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O "velho truque" das adaptações de antigos seriados

DivulgaçãoTalvez Mel Brooks tenha razão. Quando o veterano autor deu seu voto de confiança, acreditando piamente na escolha de Steve Carell como protagonista desta versão cinematográfica do seriado co-criado pelo mesmo Brooks nos anos 60, os produtores da atual adaptação se sentiram aliviados. Não só teriam a aprovação de um dos "monstros consagrados" da comédia norte-americana (ganhador do Oscar por “Primavera Para Hitler”), como poderiam contar com o apoio consultivo do gênio (pai da criatura) para garantir um recomeço - com o pé direito - para este “Agente 86”, agora, nas telas do cinema (explicitando a proliferação destas migrações pro âmbito da Sétima Arte). Acertada previsão tornou-se ainda mais importante pro resultado final. De largada, independente dos eventuais erros cometidos postumamente, o longa-metragem (já) saiu ganhando previamente (pelo menos) na felicíssima escalação do novo Maxwell Smart.

Vivendo um momento espetacular na carreira, Carell saiu da sombra de Jim Carrey em “O Todo Poderoso” para assumir um papel definitivo diante dos holofotes. Seu jeitão debochado e cínico se encaixa tanto no perfil do personagem título quanto seu tipo físico, similar ao fabuloso Don Adams, o “86” original. Abusando dos trejeitos característicos, o Ex-“Virgem de 40 Anos” desponta positivamente, mantendo uma postura fiel ao clássico programa de TV e conseguindo todas as atenções para si. Apesar do elenco recheado de atrações igualmente chamativas. Anne Hathaway (a L-I-N-D-A atriz de “O Diabo Veste Prada”) encarna a fidedigna parceira “99”, enquanto Alan Arkin (de “Pequena Miss Sunshine”) se diverte um bocado como chefe “casca-grossa” da CONTROLE, organização secreta anti-terrorista que luta contra a CAOS, grupo criminoso chefiado por Terence Stamp (o inesquecível-maligno General Zod em “Superman - O Filme” & "Superman II").

A película ainda encontra espaço para apresentar Bill Murray (numa ponta divertidíssima), Masi Oka (conhecido pelo herói-nerd Hiro, "carinha" preferido dos fãs geeks de “Heroes”) e Dwayne ‘The Rock’ Johnson, este, bem melhor do que habitualmente (vide “Escorpião Rei”).

Logicamente, a infalível química old-school também está presente. Assim sendo, referências não faltam ao saudoso enlatado que marcou época de 1965 a 1970. A reconhecida música tema (lembrada - até hoje - por pessoas que sequer assistiram ao programa), os apetrechos típicos, a brincadeira com portas secretas, cabines telefônicas... Vários são os elementos que se juntam aos jargões inconfundíveis de Smart para trazer “Agente 86” de volta à ativa. Mesmo levemente modificado pela atualidade. Afinal, os tempos mudaram. Não estamos em meio a Guerra-Fria, nem Peter Segal (diretor deste e de “Corra Que a Polícia Vem Aí 33 1/3”) aproxima-se do - desbocado - humor inteligente de Mrs. Mel Brooks. Forçando atualizações que (lascivamente) acrescentaram um quesito “ação explosiva” (como manda a cartilha pipoca dos blockbusters) inexistente na limitada mistura orçamentária televisiva. Além - infelizmente - da dose generosa de comicidade no ritmo “Leslie Nielsen for Dummies”.

Segal “escorrega por um tantinho assim” (bestamente) no tom humorístico da obra, inspirado nas “risíveis” cenas já filmadas pelo citado Nielsen - ao longo da prolífera carreira. A repetição das piadas desagrada bastante, destoando bastante do estilão rasgado (mas textualizado) dos antigos episódios sessentistas. Numa perda quase imperdoável, sanada em parte pelo talentoso Carell. Doravante estar munido de gags “usadas”, Steve confere autenticidade às falas, trabalhando sem se “achar um palhaço”, por vezes, sisudamente atuando (justamente) para causar este (curioso) efeito de “sou tão sério (ou tento ser) que sou engraçado”.

Isso simpaticamente, sem exagerar na dose da "chatice" nem “provocando” o riso (público) através de tiradas forçosas e desacreditadas imediatamente. O segredo acaba sendo ditar as tolices sem aparentar estar falando tanta bobagem, mesmo - de fato - estando despejando insanidades goela afora. Só para o público, nunca para si próprio. Algo que o atual “Agente 86” faz como poucos. Causando graça e justificando (profeticamente) os elogios de Brooks, (não) por acaso, outro que sabia fazer este “velho truque pastelão” - como ninguém.

 

Carlos Campos

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