Uma Aventura Espiritual



 

No verão de 1893, desembarcava em Vancouvert, 
um jovem sannyasin hindu. 
O propósito da sua viagem era assistir 
ao Parlamento das Religiões, em Chicago, 
embora não fosse delegado oficial 
de nenhuma organização religiosa reconhecida. 
Desconhecido e inexperiente, havia sido eleito 
para esta missão por alguns jovens adeptos, de Madras. 
Estes, firmes na sua crença de que ele,
melhor do que qualquer outro poderia representar 
dignamente a antiga religião da Índia, foram de porta 
em porta, arrecadando dinheiro para sua viagem. 
A soma assim coletada, mais a contribuição 
de um ou dois príncipes, permitiram, ao jovem monge, 
o então obscuro Swami Vivekananda, 
pôr-se a caminho para sua longa travessia.
Era preciso uma tremenda coragem 
para se aventurar numa missão de tal natureza. 
Deixar o solo sagrado da Índia para ir para um país 
estrangeiro, significa, para um hindu, 
muito mais do que os ocidentais podem imaginar. 
Ainda mais no caso de um sannyasin, 
já que sua educação está completamente afastada
do lado prático e material da vida. 
Não estava habituado a manejar com dinheiro, 
nem a viajar de outro modo 
que não fosse pôr seus próprios pés. 
Assim, o Swami foi saqueado e enganado 
a cada etapa do caminho, até achar-se pôr fim, 
quando chegou a Chicago,
quase desprovido de tudo quanto levava.
Não levava consigo carta de apresentação, 
nem conhecia ninguém na grande cidade. 
Desta maneira, só, entre estranhos, 
a milhas e milhas do seu país natal, viu-se numa
situação que teria acovardado ao homem mais forte. 
O Swami deixou o assunto nas mãos do Senhor, firme 
em sua fé, de que a proteção divina jamais lhe faltaria.
Durante uns quinze dias, pode enfrentar 
as exorbitantes exigências de seu hoteleiro e de outros. 
Logo, a pequena soma que possuía ficou reduzida 
a tão magras proporções, que chegou a dar-se conta
de que, se não queria morrer de inanição em praça pública, 
devia procurar, imediatamente, um lugar
onde o custo de vida fosse menor. 
Era muito penoso para ele, abandonar a tarefa,
que tão valentemente, havia começado.
Pôr um instante, uma onda de desânimo e de dúvida
o invadiu e começou a se perguntar pôr que havia cometido
a insensatez de dar ouvidos àqueles 
exaltados escolares de Madras. 
Não lhe restando outra coisa a fazer, com o coração
entristecido, partiu para Boston, determinado a telegrafar 
pedindo dinheiro e, se preciso fosse, regressar a Índia.
Porém o Senhor, em quem confiava 
tão firmemente, dispôs as coisas de outro modo. 
No trem, travou relações com uma velha senhora, 
em quem despertou tão amigável interesse, 
que o convidou para se hospedar em sua casa
Ali conheceu um professor da Universidade de Harvard
que, depois de ter conversado quatro horas, 
certo dia, com o Swami, ficou tão profundamente 
impressionado com seu extraordinário talento, 
que lhe perguntou pôr que não assumia a representação
do hinduismo, no Parlamento das Religiões, em Chicago. 
O Swami explicou sua dificuldade: não possuía dinheiro 
nem carta de apresentação para ninguém 
que estivesse relacionado com o Parlamento. 
- O Senhor Bonney é meu amigo; darei a você uma carta
para entregar a ele - replicou prontamente o professor. 
Em seguida, se pos a escrevê-la, expressando, no curso
da mesma, que considerava a este desconhecido 
monge hindu “mais sábio que todos os nossos sábios juntos.” 
Com esta carta e uma passagem que lhe foi entregue
pelo professor, o Swami voltou a Chicago e, 
imediatamente foi aceito como delegado.
Pôr fim, chegou o dia da abertura do Parlamento 
e o Swami Vivekananda ocupou seu lugar entre os delegados
orientais, alinhados sobre o estrado, na seção inaugural. 
Seu propósito estava cumprido; porém, 
quando estendeu sua vista sobre a vasta audiência,
se sentiu tomado pôr um repentino nervosismo. 
Todos os outros haviam preparados seus discursos.
Ele nada tinha. Que podia dizer a esta grande 
assembléia de seis ou sete mil pessoas ? 
Durante toda a manhã esteve adiando o momento
de fazer sua apresentação, sussurrando ao presidente:
- Deixe que algum outro fala primeiro.
- Assim continuou até que, pôr volta das cinco, 
o Dr. Barrows (presidente) levantando-se, 
o designou como o próximo orador.
A pressão do momento firmou os nervos, estimulou 
o valor de Vivekananda, e em seguida, 
se sobrepôs às circunstâncias. 
Era a primeira vez em sua vida que se punha 
de pé para falar ou que se dirigia a um grande auditório. 
Quando olhou para aquele mar de rostos expectantes, 
estava cheio de força e eloquência; 
e começando com sua voz musical, se dirigiu 
a seus ouvintes assim:- “Irmãos e irmãs da América”. 
Seu triunfo foi imediato e durante todo o resto 
do Congresso, sua popularidade nunca diminuiu. 
Era escutado sempre ansiosamente 
e as pessoas permaneciam para ouvi-lo 
até o final de longas seções, em dias de forte calor.
Este foi o começo de sua obra 
nos Estados Unidos da América do Norte. 
Depois da clausura do Parlamento, e para prover 
as suas necessidades, o Swami aceitou a oferta 
de uma agência para fazer uma viagem pelo oeste. 
Embora continuasse a reunir grandes auditórios, 
renunciou a esta ocupação com a qual não tinha afinidade. 
Ele era um Mestre religioso, não um conferencista 
popular de temas seculares.
Pôr isso, abandonou muito rápido esta nova e proveitosa
profissão e no início de 1894 voltou a Nova Yorque 
para iniciar sua verdadeira missão.
Primeiramente visitou os amigos que havia feito, em Chicago.
Estes pertenciam às classes mais abastadas 
e de vez em quando, falava em seus salões, 
mas isto também não o satisfazia. 
Sentia, que o interesse que despertava 
não era o que desejava; achava-o muito superficial, 
uma simples busca para passar o tempo. 
Portanto, resolveu procurar um lugar adequado para si,
onde todos os que buscassem, fervorosamente, a verdade, 
fossem ricos ou pobres, pudessem chegar livremente.
Uma conferência dada na Brooklyn Ethical Association, 
o conduziu, rapidamente, a este independente magistério. 
O Dr. Lewis G. Janes, presidente da Association
havia escutado o jovem monge hindu e, singularmente
atraído pôr seu talento e pôr sua mensagem
aos homens do hemisfério ocidental, 
o convidou para falar naquela instituição. 
Assim foi feito, no último dia do ano de 1894.
Um auditório enorme chegava a Pouch Mansion, 
onde a Ethical Association realizava suas reuniões
A conferência tratava do Hinduismo e, 
a medida que o Swami, vestindo sua larga túnica 
e turbante, explicava a antiga religião de sua terra natal, 
despertava tão profundo interesse que, ao final da tarde 
haviam pedidos insistentes para que  se organizasse 
um curso regular, no Brooklyn. 
O Swami aceitou de boa vontade e realizou uma série 
de reuniões, assim como várias conferências públicas, 
na Pouch Mansion e em outros lugares.
Alguns dos que o tinham escutado, no Brooklyn, 
começaram a acorrer para o lugar 
onde ele vivia, em Nova Yorque. 
Era uma habitação comum, no segundo piso 
de uma casa de hóspedes, e como a assistência 
aumentava rapidamente, excedendo a capacidade 
das cadeiras e de um canapé; os discípulos
se sentavam sobre o aparador, sobre as quinas do lavatório
de mármore, e outros até no chão, do mesmo modo 
que, fazia o próprio Swami, que sentado com as pernas 
cruzadas, como é hábito em seu país, ensinava 
a seus ávidos ouvintes, as grandes verdades da Vedanta.
 Pôr fim, se sentiu totalmente iniciado em sua missão 
de entregar ao mundo ocidental a mensagem 
de seu Mestre, Sri Ramakrishna, que proclamava 
a unidade fundamental de todas as religiões. 
As turmas cresciam tão rapidamente que logo
os estudantes transbordaram da pequena casa 
do segundo andar e foi necessário, então, ocupar
os dois grandes salões do andar de baixo. 
Neles, o Swami ensinou suas turmas até o fim da temporada.
O ensinamento era inteiramente gratuito, enfrentando-se, 
os gastos essenciais, com as contribuições voluntárias. 
Sendo estas insuficientes para pagar o aluguel 
e atender às necessidades elementares do Swami, 
as classes estavam fadadas a terminar
pôr falta de apoio financeiro. 
Então, o Swami anunciou um ciclo de conferências públicas 
sobre temas seculares, pelas quais receberia remuneração. 
Desta maneira obteve dinheiro para sustentar 
o ensinamento religioso. 
Ele esclarecia que os hindus consideravam 
como dever de um Mestre Religioso, não só dar
gratuitamente seus ensinamentos, mas também, 
se podia fazê-lo, arcar com os gastos do seu trabalho. 
Em tempos passados, na India, era também comum 
que o mestre proporcionasse casa e alimento
para os seus discípulos.
 Naquela época, alguns dos estudantes haviam chegado
a se interessar tão profundamente pelos ensinamentos 
do Swami, que manifestaram seu desejo 
de continuarem durante o verão. 
No entanto, como se sentisse cansado 
depois da rigorosa temporada de trabalho, 
a princípio fez objeções ao prolongamento deste, 
durante aestação quente. 
Pôr outro lado, muitos dos estudantes 
saiam da cidade nesta época do ano . 
O problema se resolveu pôr si mesmo: 
uma discípula do nosso grupo, possuía um pequeno
chalé em Thousand Island Park, a maior ilha 
do rio Saint Lawrence, e o ofereceu ao Swami 
e àqueles entre nós que pudéssemos ir para lá. 
O plano agradou ao Swami que concordou em reunir-se 
a nós, ali, depois de uma breve visita ao Maine Camp, 
propriedade de um de seus amigos.
 A senhorita D, a estudante a quem pertencia a casa, 
considerando necessário preparar um santuário
especial para o acontecimento, mandou construir, 
como carinhosa oferenda  para seu Mestre, 
uma nova ala no edifício, 
quase tão grande quanto o chalé já existente. 
A casa estava idealmente situada sobre um terreno alto, 
de onde se dominava uma ampla extensão do lindo rio, 
com muitas de suas famosas Thousand Island (mil ilhas) . 
Ao longe, se percebia vagamente Cayton,
enquanto as próximas e agrestes costas 
canadenses limitavam a paisagem, ao norte. 
A casa se levantava sobre a falda de uma colina, 
que ao norte e a oeste, descia de forma abrupta
 até as margens do rio para uma enseadazinha semelhante 
a um pequeno lago estendido atrás da casa. 
A casa mesmo, estava literalmente construída 
sobre uma rocha e grandes penhascos apareciam 
estendidos ao seu redor. 
A nova ala do edifício, se erguia sobre o lado rochoso,
como um grande farol, com janelas para os três lados. 
Tinha três pisos atrás e só dois na frente. 
A sala inferior estava ocupada pôr um dos discípulos. 
A de cima, acessível pelas principais partes da casa, 
pôr várias portas, como era grande e cômoda, 
foi convertida em nossa sala de aula, 
onde todos os dias, durante horas, o Swami 
nos dava, familiarmente, seus ensinamentos. 
Em cima desta sala, estava outra, 
dedicada exclusivamente ao Swami. 
A fim de que pudesse estar inteiramente isolado, 
a senhorita D. providenciou para este lugar, 
uma escada especial, externa, embora houvesse ali, também, 
uma porta que dava para o segundo piso da galeria.
 Esta galeria superior, desempenhou um papel importante 
em nossas vidas, já que ali, foi onde o Swami 
nos deu todos as palestras da noite. 
Era ampla e coberta e se estendia ao largo 
das costas sul e oeste do chalé. 
A senhorita D. tinha o lado oeste da mesma, 
cuidadosamente separada pôr uma divisão, 
de modo que nunca, nenhum estranho 
dos que freqüentemente visitavam a galeria 
para contemplar a magnífica paisagem 
que se dominava dali, 
pudesse introduzir-se em nosso recinto reservado. 
Ali, perto da porta da sua casa, nosso amado Mestre 
sentava-se todas as noites, durante nossa permanência 
e falava para nós que, sentados silenciosamente
na obscuridade, bebíamos avidamente 
suas inspiradas palavras. 
O lugar era um verdadeiro santuário. 
A nossos pés, como um mar de verdor, 
ondulavam as copas das árvores, pois todo 
o lugar era rodeado pôr espessos bosques. 
Não se divisava uma única casa da grande aldeia.
Era como se estivéssemos no coração de uma densa floresta, 
afastados pôr milhas e milhas, do contacto com os homens. 
Além das árvores, se estendia a vasta amplidão 
do St. Lawrence, aqui e ali salpicado de ilhas, em algumas 
das quais brilhavam as luzes dos hotéis e das casas.
Todas elas estavam tão distantes que mais pareciam 
um quadro do que uma realidade. 
Nem um som humano penetrava em nosso retiro; 
não ouvíamos mais do que o zumbido dos insetos, 
o doce canto dos pássaros ou o suave suspiro
do vento através das folhas. 
Parte do tempo, a cena estava iluminada 
pelos tênues raios de luar, cuja face se refletia
ali embaixo, nas águas brilhantes. 
Neste cenário de encantamento,
“esquecendo o mundo e pôr ele sendo esquecido”, 
permanecemos sete venturosas semanas com 
nosso amado Mestre, escutando suas palavras inspiradas. 
Imediatamente após o jantar, todos os dias
de nossa permanência ali, íamos para a galeria 
superior, e esperávamos sua chegada. 
Não tínhamos muito que esperar, pois logo que estávamos
reunidos, abria-se a porta de sua casa e saia ele, 
com seu passo cadenciado, para ocupar seu acento habitual. 
Permanecia sempre duas horas conosco 
e freqüentemente muito mais. 
Uma gloriosa noite, em que a lua chegava a sua plenitude, 
esteve nos falando, até que ela desapareceu no horizonte.
Parecia estar tão inconsciente 
do passar do tempo, quanto nós.
 Dessas conversas, não foi possível tomar notas,
só ficaram gravadas nos corações de seus ouvintes.
Nenhum de nós poderá jamais esquecer a elevação, 
a intensa vida espiritual daquelas santificadas horas. 
Nestes momentos o Swami nos mostrava todo 
o seu coração, expondo também, para nós, suas próprias lutas. 
O verdadeiro espírito de seu Mestre parecia falar pôr seus lábios,
para esclarecer todas as dúvidas, para responder 
a todas as perguntas, para dissipar todos os temores. 
Muitas vezes o Swami parecia não estar de todo consciente
de nossa presença e então, quase contínhamos
a respiração pôr temor de perturbá-lo 
e interromper o fluir dos seus pensamentos. 
Levantava-se de seu assento e percorria pausadamente 
de um a outro extremo, os estreitos limites da galeria,
jorrando uma perfeita torrente de eloquência. 
Nunca foi mais suave, mais amável 
do que durante estas horas. 
Muito semelhante devia ser a maneira 
como seu próprio Grande Mestre, 
ensinava a seus discípulos, deixando-os, 
simplesmente escutar as efusões
de seu próprio espírito em comunhão consigo mesmo.
 Era uma perpétua inspiração viver
com um homem como Swami Vivekananda. 
Desde a manhã até a noite, sempre vivíamos numa mesma
e constante atmosfera de intensa espiritualidade. 
Em geral brincalhão e espirituoso, cheio de tiradas joviais 
e réplicas prontas, nunca esteve, nem pôr um momento, 
afastado da nota dominante da sua vida. 
Todas as coisas lhe proporcionavam um tema 
ou uma ilustração e, num instante nos encontrávamos
passando das divertidas fábulas da mitologia hindu,
para a mais profunda filosofia. 
O Swami tinha um estoque inesgotável de erudição
mitológica e, seguramente, nenhuma raça é mais dotada 
de mitos do que a dos antigos ários. 
Gostava de falar disso e o escutávamos com deleite,
pois nunca deixava de focalizar a realidade oculta 
atrás de cada mito ou narração 
e extraia delas valiosas lições espirituais. 
Nunca existirão estudantes tão afortunados e com maiores 
motivos para se felicitar, pôr ter um Mestre tão talentoso !
 Pôr uma singular coincidência, exatamente doze estudantes
seguiram o Swami a Thousand Island Park; 
nos disse que nos aceitava como verdadeiros discípulos
e que esta era a razão de nos ter ensinado com tanta 
constância e sem restrições, dando-nos o melhor de si.
Não podíamos reunirmos os doze ao mesmo tempo; 
o maior número dos presentes era dez, de cada vez. 
Posteriormente dois do nosso grupo se converteram 
em sannyasins, sendo ambos iniciados
em Thousand Island Park. 
Na oportunidade da consagração do segundo sannyasin,
o Swami iniciou cinco de nós como brahmacharias 
e mais tarde, na cidade de Nova Yorque, 
o resto do nosso grupo recebeu iniciação, 
junto com outros discípulos que o Swami tinha, ali.
 Foi decidido, quando fomos para Thousand Island Park, 
que viveríamos como em uma comunidade, 
fazendo cada um sua parte nos trabalhos 
casa, para que nenhuma presença estranha 
perturbasse a serenidade do nosso retiro. 
O Swami mesmo, era um grande cozinheiro 
e muitas vezes preparava para nós deliciosos pratos.
Havia aprendido a cozinhar quando, depois da morte
de seu Mestre, teve que servir a seus irmãos,
um grupo de jovens, seus amigos discípulos, 
a quem ensinou e manteve unidos continuando 
a instrução começada pôr seu Mestre, 
para que eles fosses capazes de divulgar para o mundo, 
as verdades ensinadas pôr Sri Ramakrishna.
 Todas as manhãs, apenas terminadas nossas diversas 
tarefas, e muitas vezes antes, o Swami nos chamava , 
reunindo-nos no grande salão que nos servia 
de sala de aula e começava a dar-nos suas lições. 
Cada dia tomava um tema especial ou comentava 
algum livro sagrado, tal como o Bhagavad Gita,
os Upanishads ou os Vedanta Sutras, de Vyasa. 
Os Sutras, estão em forma de aforismos, 
sendo os relatos, os mais breves possíveis, 
das grandes verdades contidas nos Vedas. 
Não tem nominativo nem verbos, e, com tanta resolução
eliminavam seus autores qualquer palavra desnecessária, 
que diz um provérbio hindu : “um escritor de Sutras, 
preferirá entregar um de seus filhos, 
antes de agregar uma sílaba a um Sutra.”
 Em razão de sua quase enigmática  brevidade, 
os Vedanta Sutras oferecem  um vasto campo
para o comentarista e três grandes filósofos hindus, 
Sankara, Ramanuja e Madhva escreveram 
primorosos comentários sobre eles. 
Em suas palestras matinais, o Swami tomava primeiro 
um desses comentários, depois outro, para demonstrar
como cada intérprete era culpado de torcer o significado 
do Sutra, para fazê-lo coincidir com seu ponto
de vista pessoal e só lia no aforismo, 
o que mais substanciasse sua visão. 
O Swami fazia-nos notar, muitas vezes, quão velho
é o mau hábito de  “torturar os textos”.
 Assim acontecia que nestas lições, o ponto de vista 
apresentado era  algumas vezes o do dualismo puro,
representado pôr Madhva, no outro dia  escolhia 
o Não dualismo ensinado pôr Ramanuja, conhecido 
como  *visishthad-vaita* . 
Mais freqüentemente, contudo, tomava o comentário 
monista de Sankara, porém, em razão de sua sutileza 
era o mais difícil para entender, pôr isso, no final, Ramanuja
continuava sendo o favorito entre os estudantes.
 Algumas vezes, o Swami falava nos Bhakti Sutras de Nárada.
Eles são uma breve expressão de devoção a Deus, 
que nos dá o conceito do sublime ideal hindu: 
o verdadeiro, omniabsorvente amor pelo Senhor, 
amor que, literalmente, domina o devoto, excluindo 
qualquer outro pensamento. 
Bhakti é o método hindu  para realizar a união 
com o divino, método que atrai naturalmente o devoto. 
Consiste em amar a Deus e só a Ele.
 Numa destas palestras, o Swami nos falou,
pela primeira vez , longamente, sobre seu Grande Mestre, 
Sri Ramakrishna, de sua vida diária com ele e de suas lutas 
com a sua própria tendência à incredulidade, 
o que às vezes, arrancava lágrimas de seu Mestre. 
Os outros discípulos contavam sempre, que Sri Ramakrishana
lhes dizia  que  Swami Vivekananda  era uma Grande Alma, 
vinda, especialmente para ajudá-lo em sua obra
e que tão logo o Swami compreendesse 
quem realmente era, abandonaria o corpo. 
Porém, acrescentava que antes de chegar esta hora,
havia uma certa missão que o Swami devia realizar, 
para ajudar, não somente a Índia, 
mas também aos outros países. 
Com freqüência Sri Ramakrishna dizia: - 
”Tenho outros discípulos que estão muito longe 
e que falam uma língua que eu não entendo.”
 Depois de haver permanecido sete semanas 
em Thousand Island Park, o Swami voltou a Nova Yorque 
e logo embarcou para o estrangeiro. 
Fez conferências e instruiu discípulos, na Inglaterra, 
até fins de novembro, quando regressou a Nova Yorque 
e reiniciou suas aulas ali. 
Nesta oportunidade, seus discípulos contrataram 
um competente taquígrafo e desta maneira, 
foram conservadas as palavras do Swami. 
O conjunto de suas conferências logo foram publicadas 
em forma de livros, e estes livros, junto com os folhetos
 de suas palestras públicas, perduram até hoje, 
como um monumento indestrutível 
da obra de Swami Vivekananda na América. 
Para nós e para todos os que tiveram o privilégio 
de ouvir sua palavra, a figura real do Swami 
parece viver novamente e falar-
através das páginas impressas; 
tão exata e cuidadosamente foram transcritas 
suas impressões, pôr aquele que chegou 
a ser um dos mais devotos discípulos do Swami. 
Tanto o trabalho do mestre, como os seus ensinamentos, 
constituíram puramente uma tarefa de amor, 
pôr isso, as bendições do Senhor se derramam sobre ele.
 

                                                                     S.E.W.
Nona Yorque, 1908