"Coluna do
Hyder"
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Fabio "Hyder" Azevedo
Saudades a
mais de 400 Km/h

Moore feriu a mão em um acidente nos pits, mesmo assim queria de se
despedir da Forsythe com uma vitória.
Olá pessoal, muitas coisas aconteceram no dia 31 de outubro, que me
deixou bem intrigado de como o ser humano pode se tornar em relação
a certas circunstâncias, mas como Deus pode e faz maravilhas em
nossas vidas. Foi o que realmente valeu a pena neste momento e
sempre. Essa a coluna, especificamente, é algo que foi e está sendo
bem difícil de escrever. Quero falar pouco sobre o dia 31 de outubro
de 1999 e muito sobre as realizações de um projeto póstumo e de um
legado e a saudade grande em todos que ele deixou. Falar do Greg e
suas qualidades e defeitos é algo muito, mas muito simples e fácil.
Duro é administrar esta saudade que os amigos e a família – Moore e
da Cart – sentem. Ah, isso é muito duro! Biografias e histórias
sobre aquele dia estão em todos os cantos da Internet, mas aqui vou
escrever um breve relato dos meus últimos contatos com ele o que já
foi feito depois de seu falecimento na pista de Fontana.
A família Moore, num ato de desprendimento e grandeza criou a Greg
Moore Foundation. Esta é uma entidade especificamente atuante com
foco em crianças carentes no oeste do Canadá e Estados Unidos. Os
“chicanos” (mexicanos e outros latinos que tentam a imigração ilegal
para os Estados Unidos) recebem atenção e suporte financeiro,
psicológico e espiritual, pois a família é evangélica e tem em Deus
a sua força, principalmente para superar a perda do Greg. Quando
encontrei com Mr. Moore (Rick) aqui no Rio, ficou evidente a emoção
que me causou – cheguei a travar as pernas -, pois a superação e a
manutenção do amor e fascínio pela velocidade e pelo trabalho da
Cart Charity (uma entidade da antiga Cart que tratava de angariar
fundos para caridade em alguns países, inclusive no Brasil). O que
mais me chamou a atenção nisso tudo é que, tirando a comunidade da
Cart (pilotos, equipes, patrocinadores e parceiros) e as comunidades
beneficiadas, a divulgação sobre o que era arrecadado nos leilões
era pouca ou quase nenhuma, pois não era interessante para ninguém
ganhar em publicidade sobre a “desgraça” dos outros. Os incêndios de
San Bernardino, onde fica o autódromo de Fontana (Califórnia
Speedway), recebeu um suporte financeiro da Cart e isso foi
divulgado, pois nesta época já se tratava da falência da empresa e
uma propaganda positiva era importante.
A minha grande crítica póstuma é que, como ele já estava sob
contrato da Marlboro Team Penske, não tinha chances naquele título e
já havia sido liberado pelo Gerry Forsythe por razão de uma queda
numa motoneta e lesionou os dedos da mão direita. Mas o seu
comprometimento com a equipe que deixaria e a sua paixão pelo
velocíssimo superspeedway da Califórnia falaram mais alto que o bom
senso.
Infelizmente
todos já sabem o final desta história. Lembro que em julho ele havia
falado que a mudança para o time Penske estava acertada, mas que a
divulgação seria feita apenas em setembro, pois a equipe estudava a
possibilidade de um terceiro carro para Al Unser Jr., que é amigo de
Roger Penske e tem uma grande história na equipe, o que acabou não
acontecendo. Os agentes da Penske Racing chegaram a conversar com o
Greg e com o Gil para não cometerem loucuras na pista, pois não
tinham chances de conquistar o título e dentro de três semanas
estariam trabalhando com três Reynards alugados da PPI e da Ganassi.
Roberto Moreno, o "Super Sub" da temporada 1999 da Cart, estava de
macacão e banco, pronto para correr. Enfim... Quando as coisas estão
escritas que devem acontecer... Não há muito que falar ou pensar...

Roberto Moreno foi chamando de última hora para substituir Moore,
mas o destino já estava traçado.
Sempre brinquei com as minhas amigas pelo tradicional "Halloween"
(Dia das Bruxas), mas sempre me lembro daquela tarde triste de
domingo quando a despedida de um querido amigo deixou um tremendo
vazio. Ele sempre estará nos corações e nas lembranças de seus
amigos, fãs, parceiros profissionais... O jantar de gala no dia
seguinte a corrida – numa segunda-feira, aconteceu por desejo da
família Moore, onde muitas homenagens e muita emoção cercaram aquele
lugar. Os premiados da temporada, assim como os vencedores de outros
prêmios tornaram-se insignificantes perto da homenagem linda que foi
preparada. As lágrimas foram constantes e todos. Este acontecimento
proporcionou o ingresso do Helinho Castro Neves na equipe e fiquei
feliz com isso, pois era mais um grande cara ali dentro e a equipe
criava uma forma meio brasileira, mas acredito que não era assim que
o Hélio gostaria de ingressar na Penske.
A saudade é de quem fica, até o dia do reencontro. Gente como o Max
Papis, Dario, Tony e Al Jr., assim como membros e colaboradores das
equipes, a maioria anônima para o grande público, e me coloco neste
time, sentimos uma dor cortante. Como disse, não estava lá, mas ver
as bandeiras ficarem a meio mastro no meio da prova foi à certeza de
que ele não sobreviveu aquele acidente terrível.
Considerações que podem ser feitas após o falecimento dele: a
segurança melhorou muito depois deste trágico dia, os fabricantes de
chassis foram obrigados a reforçar ainda mais a célula de
sobrevivência. Não é a garantia total, pois este é um esporte muito
perigoso e estes caras sabem o que fazem e conhecem os riscos.
Esta coluna não poderia ser dedicada a ninguém mais que meu amigo
querido e grande camarada. Escrevi ao som de Journey, uma das bandas
preferidas dele. Fiquem com Deus e que todos sejam muito felizes.
Um grande abraço e até a próxima.
Fabio "Hyder" Azevedo
http://blogdohyder.blogspot.com

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Torcedor do Vasco da Gama e da
Associação Atlética Anapolina, fui
membro da Penske,
atualmente sou Analista de
Tecnologia da Informação mas continuo
apaixonado pelas corridas como nunca. Todas as semanas, falarei sobre as
minhas experiências na categoria, além de contar histórias dos bastidores que
poucos conhecem.
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