A paz é um
caminho a ser percorrido, não é um estado de espírito que
dependa de ninguém. A paz é composta de pequenos momentos,
de pequenos atos nos quais acreditamos, com fervor.
Geralmente,
o estreitamento dos laços, de qualquer natureza, nos conduz a
um caminho que jamais poderá ser considerado de paz e
felicidade. Isto porque, uma das lições mais importantes que
nos pode ensinar a caminhada por esta vida, é a consciência
de que nada, nem ninguém nos pertence.
Sequer,
o corpo, esta vestimenta que abriga a nossa alma no campo
material, é nosso. Somente a consciência desta verdade, a
nossa educação para a compreensão e aceitação da
realidade, pode nos conduzir ao estado de satisfação e paz
interior.
As
nossas fraquezas, aliadas ao pouco desprendimento, nos
conduzem à infelicidade e à frustração de nossas
expectativas.
A
maioria dos seres humanos permite que sentimentos menores e
mesquinhos turvem qualquer tipo de relacionamento.
O
sentimento de posse e a errônea noção de propriedade fazem
com que se desestruturem quaisquer relacionamentos de amor. E
quando se fala de amor, isso é feito de maneira abrangente. Aí
estão incluídas todas as “formas” deste sentimento, se
é que essa é uma maneira correta de classificar-se os
sentimentos de bem querença por quem ou por qualquer coisa
que seja.
Avatares
e homens sábios vêm tentando nos mostrar esta verdade
irrefutável, através dos tempos e não conseguimos aceitá-la.
Jesus
assim se referiu à sua família e a seus irmãos: “Minha mãe
e meus irmãos são todos aqueles que estão em meu
caminho”.
Ninguém
pretende ser como ele, ao menos por enquanto. Mas, a realidade
do ensinamento e a
sua compreensão, podem amenizar a caminhada e reduzir o tempo
de aprendizado. Esta lição de vida, será absorvida, nem que
seja a duras penas. Portanto, raciocinemos sobre ela.
O
sábio, contemporâneo, e escritor Gibran Khalil Gibran, nos
mostra, através de seus escritos, esse mesmo ensinamento.
Especialmente na obra prima “O Profeta”.
(E,
abrindo, não intencionalmente e, ao acaso, este livro,
encontro o seguinte final de um capítulo: “Pois aquilo que
é ilimitado, em vós, mora no castelo do céu, cuja porta é
a bruma da aurora e cujas janelas são os cânticos e os silêncios
da noite”).
Somente
a caminhada desvinculada de sentimentos possessivos, pode
conduzir à felicidade da alma e ao êxtase da vida.
Eis
aí, uma verdade!
Todo
o relacionamento afetivo deve ser tratado como uma
“plantinha” que está aos nossos cuidados, dependendo a
sua sobrevivência, da forma correta como a mantemos. Todo o
ser vivo precisa de alguns elementos básicos. Os mais
elementares e indispensáveis são o alimento, a luz, a água
e o ar.
Pode
ser essa plantinha: a relação filial ou paternal, uma relação
de amizade ou conjugal.
A
“plantinha” deve:
Ser
alimentada com equilíbrio, com quantidades suficientes, para
que se mantenha viva e possa crescer no momento correto.
Estar
exposta à luz, para manter a vida e não perder o brilho de
suas folhas. Sem luz, ela definha, com a exposição excessiva
aos raios de luz, pode ser queimada e, se não morrer, perderá
o seu brilho natural.
Receber
água, sempre, em quantidade que não provoque danos irreparáveis
e que comprometam a sua sobrevivência. A falta de água vai
levá-la a morte, por sede e o excesso, provocará o
apodrecimento de suas raízes; matando-a, também.
Ter
oxigênio, em quantidade suficiente para sobreviver. Nem de
menos, para que não sucumba à sua falta e, tampouco, em
excesso, para que não sufoque.
Podemos,
nesta passagem terrena, fazer a nossa escolha e ela deve ser
espontânea. Poderemos fazer desta caminhada, um leque de
escolhas e opções. Mas, atentemos, apenas, para duas
possibilidades mais evidentes.
A
primeira delas pode ser o nosso papel no mundo como uma árvore.
Uma árvore que, plantada à beira do caminho, ofereça abrigo
e alimento ao passante, independentemente de quem seja ele.
Uma árvore não escolhe a quem abrigar e, tampouco,
diferencia a quem se abriga à sua sombra.
A
outra opção é nos sentirmos como uma ave de hábitos migratórios
e que transporta consigo, sementes da “plantinha”. E, ao
sobrevoar os campos férteis, vai deixando que elas caiam para
que, no tempo certo, desabrochem, cresçam e se transformem em
outras árvores, oferecendo
abrigo e alimento aos necessitados.
São
opções a serem feitas com liberdade e por ela conduzidas.
São
lições importantíssimas no caminho da paz interior e da
felicidade quase plena.
O
amor incondicional é o caminho da luz.
E
o perdão é a própria fonte de luz.
03
de julho de 2001 – 12:40 h

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