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Lançando bombas numa guerra fictícia

DivulgaçãoNunca é fácil concretizar as boas idéias em realizações condizentes. Tampouco, quando se apela pra junções tão inusitadas quanto esta mistura de “guerra & comédia”. Partindo de uma proposta deveras simples, idealizada há anos pelo ator (e aqui também diretor) Ben Stiller, “Trovão Tropical” se constitui no - cômico - registro das (difíceis) filmagens do extravagante longa fictício (listado no título), despejando na “película dentro da película” uma série de momentos referenciais e/ou ripados da cinematografia estilo “Apocalypse Now”. Só que revestidos por (pseudo) combates (exagerados, verborrágicos, tecnicamente bem produzidos) e ridículas figuras estereotipadas (a grande atração do produto, falarei disso depois). O conceito, por si só, já aparentava ser bastante interessante, com uma metalingüística narrativa - verdadeiramente - promissora, apesar do característico/antigo problema das paródias - é necessário conhecer (razoavelmente) o objeto parodiado para, óbvio, entender as piadinhas (e achar graça) desta curiosa “homenagem” (pois, pouco resta nestes projetos para os expectadores alheios ao gênero achincalhado).

Contudo, esta empreitada, especificamente, consegue - potencialmente - agradar em cheio os cinéfilos “apegados” aos referidos "ícones modernos" da filmografia guerristica. Stiller foi bem experto no preparo desta “sacada”, aproveitando seu longa-metragem para narrar sobre a realização deste "semelhante", acrescentando, assim, uma pitada de realismo - mesmo que sempre forçando uma caricatura - rasgada - nessa “irrealidade” producente na Sétima Arte.

As pressões do estúdio, o estrelismo dos atores, as brigas criativas, tudo funciona de forma relativamente verossímil até desembocarmos nas almejadas situações extremadas - típicas da comicidade anárquica, vide quando os citados “soldados de mentirinha” se embrenham em território inimigo e - graças à fidelidade na caracterização de suas personas (duplamente) fictícias - acabam confundidos com combatentes reais. Partindo de arquétipos comuns aos encontrados nos tais “filmes de guerra”, os realizadores, sabiamente, encontraram um “trio de ouro” para consolidar sua louca proposta. Além do próprio Stiller, dois outros grandes artistas (de gigantesco talento) revelam dotes “quase-dramáticos” na odisséia filmística deste “Trovão Tropical”: Jack Black (um comediante tão famoso/competente quanto seu colega cineasta) e Robert Downey Jr. dando um autêntico show na fictícia pele - trocada - de um mega-ganhador do Oscar que, para incorporar um capitão negro (na “mega produção”), realiza uma hipotética cirurgia (!) para mudar a pigmentação da epiderme (sem maquiagem, naturalmente clara).

O efeito final é magistral, Downey compõe uma criatura (por falta de um termo melhor) que sequer deixa de “vivenciar” seu “papel” quando as câmaras estão desligadas. Jogando-se de tal forma na “atuação de alguém que não para de atuar” que inúmeras gags - inspiradas - surgem, exatamente, desta fatídica “troca de identidade”. O clima de alusões é tão profuso, que sequer faltam trailers e comerciais fake na hora de conhecermos o desacreditado elenco “estelar” reunido para esse pretenso “maior filme de guerra de todos os tempos”. Encaixando, neste esquema, críticas e baboseiras - evidentemente - voltadas a indústria cinematográfica. Achando, inclusive, "espaços" para diversas (excelentes) participações especiais, de gente realmente conhecida como Tobey Maguire, Matthew McConaughey, Jon Voight, Jennifer Love Hewitt, Alicia Silverstone e Tom Cruise (quase irreconhecível enquanto “inescrupuloso chefão” - calvo! - da corporação que financia o comentado/custoso “emblemático filmete de ação”).

Independente dos defeitos, centrados em algumas repetições temáticas (aka dificuldade em fazer justiça ao inspiradíssimo enredo motriz...) e no complexo (talvez demais) contexto dos bastidores de Hollywood, Stiller demonstra (felizmente) saber comandar seu pelotão (dentro ou fora das telas) com esmero, tirando o melhor de cada departamento no set e imitando estilisticamente (novamente, nos lados opostos do écran) o conceituado “cinema de guerra”. “Refilmado” seus clássicos prediletos pelo verniz (satírico) dos nomes - impecavelmente - escalados para dar vida às múltiplas facetas desta projeção (banhada pelo impagável sangue cênico e pelos - megalomaníacos - efeitos pirotécnicos super-destrutivos, vale ressaltar).

 

Carlos Campos

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