Entrevista de Dulce Nascimento ao COPA.
Conheça um pouco mais sobre essa ilustradora maravilhosa.
1) Quando e como surgiu teu interesse por ilustrações botânicas ? Acho que o interesse pela ilustração botânica preexistia sempre em mim, a partir de buscas profissionais anteriores como o interesse por paisagismo, diversos trabalhos nessa área e a faculdade de arquitetura, até descobrir que o caminho que eu queria traçar profissionalmente unia arte e ciência a um só tempo, porque a ilustração botânica é um grande auxiliar da pesquisa científica na medida em que exige precisão de detalhes na planta que se retrata tanto para a posteridade quanto para a atualidade a partir do momento em que se estuda aquela determinada vegetação. Por outro lado, a ilustração botânica permite também a expressão artística por proporcionar ao ilustrador o desafio de retratar um vegetal em toda a sua complexidade, a fazê-lo agradável aos olhos de quem observa as pranchas botânicas isto é, deve ser harmônica, dependendo pois de uma estética. A junção dessas duas coisas foi decisiva para que eu me atraísse definitivamente Pela ilustração botânica como trabalho e meio de expressão. 2) Qual a influência de D. Maria Werneck em tua decisão e no teu trabalho ? D. Maria Werneck foi mais que um grande exemplo, a mestra com quem aprendi, mais do que o aperfeiçoamento da técnica do desenho botânico, o compromisso que isso representa. Seu rigor espartano com cada traço, precisão de cores, a perfeição estética, legados a todos nós profissionais da arte ou leigos, através de seus trabalhos já são por si só um grande estímulo para qualquer profissional de ilustração botânica. Pessoalmente aprendi com ela muito além do que poderia aprender com qualquer outra pessoa. Guardo comigo os pincéis dessa grande mestra e sobretudo as lições de elegância, compromisso com a verdade no tocante à fidelidade com essa profissão, que exige extrema responsabilidade pois cada planta que retratamos deve conter o máximo de informações para que funcionem mais do que um quadro bonito para se ver, mas sobretudo como ponto de partida para a pesquisa científica e base para a recomposição do meio ambiente. Devo portanto à D. Maria Werneck, mais do que o carinho que por ela carrego, pois tive o privilégio de tornar-me além de aluna, amiga pessoal, o respeito com a profissão/sacerdócio e a crença inabalável de fazer o melhor de mim em nome desse compromisso . 3) O que terias para nos contar sobre tuas experiências no exterior ? A ida para fora do Brasil é até hoje uma experiência interessante e enriquecedora. Em Kew Garden, na Inglaterra, o contato com novas técnicas, numa cultura diferente, portanto com maneiras diferentes de se pensar e claro, ver esse ofício maravilhoso, serviu a princípio como aluna, para aprimorar conhecimentos preciosos que pude aplicar na volta ao Brasil. Depois, mais tarde, passou a ser rotina prazerosa trocar informações, contribuir com meus conhecimentos e aprender com colegas e alunos com quem sempre mantenho intercâmbio. O fato de Ter muitos de meus quadros na Europa e nos Estados Unidos, têm sido uma maneira agradável de aproximação com os outros profissionais da área. Conferências, cursos, seminários e outras atividades que realizo regularmente no exterior, têm sido para mim, uma consolidação desses 22 anos de trabalho que considero e realizo com o mesmo entusiasmo de quando estava começando. 4) Nos conta um pouco sobre tuas viagens ao interior do Brasil e teu trabalho in loco. Tenho imenso orgulho de vir retratando na medida do possível, importantes ecossistemas brasileiros. Nosso país é pródigo e generoso tanto em fauna quanto em flora, apesar de muita devastação. Mesmo assim, felizmente ainda temos muito o que descobrir a respeito de nossa rica flora e de espécies que sequer foram catalogadas ! Acho que é por isso também que o Brasil desperta tanto interesse e curiosidade no exterior. A exuberante natureza que leva o ilustrador botânico a dedicar-se muitas vezes ao longo de meses embrenhado no meio de uma floresta, aguardando que a planta em questão floresça e frutifique, para completar sua prancha, afasta cansaço e temores. O desconforto físico e mental que o trabalho in loco provocam, além de perigos naturais, ficam esquecidos quando se vence o desafio de retratar em sua complexidade cada uma das plantas que nos propomos, o que muitas vezes pode levar meses inteiros, com visitas espaçadas. A Vitória-Régia por exemplo, é uma espécie que depende para ser retratada, de um minucioso trabalho noturno, pois é só ao anoitecer que sua flor se abre, para que o besouro que a fecunda nela penetre e permaneça ali por toda a noite. Entretanto, depois de uma expedição, quando restam os retoques finais, a gente sabe que valeu a pena todo o esforço, algumas tensões e até torções eventuais, simplesmente porque rompemos nossos próprios limites e cumprimos nosso dever. 5) Como está sendo hoje a profissão de ilustrado botânico no Brasil ? Embora haja muito a ser feito e difundido, acredito que hoje a Ilustração Botânica está cada vez mais cumprindo o seu papel, no sentido de alertar para os cuidados que devemos Ter com o meio ambiente. Hoje as pranchas botânicas estão fazendo parte dos cenários de novelas, decorações de restaurantes, casas particulares, hotéis. Mas sabemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido, no sentido de se resgatar o valor real de trabalhos desse tipo, no sentido de permitir que um número cada vez maior de pessoas conheça o assunto e possa vir a se interessar. Hoje no Brasil um dos motivos para termos mais estímulo é a bolsa anual para Kew Garden dada pela Fundação Botânica Margaret Mee e também o concurso anual de ilustração Botânica que ela promove ( os regulamentos encontram-se em meu site). Nesse sentido, acho que a profissão tem muito para se expandir e acredito num belo futuro para o ilustrador botânico brasileiro.