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A verdade (ainda) está lá fora

DivulgaçãoDesde que estreou em 1993, “Arquivo X” marcou época com sua inovadora proposta de propiciar “um pequeno filme” semanalmente. Quebrando diversos paradigmas na telinha, até então inferiorizada diante da irmã maior. Algo que já antecipava a ascensão natural do próprio enlatado aos cinemas - posteriormente. Traduzindo, cada capítulo possuía uma altíssima qualidade técnica, além de se apegar a roteiros inteligentes e instigantes, explorando fenômenos paranormais, UFOs ou qualquer outro evento recheado de absurdos inexplicáveis - pros conceitos mais ortodoxos. Seu conjunto resultante era sempre dividido entre “episódios mitológicos”, que abordavam aspectos gerais da série (e exigiam certo conhecimento da história transcorrida até aquele ponto), e os ditos “monstros da semana”, capítulos "autocontidos", sem qualquer relação com os demais contos bizarros, mostrando tramas com início, meio e fim super definidos - e dissociadas entre si - facilitando o entendimento dos (inúmeros) expectadores casuais. Que só engrossavam a audiência do seriado.

Retornando agora às telonas, após nove temporadas inesquecíveis e um controverso (bom) longa-metragem (lançado em 1998, como ponte entre a 5º e a 6º temporada), este “Eu Quero Acreditar” (dirigido pelo criador Chris Carter) funciona como se fosse um autêntico “monstro da semana”, agindo neste mesmo “esquema” desconexo da mitologia televisiva. Abraçando, nesta manobra, um público geral que não necessariamente viveu a febre provocada por este clássico da TV americana (nos anos 90). Entretanto, se a nova empreitada adquire amplitude por ser inteligível (até) para àqueles alheios ao farto passado de Mulder e Scully, no final da projeção, temos a certeza de que ela será apreciada especialmente pelos Excers, como são chamados os admiradores (assumidos) de “Arquivo X”. Pois, os agentes (citados logo acima) voltam ao batente em um caso, digamos, tosco - negativamente intragável de tão tacanho.

O enredo da película coloca os protagonistas “especializados nesta área” numa investigação envolvendo o vil desaparecimento de uma oficial do FBI - em circunstâncias (como sempre) obscuras - cuja solução passa pelas “visões oníricas” de um Padre desacreditado, o único a fornecer pistas, mesmo que num prisma cognitivo, sobre o ocorrido. Mas, quando revelada, a causa para estes “mórbidos sumiços” (vou poupá-los de maiores detalhes, evitando Spoilers desagradáveis) se torna tão ridícula, que dificilmente compraremos a idéia (quase impossível) aventada por detrás desta “experiência” canhestra. Os pobres (coitados) dos investigadores bem que mereciam uma tarefa melhor neste regresso... Sem contar a importância (médico-forense!) do Google (!!) na hora de desvendar o bárbaro crime (morram de inveja CSI Miami!!!).

Desta forma, o único ponto indiscutivelmente agradável da obra (no todo, bem decepcionante) acaba sendo o reencontro - realmente cinematográfico - dos fãs com o amado casal principal, interpretados pelos excelentes David Duchovny e Gilliam Anderson. Ambos, recriando a velha química dos "primeiros anos de parceria" - envoltos novamente no (dualístico) embate entre suas posições opostas, crença e ciência, respectivamente. Neste viés, os mais fanáticos vão se deliciar com as referências (vide o próprio título do longa, extraído da lapidar frase escrita no cartaz que Mulder expõe com enorme carinho em sua sala) e as confidências entre os dois personagens centrais. Shippers ficarão felicíssimos, matando a vontade de vê-los como amantes, não amigos (uma cena-surpresa deles “acordando juntinhos” irá levá-los a loucura).

Nada contra - pelo contrário - diversas destas partes refletem alguns dos melhores momentos do histórico produto (dentro da ficção-científica). Afinal de contas, rever Fox Mulder (com seu característico sarcasmo desleixado) e Dana Scully (“agüentando” a teimosia do companheiro e desafiando o colega constantemente) só exacerba o saudosismo criado no hiato entre o fim do excepcional programa e seu renascer (mesmo periclitante) na Sétima Arte. Transposição esta, que termina (apesar dos tropeços) provando algo importante: “Arquivo X” faz uma falta terrível para os seguidores do gênero - de fato: "eu quero acreditar" - sem sombra de dúvida...

 

Carlos Campos

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