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O despertar remasterizado de Akira

DivulgaçãoAlguns clássicos não envelhecem jamais - principalmente depois de serem submetidos a um (meticuloso) processo de absoluta restauração, como aconteceu nesta coleção comemorativa dos 20 anos de “Akira”, remasterizada com altíssima definição de sons e imagens (bonitas, limpas e cristalinas como nunca). Revigorando assim, os aspectos tecnocráticos de uma animação imortalizada desde que estreou em 1988, para espanto total daqueles que (ainda) consideravam tal gênero como reles “coisa de criança”. Chegando ao Brasil num box luxuoso e - tardiamente - aproveitando a festança para comemorar o “Centenário da Imigração”, o filme cumpre a promessa de se apresentar tão bem acabado, com cores brilhantemente realçadas, ótimo contraste e opções de tela ao gosto da freguesia. Logicamente, sem preconceito, somente em widescreen (inexistente no tacanho - antiguíssimo - lançamento em VHS) apreciaremos devidamente a ampla magnitude dos detalhadíssimos quadros dirigidos por Katsuhiro Otomo, criador desta surpreendente (remodelada) obra-prima.

Lançado no Japão em 1882, “Akira” rapidamente se tornou uma das ficções científicas mais populares dos quadrinhos nipônicos, ganhando diversas traduções internacionais e um inédito colorido digital nas edições americanizadas (as mesmas que - posteriormente - chegaram ao Brasil via Editora Globo em setembro de 1990), já que os puros mangás (tradicionalmente) são desenhados - e preservados - em preto & branco. Algo que só validava a especificidade desta atração tão “incomum” aos olhos ocidentais. O histórico favorável da HQ acabou sendo - naturalmente - transferido (junto com os conceitos "pós-apocalípticos" do original) quando o projeto (enfim) debutou nos cinemas, pelas mãos do próprio Otomo, recontando nas telonas a história tecida por ele nas páginas da revista “Young Magazine” da editora Kodansha.

Marco instantâneo dos - cada vez mais populares - animes, “Akira” foi considerado (na época de seu debute cinematográfico) como sendo a resposta oriental para o cult “Blade Runner - O caçador de Andróides” (realizado pelo diretor Ridley Scott - coincidentemente? - em 1982), comparação esta, sensatamente aventada devido as - nítidas - similaridades no tratamento desprendido ao (coeso) universo Cyberpunk comum aos dois produtos. Ambos, exemplares profundamente chocantes e filosóficos. Por isso, a mega-cidade de Neo-Tokyo assemelha-se tanto em diâmetro quanto em ambientação (de caos) social da super-povoada São Francisco percorrida pelos - perseguidos - replicantes no (citado) longa norte-americano. Todavia, essa “visão” pessimista e sucateada do futuro - das megalópoles principalmente - não foram (aqui) as únicas empreitadas que estavam “a frente do seu tempo”. Ao custo estimado de US$ 10 milhões de dólares, “Akira” justificou (plenamente) o fato de ter sido o desenho mais caro da história japonesa, apresentando uma fluidez absurda (inimaginável, diria), perfeito sincronismo labial (coisa raríssima) e (precursores) efeitos em computação gráfica - garantindo (portanto) a máxima qualidade d’arte nas 160.000 células animadas (artesanalmente, vale explicar).

Num acabamento brilhante até para os modernosos padrões atuais. Efeito bem realçado pela recuperação (emergencial) do (já) desgastado fotograma utilizado na película, transferindo-o para um precioso Master em HD onde cada trecho seria devidamente retocado para manter seus - deleitosos - aspectos visuais intactos. Preservando as qualidades irrefutáveis de uma projeção diferenciada. O importante “banho de loja” favoreceu - exemplarmente - a experiência de vê-lo/revê-lo (como queiram). Revitalizando um conto cada vez mais significante. Isso, sem precisar remexer na narrativa (quase irretocável), limitando-se a afinar (cuidadosamente) os instrumentos - técnicos - de um conjunto atualíssimo, que resistiu a "poeira do tempo" com galhardia. Demonstrando uma força motriz tão poderosa quanto a exercida pelo - fascinante - personagem título. Respeitando a lembrança afetiva dos apaixonados fãs e permitindo (aka obrigando) novíssimas sessões deste respeitabilíssimo "divisor d'água", sem exageros. Como vão afiançar os fiéis apreciadores desta - legítima - saga futurista (do tipo) “fora de série”.

 

 

Extras

“Akira” veio devidamente embrulhado pra presente, envolto numa caixa metálica que guarda o DVD duplo e alguns itens colecionáveis, como a camiseta temática, o pôster e dois cartões (um para cada pack), tudo saído direto "de fábrica”. Quinquilharias à parte - apesar de serem agradabilíssimas - muito dos extras se condensam realmente nos discos. Um para o (antigo) filme em 3:4 e o outro com a versão remasterizada em 16:9. No primeiro, além da nostalgia de assistirmos ao movie com os "defeitos típicos" da fechada "dimensão televisiva" (somados aos riscos/sujeira da pífia cópia feita outrora à limpeza), diversos mimos fecham a bagatela de “acessórios”. Dentre eles, destacam-se: o interessante documentário filmado durante a preparação do (antecipado) longa-metragem, seguido pelo doc que retrata (por sua vez) a recente restauração (propriamente dita) e um primoroso featurette destacando a estonteante trilha-sonora (tecno). Lotada de instrumentos inovadores (aliás, vistos no vídeo), alcançando uma - impensável - mistura de sons ecléticos (com vozes agindo como peças instrumentais) que engrandecem demais a banda-sonora (carnal-eletrônica) composta por Shoji Yamashiro.

Temos ainda, incluso no saquinho, uma (curta) entrevista com o aclamado Katsuhiro Otomo, falando um pouquinho sobre o (imponente) aniversário de sua principal cria. Depois, trocando para a segunda mídia, encontramos - excepcionalmente - um glossário/storyboard generoso (são 4.600 imagens!) e alguns (esperados) trailers/spots de TV. Adendos que só valorizam os invejáveis "bônus especiais", tanto quanto mereceriam o consumidor de uma memorabilia que sequer precisa implorar para ser - prontamente - colocada no carrinho (e levada pra casa).

 

Carlos Campos

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