TEORIA GERAL DO ESTADO
Questionário de Revisão
3ª Avaliação
Pesquise, reflita e discuta com os colegas de classe e com os monitores sobre os seguintes assuntos:
a) descrição e análise do modelo vigente de democracia no Brasil.
· destaque a análise conceitual da teoria das elites (democracia elitista) e/ou da teoria da representação política (democracia representativa) e/ou da teoria liberal (democracia liberal);
b) identificação e crítica dos problemas e dos paradoxos da teoria da democracia elitista e/ou da democracia representativa e/ou da democracia liberal – estudo em tese;
c) identificação e crítica dos problemas e dos paradoxos da teoria da democracia elitista e/ou da democracia representativa e/ou da democracia liberal – estudo do caso brasileiro;
d) apresentação de alternativas para superar os problemas e os paradoxos identificados no item c).
Leia, reflita e discuta com os colegas de classe e com os monitores sobre o texto “Ganhei Coragem” de Rubem Alves (publicado no jornal Folha de São Paulo, de 5 de maio de 2002).
Pesquise, reflita e discuta com os colegas de classe e com os monitores sobre as seguintes questões:
a) Qual a democracia que sonhamos? (isto é, qual a democracia ideal?) A democracia que desejamos é possível? Qual a democracia possível?
b) É possível uma democracia em que o povo participe e decida? É possível uma democracia sem o povo?
c) O povo é confiável para fazer um governo justo, honesto e eficiente? O povo está preparado para governar? O povo alguma vez esteve ou estará preparado para governar?
d) Qual a melhor forma (viável) de governo? Justifique sua posição.
Ganhei Coragem
Rubem Alves
"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente
tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche. É o meu
caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. Albert Camus,
leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem
chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é
disso que eu tenho medo.
Em tempos passados invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do
povo... Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não
ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o
povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação
histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus
andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na
montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de
ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com
os Dez Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao
contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a
prostituição. Pulava de amante a amante enquanto o amor de Oséias pulava de
perdão a perdão. Até que ela o abandonou... Passado muito tempo, Oséias
perambulava solitário pelo mercado de escravos... E o que foi que viu? Viu a sua
amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse:
"Agora você será minha para sempre...". Pois o profeta transformou a sua desdita
amorosa numa parábola do amor de Deus.
Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta,
mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos
verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são
doces; a verdade é amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos
romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo
gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de
comida para os leões, se transformaram em donos do circo.
O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em
praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando
com o cheiro de churrasco e os gritos. Reinhold Niebuhr, teólogo moral
protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os
indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se
"responsáveis" por aquilo que fazem. Mas, quando passam a pertencer a um grupo,
a razão é silenciada pelas emoções coletivas.
Indivíduos que,
isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um
grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são
capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida
do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma
prostituta que se vende a preço baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e
segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói
o ideal da democracia.
Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O
povo é movido pelo poder das imagens, e não pelo poder da razão. Quem decide as
eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições,
dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa.
Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a
ser assimilados à coletividade. Uma coisa é o ideal democrático, que eu amo.
Outra coisa são as práticas de engano pelas quais o povo é seduzido. O povo é a
massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi
crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a revolução
cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade
proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.
O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!
Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos
aristocráticos... Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando
Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não
gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol. Tenho medo
de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar
os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do
que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse
acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo
escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção...". Isso é tarefa para os
artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.