"Coluna do
Hyder"
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Fabio "Hyder" Azevedo
O orgulho
norte-americano

Al Unser Jr. corre com um
chassi Galmer
durante as 500 milhas de Michigan de 1992.
Olá pessoal.
Estamos de volta... Fim de férias escolares, volta às rotinas, aos
projetos finais que nunca acabam... Enfim. Gostaria de agradecer ao
companheiro Miquimba pelo belo e singelo texto sobre o Cristiano da
Matta. Claro que o intuito não era fazer demagogia ou coisa assim,
mas além do respeito pela pessoa e pelo piloto, existe o carinho e o
desejo de vê-lo sadio e de volta a sua vida normal. Acho que isso é
o que passa pelo coração e pensamento dos fãs do esporte a motor.
E o Paul Tracy... Será que desta vez foi culpa dele? Ou é o
tradicional histórico? Uma coisa é séria porque estava conversando
com um amigo. Não existe piloto santinho. Todos dão fechadas,
manobras arriscadas e ousadas. O dia em que nascer um piloto santo,
ele não liga o motor e muito menos sai da garagem para não gastar
pneus e sujar o carro.
A Champ Car vai chegando à decisão do campeonato, o derradeiro com
chassis Lola, e depois de um início meio previsível, uma mudança de
cadeiras reacendeu a disputa e colocou um norte-americano outra vez
na disputa. É sobre isso que estaremos abordando nessa coluna. Não
vou escrever aqui sobre o que tínhamos de quatro fornecedores de
chassis e tudo mais, pois isso já está claro que faz uma falta
tremenda e que a competição diminuiu bastante. É ruim também ter uma
categoria monomarca, mas esta é a atual situação e foi assim que a
categoria foi salva dos altos custos de outrora. Mas isso não nos
proíbe de sonhar com dias melhores. No final de 1991, o sonho
americano estaria reforçado, no quesito chassis. A Penske sendo uma
empresa norte-americana, construía seus chassis na Inglaterra, assim
como a Lola, que tem origem francesa mas possui uma grande fábrica
também na terra da rainha. O fracasso da Truesports deixava claro
que o orgulho norte-americano não deixaria que este fiasco fosse
repetido.
Surge o Galmer, um projeto encabeçado por Rick
Galles. O projeto era produzido na Inglaterra mas a grande diferença
é que ele tinha sua manufatura em mais de 85% nos Estados Unidos e
possuía conceitos revolucionários para a época, como o nariz torto,
mini-saias mais afiladas e asas variáveis. Cheio de beleza e
desconfiança, apenas a própria Galles Kraco utilizou este chassi na
temporada de 1992. A grande surpresa deste carro é que Al Unser Jr.
venceu categoricamente um duelo fantástico com Scott Goodyear (mesmo
o canadense sendo muito mais veloz nas voltas finais, devido a
problemas na transmissão do carro de Unser Jr.). Talvez só os
membros e pilotos da Galles pudessem esperar algo, pois o carro
esteve cercado de desconfiança e Rick Galles tinha mandado para a
pista dois Lolas como reservas em caso de fracasso com os titulares
Galmer.
O carro, apesar da conquista em Indy e da vitória de Danny Sullivan
em Long beach, não fez muito mais e mostrou, no computo geral ser um
carro sem muita opção competitiva. A equipe Galles (agora só Galles)
voltaria ao tradicional Lola no final do ano de 1992 com os
tradicionais motores Chevrolet, que também estariam fazendo sua
derradeira temporada na PPG-Cart Series. Dominic Dobson ainda tentou
sem sucesso utilizar o chassi com os motores Ford, mas não houve
chance de melhoras e com isso o carro foi descontinuado ainda em
1993. O que culminou no encerramento da produção e desenvolvimento
destes chassis foi que os investidores desta empresa apresentaram
problemas com suas próprias companhias devido à recessão ocorrida
durante o governo de George Bush (não seu filho, George Walker Bush)
e também pelo fato da possibilidade de desenvolvimento ser muito
caro. Eles não possuíam um túnel de vento, sendo que sempre alugavam
o que a Penske possui, nos Estados Unidos. Mas mesmo assim não era
um típico para carros Open Wheel (Fórmula). Cada unidade que a
Galmer produzia custava à bagatela de US$ 1.200.000,00 enquanto
comprar um pacote Lola com peças e três duas gerações de
desenvolvimento (testes acompanhados) custava "apenas" US$
875.000,00. Além de que sempre existiu algo na Cart que não existia
em nenhuma outra que era a camaradagem entre chefes de equipe. Nos
meus tempos de Cart, cansei de ver chefes de equipe e engenheiros em
apuros buscar alguma ajuda (óbvio que dentro do limite aceitável)
com peças de reservas ou algum tipo básico de set up. Para a Galles,
que começava a enfrentar uma decadência com Valvoline e a Toshiba
EUA - seus grandes patrocinadores - e a previsível saída Al Unser
Jr. para a Penske, voltar com um projeto deste nível, sem ter fundos
suficientes e um piloto experiente e inteligente, seria muito
difícil.
Desta forma é muito fácil chegar a simples conclusão disso tudo. O
Galmer proporcionou duas grandes conquistas num único ano (as
vitórias em Long Beach e Indianápolis), mas uma tremenda dor de
cabeça e a perda de reputação com os fãs e investidores. Com a
Penske já aconteceu isso algumas vezes, mas a grande diferença é que
a história e a estrutura da equipe de Reading não deixam dúvidas
sobre a sua capacidade, técnica e financeira a respeito de um grande
projeto.
Um
grande abraço e até a próxima.
Fabio "Hyder" Azevedo

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Torcedor do Vasco da Gama e da
Associação Atlética Anapolina, fui
membro da Penske,
atualmente sou Analista de
Tecnologia da Informação mas continuo
apaixonado pelas corridas como nunca. Nas quartas-feiras, falarei sobre as
minhas experiências na categoria, além de contar histórias dos bastidores que
poucos conhecem.
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