Despertar e Ser
Real

Abro os olhos, devagar e
distendo cada parte de meu corpo em
abandono;
ajo como
um felino ao retornar do
sono.
A luz do sol poente de
outono, penetra por cada fresta e enche todo o
ambiente
de um tom alaranjado, quente qual a minha
sensação: ardente.
Continuo sorrindo o meu
prazer e a percepção momentânea de desejos
satisfeitos.
Concentro-me e sinto seus
dedos percorrendo os cabelos em meu
peito...
Quase
real!
Esquadrinho, ansioso, com o
olhar, o
ambiente. Alguma coisa,
pressinto; me diz de você
ausente.
Ergo o corpo.
Sentado, procuro algo que
me possa compor com a vida de escravo em
sociedade.
Ah, bendita
liberdade!
Recordo-me; estamos sós.
Tudo é só para nós.
Caminho vagaroso e
nu,
percorrendo todo o pequeno ambiente. A
sala eu atravesso, vislumbrando o mar e o sol
poente.
Nada que confirme você no
ambiente. Mas, na sacada, sobre o parapeito,
abandonado, o meu relógio.
Torno e vejo, sobre o
tapete,
as minhas bermudas. Relembro suas pernas
desnudas...
No encosto da poltrona,
largada, a minha camisa listrada. Pergunto por
você e as paredes: mudas.
Volto e só encontro
em
nosso caminho, pelo chão, as almofadas em
desalinho.
Cadê
você?
Eu chamo,
clamo e o silêncio é
total.
Quase!
O marulhar das ondas faz
coro aos nossos sons e sua voz sussurra, ainda,
aos meus ouvidos: "Te amo".
Terá sido um sonho ou
éramos nós?
Meu corpo responde e o teu
perfume confirma:
Foi um sonho. Mas,
real!
Carlos Gama.
19/4/2001
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