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O que é matéria, é perene. De uma efemeridade absoluta. O olhar repressor é reflexo de uma energia ruim. Corpos são apenas corpos e nada mais. Tudo fica vazio quando acreditamos na abstração dos sentimentos. Sentimentos são reais. Lembranças são reais. Vontades, desejos, ideologias são reais.

O senso repressor envolve meu doce casaco protetor. Mas os botões de jasmim são encantados. E o algodão doce, feiticeiro das realizações. Me desprendo de qualquer outro tipo de crença.

Confio cegamente na magia dos anjos. E procuro a todo momento calçar sapatos de saudades mel, não para retornar ao ventre de minha mãe, mas sim sublimar de encontro a tranqüilidade vital. Visto calças de liberdade caramelo, pois elas me auxiliam na compreensão do incompreensível. Uma camiseta de paciência morango aquece meu coração nos dias inquietantes, controla minha taquicardia imaginária.

Freqüência de dias inquietantes. Além de meu doce casaco, para comparecer neste encontro com o sobrenatural destino, utilizo um cordão cristal de sorrisos e, para cobrir  minhas mãos, uso luvas de esclarecimento.
figurino
Conhecidos anjos da guarda. Guardam nossa angústia com cadeados de perfeição. Fazem desaparecer nossas fraquezas, reduzindo erros a pó. Nossos anjos são estrelas que nos encobrem de alegria e paz. Existem variáveis de anjos. Suas cores, perfumes e sabores passam do cintilante azul ao café amargo. Mães são anjos multicoloridos com perfume de flores do campo e sabor de avelã coberto de chocolate.

Quando nosso arco-íris angelical materno vai embora deste mundo fica um pouco difícil entender que a matéria é apenas uma embalagem dos seres humanos. O perfume de flores do campo fica distante. Muitas vezes, ao nosso redor, parece predominar uma negra fumaça mal cheirosa, relativa aos desentendimentos sociais, cegando os olhos, ardendo pupilas dilaceradas pela descrença, pelo desprotegimento. Chego a relembrar a infância perdida no tempo, perdida no medo, amadurecida pela dor. Minha única saída é me agarrar a percepções de uma eternidade maternal. Uma consciência que foge do banal, que busca o espiritual. Porque a incompreensão é elemento universal na bagagem do mundo terreno.

A materialização da negra fumaça mal cheirosa é ilusão de fracos em busca de uma proteção maior, em busca de um casaco costurado de açúcar, com botões de jasmim e acabamento de algodão doce. E, mesmo parecendo sensível, este casaco possuiria poderes mágicos de afastar a concretização de um céu nu. Despido de nuvens, estrelas, arco-íris. Por isso, acredito na inversão dos sentidos.
sem data
p a r a   n a v e g a r
t e x t o s
r e p o r t a g e n s
l i v r o  d e  v i s i t a s
r e f r e s c o