CL@UDINH@ HOMEP@GE

 

 

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade, 
tenho razão de te acusar. 
Houve um pacto implícito que rompeste 
e sem te despedires foste embora 
Detonaste o pacto. 
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência 
de viver e explorar os rumos de obscuridade 
sem prazo sem consulta sem provocação 
até o limite das folhas caídas na hora de cair. 

Antecipaste a hora. 
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. 
Que poderias Ter feito de mais grave 
do que o ato sem continuação, o ato em si, 
o ato que não ousamos nem sabemos ousar 
porque depois dele não ha nada? 

Tenho razão de sentir saudade de ti 
simples apertar de mãos, nem isso, voz 
modulando sílabas conhecidas e banais 
que eram sempre a certeza e segurança. 

Sim, tenho saudades. 
Sim, acuso-te porque fizeste 
o não previsto nas leis da amizade e da natureza 
nem nos deixaste sequer o direito de indagar 
porque o fizeste, porque te foste 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


 

ENVIE A UM AMIGO(A)


O seu endereço de e-mail:

O seu nome:

Endereço de e-mail do seu amigo(a):

 

 

 

 

CL@UDINH@ HOMEP@GE@Copyright 2002