Quarta feira, 3 de julho

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Falando de modo geral a religião
humana começa com o temor.
“O temor de Deus é o princípio da sabedoria.”
Porém, mais tarde, vem uma idéia mais elevada.
“O amor perfeito destrói o temor.”
Restos de temor restarão em nós até que adquiramos
o conhecimento, até sabermos o que é Deus.
Cristo, como homem, teve que ver a impureza
e denunciá-la; porém Deus, infinitamente
mais elevado, não vê a iniqüidade
e não pode se encolerizar.
A acusação nunca é a atitude mais elevada.
As mãos de David estavam manchadas de sangue,
por isso ele não pode construir o templo.
Quanto mais crescemos em amor, em virtude
e santidade, tanto mais somos capazes
de ver o amor, a virtude e a santidade fora de nós.
Toda censura a um outro,
é, na verdade, uma censura a nós mesmos.
Se amoldem ao microcosmo, coisa que está
em seu poder, e o macrocosmo se amoldará a vocês.
É como o paradoxo hidrostático: uma gota de água
pode servir de contrapeso para o universo.
Não podemos ver fora, aquilo que não somos internamente.
O universo está para nós, como a grande máquina
para a máquina em miniatura; a indicação de qualquer
erro na máquina pequena, nos faz imaginar
perturbações, na grande máquina.
Cada um dos passos, realmente significativos
para o progresso do mundo, foi dado por amor;
a crítica jamais pode fazer algum bem, segundo
demonstraram as experiências de milhares de anos.
Com censura, nada se consegue.
Um Vedantista verdadeiro, deve simpatizar com tudo.
O monismo, ou absoluta unidade com Deus,
é a alma da Vedanta.
O dualista tende, naturalmente, a se mostrar
intolerante, pensando que seu caminho é o único.
Na Índia, os vaishnavas, que são dualistas,
constituem uma seita muito intolerante.
Entre os saivas, outra seita dualista, se conta a história
de um devoto chamado Ghantakarna
o orelha com guizos, um adorador de Shiva,
tão fervoroso, que não podia ouvir o nome
de nenhuma outra divindade;
para isso, levava um guiso preso a cada orelha
e os fazia tilintar para não ouvir
quando alguém dizia o nome de outra deidade.
Tão intensa era sua devoção a Shiva,
que Ele próprio quis ensinar-lhe que não havia
nenhuma diferença entre Shiva e Vishnu;
assim, apareceu tendo
uma metade como Shiva e outra como Vishnu.
Naquele momento o devoto estava queimando
incenso diante da imagem, mas era tão grande o fanatismo
de Ghantakarna que quando viu que a fumaça do incenso entrava pelas narinas do nariz pertencente a Vishnu,
a tampou com o dedo, para evitar que este Deus
desfrutasse o doce perfume.


Os animais carnívoros, como o leão, dão um golpe
e se apaziguam, porém o paciente boi, anda o dia todo,
comendo e dormindo enquanto caminha.
O ativo ianque não pode competir
com o calmo chinês, comedor de arroz.
Enquanto predomine o poder militar prevalecerá
a alimentação carnívora, porém, com o avanço da ciência
a luta será menor e então virão os vegetarianos.


Ao amarmos a Deus, nos dividimos em dois: eu mesmo, amando ao meu Eu. Deus me criou e eu criei a Deus.
Criamos Deus à nossa imagem; somos nós que O criamos
para convertê-Lo em nosso amo e não Deus
que nos faz Seus servidores.
Quando sabemos que somos Um só, que nós e Ele
somos amigos, então conhecemos a igualdade e a liberdade.
Enquanto se mantiverem separado,
mesmo que pela distância de um fio de cabelo,
deste Um Eterno, não poderão se livrar do temor.
Nunca façam esta pergunta tola:
que bem fará tal coisa ao mundo ?
Deixem o mundo. Amem e não perguntem nada,
amem e não procurem mais nada.
Amem e esqueçam todos os ismos.
Embriaguem-se com o vinho do amor, até a loucura.
Digam: Seu, seu para sempre, oh, Senhor!
e mergulham Nele, esquecendo todo o resto.
A idéia de Deus, é de amor.
Quando virem uma gata que amamenta seus gatinhos,
parem e rezem. Deus se manifestou ali.
Acreditem  nisto, literalmente.
Repitam: sou Seu, sou Seu, porque nós podemos ver Deus
em todas as partes. Não o procurem, olhem para Ele.
“Que o Senhor os mantenha sempre atentos para a luz
do mundo e para a alma do universo.”


O Absoluto não pode ser adorado, por conseguinte
devemos adorar uma manifestação,
aquela que possuí uma natureza similar a nossa.
Jesus tinha nossa natureza; Ele se fez Cristo;
a mesma coisa podemos e devemos fazer nós mesmos.
Cristo e Buddha foram os nomes de um estágio
que deve ser atingido.
Jesus e Gautama foram as pessoas que o manifestaram.
Mãe é a primeira e mais alta manifestação,
imediatamente seguem os Cristos e Buddhas.
Nós criamos nosso próprio ambiente
e nós mesmos cortamos as amarras.
O Atman é o intrépido.
Quando rezamos a um Deus externo,
não fazemos mal mas não sabemos o que fazemos.
Quando conhecemos o Eu, compreendemos.
A mais elevada expressão do amor é a unificação.


“Houve tempo, em que eu era mulher
e ele homem,
Entretanto, o amor cresceu até que já não existe
nem ele, nem eu;
Só tenho uma recordação longínqua do tempo
em que éramos dois,
Porém o amor se interpôs
e dos  dois fez um.”

(Poema sufi - persa)
 

O conhecimento existe eternamente
e é coexistente com Deus.
O homem que descobre uma lei espiritual está inspirado
e o que nos apresenta é revelação, porém a revelação
também é eterna e não deve ser cristalizada
como definitiva, para seguir-se depois, cegamente.
Os hindus que foram criticados por tanto tempo
por seus conquistadores, se atreveram
a criticar sua própria religião e isto os fez livres.
Seus governantes estrangeiros
romperam seus elos, sem sabê-lo.
O povo mais religioso da terra, o hindu,
não tem, em realidade, o sentido de blasfêmia;
falar de coisas santas a qualquer momento,
é para eles uma santificação por si mesmo.
Não tem, também, nenhum respeito artificial
pelos profetas  ou livros nem para com a piedade hipócrita.
A Igreja trata de ajustar o Cristo a ela,
em vez de ajustá-la ao Cristo; tal é a razão
de ter preservado apenas aqueles
escritos que serviam a seus propósitos.
Por isso, não devemos depender dos livros; o culto ao livro
é a pior espécie de idolatria que pode amarrar nossos pés.
Tudo tem que estar em conformidade com os livros:
ciência, religião, filosofia;
e a pior tirania é a da Bíblia Protestante.
Nos países cristãos, cada homem tem, sobre
sua cabeça, uma catedral, e acima desta, um Livro.
Apesar de tudo isso, o homem vive e cresce.
Isto não é a prova de que o homem é Deus ?
O homem é o ser maior que existe
e este é o maior dos mundos.
Somos incapazes de um conceito de Deus
mais elevado que o homem, assim,
nosso Deus é homem e o homem é Deus.
Quando nos elevamos e vamos além, e encontramos
algo mais alto, temos que nos afastar da mente,
do corpo e da imaginação e deixar este mundo.
O homem é o pico mais alto do único mundo
que podemos conhecer.
Tudo quanto sabemos dos animais, é só por analogia,
os julgamos pelo que fazemos e sentimos nós mesmos.
A soma total do conhecimento é sempre a mesma,
só que algumas vezes está mais manifestada
e outras, menos.
A única fonte de sabedoria está em nosso interior
e só lá a podemos encontrar.


Toda poesia, pintura e música é sentimento
expresso mediante palavras, cor ou som.


Bem aventurados aqueles que purgam rapidamente
seus pecados, pois assim, sua conta ficará saldada
mais depressa. Pobre daquele cujo castigo é adiado,
porque será bem maior.
Daqueles que alcançaram a identidade,
se diz que vivem em Deus.
Todo ódio, significa matar o Eu com o eu;
por conseguinte, o amor é a lei da vida.
Elevar-se até este ponto é ser perfeito,
porém, quanto mais perfeitos  somos, menos trabalho
(assim chamado) podemos fazer.
Os sattwicas vêem e sabem que tudo isto
é apenas uma brincadeira de crianças
e não se preocupam com coisa alguma.
É muito fácil desfechar um golpe, mas é terrivelmente
difícil conter a mão, permanecer tranqüilo e dizer:
“Em Ti, oh Senhor, tomo refúgio!” e esperar que Ele atue.