DAS VITRINES PARA O PRIMEIRO MUNDO

    
  Hoje em dia, torna-se difícil falar em Domingo, ou passar um final de semana, sem falar em Shopping Center (o próprio nome é sonoro e assusta, causando admiração e curiosidade!).  Ao que se sabe, vivemos em um país de língua portuguesa e há alguns anos essa palavra (shopping) não teria sentido algum. Agora por certo, mesmo que de viés, ela se apossou de significação, adquiriu semântica.
       Equivale a dizer que esses Conjuntos de Lojas (Shopping Center) trazem uma aura de onipotência da sociedade capitalista e consumista. Demonstra certo prestígio freqüentá-los. Um Shopping (Conjunto de Lojas, se grafado em português) traz em mente, além das vitrines fabulosas, a imagem fascinante das comidas indigestas e importadas. Comidas que ocupam o primeiro plano na mídia televisiva.
       A tática da tevê é colocar garotos-propaganda (como se fossem fantoches-isca para o consumidor ideal do produto em questão) para divulgar as guloseimas e as antiguloseimas. Só que isso ocorre de maneira esdrúxula e, mesmo, aviltante. Pode ser um garotinho gordo, cheio de ácaros e olhar de imbecil (não é mera coincidência, e sim, uma receita?). Então o garotinho olha para a câmara e diz: “Nossa! O novo ‘Big Mac’ está um máximo”
(1) e depois acrescenta: “duas fatias de ‘hambúrguer!’”. Falta acrescentar que é bom porque é importado. As pessoas assimilaram a idéia de que algo importado é sim, por dizer, algo que possui importância. Um prestígio tão devasso que obscurece o que é nacional.
      O que é nacional cai na vulgaridade. É como se dissessem “você vai comer o novo ‘Big Mac’ ou vai comer pamonha, acarajé, vatapá”. Elas são vulgares e marginais enquanto o importado é de alto interesse e elegante (o termo usado pelos que freqüentam estes lugares é
elegantééérrimoo!: acreditam que aumentando o fôlego de pronúncia aumentam também a importância do evento e da ação),  por ser mais caro e mais nocivo à saúde. Talvez este seja o verdadeiro preço dessas porcarias que nos encurtam a vida. Quando vamos ao cinema, nos tentam com pipoca de microondas (uma nova modalidade!) por apenas seis reais e com gosto de isopor: pode ser acompanhada por coca-cola “light”(uma modalidade de pseudo-refrigerante para doentes-obesos ou para pessoas que não sabem o que significa “light”). Mas o interesse nessas comidas não é o sabor e sim o prestígio que se adquire em consumi-las em ambientes em que prevalece a aura e a sensação espetacular (2).
        O que as pessoas esquecem é que o fato de consumirmos os mesmos produtos ou as sobras dos mesmos produtos consumidos nos Estados Unidos e, mesmo, comermos as mesmas comidas que eles comem não nos iguala a eles. De forma alguma. Enquanto come-se no “Macdonalds” aqueles pães duplos que mais parecem bichos cabeludos (só que sem patas!). Fora do Conjunto de Lojas (Shopping Center) são vendidas, clandestinamente, pamonhas, acarajés, rapaduras, macaxeiras. As nossas comidas típicas se tornaram fora da lei e criminosas. Alguns se referem a elas como: “essas comidas!”. As pessoas consomem a sobra da comida dos Norte Americanos, se vestem como eles, se sentem como eles. Como se assim, pudessem a eles se igualarem. Será que precisamos nos igualar aos Norte Americanos? Pode-se dizer que não, pois uma nação se iguala a outra não por papagaiar ou macaquear seus costumes e cultura, mas uma nação se impõe perante outra justamente pela sua própria cultura. É lamentável deixarmos de lado nossa tradição, nosso idioma, nossas comidas e nossa dignidade enquanto povo humano, enquanto nação...

Notas.

1.
Dizer “um máximo” e não “o máximo” é buscar uma despretenção intencional na linguagem, a fim de fingir a identidade lingüística com a população brasileira: a qual eles julgam a mercê dos projetos da mídia consumista e esquisofrênica-narcisista.

2. Ver: SUBIRATS, Eduardo.
A cultura como espetáculo. São Paulo, SP: Nobel, 1990
___________________________________________________________
Claudio jose silva
Referência bibliográfica: SILVA, C.J. Das vitrines para o Primeiro Mundo. in: www.nausolitaria.hpg.com.br: Brasilia, DF: 2002. Setembro.
Votar
Revista Nau solitária