História

É uma história que se repete, mas com ritmo. Um grupo de garotos de origem humilde se reúne, forma uma banda, luta com determinação, supera todas as dificuldades e, enfim, acha o ouro no final do arco-íris. Das ruas mal pavimentadas da Baixada Fluminense, onde sobreviver é a regra número um, aos palcos iluminados de todo o mundo, sem perder a ternura jamais.

Essa foi a longa caminhada do Cidade Negra, um grupo que hoje ouve sem parar um mantra de hipnótica alegria: sucesso e respeito, sucesso e respeito, sucesso e respeito...

Foi tudo uma questão de fé. O pai de Bino (baixo) tocava violão e sua mãe cantava numa igreja local. De tanto frequentar o lugar, Bino acabou fazendo amizades. Com Lazão e Da Gama, formou o Novo Tempo, inicialmente concebido para uma missão divina: tocar num festival na igreja. Em 1983, com a entrada de Bernardo, surgiu o primeiro embrião do Cidade Negra: o grupo Lumiar. Abastecidos pela paixão em comum pelo reggae, Bob Marley, o eterno, em especial, o Lumiar se alimentou também de música brasileira (Tim Maia, entre outros) e de boas fontes externas, como o funk e o soul dos anos 70, além de clássicos rock como Deep Purple e Led Zeppelin. Desse mix de estilos e tendências, viria o som único do Cidade Negra.

Em maio de 1986, o primeiro show aconteceu, no Teatro Arcádia, na Baixada, como parte de um projeto cultural desenvolvido pelo grupo Hamlet chamado "Terças culturais".

Por causa da existência de uma outra banda, não reggae, que tinha o mesmo nome, o Lumiar foi arquivado e o Cidade Negra veio ao mundo. Discos e programas com o BatMacumba, que , de forma pioneira, trazia para a rádio carioca novas e tradicionais tendências do reggae, eram ouvidos em encontros na casa de Lazão, que tocava percussão em blocos de carnaval. Os primeiros ensaios foram na casa de Da Gama, com instrumentos emprestados.

Na rua, o projeto Reggae NEC, que acontecia num casarão no Catete, bairro da zona sul do Rio, abria espaços para novas bandas de reggae. Na rua também, a imagem de Bernardo e Da Gama, ambos de dreadlocks, incomodava. Policiais eram atraídos até os dois como abelhas pelo mel. No final, a única sujeira à vista depois das duras era o preconceito do mais forte.

Um documentário da BBC sobre a cultura na Baixada, com destaque para a banda, serviu como incentivo para o Cidade. Apoiado pelo amigo e posterior produtor, Nélson Meireles, o Cidade Negra entrou na Sony Music pela porta da frente.

E logo depois tinha em suas mãos seu primeiro disco, "Lute para viver", lançado em 1991, que destacou o hit "Falar a verdade". O disco teve a participação especial de Jimmy Cliff na música "Mensagem".

No ano seguinte, o grupo tocou pela primeira vez no Reggae Sunsplash, em Montego Bay, Jamaica. No retorno, o estúdio esperava a banda. Mais pesado e contundente em suas letras, "Negro no poder" foi o segundo disco do Cidade Negra, e também o último com Bernardo, que saiu da banda para seguir carreira-solo.

Carismático e dono da voz que marcou a primeira fase da vida do Cidade Negra, Bernardo, teve um substituto à altura: Toni Garrido, ex-vocalista da banda de funk e soul Bel, foi o escolhido. E Bernardo, solo, acabou se transformando em Ras Bernardo.

Com Toni Garrido, o Cidade ganhou suingue e feeling soul. Mais pop, mas não menos dedicado aos temas sociais, o Cidade viu sua fórmula de equilíbrio ser consagrada com o sucesso do seu terceiro disco, "Sobre todas as forças", produzido por Liminha, e lançado em 1994. O convidado dessa vez foi Shabba Ranks, na música "Dowtown". Mas o grande hit foi mesmo o reggae romântico "Onde você mora", com letra de Nando Reis, dos Titãs, e Marisa Monte.

A solidificação do sucesso da banda veio com "O erê", mais uma vez produzido por Liminha e contando com as participações de Patra ("Realidade virtual") e Inner Circle ("Free", em duas versões). O sucesso fez bem à saúde de todos, mas não os afastou de suas raízes. Hoje, é o Cidade quem empresta instrumentos e oferece recursos para bandas iniciantes da Baixada, onde o grupo é saudado como um exemplo.

Nas ruas, as dreadlocks dos seus integrantes continuam a atrair a atenção da polícia, só que agora em busca de autógrafos.

O quinto disco do grupo é "Quanto mais curtido, melhor", assinado por aquele que mais entende de Cidade Negra dentro de um estúdio: Liminha. O disco traz a participação da cantora africana Angelique Kidjo na música "Ponto de mutação" e do midas pop Lulu Santos na inédita "Sábado à noite"..

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