Sábado, 3 de Agosto

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    Os indivíduos que podem obter a liberdade nesta vida,
tem que viver mil anos em uma única encarnação.
Tem que colocar-se na vanguarda do seu tempo,
enquanto que as massas só podem se arrastar.
Assim temos Cristos e Buddhas.


    Havia, certa vez, uma rainha hindu que,
de tal modo ansiava que seus filhos alcançassem
a liberação nesta vida, que ela mesma tomou
a seu encargo os cuidados com estas crianças,
e, para fazê-los dormir, cantava sempre a mesma canção:
"Tat tvan asi, Tat tvan asi" (Tu és Aquele, tu és Aquele).
Três dos príncipes chegaram a ser *sannyasins*,
mas o quarto foi eleito rei de certo reino.
No momento de deixar a casa, a mãe lhe deu
um pedaço de papel que devia ler
quando fosse um homem feito.
No pedaço de papel estava escrito
"Só Deus é verdadeiro; tudo o mais é falso.
A alma nunca mata nem pode
ser morta. Viva só em companhia de santos ".
Quando o jovem príncipe leu isso, renunciou também
ao mundo e se tornou um *sannyasin*.
    Abandonem tudo, renunciem ao mundo.
Somos agora, como cães soltos na cozinha,
comendo um pedaço de carne e olhando
em volta, receosos de que, em algum momento
alguém entre e nos ponha para fora.
Em vez disso, sejam reis
e saibam que o mundo lhes pertence.
Isso não poderá acontecer até que renunciem
e deixem de estar ligados.
Renunciem  mentalmente,
se não podem fazê-lo fisicamente.
Renunciem desde o fundo
e do mais  íntimo de seus corações.
Tenham *vairagyan* (renúncia).
Este é o sacrifício real, e sem ele
torna-se impossível obter espiritualidade.
Não desejem nada, porque aquilo que se deseja
se obtém, e trás consigo a horrível escravidão.
Nada mais é do que trocarmos de narizes,
como no caso do homem que devia pedir três graças*.
Não obteremos a liberdade enquanto não tivermos domínio
sobre nós mesmos. É o EU quem salva o eu, ninguém mais.
Aprendam a sentir em outros corpos,
a reconhecer que todos somos um.
Joguem todas as outras idéias ao vento.
Realizem suas ações; boas ou más
e não voltem a pensar nelas.
O que está  feito, feito  está.
Livremo-nos das superstições.
Não mostrem fraqueza nem mesmo diante da morte.
Não se arrependam, não ruminem coisas  passadas,
nem se lembrem das boas obras; sejam *azad* (livres).
O fraco, o covarde e o ignorante nunca alcançarão o Atman.
Não podem desfazer o que está feito; o efeito deve acontecer.
Aceite-o, mas cuidem de não repetirem a mesma coisa.
Entreguem a carga de todos os seus atos ao Senhor;
deem-Lhe tudo, tanto o bom como o mau.
Não guardem o bem e entreguem apenas o mal.
Deus ajuda, aqueles que *não se ajudam a si mesmos*.
    "Bebendo da taça do desejo, o mundo se torna louco".
O dia e a noite jamais se juntam, do mesmo modo,
o desejo e o Senhor nunca podem andar juntos.
Abandonem o desejo.


*Certa vez, um homem pobre encontrou um deus
que lhe ofereceu três dons; ele podia fazer três pedidos
que eles seriam atendidos .
O homem, feliz, voltou para casa e comunicou a notícia
 de tão boa sorte, à sua mulher que, alegremente,
sugeriu que pedissem primeiro riquezas.
A isto o homem respondeu:
"Nós dois temos narizes pequenos e feios e,
por causa disso, os outros se riem de nós;
peçamos primeiro um bonito nariz aquilino,
pois a riqueza não pode nos livrar dessa deformidade".
A mulher preferia obter primeiro a riqueza e,
tomando-lhe as mãos, lhe disse isso.
O homem retirou suas mãos imediatamente e decidiu:
  "que tenhamos belos narizes e nada mais que narizes".
Imediatamente o corpo todo se cobriu de lindos narizes,
mas isso causava um incômodo tão grande que resolveram
gastar o segundo desejo pedindo a eliminação deles.
Mas com isso perderam seus narizes e ficaram desnarigados.
Dessa maneira desperdiçaram dois dons
e completamente  confusos, não sabiam o que fazer.
Só lhes restava um único pedido.
Havendo perdido seus próprios narizes,
estavam numa situação pior do que antes.
Nem em sonhos podiam imaginar que se veriam em tal situação.
Queriam ter belos narizes, mas temiam que lhes perguntassem
a causa de tal transformação e que os tomassem
por dois grandes tontos, incapazes de remediar esse mal,
nem mesmo com a ajuda dos três dons.
Desta forma, chegaram a um acordo e pediram de novo
o mesmo nariz feio e pequeno de antes.
Não desejem nada, porque o que se deseja se obtém
e trás consigo a marca da escravidão.


    Há uma grande diferença entre dizer *alimento*, *alimento*,
e comê-lo, entre dizer *água*, *água* e bebê-la.
Do mesmo modo, só repetindo a palavra *Deus*,*Deus*,
não podemos esperar alcançar a realização.
Devemos esforçar-nos e praticar.
Só quando a onda volta ao mar, pode se tornar ilimitada;
nunca como uma onda, pode chegar a sê-lo.
Logo, depois de ser o mar, pode voltar a ser onda outra vez,
e uma onda tão grande quanto queira ser.
Rompam a identificação com a corrente e saibam que são livres.

                    A verdadeira filosofia é a sistematização de certas percepções.
O intelecto termina onde começa a religião.
A percepção é muito mais elevada do que a razão,
mas não pode contradizê-la.
A  razão é uma ferramenta tosca para trabalhos rudes;
a inspiração é a brilhante luz que nos mostra toda a verdade.
A vontade de fazer alguma  coisa,
não é, necessariamente, inspiração.


    A progressão, em Maya, é um círculo que nos leva,
de novo, ao ponto de partida; mas saímos ignorantes
e chegamos ao fim com todo o conhecimento.
A devoção a Deus, a devoção aos santos, a concentração,
meditação e a obra altruísta, são os caminhos
para nos livrarmos das redes de Maya;
mas antes, temos que ter
um veemente desejo de nos libertarmos.
O relâmpago de luz que iluminará  nossas trevas está em nós;
esse é o conhecimento e esta é a nossa natureza
(não existem direitos de nascimento, porque nunca nascemos).
A única coisa que devemos fazer,
é afastar as nuvens que o encobrem.
Abandonem todo desejo de prazeres terrenos ou celestiais.
Governem os órgãos dos sentidos e controlem a mente.
Suportem todos os sofrimentos,
sem sequer saber que estão sofrendo.
Não pensem em outra coisa, senão na liberdade.
Tenham fé no Guru, nos  seus ensinamentos e na certeza
de que poderão ser livres.
Digam *soham*, *soham*, aconteça o que acontecer.
Repitam isto enquanto comem, andam ou sofrem;
repitam mentalmente, sem cessar: que tudo o  quanto
vemos jamais existiu, que só existe o EU.
Um relâmpago ! E o sonho se desvanece !
Pensem noite e dia: esse universo é zero, só  Deus existe.
Mantenham, latente, um desejo intenso de serem livres.
    Todos os nossos parentes e amigos são apenas
*velhos poços secos*; caímos neles e sonhamos
com deveres e elos, sem que esses sonhos tenham fim.
Não criem ilusões de estar ajudando a alguém.
Se somos dualistas, é loucura tentar ajudara  Deus;
se somos monistas, sabemos que somos Deus,
logo, onde está o dever ?
Ninguém tem deveres com esposos ou com
filhos e amigos. Aceitem as coisas como vem e permaneçam
tranqüilos, e quando seu corpo flutuar, deixe-o ir;
eleve-o com a crescente das marés e baixe-os com a vazante.
Deixem que morra o corpo; essa idéia de corpo
é apenas uma fábula desgastada.
    "Permaneçam tranqüilos, sabendo que são Deus".
    O  presente é a única coisa que existe;
nem mesmo em pensamento há passado ou futuro,
porque  para pensar neles,
temos que convertê-los em presente.
Este mundo é todo uma ilusão,
não permitam que ele os engane de novo.
Vocês o tomaram por algo que ele não é;
conheçam-no, agora, tal qual é.
Se o corpo é arrastado para alguma parte, deixem-no ir;
não nos preocupemos com o lugar onde o corpo está.
Tal idéia tirânica de dever, se constitui num veneno terrível
que está destruindo o mundo.
   Não esperem ter uma harpa e ir pelo caminho,
descansando a cada etapa.
Por que não pegar a harpa e começar agora ?
Por que esperar o céu ?  Façam isso aqui.
No céu não há casamentos;
por que não começar e terminar aqui ?
O hábito amarelo do *sannyasin*, é o sinal do homem livre.
Abandonem as vestimentas de mendigo, do mundo,
usem o símbolo da liberdade: o hábito ocre.