QUAL É
SEU TIPO DE HOMEM?
(1°
lugar Concurso Revista NOVA - 1994)
Depende.
Do humor, do dia da semana, da lua, do mapa astral. Exemplo: hoje eu
posso estar assim languidamente gripadinha, precisando do tipo
paparico. Aquele do chazinho na cama, cobertas ajeitadas, tomando
incansavelmente minha temperatura e me achando uma gracinha fanhosa.
Mas amanhã posso acordar toda curvas e carnes, pernas e dentes, e
aí, pode apostar, o vídeo na TV vai ser "A Dama do
Lotação" - que vou assistir suspirando por um rude pescador, um
operário, sei lá. Importante é a barba espetando, o suor obsceno.
Mas de repente vamos supor que eu esteja no meu inferno zodiacal, me
sentindo a própria megera-que-quer-ser-domada. Que venha o machão e
seus ataques de ciúme, que me puxe pelos cabelos, que se exaspere com
meu decote. Vou amar. Entretanto, caso chova, minha conseqüente
melancolia exigirá mãos gentis, olhos cúmplices e os doces suspiros
do tipo romântico.
Que
viagem! Divaguei e agora aterrisso... diante do meu atípico marido.
Sem chazinho e machismos de decote. Ele e seu discutível humor, seus
sapatos pela sala, seus buracos de cigarro no sofá; mas ele sabe.
Sabe tudo. Me sabe os mistérios, me pensa as feridas, me faz divinas
macarronadas, tolas cócegas, doces delírios. Jamais julgará meu
erro, nunca enxergará minha derrota, pra sempre me aplaudirá - por
qualquer motivo.
Não é
o príncipe do cavalo branco. É o doce homem do meu cotidiano,
abraço feliz, feijão com arroz, escovas-de-dentes. Não se encaixou
nos meus antigos sonhos. Mas se encaixou surpreendentemente na minha
absurda felicidade.
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