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"Nós sempre teremos Paris"

DivulgaçãoComédia romântica tende a ser perigosamente enjoativa. Vide as produções americanas. Estas, costumeiramente revestidas dos mesmos doces sonetos hollywoodianos, tocados exaustivamente. Entretanto, além das eventuais exceções saídas lá da terra do Tio Sam, outra alternativa está na apaixonante filmografia européia - para diferentes sessões dentro do gênero citado. Rapidamente, do velho continente, podemos destacar a cinematografia francesa, usando (aka abusando) da “Cidade Luz” como ponto de encontro para casais do mundo todo. “2 Dias em Paris” surge neste bojo. Tem romance e piadas como manda as tradições comerciais, mas tudo num ritmo próprio, quase autobiográfico. Onde o drama é menos melodramático e mais condizente com as temáticas reais - "balançando" o pobre coração sem qualquer melação adicional.

Escrito, produzido e bem dirigido pela “fominha” atriz Julie Delpy (que igualmente estrela a película), o longa coloca nas telas dois dias (como transcrito logo no título) de Delpy e seu fiel amor (interpretado por Adam Goldberg) pela atrativa cidade natal da garota. Acrescentando, ele é estadunidense. Ela, francesa. Ambos brigam com a constância em que se amam afetivamente. Os dois moram (juntos) nos EUA, contudo, só a moça é poliglota, calcada nos desvios destes universos paralelamente opostos. Choque cultural que alimenta o tom cômico do passeio, recheado com críticas ácidas aos costumes de cada um dos países representados pelos amantes. Principalmente enquanto tais dificuldades de comunicação abrangem um sogro sarrista (vivido por Albert Delpy, ator veterano e pai da cineasta) e uma infinidade - infernal - de "ex-namorados" (compatriotas) da protagonista européia, encontrados (azaradamente) ao acaso, a cada esquina - atingida pela "Lei de Murphy" - da vida.

Crises (contidas) de ciúmes vão crescendo gradativamente até o "barraco básico" atingir seu inevitável clímax turvo. Afetando um relacionamento já abalado - de antemão, antes até da viagem fatídica. Afinal, independente da incompreensão dos pormenores pessoais, tomados por criações absolutamente distintas, Delpy-filha abre espaço também para explorar um lado egocêntrico do individualismo na sociedade. A problemática conjugal, na celeuma entre estes personagens antagonicamente relacionados, tem como base a incapacidade de enxergarem o “lado do outro”. Sem preconceitos ou receios estigmatizados, estes, presentes na reflexão ilustrativa entre “La Marseillaise” versus “Estátua da Liberdade”. Numa rota de colisão latente há tempos. Colocando parceiro contra parceira. Sem tomar partido de nenhum deles.

Pena que, Julie, adepta dos improvisos soltos da “câmera de mão” - perambulando aqui e ali, finaliza vários de seus arcos dramáticos principais com licenças surreais (uma envolvendo “anjos” destoa demais neste ambiente realista/inteligente adotado pelo longa-metragem). Não só improváveis, o fatalismo das “coincidências seguidas” replica o inusitado encontro casual dos enamorados acompanhados pela trama. Tal como as inúmeras paqueras "interessadas" num repeteco do antigo namorico - anteriormente fútil - entre Delpy e cada “ex” reencontrado nas vielas parisienses. Repetindo uma tematização de idas e vindas banais, num produto que consegue, ainda assim, fugir das (cansativas) banalidades tipicamente projetadas (sobretudo) nos homônimos norte-americanos. Contudo, não azedando o final "água com açúcar".

 

Carlos Campos

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