Palestras Inspiradas
Quarta feira , 19/06/1895
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Este dia marca o princípio da instrução regular,
dada diariamente por Swami Vivekananda, a seus discípulos.
Naquela primeira manhã, chegou com a Bíblia nas mãos
e abriu no Evangelho de S.João, dizendo que, já que eram
todos cristãos, era natural que começasse
pelas Escrituras Cristãs.
"No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus
e o Verbo era Deus". Os hindus chamam isto de Maya,
a manifestação de Deus, porque é o poder de Deus.
O Absoluto refletindo-se através do Universo,
é o que chamamos Natureza.
O Verbo tem duas manifestações: a geral, da Natureza
e a especial, das grandes encarnações
de Deus: Krishna, Buddha, Jesus, Ramakrishna.
Cristo, a manifestação especial do Absoluto,
é conhecido e conhecível.
O Absoluto não pode ser conhecido: não podemos
conhecer ao Pai, só podemos conhecer o Filho.
Só podemos ver o absoluto através
do aspecto humano, através de Cristo.
Nos primeiros 5 versículos de S.João, se acha toda
a essência do cristianismo; cada versículo
está pleno da mais profunda filosofia.
O perfeito, jamais se torna imperfeito.
Está na obscuridade mas não é afetado por ela.
A misericórdia de Deus alcança a todos,
mas não é afetada pela perversidade.
O Sol não é afetado por nenhuma enfermidade
de nossos olhos que pode fazer-nos vê-lo deformado.
No versículo 29, as palavras: "Tira o pecado do mundo",
significam que Cristo nos mostra o caminho
para sermos perfeitos.
Deus se fez Cristo para ensinar aos homens sua verdadeira
natureza e que também nós somos Deuses.
Somos invólucros humanos que cobrem o Divino,
porém, como Homem divino, Cristo e nós somos um só.
O Cristo Ternário está acima de nós; o Cristo Unitário
é simplesmente, um homem moral;
nenhum dos dois pode ajudar-nos.
O Cristo que é a encarnação de Deus, que não esqueceu
a Sua divindade, esse Cristo pode ajudar-nos,
nele não há imperfeição.
Estas encarnações são sempre conscientes da sua própria
divindade; sabem disto desde o seu nascimento.
São como atores, cuja representação terminou e voltam
à cena para agradecer aos outros.
Esses grandes seres não são afetados por coisa alguma
desta terra; adotam nossa forma e nossas limitações
por um tempo, para ensinarmos, porém nunca
estão limitados, sempre são livres.
O Bem está perto da Verdade,
mas não é, todavia, a Verdade.
Depois de aprender a não ser perturbados
pelo mal, temos que aprender
a não nos sentirmos felizes com o bem.
Devemos descobrir que estamos além do bem
e do mal, devemos estudar suas concordâncias
e ver que ambos são necessários.
A idéia de dualismo, provém dos antigos persas.
Em realidade o bem e o mal são uma só coisa
e estão na nossa própria mente.
Quando a mente é dona de si mesma,
nem o bem nem o mal a afetam.
Sejamos perfeitamente livres, então nada poderá
afetá-la e gozaremos de liberdade e felicidade.
O mal é uma cadeia de ferro e o bem
uma cadeia de ouro; ambas aprisionam.
Sejamos livres e saibamos, de uma vez
por todas, que não há correntes para nós.
Usemos a corrente de ouro, para nos libertar
da de ferro, e depois, abandonemos as duas.
O espinho do mal está em nossa carne.
Tomemos outro espinho, do mesmo arbusto, para retirá-lo depois nos desfaçamos dos dois e sejamos livres.
No mundo, tomem sempre a posição daquele que dá.
Dêem tudo e não busquem recompensa.
Dêem ajuda, dêem amor, dêem serviço dêem qualquer coisa
que possam dar, por pequena que seja,
porém, evitem traficar.
Não imponham condições e nenhuma lhes será imposta.
Damos, porque é próprio da generosidade,
como Deus dá a nós. O Senhor é o único Doador,
todos os demais são só guardiões.
Obtenham seu cheque e será valido em todas os lugares.
Deus é a inexplicável e inexpressável essência do amor;
pode ser conhecido, porém nunca definido.
Em nossas misérias e lutas, o mundo nos parece
um lugar espantoso, porém, do mesmo modo que quando vemos dois cãezinhos rosnando e mordendo-se,
não fazemos caso porque sabemos que tudo é um brinquedo
e mesmo quando se dêem uma ou outra mordida,
não se causarão muito dano; assim,
todas as nossas lutas são só jogos, aos olhos de Deus.
Este mundo é apenas para brincar
e Deus se diverte com ele.
Nada há no mundo, que possa motivar a cólera de Deus.
"Mãe ! No mar da vida, meu barco afunda.
O torvelinho da ilusão e a tormenta do apego
crescem a cada momento.
Meus cinco remadores (os sentidos) estão loucos
e o timoneiro (a mente) é fraco.
Perdi meu rumo, meu bote se afunda.
Oh ! Mãe, salva-me.""Mãe, Tua luz não se detém ante o santo
ou o pecador; ela anima o amante e o assassino."
A Mãe está se manifestando sempre, através de tudo.
A luz não é empanada por aquele sobre o qual
brilha, nem tão pouco beneficiada por ele.
A Luz é sempre pura, sempre imutável.
Por trás de cada criatura está a Mãe,
pura, amorosa, invariável.
"Mãe, manifestada como Luz em todos os seres,
diante de Ti, nos inclinamos !"
Ela está, igualmente, no sofrimento e na fome,
como no prazer e no sublime.
"Quando a abelha libera o mel, o Senhor está comendo."
Sabendo que o Senhor está em todas as partes,
os sábios renunciam a abastança e a censura.
Saibamos que nada pode fazer-nos mal.
Como poderia ? Não somos, por acaso, livres ?
Não somos o Atman ?
Ele é a Vida de nossas vidas, a audição de nossos
ouvidos, a visão de nossos olhos.
Corremos pelo mundo, como um homem
perseguido pela polícia e apenas percebemos
algum resplendor fugaz das belezas que contém.
Todo este temor que nos persegue,
provém de crer na matéria.
A matéria tira toda sua existência
da presença da mente, atrás dela.
O que vemos é Deus filtrando-se através da natureza.