Sábado, 3 de Agosto
- 41 -
Os indivíduos
que podem obter a liberdade nesta vida,
tem que viver mil anos em
uma única encarnação.
Tem que colocar-se na vanguarda
do seu tempo,
enquanto que as massas só
podem se arrastar.
Assim temos Cristos e Buddhas.
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Havia,
certa vez, uma rainha hindu que,
de tal modo ansiava que
seus filhos alcançassem
a liberação
nesta vida, que ela mesma tomou
a seu encargo os cuidados
com estas crianças,
e, para fazê-los dormir,
cantava sempre a mesma canção:
"Tat tvan asi, Tat tvan
asi" (Tu és Aquele, tu és Aquele).
Três dos príncipes
chegaram a ser *sannyasins*,
mas o quarto foi eleito
rei de certo reino.
No momento de deixar a casa,
a mãe lhe deu
um pedaço de papel
que devia ler
quando fosse um homem feito.
No pedaço de papel
estava escrito
"Só Deus é
verdadeiro; tudo o mais é falso.
A alma nunca mata nem pode
ser morta. Viva só
em companhia de santos ".
Quando o jovem príncipe
leu isso, renunciou também
ao mundo e se tornou um
*sannyasin*.
Abandonem
tudo, renunciem ao mundo.
Somos agora, como cães
soltos na cozinha,
comendo um pedaço
de carne e olhando
em volta, receosos de que,
em algum momento
alguém entre e nos
ponha para fora.
Em vez disso, sejam reis
e saibam que o mundo lhes
pertence.
Isso não poderá
acontecer até que renunciem
e deixem de estar ligados.
Renunciem mentalmente,
se não podem fazê-lo
fisicamente.
Renunciem desde o fundo
e do mais íntimo
de seus corações.
Tenham *vairagyan* (renúncia).
Este é o sacrifício
real, e sem ele
torna-se impossível
obter espiritualidade.
Não desejem nada,
porque aquilo que se deseja
se obtém, e trás
consigo a horrível escravidão.
Nada mais é do que
trocarmos de narizes,
como no caso do homem que
devia pedir três graças*.
Não obteremos a liberdade
enquanto não tivermos domínio
sobre nós mesmos.
É o EU quem salva o eu, ninguém mais.
Aprendam a sentir em outros
corpos,
a reconhecer que todos somos
um.
Joguem todas as outras idéias
ao vento.
Realizem suas ações;
boas ou más
e não voltem a pensar
nelas.
O que está
feito, feito está.
Livremo-nos das superstições.
Não mostrem fraqueza
nem mesmo diante da morte.
Não se arrependam,
não ruminem coisas passadas,
nem se lembrem das boas
obras; sejam *azad* (livres).
O fraco, o covarde e o ignorante
nunca alcançarão o Atman.
Não podem desfazer
o que está feito; o efeito deve acontecer.
Aceite-o, mas cuidem de
não repetirem a mesma coisa.
Entreguem a carga de todos
os seus atos ao Senhor;
deem-Lhe tudo, tanto o bom
como o mau.
Não guardem o bem
e entreguem apenas o mal.
Deus ajuda, aqueles que
*não se ajudam a si mesmos*.
"Bebendo
da taça do desejo, o mundo se torna louco".
O dia e a noite jamais se
juntam, do mesmo modo,
o desejo e o Senhor nunca
podem andar juntos.
Abandonem o desejo.
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*Certa vez, um homem pobre
encontrou um deus
que lhe ofereceu três
dons; ele podia fazer três pedidos
que eles seriam atendidos
.
O homem, feliz, voltou para
casa e comunicou a notícia
de tão boa
sorte, à sua mulher que, alegremente,
sugeriu que pedissem primeiro
riquezas.
A isto o homem respondeu:
"Nós dois temos narizes
pequenos e feios e,
por causa disso, os outros
se riem de nós;
peçamos primeiro
um bonito nariz aquilino,
pois a riqueza não
pode nos livrar dessa deformidade".
A mulher preferia obter
primeiro a riqueza e,
tomando-lhe as mãos,
lhe disse isso.
O homem retirou suas mãos
imediatamente e decidiu:
"que tenhamos belos
narizes e nada mais que narizes".
Imediatamente o corpo todo
se cobriu de lindos narizes,
mas isso causava um incômodo
tão grande que resolveram
gastar o segundo desejo
pedindo a eliminação deles.
Mas com isso perderam seus
narizes e ficaram desnarigados.
Dessa maneira desperdiçaram
dois dons
e completamente confusos,
não sabiam o que fazer.
Só lhes restava um
único pedido.
Havendo perdido seus próprios
narizes,
estavam numa situação
pior do que antes.
Nem em sonhos podiam imaginar
que se veriam em tal situação.
Queriam ter belos narizes,
mas temiam que lhes perguntassem
a causa de tal transformação
e que os tomassem
por dois grandes tontos,
incapazes de remediar esse mal,
nem mesmo com a ajuda dos
três dons.
Desta forma, chegaram a
um acordo e pediram de novo
o mesmo nariz feio e pequeno
de antes.
Não desejem nada,
porque o que se deseja se obtém
e trás consigo a
marca da escravidão.
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Há
uma grande diferença entre dizer *alimento*, *alimento*,
e comê-lo, entre dizer
*água*, *água* e bebê-la.
Do mesmo modo, só
repetindo a palavra *Deus*,*Deus*,
não podemos esperar
alcançar a realização.
Devemos esforçar-nos
e praticar.
Só quando a onda
volta ao mar, pode se tornar ilimitada;
nunca como uma onda, pode
chegar a sê-lo.
Logo, depois de ser o mar,
pode voltar a ser onda outra vez,
e uma onda tão grande
quanto queira ser.
Rompam a identificação
com a corrente e saibam que são livres.
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A progressão,
em Maya, é um círculo que nos leva,
de novo, ao ponto de partida;
mas saímos ignorantes
e chegamos ao fim com todo
o conhecimento.
A devoção
a Deus, a devoção aos santos, a concentração,
meditação
e a obra altruísta, são os caminhos
para nos livrarmos das redes
de Maya;
mas antes, temos que ter
um veemente desejo de nos
libertarmos.
O relâmpago de luz
que iluminará nossas trevas está em nós;
esse é o conhecimento
e esta é a nossa natureza
(não existem direitos
de nascimento, porque nunca nascemos).
A única coisa que
devemos fazer,
é afastar as nuvens
que o encobrem.
Abandonem todo desejo de
prazeres terrenos ou celestiais.
Governem os órgãos
dos sentidos e controlem a mente.
Suportem todos os sofrimentos,
sem sequer saber que estão
sofrendo.
Não pensem em outra
coisa, senão na liberdade.
Tenham fé no Guru,
nos seus ensinamentos e na certeza
de que poderão ser
livres.
Digam *soham*, *soham*,
aconteça o que acontecer.
Repitam isto enquanto comem,
andam ou sofrem;
repitam mentalmente, sem
cessar: que tudo o quanto
vemos jamais existiu, que
só existe o EU.
Um relâmpago ! E o
sonho se desvanece !
Pensem noite e dia: esse
universo é zero, só Deus existe.
Mantenham, latente, um desejo
intenso de serem livres.
Todos
os nossos parentes e amigos são apenas
*velhos poços secos*;
caímos neles e sonhamos
com deveres e elos, sem
que esses sonhos tenham fim.
Não criem ilusões
de estar ajudando a alguém.
Se somos dualistas, é
loucura tentar ajudara Deus;
se somos monistas, sabemos
que somos Deus,
logo, onde está o
dever ?
Ninguém tem deveres
com esposos ou com
filhos e amigos. Aceitem
as coisas como vem e permaneçam
tranqüilos, e quando
seu corpo flutuar, deixe-o ir;
eleve-o com a crescente
das marés e baixe-os com a vazante.
Deixem que morra o corpo;
essa idéia de corpo
é apenas uma fábula
desgastada.
"Permaneçam
tranqüilos, sabendo que são Deus".
O
presente é a única coisa que existe;
nem mesmo em pensamento
há passado ou futuro,
porque para pensar
neles,
temos que convertê-los
em presente.
Este mundo é todo
uma ilusão,
não permitam que
ele os engane de novo.
Vocês o tomaram por
algo que ele não é;
conheçam-no, agora,
tal qual é.
Se o corpo é arrastado
para alguma parte, deixem-no ir;
não nos preocupemos
com o lugar onde o corpo está.
Tal idéia tirânica
de dever, se constitui num veneno terrível
que está destruindo
o mundo.
Não
esperem ter uma harpa e ir pelo caminho,
descansando a cada etapa.
Por que não pegar
a harpa e começar agora ?
Por que esperar o céu
? Façam isso aqui.
No céu não
há casamentos;
por que não começar
e terminar aqui ?
O hábito amarelo
do *sannyasin*, é o sinal do homem livre.
Abandonem as vestimentas
de mendigo, do mundo,
usem o símbolo da
liberdade: o hábito ocre.
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