O xadrez visto como esporte

 

Paulo Antonio dos Santos*

 

Muitas pessoas não consideram o xadrez como um esporte, definindo-o apenas como um jogo.

De acordo com Wilson da Silva (responsável pelo departamento de pedagogia e pesquisa do Centro de Excelência de Xadrez), "as definições, tanto de esporte como de jogo, são bastante imprecisas. Tomemos a seguinte definição de esporte: ‘conjunto de exercícios físicos praticados com método, individualmente ou por equipes’. Tomando essa definição por base, esportes como Tiro com Arco ou Tiro Esportivo não poderiam ser considerados como esportes, pois quase não existe exercício físico, e, no entanto, não somente são esportes como também são esportes olímpicos".

Wilson prossegue dizendo que "através de seu status, grau de complexidade interna, grau de organização no mundo e poder de lobby, uma atividade será ou não considerada esporte pelo Comitê Olímpico Brasileiro e Comitê Olímpico Internacional.

Em 17/03/1999, o Comitê Olímpico Internacional concedeu, através de seu então presidente Juan Antonio Samaranch, reconhecimento ao xadrez. (Fonte – SILVA, Wilson da. Curso de Xadrez Básico. Apostila disponível para download no site do Centro de Excelência de Xadrez: http://www.cex.org.br)

A FIDE (Fédération Internationale des Écches – Federação Internacional de Xadrez) foi fundada em 1924 em Paris. Hoje, com 156 federações filiadas representando mais de cinco milhões de jogadores registrados, a FIDE é a segunda maior organização esportiva mundial reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional, só perdendo para a FIFA (Federation International of Football Association). (FONTE – Leis do Xadrez da FIDE. Disponível para download na seção "utilidades" do site da Federação de Xadrez do Paraná: http://www.fexpar.esp.br)

Sendo também um esporte vinculado ao Comitê Olímpico Brasileiro, o xadrez não faz parte dos Jogos Olímpicos, participando somente como demonstração.

Estava sendo estudada a possibilidade de o xadrez ser incluído como modalidade olímpica oficial a partir dos jogos de Pequim/2008, o que infelizmente não ocorreu. O COI não se manifestou para explicar o porquê da não inclusão. O ex-campeão mundial de xadrez Anatoly Karpov declarou a atual liderança do xadrez mundial não permite que o Comitê Olímpico Internacional tenha uma visão positiva da modalidade. (FONTE – Centro de Excelência de Xadrez: http://www.cex.org.br)

Em crônica publicada no site do Clube de Xadrez on-line, o cubano Jesus G. Bayolo nos conta:

"O cubano José Raul Capablanca foi um dos principais precursores desta ânsia pelos jogos: sendo o atual campeão do mundo na época, em 1922 presidiu uma reunião de notáveis mestres na capital inglesa (reunião esta que ficou conhecida como As regras de Londres, devido às mudanças que fizeram nas regras do jogo) e na ocasião fizeram um acordo para incluir o xadrez nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924.

Quase ocorreu o ‘milagre’, porém na capital francesa não se apresentaram equipes suficientes e se jogou um torneio individual, no qual participaram representantes de 18 países. Por isso o jogo não foi reconhecido pelo COI naquela ocasião. No entanto, aproveitaram a oportunidade para criar, em 20 de julho de 1924, a Federação Internacional de Xadrez (daí as siglas em francês: FIDE), organização que está celebrando os seus 80 anos.

Contudo, não deram o nome de "Olimpíada" àquele torneio enxadrístico, e nem a algum outro posterior, nem mesmo ao que hoje conhecemos como a I Olimpíada de Xadrez, celebrada em Londres 1927, com o triunfo da Hungria.

Na época se chamava Torneio das Nações e começaram a ocorrer sem freqüência fixa (agora acontecem a cada dois anos) e nós, enxadristas em geral, o fomos chamando de Olimpíadas de Xadrez, até que o nome pegou, inclusive oficialmente, ainda que por cerca de um quarto de século mediasse uma briga com o COI, que finalmente permitiu o emprego do termo, mas sem o uso dos atributos olímpicos (aros, bandeira, hino, etc)". (FONTE – Clube de Xadrez on-line: http://www.clubedexadrez.com.br)

Na última olimpíada de xadrez, realizada entre 16 e 31 de outubro de 2004 na cidade espanhola de Calviá, na Ilha Mallorca, a equipe brasileira terminou em 59º lugar, uma das piores colocações da história do Brasil nessa competição. O Brasil foi representado por Cícero Braga, Carlos Alejandro Martinez, Alexandr Fier (destaque na equipe brasileira – com apenas 16 anos, é Mestre Internacional da FIDE) Ivan Kuhlmann Nogueira e os Grandes Mestres Henrique Mecking e Darcy Lima. Os Grandes Mestre brasileiros Giovanni Vescovi, Gilberto Milos e Rafael Leitão se recusaram a defender o Brasil, em protesto contra a administração de Darcy Lima, presidente da Confederação Brasileira de Xadrez na época; e o Grande Mestre Jaime Sunye Neto não foi convocado. A ausência dos Grandes Mestres que desistiram da convocação e a formação da equipe sem o necessário tempo de preparação para uma competição tão importante acabaram prejudicando o desempenho brasileiro. A equipe feminina terminou em 54ª lugar. (FONTE – Xadrez BC Café: http://www.bccafe.com.br/xadrez.htm – nesse site é possível encontrar dados estatísticos das participações brasileiras nas Olimpíadas de Xadrez)

Vamos agora analisar os motivos que fazem com que o xadrez seja considerado um esporte.

Em artigo de minha autoria – O fantástico mundo do xadrez – ponderei que o xadrez é um jogo "porque confronta dois adversários em um tabuleiro, com forças iguais de cada lado, com o objetivo de derrotar o oponente". Sendo assim, o xadrez pode ser considerado um esporte "porque nas competições os jogadores medem suas forças e ganha quem joga melhor".

Em artigo escrito para o site do Clube Ribeirão-clarense de Xadrez, o árbitro internacional da FIDE Estevão Tavares Neto diz que "o xadrez é válido tanto no aspecto lúdico quanto competitivo. Ou seja, é altamente positivo para quem joga como passatempo/hobbie (...) e para quem disputa torneios, onde a competição envolve o jogador de maneira mais intensa". (Fonte – Clube Ribeirão-clarense de Xadrez: http://geocities.yahoo.com.br/cluberibeiraoclarensedexadrez)

Para uma pessoa que vê o xadrez como passatempo, pode-se dizer que tal é apenas um jogo. Mas para quem encara o xadrez de maneira mais profissional, com certeza ele é um esporte.

Conforme o Mestre Nacional de xadrez Orfeu Gilberto D’Agostini, autor de "Xadrez Básico", o xadrez é um esporte intelectual. Goethe definiu o xadrez como "a ginástica na inteligência". (FONTE – D’AGOSTINI, Orfeu Gilberto. Xadrez Básico).

Em artigo publicado no site da UOL no final de janeiro/2005, o professor Nuno Cobra, um dos maiores especialistas em Educação Física em nosso país, destaca que "o xadrez é um esporte muito amplo, pois o cérebro ‘maquina’ o tempo todo e assim abre outras áreas de programação mental do raciocínio, ampliando as conexões inter-neurais". E prossegue: "o que pouca gente sabe é a relação entre o grau de desempenho cardiovascular e a performance competitiva neste esporte, porque todos imaginam que ele exige apenas do cérebro". (FONTE - http://www.fexpar.esp.br/Leituras/nunocobra/QualidadedeVida.htm)

De fato, jogar xadrez profissionalmente exige um preparo físico intenso. Para um bom desempenho nos tabuleiros o enxadrista deve buscar de maneira sistemática realizar atividades cardiovasculares tais como caminhar ou correr, pois ampliarão as possibilidades de oxigenação cerebral.

Afinal, o xadrez exige muito do cérebro, que é o órgão do corpo humano que apresenta a maior taxa de consumo de carboidratos e oxigênio (em segundo lugar vem o coração). Assim, não só jogar xadrez, como também realizar qualquer atividade intelectual intensa resulta num gasto de calorias tão grande quanto realizar atividades físicas.

Hoje o famoso campeão de xadrez Garry Kasparov tem que se envolver num expressivo treinamento cardiovascular e muscular localizado para manter a sua forma e continuar altamente competitivo.

Não é a toa que ele perdeu sua segunda disputa contra o computador deep blue. A desvantagem do homem em relação à máquina é que o computador não sente instabilidade, mau humor, irritação, dor de cabeça ou cansaço. Em entrevista desse ano à revista VEJA, comentando sobre as partidas que ganhou da máquina, Kasparov disse: "Venci, mas fiquei exaurido, estraçalhado. Jogar me cansa cada vez mais".

O eterno campeão mundial chegou a afirmar que "o xadrez é o mais violento dos esportes. Como numa guerra, o objetivo é minar o inimigo psicologicamente para trucidá-lo no tabuleiro. Nessa batalha tem mais chances de vencer quem consegue despejar mais energia e manter mais concentração na partida. Energia e concentração, infelizmente, encolhem com a idade". Ressalte-se que Kasparov tem hoje 41 anos, e ainda assim ocupa o primeiro lugar no ranking internacional do xadrez. (FONTE – Casa do Xadrez: http://www.casadoxadrez.com.br)

Assim, chegamos à conclusão de que o xadrez não é só um esporte, mas também é um esporte que causa tremendo desgaste físico e mental, pelo menos àqueles que jogam profissionalmente.

 

 

 

* Paulo Antonio dos Santos é acadêmico da Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro – Jacarezinho (PR); bi campeão municipal sub-20 (2002-2004) e campeão geral (2004) de xadrez em Ribeirão Claro (PR); e membro da coordenação do Clube Ribeirão-clarense de Xadrez. E-mail: paulchess10@yahoo.com.br