Reportagens 2006


Muda a direção dos ventos - Agora a IRL é quem agoniza

 

Por Gustavo Lucena

 

A crise instalou-se na IRL: fuga de carros, fornecedores, patrocinadores e público.

 

Embora ainda sofra com a falta de patrocínios fortes na maioria das equipes, a Champ Car aos poucos retoma a sua posição de principal categoria de monopostos depois da F-1. O que segurou a categoria no período de vacas magras foi o público presente aos circuitos não-ovais, principalmente os de rua. Para 2007 ficou prometida uma drástica mudança no regulamento, o que poderá representar o fim da monomarca, que ultimamente vem sendo um mal necessário à categoria. Agora, está dando a volta por cima. Ganhou audiência na TV graças a associação com a CBS e a NBC que transmitem metade das etapas ao vivo em rede aberta em todo os Estados Unidos, ano passado tiveram a maior média de público da categoria desde 1979. As equipes dissidentes (Ganassi, Andretti Green e Rahal Letterman) já pensam em retornar seduzidas por provas em circuitos mistos (diferencial em relação a Nascar) e em outros países como Canadá, México e Austrália além de custos menores (pois somente a Ganassi teve 15 carros completamente destruídos em acidentes na última temporada).

Por outro lado, a sua rival, a IRL vem sofrendo grandes perdas. A Toyota e a Chevrolet pediram o boné e foram investir na Nascar - a partir de  2007 os japoneses estarão presentes na Nextel Cup, divisão principal categoria. E
hoje, a categoria do Tony George se equivale a Champ Car em vários aspectos, só divergindo em alguns detalhes de regulamento. Ambas se tornaram monomarca. Na IRL ainda existe uma competição entre os chassis Dallara e Panoz (que vai acabar a partir da etapa do Texas, pois todos os modelos serão Dallara), mas a empresa norte-americana está de malas prontas para migrar definitivamente para a Champ Car em 2007.

A crise que a Champ Car viveu até recentemente agora atinge a IRL. A Panther quase encerrou suas atividades na categoria (demitiu metade dos funcionários vendeu equipamentos e carros do museu da equipe para pagar as dívidas e mal consegue manter um único carro nessa temporada depois que a
Pennzoil, tradicional patrocinadora do automobilismo norte-americano cortou quase toda a verba de patrocínio), assim como a Cheever, cujo patrocinadores fortes como Red Bull também deixaram o barco e que não deve mais correr na categoria após Indianápolis pois não possui patrocínios e com isso poderemos ter menos de 20 carros grid depois das 500 milhas. Garantidas para o ano inteiro somente as equipes Penske, Ganassi, Andretti Green, Rahal Letterman e Fernandez, curiosamente todas dissidentes da Champ Car. As tradicionais equipes da IRL como a Hemelgarn, Dreyer & Reinbold, e A.J. Foyt estão em situação pior que a Panther. Tony George foi obrigado a criar a Vision, usando seu próprio dinheiro sem ajuda de patrocinadores, pois as redes de TV exigem um grid mínimo de 18 carros para poderem transmitir as corridas e desde 2002 a quantidade de carros e equipes diminui - antes tínhamos facilmente 28 carros disputando uma corrida de IRL.

Além disso, Tony George teve um prejuízo considerável com o polêmico GP dos Estados Unidos de F-1. Para 2006 novamente ele terá que se desdobrar muito e desembolsar mais dinheiro seu para ver o grid das
500 milhas de Indianápolis preenchido com seus tradicionais 33 carros.
 

Essa crise da IRL apareceu justamente no momento em que a ela vinha tentando se firmar como uma categoria mais profissional e séria, com a entrada de circuitos mistos e buscando uma credibilidade maior perante ao público europeu e brasileiro. Talvez abatido pelos minguados públicos nos circuitos ovais a o planejamento não deu o resultado esperado. Até mesmo o calendário teve de ser reduzido por questão econômica. Eram 16 agora são 14 etapas, espremidas entre os meses de março e setembro. E o pior, a TV nem sempre transmite todas as corridas e o público de autódromo fica em torno de 20.000 pessoas - antes chegou a ser de 140.000 fãs.


Essa derrocada soa como um castigo da prepotência de Tony George. Ao querer insaciavelmente destruir a Champ Car, ele se esqueceu de planejar que uma crise dessas poderia acontecer em seu próprio quintal. Os dirigentes da Champ Car milagrosamente vem sustentando a categoria e esta parece estar saindo do vermelho, embora ainda esteja dependendo de subsídios dos promotores para sobreviver.

 

Por isso os dirigentes da IRL e da Champ Car já conversam sobre a reunificação dos campeonatos. Tony George, diretor da IRL e proprietário do autódromo de Indianápolis, disse em março desse ano que estava em negociação com os organizadores da Champ Car em busca da reunificação das categorias. "Há razão para ser otimista? Certamente é possível, mas nós temos um longo caminho pela frente", disse George. "Todos gostariam de ver isso acontecendo o quanto antes, mas não é algo que você pode apressar. Não é algo que podemos resolver em algumas semanas ou dois meses”.George reconheceu pela primeira vez que os dois campeonatos devem colocar um fim na separação que já dura dez anos. O dirigente fala em um acordo para 2008, mas não descarta a possibilidade de ela acontecer já no ano que vem.

 

No ano passado, quando falaram em um acordo entre as duas categorias, George citou nove pontos a serem acatados para que a reunificação fosse viabilizada. Entre eles estava a proposta de um calendário com 18 a 20 provas – dividas entre circuitos ovais, mistos e de rua, com a inclusão das 500 Milhas de Indianápolis –, a adição de provas internacionais e a junção dos funcionários dos dois campeonatos, com um grupo de conselheiros gerenciado por Kalkhoven.

Nas conversas mais recentes, não se sabe se tom foi mesmo. Segundo Kevin, os termos de um possível acordo ainda não foram tratados. "Não estamos negociando ainda, não há um acordo. Estamos falando do que temos em comum, não de nossas diferenças", resumiu. A verdade é que a imprensa local já dá o negócio como fechado já para 2007. A proposta aprovada teria sido essa: motores turbo Ford e Honda (continuando a serem fornecidos pela Cosworth, mas preparados pelas duas montadoras), a Dallara vai construir um carro para competir com o Panoz DP01, teremos um calendário com 22 provas e o anúncio oficial da reunificação será no Carburation Day, durante as 500 milhas em maio.


Uma hora os dois lados terão de ceder, antes que seja tarde, pois se hoje a Champ Car aparenta estar em uma melhor situação, futuramente ela poderá voltar a decair. Essas crises parecem terem se tornado um ciclo vicioso no automobilismo de monoposto dos Estados Unidos na última década.

É preciso humildade e bom senso para que novamente não aconteçam esses percalços. Com reunificação todos ganhariam, até mesmo a categoria de Bernie Ecclestone, que seria obrigado a buscar mecanismos para torná-la mais atraente e interessante. É
preciso avisar aos dirigentes norte-americanos que os ventos sopram sempre numa única direção.

 

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