Setembro 2.002

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História do Movimento Homossexual - Dispersão e o Momento Atual

 

         Em 1981 deveria ocorrer o II Encontro Brasileiro de Grupos Homossexuais, mas o grau de atrito entre os diferentes grupos fez com que apenas acontecessem dois reduzidos Encontros Regionais, um no Nordeste e outro em São Paulo.

         Apesar da visível dispersão que estava ocorrendo, o SOMOS ainda chegou a alugar uma sede para as suas atividades (a primeira com este caráter no Brasil), mas problemas financeiros aliados com os problemas políticos, fizeram com que o grupo se dispersasse definitivamente em 1983. Um ano mais tarde, o grupo Outra Coisa, formado pela dissidência do SOMOS e editores do Lampião também encerrou suas atividades. Dos principais grupos surgidos no início da década, somente o Grupo Gay da Bahia e Ação Lésbico-Feminista conseguiram se manter ativos durante os anos 80.

         Pode-se dizer que, além da polarização que surgiu dentro do movimento, diversos outros fatores contribuíram para a sua dispersão. Apesar de ser praticamente impossível determinar com exatidão as causas desse processo, é possível apontar algumas “pistas”.

8         Os setores de classe-média da sociedade, como estudantes e profissionais liberais (entre os quais se encontravam a maioria dos integrantes do movimento) que cumpriam um papel determinante na luta contra a ditadura entre 1977 e o início da década de 80, assumiram um outro caráter a partir do crescimento do movimento operário da época. Os setores mais militantes do movimento que viam no movimento operário a resposta estrutural para questões relacionadas às liberdades democráticas, não souberam como combinar militância em torno de suas reivindicações específicas com as demais atividades. Isso acabou criando um certo “mito” de que somente “após a revolução”, negros, índios, mulheres e homossexuais poderiam conquistar o espaço que lhes cabia.

8         O gradativo enfraquecimento da ditadura, e sua derrocada final em 1984 criaram grandes ilusões democráticas entre amplos setores dos chamados grupos oprimidos. Já em 1982, a possibilidade de se apresentar pela primeira vez um candidato abertamente homossexual às eleições (pelo PT) fez com que muitos pensassem que a sociedade estava pronta para assimilar (ou no mínimo começar a dialogar com) a homossexualidade. Particularmente depois de 84, a burguesia liberal adotou uma política de “concessões” em relação aos setores oprimidos. Secretarias “especiais” de mulheres e negros surgiam em vários estados, numa tentativa de institucionalizar o movimento. Mesmo entre os homossexuais, criou-se a expectativa de que era possível conquistar um espaço.

8         O surgimento dos primeiros casos de Aids (denominada inicialmente de “peste gay”pela imprensa e setores conservadores)  em meados da década, apesar de ter servido como estímulo para organização de diversos pequenos grupos homossexuais, acirrou ainda mais o preconceito.

8         Houve um retrocesso generalizado, mundial e contraditório, em relação aos padrões de comportamento estabelecidos “pós-68” e consolidados no Brasil no princípio da década de 1980. Esse “retrocesso” não atingiu somente os homossexuais como também marcou de forma profunda as poucas conquistas que as mulheres e a juventude em geral haviam alcançado.

Enfim, quaisquer que tenham sido as causas, o fato é que os poucos grupos que sobreviveram à década de 80, o fizeram de forma dispersa e atomizada.

Em 1993, quando da realização do 7º Encontro Nacional de Lésbicas e Homossexuais, constatou-se que existiam aproximadamente 43 grupos atuando no país; destes, 19 estiveram presentes no encontro. Por esse momento, poderemos destacar alguns grupos de projeção nacional (e mesmo internacional) como o Grupo Gay da Bahia (GGB), Coletivo de Lésbicas Feministas (SP), o Grupo de Homossexuais do PT, o Triângulo Rosa e o Atobá (RJ), Dignidade (PR). Apesar do encontro ter demonstrado que existiam grandes diferenças entre os grupos, percebeu-se a existência de “vontade política” para se organizarem nacionalmente. Movidos pela pressão e pelos efeitos concretos da discriminação, gays e lésbicas de todo o país sentem que organização não é apenas necessária, como também essencial.

          Caberia ainda ressaltar que, em outros países, também ocorrem processos bastante semelhantes. Hoje existem grupos e organizações homossexuais em todos os países da América Latina.



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