PORTO ALEGRE – ARARANGUÁ

Fotos: clique aqui

 

Por Daniel Cruiser

 

1° dia: Porto Alegre – Arroio do Sal

Passados alguns dias da primeira trip, resolvi repetir a dose, porém dessa vez a empreitada foi feita solitariamente e a idéia era chegar em SC. O que provocou uma verdadeira "tempestade" por parte da família nas vésperas, mas o jeito foi enfrentar. Argumentei que viajar sozinho por vezes é melhor, visto que há mais atenção sobre o que ocorre na estrada, o ritmo individual não fica prejudicado, etc. Não adiantou muito.

Saí de casa às 5:15 da manhã. Atravessando a Av. Getúlio Vargas, em Alvorada, tomei o caminho do Distrito Industrial e a seguir dobrei à esquerda, na RS-118. Sem quaisquer contratempos, alcancei Gravataí, por onde segui até chegar na RS-030 (Estrada Velha). Estava satisfeito, vendo que o clima se mostrava ameno e sem ameaça de chuva (sol entre nuvens). Mas o problema da Estrada Velha é a sucessão de lombas, o que acaba torrando o saco mesmo. Cansei de tanto descer da bicicleta para empurrar! Isso tanto em subidas quanto em descidas.

Ao passar da GM, um barulho irritante apareceu no movimento central da Cruiser. Comecei a ficar com medo de seguir viagem nessas condições e parei para abrir e colocar óleo na caixa. Depois, apertei bem, voltei a pedalar e alguns metros adiante o barulho voltou a incomodar... Irritado e sem vontade de parar de novo, fui indo mesmo assim. Numa tenda, já em Glorinha, pedi água, e o cara me trouxe uma bem geladinha! Agradeci, bebi e resolvi abrir a caixa mais uma vez. Achei que não houvesse lubrificado corretamente. Apertei bem e larguei fora. Aqui o barulho deu uma cessada, mas ele foi voltando aos pouquinhos... Já na altura de Santo Antônio, resolvi parar embaixo de uma árvore e testar uma "afrouxada" no movimento. Quando estava agachado apertando, eis que me surge no horizonte, pasmem, um verdadeiro "estouro da boiada"! Não acreditei no que estava vendo: uma estrada estadual, com asfalto e movimento bastante considerável, receber esse tipo de "visita". A manada literalmente tomou conta de toda a pista e laterais, com os peões guiando tudo. Com as ferramentas espalhadas próximo da bicicleta, fiquei sem saber o que fazer. Vendo que alguns bovinos vinham na minha direção, o jeito foi ficar parado, imóvel. Por sorte, nenhum pisoteou as ferramentas, tampouco a mim, ehehehe! Um dos peões ainda tentou me tranqüilizar: "fica parado que não tem problema".

Após o "susto", retomei o fôlego e terminei de fazer o serviço. Dessa vez, consegui fazer com que o barulho cessasse um pouco. Não totalmente...

Continuei o pedal. Esse trecho da 030 é enjoado, deve ter uns 20 km de reta direto. Tive que apelar para o walkman: liguei na Rádio Universal FM, uma emissora da Serra com músicas no estilo da Continental em PoA. E é da Rede Pampa tb.

Passando pela área urbana de S. Antônio, parei mais uma vez para pedir água num boteco, mas o cara parece ter demonstrado má-vontade: mesmo vendo eu mostrando a garrafinha, me perguntou se eu queria comprar uma mineral. Quando disse que não, o indivíduo fez cara-feia e me trouxe água quente! E eu vi que havia um freezer por ali... Mesmo assim, já deu uma ajuda, melhor do que nada, né? :-)

A partir dali, resolvi aproveitar o trecho de reta e aumentei um pouquinho o ritmo para 16 km/h. Mas as lombas a seguir já fizeram tudo voltar ao normal. O bacana foi ficar empurrando e admirando a paisagem: à esquerda, montanhaas. À direita, algumas casas lá embaixo e a Free-Way. Passei pela divisa com Osório, isso tudo sem ter parado para comer mesmo, apenas bananas e mariolas. Já eram mais de 2 da tarde. Vi que seria perfeitamente possível seguir até Capão da Canoa. Mas às 15:30, quando estava quase chegando na Estrada do Mar, fiz um ato de amor-próprio e parei pra comer um xis, ehehehe. Ao ir devorando o sanduíche, comecei a me lembrar do cara que me ofereceu o terreno em Arroio do Sal. Nesse momento, meti na cabeça que chegaria lá, nem que tivesse que pedalar na escuridão mesmo. Não estava a fim de gastar com camping em Capão.

Pontualmente às 16h, iniciei minha incursão pela RS-389. Estava bastante movimentada, porém os motoristas respeitavam. Sem acostamento, mantinha o olhar fixo sobre o chão, procurando me manter junto àquela famosa linha branca. Parei num posto de gasolina no km 1 da rodovia, pedi água (estava calor!), olhei no mapa e vi que dali até Arroio do Sal seriam uns 60 km. Nesse momento, deu-se um feito inédito: montei na Cruiser, respirei fundo e comecei a manter um ritmo de mais de 20 por hora, no retão! E a menina não reclamou, parecia até estar gostando: o barulho na caixa parou de vez.

O problema é que o corpo reclamava pelas mais de 10 horas sem descanso maior. Na altura de Imbé, tive de parar mais uma vez numa tenda, mas aqui não pedi água, e sim suco de abacaxi. Que o cara me trouxe quente... Uma família que havia parado de carro ali, veio falar comigo, com as velhas perguntas: de onde veio, pra onde vai, etc., e deu os parabéns. Respondi, mas pela hora não pude ficar conversando. Agradeci a força e toquei em frente, sempre nesse ritmo médio de 20 km/h. Às vezes, baixava para 18, 19... Quando passei na entrada de Xangri-lá, lembrei de um cara de speed que havia passado por Renato e eu na última viagem, o bicho devia estar a mais de 40 por hora!

O bom é que havia pouco vento! Apenas o tempo é que estava fechando, mas foi só para assustar.

Sem maiores delongas, o restante da viagem foi tranqüila. Às 20:34, com a noitinha chegando, aportei em Arroio do Sal, procurei o atencioso senhor do terreno, comi tranqüilamente outro xis com refri, montei acampamento (mas dessa vez ao lado de um ônibus!), encostei a bicicleta do lado de fora, junto à barraca, e fui dormir! Foi meu recorde de pedalada num só dia: 164 km.

2° dia: A. do Sal – Torres

Segundo as mesmas coordenadas da primeira vez, acordei às 6 da manhã, dessa vez com o tempo parcialmente nublado. Desmontei acampamento, coloquei a bagagem em cima da Cruiser, fui conferir o velocímetro e eis que o mesmo não estava funcionando. Parecia que estava estragado, e foi mesmo o que aconteceu... Assim, os últimos 30 km foram feitos sem ele.

Nesse trecho final da Estrada do Mar, liguei mais uma vez o walkman. Das rádios FM locais, para se ter uma idéia, a melhorzinha era uma que tocava música rancheira: foi duro ter de aturar o "Encontro com Rosinha", da Rádio Integração... A emissora é de Jacinto Machado-SC.

Cheguei em Torres e novamente fui para o maravilhoso Camping Mampituba. Ah, um detalhe importante da cidade, é a quantidade impressionante de ciclistas, tanto veranistas como moradores: da criança ao vovô, não esquecendo das mulheres, todos gostam de uma magrela. Vi mulheres pedalando sozinhas, até depois da meia-noite! Se fosse em Porto Alegre, tsc, tsc... Fiquei de sábado até segunda-feira na maravilhosa praia. Ainda encontrei dois ciclistas de PoA: o veterano Rui e o speedeiro Alexandre, com toda a família, muito legais.

Total percorrido: aproximadamente 195 km

Pneus furados: 0

Tempo de viagem: 15:15 (1° dia) e 2:30 (2° dia)

Gastos durante o pedal: R$4,50 (xis + refri) + R$1,00 do suco de abacaxi. Em Arroio do Sal, mais R$5,00 por outro xis com refri, e R$1,00 por um Toddynho.

 

 

---------------- ‘ ‘ ‘ ‘----------------

 

De Torres a Araranguá

Depois de três dias com o tempo um tanto "enferrujado", as primeiras horas de terça-feira não fugiram à regra: saí do Mampituba às 8:10, com muitas nuvens sobre a cabeça. Quando estava na parte alta da Av. Castelo Branco, quase atingindo a BR-101, o Alexandre passou por mim de carro, com sua família, dando os desejos de boa-viagem. O interessante é que o destino deles era igual ao meu: Balneário Arroio do Silva. Porém, não os encontrei por lá depois.

A primeira impressão sobre a rodovia federal, foi de susto: no entroncamento com a Castelo Branco o acostamento some por um bom tempo, e pedalar bem ao lado dos caminhões-cegonha dá medo! Bom, ao menos passado esse trecho, é possível circular de bici com alguma tranqüilidade: acostamento em boas condições e os motoristas respeitam. O problema são as pontes estreitas: quando estava cruzando a que faz a divisa RS-SC, o carona de um caminhão simplesmente colocou a cabeça pra fora e gritou: "vai pegar ônibus"!! A resposta foi imediata, levantando o dedo médio para ele, ehehehee.

Viagem na paz, pelo menos até Sombrio, e com algunas gotas caindo do céu, nada alarmante. Mas, quando estava passando pela cidade, algo estranho começou a acontecer: não conseguia retomar a pedalada. Ou seja, a corrente demorava para "pegar", precisando girar os pedivelas, às vezes em várias tentativas. Comecei a ficar preocupado, ainda faltavam 25 km até Araranguá. Foi então que, numa das ruas próximas, encontrei uma pequena oficina, a salvação da Pátria! Ainda tive sorte do defeito ter ocorrido na área urbana da 101.

Então, o atencioso senhor me disse que teria de trocar a catraca. Perguntei quanto sairia. Ao que ele respondeu: R$6,00. Ok, serviço terminado, respirei aliviado e agradeci. Mas notei que, girando a roda traseira, a pinha ficava dançando bastante. Perguntei se seria possível picar a mula assim mesmo, e ele disse que até Araranguá daria tranqüilo. E assim, fui embora. Esse foi o primeiro gasto efetivo que tive com conserto na Cruiser, depois de umas 7 viagens, hein: até então, só furos nos pneus.

Ao passar pela localidade de Sanga da Toca, já em Araranguá, avistei do lado esquerdo, numa rua lateral, um ônibus da Viação Cidade. Atravessei a rodovia e fui lá clicar, eheheehe! Explico: o proprietário da empresa, Cezar, faz parte de outra lista de discussão que participo, essa sobre ônibus, que é minha outra paixão!

Feito isto, encarei sem problemas os quilômetros finais. Ao chegar na entrada de Araranguá, liguei para o Cezar (logo mais seria para o colisteiro da Bike-RS Ramiro Saraiva) e disse: cheguei!!

De um modo geral, a cidade me pareceu um tanto tranqüila e também acolhedora. Largas avenidas, com trânsito organizado, e bastante gente pedalando, especialmente Barrafortes. Custei a encontrar a garagem da Viação Cidade, e quando estava quase chegando, um cara pára de Van ao meu lado e pergunta: "tu que é o Daniel"! Quando ia dizer sim, olhei a "figura", a pintura da empresa e não acreditei. CONSEGUI!!!!!!!

Após conhecer as instalações, fui apresentado à uma belezura de Paradiso que faz o serviço de turismo da empresa, e não me contive. Tive que dar uma voltinha nele, ehehe.

Bueno, passado o primeiro "fim-da-linha", me despedi da empresa e do amigo e proprietário, e rumei para o Arroio do Silva. Lá me aguardava o Ramiro. A estrada para lá possui relaxantes 6 km, sendo um trecho calçado com pedras. Quando estacionei em frente à casa dele, o cara não acreditou no que via. Obrigado pela recepção, tchκ! No total, mais de 270 km de viagem em bicicleta sem marcha, toda enferrujada.

Total percorrido: aproximadamente 75 km

Pneus furados: 0

Tempo de viagem: 8:30

Gasto: R$6,00 da troca da catraca

 

 

---------------- ‘ ‘ ‘ ‘----------------

 

Retorno Araranguá – Torres

Após dois tranqüilíssimos dias em Arroio do Silva (praia "família" demais...), resolvi voltar um pouco para a agitação de Torres. Perguntei ao Ramiro o que afinal poderia ser aquilo na catraca, e ele disse que era problema nos cubos, mas que na minha tradicional velocidade de lesma seria possível fazer o retorno sem problema. Então, às 12:30 de quinta-feira, iniciei a volta. Mantendo a regra, tempo nublado. Na saída de Araranguá para a 101, me distraio olhando para uma "mariposa" numa parada de ônibus da rodovia, e tropeço numa baita pedra, quase indo ao chão. Por sorte, ainda consegui me equilibrar. Depois disso, pequeno trecho com vento-contra, cessado após as primeiras gotas de chuva aparecerem, chuva essa que aumentou e me obrigou a parar num supermercado às margens da estrada. Após uns 20 minutos de bobeira, a água parou de cair e me mandei. Mais uma vez, um pedal pra lá de calmo nesse trecho. Quando estava quase chegando em Sombrio, a chuva novamente apareceu, dessa vez mais forte, o que me obrigou a novamente parar, dessa vez num ponto de bus. E assim, fiquei ali estático, acho que por quase 2 horas. Nesse meio-tempo, comecei a escrever o relato da Porto Alegre – Torres (1ͺ viagem), enquanto observava os ônibus passando, e quase dormia... Ah, pra variar, eis que a "tentação" me aparece, na forma de um lindo Viaggio 1050 de vidros colados, da União, fazendo a linha Araranguá-Torres! Deixou um passageiro bem na minha parada. Nesse momento, pensei seriamente em colocar a Cruiser no bagageiro e ir embora, mas tb vi que o tempo parecia estar querendo melhorar. Acabei resistindo, ehehehehe!

Ok, acho que já eram umas 4 da tarde, quando finalmente consegui sair dali. Quando estava passando pelo Restaurante Japonês, novamente a chuva aperta... E não teve jeito, precisei me entocar noutra parada, ficando a cuidar o movimento na estrada. Passaram-se uns 20 minutos, e a chuva mais uma vez estiou. Retomando o pedal, já estava longe de Sombrio, quando pra variar, grossas gotas começaram a cair... Que saco, o tempo fazia que ia melhorar, mas a chuva teimava em prosseguir! Mais uma vez, pit-stop noutra parada, porém dessa vez o caldo foi grosso e intermitente. Aqui sim, comecei a notar o céu limpando e dei Graças a Deus pela água ter parado de cair de vez. Ao mesmo tempo, estava preocupado pelo fato da noite estar se aproximando, não queria pedalar pela BR na escuridão! Assim, procurei manter um ritmo constante entre 13 e 14 km/h, o que garantiu a chegada no acesso à Passo de Torres (SC) no começo da noite. Tinha em mente chegar em Torres atravessando a ponte pênsil, e foi o que fiz. Após 6 km pedalando no escuro pela rodovia estadual (também tinha mulher sozinha de bici aqui...) até a cidade catarinense, passei pela "balançante" ponte, e finalmente encerrei a trip, retornando ao camping. Nisso, já eram 22h! Novamente, passei o fim-de-semana por lá, voltando para Porto Alegre no bus da Unesul. Ah, dessa vez foi de pinga-pinga via Interpraias! E o bagageiro do carro realmente era pequeno, se não tivesse tirado as rodas da bicicleta, ela não entrava mesmo!

Total percorrido: aproximadamente 70 km

Pneus furados: 0

Tempo de viagem: 9h30min

Gasto: nenhum