A Literatura Brasileira ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921)
Afonso Henriques da Costa Guimarães nasceu em Ouro Preto (MG). Estudou Direito em São Paulo, onde se dedicou ao jornalismo. Toda a sua obra foi marcada pela presença da amada - Constança - que morreu às vésperas do casamento. Misticismo, Amor e Morte - eis o triângulo que caracteriza toda obra de Aphonsus de Guimaraens, sendo comum à crítica literária considerá-lo o mais místico poeta de nossa literatura. A morte da noiva é um motivo sempre retomado em sua poesia. Em contrapartida, escreveu poemas de um humor fino e requintado. Essa é uma parte pouco conhecida de sua obra, visto que não a publicou em volume. Em 1906 foi nomeado juiz na cidade de Mariana (MG). Lá ele casou, teve quinze filhos, e permaneceu até sua morte, em1921. Obras Poesia: - Setenário das Dores de Nossa Senhora (1889)
- Câmara ardente (1889)
- Dona Mística (1899)
- Kyriale (1902)
Prosa: A CATEDRAL Entre brumas, ao longe, surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu risonho, Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a bênção de Jesus. E o sino clama em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a lua a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho, Aparece, na paz do céu tristonho, Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho, Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino geme em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
|