ARTIGOS DE REVISÃO

 O GRANDE DESAFIO!

 A Organização Mundial de Saúde limita a adolescência ao período de vida dos 10 aos 19 anos de idade, sendo que a juventude teria seu início aos 15 anos e terminaria aos 25 anos. O problema da juventude e do adolescente passou a ser uma questão demográfica, social, fugindo muito à esfera familiar. No ano 2000 a população de jovens no Mundo atingiu a cifra de 1 bilhão e 128 milhões. O planeta no futuro próximo terá que oferecer ao jovem, pela sua força numérica, lugar privilegiado no desenvolvimento econômico, político e social.

 O  que poderá um  médico de jovens ajudar aos pais e jovens nessa época globalizada?

A adolescência ou a juventude é, como uma explosão no meio da família! Repentinamente aquela criança começa a ter atitudes e comportamentos diferentes do habitual e levam-na ao médico.

— Doutor "esta moça ou este rapaz"  está pálido, está meio retraído, não dá satisfação a ninguém, recusa-se a fazer tarefas que antes fazia alegremente — queixam-se os pais.

E vem a pergunta:

— Qual a conduta? O que fazer? Eu já não sei mais o que há com ele(a)?

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A realidade é desesperadora (aos pais), pois aquilo que imaginavam para a adolescência dos filhos, é completamente diferente na prática. Na verdade é apenas fruto de fantasias, desejar comparar a sua adolescência com a de seus filhos. É inútil, ela já vai muito longe. Gritar, enfurecer-se ou posicionamentos similares, de nada adiantarão. Muito, pelo contrário, afastarão o jovem. A introspecção no jovem deve ser respeitada. A única atitude amadurecida nesta circunstância é procurar aceitar esta nova forma de relacionamento. Não sei, e até hoje ninguém sabe, como se aproximar do adolescente neste "mutismo". Chegar junto e fazer perguntas: O que há? O que está sentindo? Poderá ter como resposta não sei, me deixa em paz. Quando muito um simples movimento brusco, ou uma resposta desaforada.

O tipo do pai ou mãe:

Não será sensato ser um pai do tipo papai sabe tudo, ou a mamãe conhece a vida. Eles não precisam e nem querem ser entendidos. O desejo do jovem é ser diferente, no mínimo original. Nesse desejo procuram fazer o contrário daquilo que lhes foi ensinado quando criança. Se a casa é um lar arrumado com coisas no lugar, procuram desorganizar, pelo menos o seu quarto.Podem tomar banho a todo instante, ou passar dias sem se banhar. Muitas vezes fazem questão de se apresentar sujos, sem mesmo sê-lo. Fique junto, não censure, pois a originalidade resume-se em ser o contrário do que até este momento lhe foi proporcionado e ensinado.

Paciência e compreensão. 

Quando seu filho(a) vier mostrar-lhe algo diferente, procure parecer que nunca viu coisa tão original e de tanta novidade. Deixe que ele ou sua filhinha lhe ensine coisas que você não sabe, agüente firme. Vocês esperavam que a adolescência de seus filhos fosse algo tranqüilo, você seria um pai ou uma mãe moderna dialogando com o seu rapaz ou a sua moça, mais o que encontrou foi "rebeldia" diária e até o que você chama de diálogo com os seus filhos talvez somente venha concretizar-se quando decorridos muitos anos. Mamãe esmera-se criando pratos suculentos, diferentes e saudáveis, deliciosas sobremesas etc., o adolescente passa dias comendo hamburgers, maionese com arroz e "ketchup". Outras vezes passa semanas comendo exclusivamente frutas ou batatas fritas. Não caia no sermão nutricional sobre uma dieta equilibrada. A resposta às "aulas" de nutrição poderá trazer resultados contrários aos seus desejos...

Ameaças são inúteis e até contraproducentes. A vontade do adolescente é ser independente e a liberdade é sonhada a todo o momento. As normas de vida têm que ser apalpadas, estudadas, sentidas e vividas pêlos jovens. Os pais devem entender esta atitude dos filhos, pois tal "rebeldia" faz parte dos movimentos de maturação do jovem. Lembro aos pais que não é fácil aceitar que teimosia e revolta sejam o estado normal do adolescente.

Existem várias explicações para justificar esta maneira de ser do jovem, porém nenhuma delas poderá esquecer transformações que sempre existiram e existirão de uma geração para outra. Ajunte-se a isto, em cidades como as nossas, onde a violência urbana, o desemprego, o êxodo rural, mocambos, favelas, salários escassos, convivência de submundos ilegais com o oficial, monstruosa desproporção de distribuição de rendas etc. etc., e passaremos a entender o porquê da rebeldia dos nossos jovens.

A revolta do adolescente destina-se de alguma forma a nos chamar a atenção para todos estes contrastes sociais. O adolescente cobra de nós uma participação que desejamos evitar!A violência do jovem é um reflexo pálido da violência de nós adultos. Na verdade qual o pai que vai dormir descansado enquanto seus filhos não chegam em casa? A solidão, as noites insones, são um dos tormentos dos pais. Assaltos, roubos, estupros - que pesadelo! Aceitar, já que nós mesmos somos responsáveis, não é empreitada fácil desde que a nossa geração foi coletivamente criadora e responsável por esse clima de insegurança.

Os protestos dos adolescentes e jovens são, de certa maneira, acusadores de nossa covardia. Pais que não se irritam com os seus filhos, não são pais de adolescentes. Quando o rapaz ou a moça alcança alguns dos seus princípios éticos e educacionais, em resumo, aprendem a viver no mundo atual, não é mais um(a) adolescente e sim adulto.  O papai e a mamãe aprendem por fim com seus filhos, a ser jovens. Enfatizamos que os jovens toleram diversos comportamentos dos pais, porém não aceitam hipocrisia. Não tente imitar seu filho, seja você mesmo, não use a sua gíria, pois ao jovem cabe viver a sua própria época. Sejam vocês mesmos, pois o fingimento do que não se é, levará o jovem a sentir-se gozado e como resposta maior, retraimento, isolamento dentro de casa ou sair e arranjar "famílias substitutas", que possuam atitudes mais benevolentes e amistosas com sua maneira de pensar - agir. A procura principal do indivíduo adolescente é ser independente, precisamente porque ele é dependente.

Disputas entre pais e filhos são  praticamente impossíveis de se evitar!

O que poderá ser tentado é diminuir a sua intensidade. Devemos como pais saber que, as atitudes rebeldes dos filhos nunca deverão ser respondidas com autoritarismo. A infância, aquele período de dependência não mais voltará, acabou-se! Os pais não são donos nem patrões dos filhos, apesar do fato de que todos nós dependemos uns dos outros, independente de qualquer aspecto ou situação, mas, dependência não significa submissão, nunca será demais insistir junto aos pais que o autoritarismo excessivo nada construirá. Incentivar a dependência de maneira radical levará o jovem a ressentimentos, rancores, perda de afeto, revolta, violências, marginalidades e diferentes formas de delinqüência. Por mais liberal que sejam os pais (não confundir liberdade com permissividade), haverá lutas.  Objetivo é uma conduta que possa encetar o diálogo e esperar; e não discutir além que o senso comum indique.O importante é que os pais devem estar sempre abertos ao diálogo. 

 Não podemos menosprezar os sofrimentos dos pais quando a sua autoridade é contestada. Frases feitas e desgastadas, como por exemplo:

         Quando eu tinha a sua idade nunca me atreveria a contestar meu pai desta maneira.

         Você verá quando se casar!

         Tomara que seus filhos não lhe tratem como você faz comigo! – Isto chama-se projetar no filho aquilo que os pais sentem.

 

O jovem sabe apenas como é tratado como filho, e não como ser pai, se ele nunca teve filhos.  Interpreta que tudo não passa de sermões e ameaças.

 Ao dirigir-se ao adolescente seja breve e sintético, pois o jovem não tem muita paciência com o adulto. O importante é estar à disposição do jovem quando procurado.

É preciso que os jovens saibam que podem contar com os seus pais.  Dialogar com o adolescente significa muito mais escutar que falar.

 

Os monólogos contraditórios

 

Os pais dos adolescentes acham que foram usados, deram tudo, desde alimentação, cuidado, carinho, segurança e repentinamente tudo foi por água abaixo. Sentem-se roubados, injustiçados e compreensivamente revoltados(...) Daí vem o pior que são os monólogos contraditórios, tais como: eu não desejo que acabe como seu primo vagabundo. o seu namorado é ótimo rapaz, mas não é muito velho para você?, não venha queixar-se de algum acidente com esta motocicleta, casar cedo é bom, mais poderá não dar certo! O que não é dito francamente é tido como hipocrisia pelo jovem.  

Frases arrumadinhas ditas por psicólogos, psicanalistas, orientadores profissionais, livros e artigos de sucesso, inclusive que estão a ler agora, poderão ter efeito contraproducente na lida com o seu filho ou filha adolescente.

Não use o conhecimento adquirido em leituras ou de seus tratamentos psicanalíticos para lidar com eles. Os filhos desejam que vocês sejam apenas  pai e mãe deles e não psicólogos ou terapeutas.