Sábado, 6 de julho

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       (Hoje, lemos os comentários de Sankaracharya
       sobre os sutras vedantas de Vyasa.)

OM TAT SAT !

Segundo Sankara, existem duas fases no universo:
uma é o “eu” e a outra é o “tu”.
Elas são tão contrárias como luz e sombra,
assim podemos ver que nenhuma delas
pode ser derivada da outra.
Sobre o sujeito, foi superposto o objeto;
o sujeito é a única realidade, o outro é uma mera aparência.
Qualquer opinião contrária é insustentável.
A matéria e o mundo externo, não são mais do que
a alma, num certo estado. Na verdade só ela existe.
Todo o nosso mundo procede da verdade e da mentira juntas.
Samsara (vida) é o resultado das forças contraditórias
que atuam sobre nós, como a linha diagonal
de uma bola em seu paralelogramo de força.
O mundo é Deus e é real, porém,
esse não é o mundo que vemos;
assim como vemos prata na madrepérola,
onde ela não existe.
Isso é o que se chama adhyasa, ou superposição.
Quer dizer, uma existência relativa que depende
de outra existência real,
como quando recordamos uma cena que vimos.
Naquele momento aquilo existe para nós,
porém essa existência não é real.
Ou, como dizem alguns, é imaginar
calor na água, sem que ele pertença a ela,
pois realmente é algo que foi posto aonde não pertence,
é tomar uma coisa pelo que não é.
Vemos a realidade, porém falseada pelo meio
através do qual a vemos.
Nunca poderão conhecer a vocês mesmos,
a não ser objetivados.
Quando confundimos uma coisa com outra, sempre tomamos
o que esta diante de nós, como real, nunca ao invisível;
desse modo, tomamos o objeto pelo sujeito.
O Atman nunca chega a ser objeto.
A mente é o sentido interno,
os sentidos externos são seus instrumentos.
Num sujeito existe uma ínfima
proporção do poder objetivador, que o permite
saber eu sou; mas o sujeito é o objeto do seu próprio eu,
nunca da mente nem dos sentidos.
Podemos, naturalmente, sobrepor uma idéia a outra,
como quando dizemos - o céu é azul -
embora o mesmo céu seja  apenas  uma idéia.
A  ciência e a nesciência são tudo quanto existe,
porém o EU nunca é afetado por nesciência alguma.
O conhecimento relativo é bom,
porque conduz ao conhecimento absoluto;
porém nem o conhecimento
dos sentidos nem o da mente, nem mesmo
o dos Vedas é verdadeiro, já que todos estão incluídos
no conhecimento relativo.
Livremo-nos, primeiramente, da ilusão de que eu sou o corpo
só então, sentiremos necessidade do conhecimento real.
O conhecimento do homem, é só o conhecimento
da besta, num grau mais elevado.


 Uma parte dos Vedas, trata do karma, formas e cerimoniais;
a outra, trata do conhecimento de Brahman e discute a religião.
Nesta parte, os Vedas instruem sobre o Eu, e devido
a isso seu conhecimento se aproxima do conhecimento real.
O conhecimento do Absoluto não depende de nenhum livro,
nem de coisa alguma; é absoluto em si mesmo.
Por muito que se estude não se consegue
este conhecimento; não é teoria, é realização.
Limpem a superfície do espelho, purifiquem
suas próprias mentes e, instantaneamente
verão que são Brahman.
O que existe é Deus; não existe nascimento,
morte, dor, miséria, crime, mudanças
nem o bem nem o mal; tudo é Brahman.
Confundimos a “corda com a serpente”.
O  erro é nosso.
Só podemos fazer o bem quando amamos a Deus
e Ele reflete o nosso amor.
O assassino é Deus, e sua roupagem
de assassino, somente está superposta.
Tomem-no pela mão e digam-lhe a verdade.
A alma não tem casta, pensar que a tem, é uma ilusão;
da mesma forma é a vida e a morte
e qualquer movimento ou qualidade.
O Atman nunca muda, nunca vai nem vem.
É o eterno testemunho das suas próprias manifestações,
porém, o confundimos com a manifestação, e esta é uma
eterna ilusão sem princípio nem fim, que continua sempre.
Os Vedas, entretanto, tem que descer ao nosso nível,
porque se nos dissessem a mais elevada verdade
da maneira mais elevada, não a compreenderíamos.
O céu é uma mera superstição nascida do desejo,
e o desejo é sempre um jugo, uma degeneração.
Não nos aproximemos nunca, de coisa alguma,
sem considerá-la como  Deus; se não fizermos isto,
veremos o mal porque baixamos um véu de ilusão
sobre o que olhamos e então, vemos o mal.
Livrem-se destas ilusões, sejam felizes.
A liberdade consiste em perder todas as ilusões.
Em certo sentido, Brahaman é conhecido por cada um
dos seres humanos; o homem conhece o eu sou,
mas não se conhece tal como é.
Todos sabemos que somos, mas não como somos.
Todas as explicações menos elevadas, são verdades parciais,
porém a flor, a essência dos Vedas,
é que o EU em cada um de nós, é Brahman.
Todos os fenômenos estão incluídos no nascimento,
crescimento e morte; aparição, continuação e desaparição.
Nossa própria realização está além dos Vedas ,
porque até eles dependem disso.
A Vedanta mais elevada é a filosofia do além.
Dizer que a criação teve um princípio é derrubar
a machadadas, a raiz de toda a filosofia.
Maya é a energia do universo, potencial e dinâmica.
Enquanto a Mãe não nos dispensar,
não poderemos obter a liberdade.
Este universo é nosso, para que o desfrutemos,
mas não devemos desejar coisa alguma.
Desejar é fraqueza.
A necessidade faz de nós mendigos,
quando somos, em verdade, filhos de um rei.