Reportagens 2006


André Ribeiro dez anos

Foi a última vitória de um brasileiro dentro do país em uma competição automobilística internacional de destaque

 

Texto: Divulgação

 

André Ribeiro comemora, com a bandeira brasileira, vitória na prova Rio 400 da Champ Car.

 

O paulista André Ribeiro tem um bom motivo para figurar na história do automobilismo brasileiro. Ele foi o primeiro a ganhar uma corrida no Brasil por uma categoria internacional depois de Ayrton Senna, tricampeão de Fórmula 1. Sua vitória aconteceu na primeira edição das 200 milhas do Rio de Janeiro da Champ Car, realizada em 1996. O feito teve como cenário uma versão modificada do autódromo de Jacarepaguá, que tornou oval uma das mais tradicionais pistas do País.

 

"A primeira corrida que eu vi na minha vida foi no Rio. Os primeiros carros que vi estavam em Jacarepaguá", lembra André. "Então é uma pista muito especial. Lembro daquela época e vejo que se tivesse vencido em São Paulo, em Interlagos, a sensação não seria tão forte", analisa. "Além do mais, o evento daquele primeiro ano foi muito bem articulado, com uma organização muito intensa", conta sobre a prova que não está mais no calendário.

 

Ao vencer a etapa carioca, André era piloto contratado da equipe Tasman, com a qual já obtivera sua primeira vitória da carreira. Em 1995, ele fazia seu ano de estréia na então principal categoria dos Estados Unidos, quando ganhou em New Hampshire, dando à Honda também seu primeiro êxito na Champ Car. Ele já chamara a atenção dos donos de equipes na temporada anterior, ao ser o estreante do ano na Indy Lights, chegando ao vice-campeonato com quatro vitórias e quatro poles positions.

 

André Ribeiro conta que o carro justificava uma certa dose de otimismo para sua conquista no Rio. "Ele estava muito rápido logo nos treinos. Só que há uma diferença muito grande entre estar bem e vencer, ainda mais numa prova de longa duração", diz. A sorte também foi um aspecto considerável para que recebesse a bandeirada em primeiro lugar. "Meu carro deu uma escapada duas vezes e não bateu no muro por muito pouco. E ainda aconteceram algumas coisas que limparam o caminho", comenta.

 

Sua estratégia em Jacarepaguá era retardar o quanto fosse possível os reabastecimentos, aproveitando-se das bandeiras amarelas que interrompiam com freqüência a disputa no circuito. "Tínhamos um carro espetacular", destaca. O canadense Greg Moore chegou a ocupar a ponta, mas abandonou. "Quando o Robby Gordon bateu, veio a amarela e achei que estava com a vitória nas mãos. Mas eles limparam a pista em três voltas. O público até vaiou o carro de resgate", descreve.

 

O principal adversário de André Ribeiro nas voltas finais era o veterano norte-americano Al Unser Jr., bicampeão da Champ Car. "Gelei quando vi que ele estava atrás de mim. O cara sempre foi conhecido por acelerar no fim, ganhando nos últimos momentos," reconhece. Ele ainda fala sobre a catimba do rival. "Durante o tempo em que a corrida ficou interrompida, o Al Unser colocava o carro do meu lado só para me ameaçar e me desestabilizar, mas continuei na minha", relata.

 

André não economiza adjetivos na hora de descrever a emoção da vitória. "É mais do que se eu ganhasse em Indianápolis ou levasse o título. Tive a chance de agradecer às pessoas que confiaram em mim. Dei um abraço no Bruno Minelli, por exemplo, como se dissesse: ‘olha o que dou em troca depois do que você fez por mim’", recorda. No pódio, ele esticou a bandeira do Brasil atrás da cabeça num gesto que tomou as páginas dos jornais da segunda-feira seguinte e dos anúncios dos patrocinadores.

 

Sua carreira como piloto começou tarde. A primeira corrida de kart que disputou no Brasil foi em 1985, aos 19 anos. Depois de quatro temporadas no kart, se transferiu para a Fórmula Ford em 1989, terminando em terceiro. "Depois de um ano de Fórmula Ford tive de me decidir quanto à carreira que iria seguir. Já tinha trabalhado numa rede de roupa masculina e num banco e ainda cursava Direito. Escolhi largar tudo, me mudar para a Europa e prosseguir com o automobilismo", lembra André

 

Correu no campeonato europeu de Fórmula Opel, chegando em segundo em Donington Park. Correu pelo Team Lotus Nederland (Holanda) e no National Cup em Spa-Francochamps, ajudando a equipe brasileira a conseguir o segundo lugar. Competiu nas seis últimas provas do campeonato inglês de Fórmula 3. Chegou em sexto na prova de Donington Park. Correu pela Paul Stewart Racing.

 

Sua primeira temporada completa na Fórmula 3 Inglesa. Correu pela Paul Stewart Racing. Largou uma vez na pole (em Silverstone) e subiu uma vez ao pódio, terminando em 10º lugar. Correu pela terceira vez na Fórmula 3 Inglesa na equipe Fortec Motorsport. Largou duas vezes na pole e subiu ao pódio em quatro, terminando a temporada em 5º lugar.

 

Seu passaporte para a Champ Car foi obtido em 1994, com a excelente performance na Indy Lights, onde venceu quatro provas - Portland, Mid-Ohio, Vancouver e Laguna Seca - largou quatro vezes na pole position e subiu ao pódio em mais três corridas. Levou o título de "Estreante do Ano" e o vice-campeonato.

 

André disputou sua primeira temporada na Champ Car em 1995, ao volante de um Reynard Honda da Tasman Motorsports. Foi neste ano que conquistou sua primeira vitória depois de largar na pole position em New Hampshire, dando à Honda também sua primeira vitória na categoria, na qual era estreante. Foi um dos três pilotos e o único estreante a vencer e largar na pole a mesma corrida, o que lhe rendeu US$ 75.000. Foi o estreante mais rápido no treino classificatório das 500 milhas de Indianápolis. Foi eleito um dos dez melhores pilotos pela revista Autosport. Terminou a temporada em 17º lugar com 38 pontos.

 

Em 1996, André conseguiu o que define como "a maior emoção" de sua vida: A vitória na Rio 400, quando a prova estreou no Brasil. No mesmo ano, nova vitória, desta vez nas 500 milhas de Michigan, mesma pista onde se tomou o homem mais rápido do mundo ao atingir o recorde de velocidade com a marca de 407 km/h. Largou, pela primeira vez, na pole de um circuito de rua em Toronto. Foi um dos quatro pilotos a largar na pole e vencer durante o campeonato. Chegou sete vezes entre os dez primeiros colocados e em onze das dezesseis provas, largou entre os dez primeiros. Terminou a temporada em 11º lugar com 76 pontos.

 

Terceira temporada correndo pela Tasman Motorsports. Após as dificuldades que teve com o chassis Lola, mudou para o Reynard, em Cleveland. Subiu ao pódio pela primeira vez no campeonato (terceiro colocado) no GP seguinte, em Toronto. Liderou a maior parte do GP de Fontana antes de deixar a prova devido à falta de combustível. Terminou a temporada em 14º lugar com 45 pontos. Assinou contrato com o Marlboro Team Penske no final do ano.

 

André Ribeiro se uniu à equipe Penske em 1998, a mais importante da categoria. Até então, André representava a equipe Tasman, pela qual conquistou três vitórias - sendo uma delas na estréia do GP do Brasil, em 1996 no Rio de Janeiro e duas pole positions em apenas três anos de categoria. Porém a equipe Penske estava desenvolvendo seu próprio chassi e motor, e André não teve condições para fazer uma boa temporada. Seu companheiro na Penske era o norte-americano Al Unser Jr. André trabalhou sob a tutela de Rick Mears, consultor da equipe.

 

Desde o começo de sua carreira como piloto, André teve de batalhar para conseguir patrocínio e prosseguir no automobilismo. Uma experiência que o trouxe ao mundo dos negócios e o ajudou a desenvolver uma nova e respeitada postura profissional. Segundo Roger Penske, o dono de sua nova equipe, essa foi uma das habilidades que atraiu sua atenção para o piloto brasileiro.


André também impressionou Rick Mears. "Estou bastante impressionado com seu profissionalismo e habilidade natural. Ele dirige bem e tem uma visão global da coisa. Sabe que é a harmonia entre todas as peças do quebra-cabeça que faz tudo funcionar bem", comentou Mears.

 

Na pré-temporada de 1999, ele recebeu uma tentadora proposta de Roger Penske: representar no Brasil seus negócios no mercado automobilístico. No entanto, teria de abdicar de sua carreira nas competições. "Ele me disse que estava me dando uma oportunidade para o resto da vida. Se continuasse dirigindo, teria apenas uma oportunidade de carreira", conta.

 

Revende no Brasil carros das marcas japonesas Toyota e Honda, assim como da General Motors, no Auto Shopping, um centro que concentra lojas e serviços de grandes montadoras na zona leste da capital paulista. Ele então divide sua nova vida entre o escritório na Vila Matilde e as reuniões com os demais sócios em território norte-americano. Mesmo preocupado com os negócios numa economia cheia de oscilações, o empresário não perde o jeito de um bom relações públicas.

 

Além disso, sua preocupação com a segurança pesou na decisão. "O senhor Penske disse que eu não precisava mais ficar me arrastando pelos muros por aí", diz fazendo referência aos comuns acidentes dos autódromos ovais. E uma série de incidentes também foi responsável para que ele não pensasse em voltar. Na abertura do campeonato de 1999, primeira em que não correria, uma batida forte quebrou as pernas de seu ex-companheiro, Al Unser Junior. Depois, o uruguaio Gonzalo Rodriguez morreu nos treinos para sua segunda corrida na Penske, usando aquele que seria o carro de André. Na última prova do ano, Greg Moore teve um acidente fatal que impediu sua transferência para o time em 2000.

 

Ribeiro recebeu um capacete comemorativo em homenagem ao seu feito em Jacarepaguá no ano de 2005.

 

Pouco mais de nove anos depois da mais importante vitória de sua carreira, André Ribeiro relembrou a conquista. O ex-piloto expôs na pista carioca o mesmo carro que o levou à vitória em julho último. Ele também mostrou aos pilotos da Fórmula Renault e da Copa Clio e da Fórmula 3 Sul-Americana que disputavam o Renault Speed Show, seu capacete, a luva e o troféu conquistado.

 

"É um momento especial para mim e para os amantes do automobilismo. A vitória em casa é uma emoção diferente, uma experiência indescritível. Fico triste por nenhum outro piloto brasileiro ter vencido uma prova internacional tão importante após a minha conquista em 1996",  disse André Ribeiro.

 

André Ribeiro recebeu um capacete comemorativo das mãos de João Vitorino, diretor de marketing do ABN Aymoré Financiamentos. Visivelmente emocionado, ele aproveitou para se posicionar contrário às anunciadas obras no autódromo, que, segundo projetos, retaliarão o traçado.

 

"Dá um aperto saber que o autódromo será alterado ou até mesmo mutilado. Através do Renault Speed Show vamos tentar ajudar o automobilismo que deu tantas glórias ao Brasil e contribuir na formação de novos talentos", completou Ribeiro, que levantou outra vez o troféu de mais de 20 quilos entregue em 1996.

 

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