eles foram os substitutos de gente como Ayrton Senna, Nélson Piquet e Émerson Fittipaldi. E hoje em dia... Veja quem substituiu a primeira leva de pilotos citada:

Bruno Junqueira (este parece que se perdeu em uma categoria grande), Mário Haberfeld, a família Sperafico, entre outros. E quem substituirá esses? É grave a crise. Temos de ser positivos, mas também devemos estar atentos.

Um grande abraço e até a próxima.

 

Fabio "Hyder" Azevedo
                                                                                                                              

 

 

Torcedor do Vasco da Gama e da Associação Atlética Anapolina, fui membro da Penske, atualmente sou Analista de Tecnologia da Informação mas continuo apaixonado pelas corridas como nunca. Nas quartas-feiras, falarei sobre as minhas experiências na categoria, além de contar histórias dos bastidores que poucos conhecem.

 

 

 

 

 

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