"Coluna do
Hyder"
-
Fabio "Hyder" Azevedo
É grave a
crise
Durante prova da IRL em Milwaukee, fãs pedem por "socorro": eles
querem a fusão com a Champ Car.
Olá pessoal. Estive
conversando com amigos e com o pessoal daqui do site e percebi algo
que está me deixando bem preocupado. Hoje estarei saindo um pouco do
foco das tradicionais colunas. Estou escrevendo algo que há tempos
tenho percebido e que tem deixado uma pulga atrás da orelha. Este
texto não se trata de nenhum revanchismo ou coisa assim, apenas uma
preocupação e uma constatação que talvez outros já tenham percebido
também. Nos últimos anos, com o aumento da crise de identidade entre
a Champ Car e a IRL e o crescimento da Nascar no cenário mundial,
assim como os altos custos da F-1 e seu desinteresse (coisa que tem
preocupado a alta cúpula da FIA) tem provocado algo extremamente
grave: Os pilotos em formação estão partindo para as competições de
categorias turismo e deixando o automobilismo de fórmula para o
lado.
É impressionante ver como categorias como American Le Mans Series,
Grand-Am (e eu nem falo na Nascar), assim como os nacionais de
turismo na Europa, Japão (o Drifting em especial) e América do Sul
tem polarizado certos mercados que antes eram quase que exclusivos
de categorias de fórmula. No Brasil, primeiramente, chegamos a ter
duas categorias fortes de F-3, assim como a revolucionária F-Renault
e o grande interesse de montadoras como a Ford e a GMC
(Respectivamente F-Ford e F-Chevrolet). Hoje em dia...
Acreditando ou não, a cisão da Indy (entre a Champ Car e IRL) foi um
dos elementos causadores disso, pois o que move o automobilismo é a
combinação entre patrocínios fortes e envolvimento, direto ou
indireto, com montadoras. E em ambos os casos, houve uma tremenda
desconfiança com estes campeonatos no inicio do século 21. Isso sem
contar que os altos custos envolvidos para uma temporada decente
deixaram muitos pilotos sem condições de poder barganhar patrocínio.
Alheio a isso, as categorias de turismo vêm num grande crescimento e
isso pode ser visto claramente no Brasil com o apoio que a Rede
Globo tem aplicado na Stock Car brasileira. Com os custos moderados
e um grid cheio (aproximadamente 37 carros se não me engano), os
investidores/patrocinadores estão recebendo a exposição de suas
marcas com uma grande audiência. Nos Estados Unidos, o forte
crescimento da IMSA (Conhecida hoje como Grand-Am) e o ressurgimento
da American Le Mans Series, com custos muito menores e um grande
envolvimento de montadoras como Mercedes, Porsche, Ford e GM fazem
com que os jovens em formação, antes direcionados as categorias Open
Wheel revejam as suas opções.
No campo interno, posso perguntar o seguinte: Quem se lembra da
ultima vez que a F-3 passou em destaque na TV brasileira e teve a
cobertura de mídia escrita e virtual? É triste, mas isso começou
quando os dirigentes começaram a investir e inflacionar demais o
campeonato, que começou a sofrer um sério processo de esvaziamento.
Com a VICAR (empresa que promove a Stock Car no Brasil) oferecendo
TV aberta e fechada com transmissões ao vivo para todo o país em
horários nobres, os patrocinadores não pensaram duas vezes em
direcionar os seus investimentos. A Stock brasileira é muito forte
em relação a outras categorias como F-Renault e F-3. E o que mais
parece claro e, infelizmente, triste neste cenário é que se nada for
efetivamente, for feito de imediato, estas categorias sucumbirão
para sempre, pois os nossos jovens talentos logo estarão indo para a
Europa e Estados Unidos cada vez mais cedo, deixando os fãs
brasileiros reféns de canais de TV ou Internet, privando-os (e
incluo-me nesta) do contato nas corridas locais ou regionais.
Fora isso, estamos chegando num momento critico também em relação
aos nossos tradicionais autódromos. O autódromo de Jacarepaguá
(conhecido por ser um dos poucos de alta velocidade na América
Latina) e o de Brasília (por coincidência chamam-se Nélson Piquet)
estão sucumbindo aos interesses imobiliários de políticos com
interesses cada vez mais duvidosos. No caso do autódromo do Rio de
Janeiro, uma vergonha fez com que uma geração promissora fosse
desfeita. Quem tinha melhores condições pôde ir para São Paulo ou
outras praças. Quem não pôde, teve de encerrar a carreira. Fora isso
que internacionalmente isso pesa muito contra o Brasil. São pelo
menos dois autódromos internacionais que estão, além de perder a
certificação internacional (que é muito difícil de ser obtida pela
FIA), sendo literalmente mutilados e excluídos de suas principais
funções, que é do desenvolvimento do esporte motor.
É algo preocupante e que deve ser uma tarefa de todos. Não salvar
apenas os autódromos, mas salvar a base de nosso automobilismo num
todo, pois deixaremos se já não deixamos, de ser o celeiro mundial
de pilotos. Apenas para questão comparativa, veja a geração de
pilotos maravilha que o Brasil produziu nos anos 1990: André
Ribeiro, Gil de Ferran, Christian Fittipaldi, Hélio Castro Neves,
Tony Kanaan, Rubens Barrichello, Vitor Meira, Hoover Rossi,
Cristiano da Matta, entre outros. Muitos destes começaram as suas
carreira no final dos anos 1980, mas o ápice de cada um foi na
década seguinte. Eles foram os substitutos de gente como Ayrton
Senna, Nélson Piquet e Émerson Fittipaldi. E hoje em dia... Veja
quem substituiu a primeira leva de pilotos citada:
Bruno Junqueira (este parece que se perdeu em uma categoria grande),
Mário Haberfeld, a família Sperafico, entre outros. E quem
substituirá esses? É grave a crise. Temos de ser positivos, mas
também devemos estar atentos.
Um grande abraço e até a próxima.
Fabio "Hyder" Azevedo
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Torcedor do Vasco da Gama e da
Associação Atlética Anapolina, fui
membro da Penske,
atualmente sou Analista de
Tecnologia da Informação mas continuo
apaixonado pelas corridas como nunca. Nas quartas-feiras, falarei sobre as
minhas experiências na categoria, além de contar histórias dos bastidores que
poucos conhecem.
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