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              A Grandeza das Boas Novas


 

Estou admirado de que estais sendo removidos tão depressa Daquele que vos chamou com a benignidade imerecida de Cristo, para outra sorte de boas novas.

¾ Gálatas 1:6.

 

 

N

AS boas novas apresentadas nas Escrituras está o fundamento da liberdade cristã. A própria proclamação dessas boas novas é um chamado à liberdade. Não seriam boas novas se levassem a outra coisa. Por causa daquilo a que nos levam é que são “gloriosas boas novas,” que desde seu início foram “boas novas de grande alegria,” e não há melhor meio de servir às pessoas do que partilhar com elas as boas novas.1

Elas podem trazer em proporção bem maior a liberdade do medo, culpa e ansiedade, substituindo-os por uma confiança crescente, espe-rança e paz mental e de coração. Para fazer isto, contudo, essas boas novas não podem ser apresentadas de forma adulterada, manipuladas por homens.

Não há dúvida de que as Testemunhas de Jeová crêem que fazem parte de um esforço urgente para divulgar as boas novas em todo o mundo. Crêem que as próprias vidas das pessoas dependem tanto de ouvirem como aceitarem a mensagem que trazem. Embora a profun-didade desta crença e a motivação que ela produz possam variar de Testemunha para Testemunha, ainta temos pelo menos de admitir que, mesmo como um todo, as Testemunhas são mais que meros freqüenta-dores de igreja ou ouvintes passivos.

Para muitas Testemunhas, uma das provas mais fortes de que a organização Torre de Vigia é mesmo a única entidade que Deus aprovou como seu instrumento, é a crença de que só esta organização na terra divulga as “boas novas do reino” e cumpre o predito “teste-munho a todas as nações” que deve anteceder o fim de tudo.2 O ensino da Torre de Vigia é que a parábola das “ovelhas e cabritos” e a divisão das pessoas de “todas as nações” em duas classes, com o destino eterno dos indivíduos sendo pesado na balança, estão agora se cum-prindo por meio do trabalho de porta em porta das Testemunhas de Jeová á medida que distribuem a literatura da Torre de Vigia e, em grau maior ou menor, fazem revisitas. Ao exortar as Testemunhas à atividade de porta em porta, a organização faz uso freqüente das ins-truções de Jeová ao visionário “homem com tinteiro de secretário,” no capítulo 9 da profecia de Ezequiel, argumentando que a única maneira em que esta pessoa simbólica podia ter cumprido sua missão de “marcar com um sinal a testa” dos que escapariam à vindoura destruição seria por contatar todos, principalmente por visitá-los em seus lares.3 

Também aqui, a alegação é que as Testemunhas de Jeová, e só as Testemunhas de Jeová, estão realizando esta obra mundial de ‘marcação’. Os cerca de 8.600 “ungidos” dentre elas são a moderna “classe do vigia,” e afirma-se taxativamente que: “Naturalmente, os que se recusam a escutar o ‘vigia’ de Jeová não têm esperança de sobrevivência.”4 Os que aceitam a mensagem dele recebem na testa (sede da inteligência) o “sinal” salvador. Diz-se às Testemunhas que deixar de participar nessa obra pode torná-las “culpadas de sangue” em relação aos que morrerem. Toda esta obra de testemunho, marcação e separação, com conseqüências de vida ou morte, tinha de ser plenamente realizada durante a existência da geração que já vivia em 1914 (ensinava-se isto até 1995). As Testemunhas recebem um fluxo constante de relatórios de aumento numérico em vários países como evidência de que tudo isto é verdade e que a organização delas está, sozinha, e à parte de todas as outras religiões, cumprindo esta crucial tarefa global.

Quão válidas são estas alegações e até que ponto está se cumprindo o objetivo anunciado? 

 

Quão global é o “testemunho mundial”?

 

De um pequeno início nos Estados Unidos em fins da década de 1870, as Testemunhas de Jeová estão hoje ativas em 212 países e ilhas. Os milhões de horas gastas anualmente no testemunho e as centenas de milhões de publicações distribuídas em dezenas de línguas são todos fatos concretos. Se a organização Torre de Vigia se contentasse em dizer que vem realizando uma notável proclamação internacional da sua própria mensagem, não haveria qualquer razão para discordar. Mas ela vai muito além, ao afirmar que ela, e só ela, é o instrumento através do qual Deus divulga as boas novas a toda a humanidade, cumprindo deste modo a visão do anjo que tem “boas novas eternas para declarar, como boas notícias aos que moram na terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo.”5

Um exemplo da imagem que a organização tem de si própria acha-se na Sentinela de 1o de março de 1985, num artigo intitulado “Lança-se Luz em Meio às Trevas da Terra,” que trata do capítulo 60 da profecia de Isaías. Considerando os versículos 8 a 11 desta profecia, ele afirma que o “lançamento” da luz se aplica especialmente de 1919 em diante, menciona o decrescente número das Testemunhas “ungidas,” e depois diz (página 16): 

 

Este grupo que já fica idoso diminui em número, ao passo que um após outro termina a sua carreira terrestre em integridade. Restam ainda uns 9.000 deles. Mas outros, que ascendem a milhões, afluem como pombas para “as aberturas de seu pombal”, encontrando refúgio na organização de Deus. ([Isaías 60:8] NM; The New English Bible) São como as revoadas de pombos vistos na Palestina em certas épocas do ano ¾ voando como nuvem, tão numerosos, que realmente obscurecem o céu.

. . . A seguir, Jeová dirige-se à sua organização, dizendo: “A nação e o reino que não te servirem perecerão; e as próprias nações, sem falta, sofrerão a devastação.” Todas as nações orgulhosas do mundo e outros opositores serão humilhados no Armagedom. Em contraste com isso, Jeová embeleza o seu próprio santuário de adoração. Ele ‘glorifica o próprio lugar dos seus pés’, os pátios terrestres de seu grande templo espiritual de adoração, ao passo que ajunta ali o sempre-crescente número da grande multidão. Por meio de outro profeta, Jeová declara: “Vou fazer tremer todas as nações, e terão de entrar as coisas desejáveis de todas as nações; e eu vou encher esta casa de glória.” (Ageu 2:7) Mas os perseguidores, os apóstatas e outros opositores desrespeitosos ver-se-ão compelidos a ‘encurvar-se’ ¾ reconhecendo, para o seu vexame, que as Testemunhas de Jeová realmente representam a organização de Deus ¾ a “cidade de Jeová, Sião do Santo de Israel”. ¾ Isaías 60:12-14.

 

O artigo seguinte intitulado “Jeová ‘Apressa Isso’” apresenta então exemplos de notável expansão numérica em vários países e na sua conclusão diz (página 22): 

 

Alegramo-nos de que, nos últimos anos, Jeová tem cuidado tão maravilhosamente da expansão das dependências das congêneres da Sociedade Torre de Vigia. Atualmente, essas congêneres estão equipadas para ajudar grandes bandos de “pombas”.

Portanto, participemos todos em deixar brilhar a luz das boas novas do Reino para outros milhões de pessoas! Indiquemos a todas as “pombas” regressantes o caminho para a “salvação” atrás das muralhas protetoras da organização de Jeová, e aumentemos o “louvor” de Jeová nos portões dela.

 

As Testemunhas de Jeová têm, sem dúvida, usufruído um notável aumento em muitos países do mundo, algumas áreas produzindo aumento maior e mais rápido que outras. Conforme vimos, dá-se muita ênfase a essa expansão como evidência convincente da bênção divina. Mas será que o aumento numérico de adeptos de uma religião é sempre um guia ou indicador seguro de que ela é especialmente escolhida por Deus? 

Nunca se diz que outras religiões, como os Adventistas do Sétimo Dia e os Mórmons, religiões que, como a organização Torre de Vigia, tiveram seu início nos Estados Unidos durante o século 19, regis-traram aproximadamente a mesma taxa de crescimento que as Teste-munhas de Jeová.6 Obviamente, se aumento numérico fosse  critério para determinar a aprovação e bênção de Deus, o enorme crescimento mundial da fé católica romana ao longo dos séculos, especialmente do quarto século em diante, devia ser então prova definitiva de ter usufruído a bênção divina. O padrão usado para validar suas próprias pretensões, todavia, não é aplicado pela organização Torre de Vigia a outras religiões.7

Se o alvo era conseguir renome e adeptos a nível internacional, esse alvo foi atingido. Mas se o alvo é alcançar toda a humanidade com a mensagem da Torre de Vigia antes que chegue a destruição, então os resultados alcançados, até agora, estão muito, muito aquém do alvo.

Basta considerar que a população da China, que ultrapassa agora um bilhão de pessoas, representa um quinto da população total do mundo e não existe senão um punhado de Testemunhas de Jeová entre essa enorme população.

            [Os 4 parágrafos abaixo têm de ser atualizados]

Há cerca de 22.917 Testemunhas na Índia, mas com sua população de 1,27 bilhão de pessoas isso representa apenas uma Testemunha para cerca de 44.815 pessoas. À medida que o número de Testemunhas na Índia cresce [SUBSTITUIR POR DADOS DE 2001]a uma taxa de 11 por cento em 1990), a população da Índia também está crescendo a uma taxa de cerca de 26 milhões de pessoas por ano. Atualmente o tempo médio gasto em “serviço de campo” por cada Testemunha na Índia é cerca de uma hora por dia.8 A essa taxa, mesmo que o julgamento divino pudesse se basear em apenas vinte minutos de “testemunho” a um indivíduo, ainda assim as Testemunhas apenas conseguiriam alcançar pouco mais de um por cento das pessoas num ano. Mas a taxa anual de aumento da população da Índia é de três por cento. E uma grande parte das horas gastas “testemu-nhando” envolvem falar com as mesmas pessoas em “revisitas” e “estudos bíblicos domiciliares” ou simplesmente voltar a “territórios” cobertos anteriormente. Se todos os fatores permanecessem como agora — a taxa anual de aumento da população da Índia, o aumento anual de 11 % das Testemunhas (é altamente improvável que se mantenha) — e se 80 % de todo o tempo gasto fosse estritamente usado em contatar pessoas às quais não tivesse sido dado “testemunho” antes, no ano 2014 as Testemunhas só teriam alcançado pouco mais de metade da população da Índia com esses vinte minutos de testemunho de julgamento de “vida ou morte.” Além disso, esse longo período de oportunidade de modo algum se encaixa no cenário criado pela organização, pois diz-se regularmente às Testemunhas que “estamos no limiar da ‘grande tribulação.’” 9

A proporção no Paquistão com os seus 141 milhões de habitantes é ainda mais desproporcional (232.727 pessoas para cada Testemunha).

As populações da China, Índia e Paquistão juntas representam dois quintos da população mundial, duas de cada cinco pessoas que vivem na terra. E só uma fração ínfima desta enorme população tem um conhecimento mínimo da mensagem da Torre de Vigia. Parece puro egoísmo que alguma organização creia que um Deus justo e amoroso fundamente seu julgamento de vida ou morte de toda a humanidade numa base tão terrivelmente desequilibrada e frágil.10

A tudo isto pode-se acrescentar cerca de outros 635 milhões de pessoas que se encontram nos países predominantemente muçulma-nos da Arábia, África do Norte e Ocidental, Indonésia, Bangladesh, Afeganistão e Turquia, onde também só uma fração diminuta da população foi contatada. Recordo que ao visitar o Marrocos numa viagem como “superintendente de zona” em 1978, os missionários da Torre de Vigia ali informaram-me que a sede em Brooklyn os tinha instruído estritamente a não tentar testemunhar aos muçulmanos mas deviam restringir seu testemunho somente à pequena população européia, predominantemente cristã, daquele país.11

As Testemunhas de Jeová, na realidade, estão hoje contatando, no máximo, cerca de metade da população da terra numa escala digna de menção. Em certos países a cobertura é intensiva e no Hemisfério Ocidental, Europa e outros lugares, as Testemunhas visitam os lares em algumas áreas com uma freqüência de até poucas semanas. No entanto, mesmo nestes países, incluindo os Estados Unidos, onde a nasceu a organização Torre de Vigia, o fato é que aquilo que se diz às portas é breve, geralmente muito rotineiro e quase sempre concentra-se na oferta de alguma literatura. A grande maioria das pessoas tem apenas uma vaga idéia do que a organização ensina, do que trata a sua mensagem. Basta perguntar a pessoas escolhidas por acaso nesses países o que é que elas sabem sobre as Testemunhas de Jeová, para descobrir que, embora possam encarar as Testemunhas basicamente como boas pessoas, para um alto percentual a única coisa que sabem da religião das Testemunhas é que elas levam literatura de porta em porta, são contra outras religiões, e talvez que não aceitam transfusões de sangue, ou não votam, ou posições negativas similares. 

Por terem no fundo bom coração, muitas Testemunhas se pertur-bam com a idéia de que o destino das pessoas, quer a vida eterna quer a destruição eterna, será supostamente decidido mediante a reação da população da terra à proclamação pública da organização das Teste-munhas. Explicou-se o ponto de vista de que a morte (sem possi-bilidade de ressurreição) no Armagedom de milhões de pessoas que vivem em países como a China, o Paquistão ou a Índia é justificada pelo que se chama de “responsabilidade comunal.”12 Mas isto pouco diminui a preocupação. A afirmação de que quando um governo não permite que a organização Torre de Vigia desenvolva atividades no país controlado por esse governo, as pessoas então — por apoiarem o governo — partilham automaticamente da responsabilidade pela rejeição à organização Torre de Vigia e à sua mensagem, parece uma tentativa muito criativa de justificar a destruição eterna destas muitas centenas de milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças. Espe-cialmente nos casos em que a grande maioria das pessoas comuns não fazem a menor idéia de qual é a mensagem da organização Torre de Vigia ou talvez sequer saibam da sua existência.13

Numa linha de raciocínio um tanto similar está um comentário feito numa Assembléia de Distrito realizada em Nova York, em 1980, para Testemunhas de língua francesa (principalmente de origem haitiana) que vivem naquela área.14 O presidente da Torre de Vigia, Fred Franz, falou à assistência durante o programa e no seu discurso relatou a experiência que tivera com um homem que anteriormente estudara para ser padre católico romano e que estava então estudando com as Testemunhas de Jeová. Ele falou sobre as dúvidas desse homem sobre o Armagedom e de ele perguntar se era mesmo verdade que “apenas os que se tornarem Testemunhas de Jeová sobreviverão ao Armage-dom e todos os outros sofrerão a destruição eterna.” O presidente disse que sua resposta foi: “É o que as Escrituras parecem mostrar.” O homem reagiu: “Mas até as criancinhas?” O presidente disse que replicou: “Bem, pequenas lêndeas depois tornam-se piolhos, e ratinhos crescem até se tornarem ratos grandes.” O fato de ele ter contado esta experiência e estas respostas diante de toda a assembléia demonstrou claramente a crença dele de que tal ponto de vista era válido.

Se essas respostas satisfazem a alguns, eu não sei. Mas tenho  certeza que outros as acham profundamente perturbadoras. Creio também que é o fato de as afirmações da organização serem tão voltadas para si mesma que obriga as pessoas a se saírem com estas opiniões radicais, destinadas a legitimar as pretensões dogmáticas e exageradas sobre a importância do que a organização está fazendo. 

É essa mesma posição extremamente exclusivista que faz com que a organização não leve em conta o que outras denominações religiosas fizeram ou estão fazendo como sendo parte da proclamação das “boas novas do reino,” ou pelo menos minimize seriamente a importância dos seus esforços. Em 1979, ao acompanhar missionários na atividade de casa em casa em Alto Volta [hoje Burkina Fasso], país da África Ocidental, lembro-me de ter reparado que eles levavam duas ou até três traduções diferentes da Bíblia, devido às várias línguas africanas faladas pela população de Uagadugu, capital do país. Pensei então no fato de que grande parte do testemunho deles seria muito limitado, deficiente, se não tivessem estas traduções. Estas traduções, no entanto, não chegaram a eles por meio da organização da Torre de Vigia; foram feitas por missionários e tradutores de outras denominações religiosas. O feito de traduzir a Bíblia, no todo ou em parte, para mais de 1.900 línguas é realmente notável.15 A Sociedade Torre de Vigia chama atenção para o fato dessa realização mas reluta em reconhecer o crédito devido aos que fizeram isso, simplesmente porque não eram Testemunhas de Jeová. Todavia, a Bíblia é a própria fonte das boas novas, é onde as boas novas, tal como foram pregadas por Cristo e pelos seus apóstolos e discípulos, podem ser lidas na sua forma original, inalterada e não adulterada. 

Ao visitar não apenas Alto Volta mas também Senegal, Mali, Costa do Marfim e Benin, reparei que em todos esses lugares — onde as religiões principais são o animismo e o Islã — as Testemunhas chegavam no máximo a algumas centenas. No entanto, ao chegar a Camarões encontrei mais de 10.000 Testemunhas. Por quê o contraste? A grande diferença era que Camarões tinha um percentual bem maior da população professando o cristianismo. Essa circuns-tância, contudo, era o resultado da atividade missionária anterior de outras organizações religiosas, católicas e protestantes, que fora realizada antes mesmo do surgimento da organização Torre de Vigia. E a situação é a mesma em muitas partes do mundo, sendo o grau de êxito da atividade da Torre de Vigia em qualquer país muitas vezes equivalente à extensão em que outras organizações religiosas introdu-ziram anteriormente a Bíblia nesse país. Praticamente em todo lugar onde hoje se encontram Testemunhas, outras denominações cristãs estiveram lá primeiro, e, pelo menos em parte, prepararam o caminho, especialmente traduzindo as Escrituras. Nos locais em que estes sistemas eclesiásticos ainda não lançaram um alicerce, os esforços das Testemunhas raramente conseguem um número significativo de conversões.16

Dar a impressão de que, uma vez terminado o período do primeiro século, pouco ou nada foi feito quanto à divulgação das boas novas nos dezessete séculos seguintes — até que finalmente a organização Torre de Vigia apareceu no fim da década de 1870 — é fazer as palavras de Jesus em Mateus 28:18-20 soarem muito vazias. O que ele assegurou firmemente aos seus seguidores no seu trabalho de fazer discípulos foi: “Certamente estarei convosco sempre, até o próprio fim das eras.”

 

Quão eficaz é o testemunho?

 

Se a trombeta não emitir um som claro, quem se preparará para a batalha? Assim acontece com vocês. Se não  proferirem palavras compreensíveis com a língua, como alguém saberá o que está sendo dito? Vocês estarão simplesmente falando ao ar.

—1 Coríntios 14:8, 9, Nova Versão Internacional.

 

Além da quantidade e extensão desta atividade de testemunho, que dizer da sua qualidade? Meros números num gráfico não revelam isto.

Mesmo superficialmente, pode-se ver problemas óbvios — que de longe a maior parte do que chamam “declarar as boas novas” é simples apresentação e distribuição de livros e revistas, a grande maioria dos quais se reconhece que nunca são lidos.17 Em meus quarenta anos de serviço ativo, acompanhei individualmente milhares de co-Testemunhas em muitos países quando iam de porta em porta. Só raramente senti que o que diziam às portas podia se qualificar como algo próximo de um real testemunho do cristianismo. Afirmava-se, até alguns anos atrás, que era por meio desta atividade que as pessoas estavam sendo divididas em classes de ovelhas e cabritos, sob direção angélica, estando em jogo um desfecho de vida ou morte. Não posso crer que um Deus justo julgaria jamais qualquer humano como digno de ser salvo com base em ele aceitar ou não as apresentações de porta em porta que ouvi — ou as que eu próprio fiz segundo as instruções para o “serviço de campo” da organização. A impressão geral que fica em muitos ouvintes é, sem dúvida, de que são pessoas interessadas em vender literatura religiosa ou em advogar as suas crenças sectárias particulares. 

Igualmente significativa é a falta geral de sério interesse em dar ajuda adicional aos visitados (atitude que tem sido endêmica na organização desde que posso me recordar). Certamente isto não se aplica a todas as Testemunhas, mas de toda uma vida de associação posso acrescentar meu testemunho ao de outros já citados, de que aqueles a quem isto não se aplica são exceção em vez de regra. Predo-mina entre muitas Testemunhas a sensação do “dever” cumprido quando passam uma hora ou mais dando testemunho de porta em porta.; “deram de seu tempo,” e essa é, evidentemente, sua grande preocupação. A grande maioria dos que aceitam literatura não são revisitados. Embora uma enorme quantidade de literatura seja distri-buída, a eficácia desta gigantesca distribuição é muito limitada.18

Um ancião antigo, em resposta a um pedido de comentários feito pela organização em fins dos anos 70, escreveu para a sede: 

 

Nós cobrimos os Estados Unidos da América com nossa literatura e em menor grau o resto do mundo. Quando perguntamos honestamente a nós mesmos que proporção dos milhões de livros e revistas e folhetos que publicamos chegam a ser lidos pelas pessoas, acharíamos talvez alarmante verificar como são poucos.

. . . Mesmo entre os nossos irmãos, se olharmos honestamente os fatos, provavelmente menos de metade da literatura que entra na casa chega a ser lida pela maioria dos irmãos.19

 

Outro respeitado ancião, também respondendo a um pedido de observações da organização, escreveu: 

 

Conforme discutido previamente, nossa literatura não está sendo lida pelos publicadores [Testemunhas] ou pelo público. Cerca de um terço dos publicadores lê a literatura, muito menos o público. De fato, vários anciãos me disseram que se sentem culpados quando colocam livros de 384 e 416 páginas com o público, porque achavam os livros enfadonhos quando os estudávamos nas noites de terça-feira; eles próprios não os liam uma segunda vez, e perguntavam-se como é que o público podia ter algum apetite para isso se eles reagiam assim.20

 

Portanto, grande parte do testemunho que é dado na verdade vai “para o espaço,” sem nenhum efeito informativo genuíno. É como se a distribuição de centenas de milhões de publicações por si só desse à organização um sentimento de dever cumprido, sem nenhuma real preocupação de que a vasta maioria delas não é lida.

Métodos alternativos ou mais eficazes de ajudar as pessoas do que distribuir livros e revistas de porta em porta, sequer são considerados. Ergueu-se um grande sistema editorial que produz um constante fluxo de literatura que precisa ser escoada. A necessidade de distribuir predomina sobre as outras, mais vitais. No passado, o mensário de serviço de campo da organização, Nosso Ministério do Reino, promo-veu às vezes, que se desse maior ênfase à própria Bíblia na atividade de casa em casa. Mas alguns meses depois, invariavelmente, surgem artigos lembrando às Testemunhas que continuem a oferecer os livros e revistas e volta-se ao padrão costumeiro da ênfase à colocação de literatura.21

As boas novas sobre o Filho de Deus são chamadas de “gloriosas boas novas.”22 Restringir sua divulgação, ou equiparar sua proclama-ção essencialmente à distribuição de literatura de qualquer sistema religioso, é reduzir em muito sua grandeza, trivializá-las e desconsi-derá-las em vez de as exaltar.

Minimizando tudo que foi feito por outros grupos religiosos no passado, A Sentinela de 1º de novembro de 1981, página 17, afirma: 

 

Compare a pessoa sincera a espécie de pregação do evangelho do Reino feita pelos sistemas religiosos da cristandade, durante todos os séculos, com a feita pelas Testemunhas de Jeová desde o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918. Não são iguais. A das Testemunhas de Jeová é realmente “evangelho”, ou “boas novas”, sobre o reino celestial de Deus, estabelecido pela entronização de seu Filho, Jesus Cristo, na fim dos Tempos dos Gentios em 1914.

 

Como ela própria admite, a organização Torre de Vigia tem seu próprio “tipo” especial de boas novas, ligadas indissoluvelmente a uma certa data. Isto, todavia, suscita a seguinte pergunta:

 

As boas novas originais ou uma versão alterada?

 

Ainda mais vital que os fatores já discutidos é a questão de se as “boas novas do reino” assim pregadas são as mesmas “boas novas do reino” pregadas por Cristo e seus apóstolos. Temos uma clara apresentação do que Jesus e seus apóstolos entendiam como “boas novas.” Se sim-plesmente pegarmos o relato bíblico e lermos o livro de Atos e os vários escritos dos apóstolos, é notável o contraste entre as delarações de boas novas deles e aquelas que as Testemunhas falam às portas.

A mensagem da Torre de Vigia é voltada para boas novas que tratam principalmente das “condições mundiais” negativas e da espe-rança de iminente alívio dos problemas que estas causam, por meio da introdução de um “novo mundo” que está o tempo todo próximo, dirigido por um novo governo celestial.23

Isto é, sem dúvida, um forte atrativo, já que é normal na natureza humana preocupar-se de modo mais imediato com as pressões externas existentes, que trazem indesejáveis dificuldades. A idéia de um governo é a que predomina na mente das Testemunhas de Jeová quando pensam no “Reino,” e o conceito delas sobre esse governo é incrivelmente similar ao dos modernos governos do nosso tempo.24 A Sociedade Torre de Vigia, de fato, tem publicado tanto artigos como esboços de discursos que traçam paralelos entre  o “Reino” e tais governos, descrevendo os aspectos administrativos, legislativos, judi-ciários e educativos de ambos, incluindo as evidências de que o Reino é um “governo” atuante deste 1914 com sua “provisão e administração de leis escritas” e a “provisão de um programa educativo” para seus súditos, bem como a capacidade de “financiar” tal programa, até com-parando a atual população sujeita a esse governo com a “população” de vários países pequenos.25

Parece incrível, neste respeito, que os redatores da Torre de Vigia não vejam que sua organização fez a mesma coisa que condenam em outras religiões, principalmente a Igreja Católica. Um artigo na Senti-nela (em inglês), de 1º de dezembro de 1984, por exemplo, fala de modo crítico do padre da Igreja, Agostinho, comparando o reino com a igreja na terra, e cita este resumo do efeito deste ensino (página 6):

 

Através da hierarquia eclesiástica Cristo é efetivado como Rei do reino de Deus. A área do reino é co-limítrofe [tem os mesmos limites] do poder e da autoridade da Igreja no mundo. O reino dos céus é expandido pelo missão e pelo progresso da Igreja no mundo.

 

Todavia, isto é praticamente idêntico ao que a organização Torre de Vigia tem feito, e na mente de seus membros “buscar primeiro o reino” significa essencialmente apoiar e ser submisso à “organização visível” e trabalhar para a expansão dela. Ela se jacta da crescente “população” dentro de suas fronteiras e expressa claramente o ponto de vista de que submeter-se à organização e seu Corpo Governante equivale a submeter-se a Cristo como Rei.26

Ela aplica constantemente a si própria as profecias messiânicas faladas à nação de Israel, “governo típico” de Deus.” No número de 15 de janeiro de 1988 da Sentinela, por exemplo, lemos (páginas 16, 17):

 

. . . bradam jubilosamente: “Acrescentaste à nação; ó Jeová, acrescentaste à nação; glorificaste-te a ti mesmo. Estendeste para longe todos os limites da terra.” (Isaías 26:12, 15) Em 210 terras ao redor do globo, Jeová continua a fazer acréscimos de pessoas semelhantes a ovelhas à sua nação espiritual. Centenas de milhares de recém-associados estão sendo batizados . . . Mais Salões do Reino e Salões de Assembléias estão sendo construídos. As filiais da Torre de Vigia (dos EUA) estão ampliando seus Lares de Betel e suas gráficas e aumentando o seu equipamento gráfico. O crescimento é contínuo!

Esta expansão acontece porque o “Príncipe da Paz” está dirigindo os assuntos do povo de Deus na terra. Como Isaías declarou antes na sua profecia: “Da abundância do domínio principesco e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer firmemente e para o amparar por meio do juízo e por meio da justiça, desde agora e por tempo indefinido. O próprio zelo de Jeová dos exércitos fará isso.” (Isaías 9:6, 7) Quão grandiosamente se tem cumprido essas palavras em nossos dias!

 

Como o próprio artigo afirma, vê-se o ‘cumprimento’ não só nos verdadeiros aspectos espirituais, mas no aumento numérico ¾ que põe mais pessoas debaixo da autoridade da organização ¾ e a expan-são da organização em propriedades, edifícios e equipamentos. A comparação que Agostinho fez do reino com a igreja é paralela à comparação que a Torre de Vigia faz do reino com a “organização terrestre visível.”

A ênfase constante à idéia de “governo” sem dúvida contribui muito para a disposição das Testemunhas em submeter seu pensamen-to e consciência a um sistema religioso, em aceitar a imposição de um volume crescente de “lei teocrática,” inúmeras regras e normas organi-zacionais que têm de ser observadas. É vantajoso para este arranjo autoritário que os anciãos congregacionais e os superintendentes via-jantes sejam vistos não apenas como humildes servos de Cristo e co-discípulos, mas como “representantes de um governo,” autorizados a administrar as leis e normas de um sistema governamental atuante.27

A conclusão final desta ênfase a “governo,” foi que a Sociedade Torre de Vigia, pelo menos de 1935 em diante, desenvolveu aquilo que um escritor francês descreveu como um evangelho de “materialis-mo espiritual,” isto é, um apelo aos desejos materialistas revestido de termos espirituais. Isto é feito por meio da constante ênfase à perspectiva de brevemente ter-se a capacidade de usufruir interminá-veis benefícios materiais e físicos ¾ com abundância de alimentos seletos, lindas casas em belos ambientes, livramento de rugas, fraquezas e dores da velhice para uma condição de saúde vigorosa, beleza e vigor de uma juventude infindável ¾ tudo isto livres de impostos, inflação, grandes despesas com saúde e seguro de vida, acidentes, desastres, crime e guerra. Nenhuma pessoa sã deixaria de achar atraente tal perspectiva. Qualquer político que conseguisse convencer o povo de que é capaz de promover tal mudança ganharia facilmente as eleições em qualquer país. Mas a motivação para desejar esta vida fisica e materialmente ideal, livre de problemas, na verdade não requer espiritualidade maior, e certamente um cristianismo maior do que os que motivaram Ponce de Leon a buscar a fonte da eterna juventude, ou os seguidores de Maomé a desejar o paraíso do “sétimo céu,” com seus deleites bem terrenos.28

 

Diferentes das que foram proclama-das no primeiro século, as “boas novas” conforme anunciadas pela organização Torre de Vigia, fazem um forte apelo às sensações e desejos físicos. Confira textos como 2 Coríntios 4:16-18; Colossenses 3:2.

 

As gravuras da publicação de 1983, Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, páginas 157-162. Estes são típicos dos apelos aos desejos físicos feitos especialmente de 1935 em diante.

 

O grande problema disto tudo é que se trata de boas novas bastante alteradas, maquiadas, quando comparadas com as boas novas pregadas pelos seguidores de Cristo, conforme registradas nas Escrituras Cristãs. A mensagem e a linguagem que usavam concentravam-se não num “governo,” mas numa pessoa, a pessoa do Filho de Deus, Cristo Jesus.29 A expressão “reino de Cristo” traz primariamente o sentido de “reinado ou domínio de Cristo” ou “domínio real de Cristo.”30 Visto que Deus é a fonte soberana da realeza de Cristo e já que este é o próprio arranjo de Deus, a expressão “o reino de Deus” é amiúde usada como sinônimo do domínio real de seu Filho.31

Falar do “reino” de Cristo, pois, é falar primariamente do “domí-nio” de Cristo, e se tivermos isso em mente ao ler as referências bíblicas ao “reino” vem à tona um sentido bastante diferente do encontrado nas publicações da Torre de Vigia. Basta ler as expressões dos apóstolos de Cristo para entender que aquilo que eles falavam do “reino” era predominantemente no sentido que focaliza à pessoa do Filho de Deus e seu domínio como Senhor. A expressão “as boas novas do reino” significa simplesmente “as boas novas do domínio de Cristo.”

Encontramos a expressão “boas novas” mais de cem vezes em todas as Escrituras Cristãs. Destas, apenas oito vezes ocorre a expres-são “boas novas do reino.” Em todos os outros casos as boas novas são especificamente declaradas como “as boas novas acerca do Cristo” (ou expressões similares) ou o contexto mostra que a referência é a Ele, a pessoa, não a um “governo.”

 

Fundamento e essência das boas novas

 

O que de fato destacaram os apóstolos e outros escritores cristãos quando descreveram o domínio messiânico e seus efeitos? Eles con-sistentemente apontaram para o sacrifício resgatador de Cristo, sua vitória sobre os reis pecado e morte em favor de toda a humanidade, a autoridade que o Pai deu ao Filho ressuscitado para liberar dos salários do pecado e da morte a todos os que depositassem fé nele. Essas é que eram ¾  e são ¾  as boas novas que a própria Bíblia nos traz. As boas novas bíblicas não trazem atenção a 1914 e nem estão ligadas a esta ou a qualquer outra data, e tampouco atrai ou seduz oferecendo bnefícios físicos e materiais “no futuro próximo.” Elas estão ligadas a um evento, o evento em que o Filho de Deus cumpriu seu objetivo principal como Messias e deu sua vida em nosso benefício, sendo depois ressuscitado à mão direita de Deus e ali servindo como nosso advogado.32 Apenas por esta razão é que Paulo pôde dizer aos Coríntios: “Decidi não saber coisa alguma entre vós, exceto Jesus Cristo, e este pregado numa estaca.”33

O evento central das boas novas foi há 1900 anos, mas continua sendo o evento de suma importância para todos nós hoje. O fato de que nossa percepção pessoal de seus plenos benefícios ainda é futura, de modo algum altera o fato de que o evento mais crucial da história humana ocorreu então e não será ultrapassado por qualquer evento futuro. O futuro está, de fato, determinado irresistivelmente por aquele ato passado. Quaisquer benefícios futuros que ainda recebamos são, de fato, conseqüências daquele ato.

Os apóstolos viam claramente os assuntos sob esta luz, reconhecen-do a finalidade sobrepujante e irresistível e a natureza determinante e duradoura daquele evento, a morte e a ressurreição de Cristo, e o efeito de ter fé na reconciliação e na redenção que por este meio se tornaram possíveis. Só assim poderiam ter falado como falaram, falando de si mesmos e dos concristãos como que possuindo as grandes bênçãos e benefícios pssibiltados por aquele sacrifício de resgate. As Testemunhas referem-se regularmente à passagem em Revelação 21:1-5 como que descrevendo um “novo mundo” futuro. Não percebem que nos escritos cristãos anteriores fala-se das coisas anunciadas como fruto da “Nova Jerusalém” como na maior parte já existindo na época daqueles escritos.34

Obviamente, o cumprimento completo e total da esperança cristã ainda está à frente. O apóstolo  Pedro assim escreve sobre os “novos céus e uma nova terra que aguardamos segundo a sua promessa.”35 Ao mesmo tempo, tanto ele como outros escritores das Escrituras Cristãs falam das muitas promessas de Deus como que já cumpridas para com os crentes, quer efetivamente quer em sentido espiritual. Elas eram, a um só tempo, tanto perspectivas espirituais como realidades espiri-tuais. Isto se aplica a muito ¾ talvez à totalidade ¾ do que se afirma na passagem de Revelação mencionada.

Revelação 21:3, por exemplo, fala sobre a ‘tenda de Deus estar com a humanidade, sobre ele residir com eles e eles serem o seu povo, o próprio Deus estar com eles.’ As Escrituras mostram que o sacrifí-cio resgatador de Cristo trouxe a reconciliação com Deus para os homens e mulheres que crêem, levando-os da condição de inimizade para a de paz e amizade com Deus.36 Por essa razão o apóstolo pôde falar que os os cristãos eram, naquela mesma época, “templo dum Deus vivente” no qual “o espírito de Deus mora,” um “lugar para Deus habitar por espírito,” e pôde citar a profecia de Isaías, onde a mesma expressão se acha em Revelação capítulo 21:

 

Assim como Deus disse: “Residirei entre eles e andarei entre eles, e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.”37

 

O apóstolo apresenta esta promessa de Deus morar com os homens e de de esles se tornarem seu povo como já tendo se cumprido; não apresentou isso como algo futuro mas como um relacioamento já em vigor. Seu co-apóstolo, Pedro, afirma claramente: “Vós, outrora, não éreis povo, mas agora sois povo de Deus.”38  Devido ao sacrifício de Cristo e a reconciliação com seu Pai que isso tornou possível, no primeiro século a “tenda de Deus” estava de fato com os homens e Ele estava então residindo entre eles e eles eram Seu povo, exatamente conforme descrito no relato de Revelação.39

No relato de Revelação, versículo 4, afirma-se que Deus “enxugará dos seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem clamor, nem dor.” A primeira parte deste versículo, que fala de Deus enxugar toda lágrima e não haver mais morte, cor-responde em conteúdo às palavras de Isaías 25:8. Em 1 Coríntios 15:54 o apóstolo Paulo citou dessa parte da profecia de Isaías, não apontando para uma terra de condições paradísicas (como fazem regu-larmente as publicações da Torre de Vigia), mas com respeito à ressurreição dos cristãos e sua passagem da condição mortal para a imortalidade. Porém, num sentido, a ‘vitória sobre a morte’ já tinha sido ganha por eles, seu “aguilhão” fora extirpado. Embora os cristãos ainda estivessem sujei-tos fisicamente à morte, num sentido muito vital eles estavam além do poder dela e poderiam continuar assim por manter a fé no superior poder resgatador de Cristo. Eles sabiam que Deus os tinha ‘vivificado’ embora estivessem anteriormente ‘mortos nas suas falhas e pecados.’40 Tendo morrido para o pecado e sido levantados para uma “novidade de vida,” para eles o reinado do “rei morte” terminara; mediante o domínio de Cristo não estavam mais sob o poder e a lei do “rei morte.”41 Por essa razão o apóstolo João pôde dizer: “Nós sabemos [não que passaremos, mas] que temos passado da morte para a vida porque amamos os irmãos.”42 Dizendo isso, ele simplesmente repetia as expressões idênticas de Jesus, nas quais este falava daqueles que exercem fé nele como já possuindo a vida eterna devido a essa fé.43 É evidentemente por isso que Jesus pôde dizer, não só que “Quem exercer fé em mim, ainda que morra, viverá outra vez,” mas também que todo aquele que vive e exerce fé em mim nunca jamais morrerá.”44 Todas estas declarações poderosas certamente têm força equivalente à declaração de Revelação, “e não haverá mais morte,” e todas elas mostram que estes resultados do resgate de Cristo já estavam em vigor entre seus seguidores.

Quanto ao pranto, clamor e dor, Cristo tinha vindo exatamente para cumprir a comissão predita em profecia anterior, a saber “para levar boas notícias aos pobres . . . para cuidar dos que estão com o coração quebrantado . . . para consolar todos os que estão tristes, e para dar . . . o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido.”45 Ele não falhou nesta comissão e pôde dizer na sinagoga de Nazaré: “Hoje se cumpriu esta escritura que acabais de ouvir.”46 Sua promessa, “Felizes sois vós os que agora chorais, porque haveis de rir,” não precisava esperar até o futuro distante para começar a se cumprir, do mesmo modo como as outras partes do Sermão do Monte não exigem essa longa espera para serem realizadas. Em vez de expressar “clamor” por sofrerem maus tratos às mãos dos homens, seus discípulos deviam alegrar-se e pular.47

Nem a referência à remoção da “dor” exige que o cumprimento desta visão de Revelação seja exclusivamente futuro. O contexto de modo algum especifica que se trate da dor que tão freqüentemente acompanha a doença ou o trauma físico. A tradução do termo usado pelo apóstolo João (grego, pónos) é, em si, uma questão de opção do tradutor, já que a palavra significa basicamente “labuta” e apenas por implicação “dor” ou “angústia.”48 Portanto, a tradução francesa de D’Ostervald confere-lhe seu sentido básico, traduzindo-a por travail (labuta) e as traduções espanholas de Nacar-Colunga e Bover-Cantera traduzem-na ambas por trabajo (trabalho).49 Cristo fez o atraente convite a todos que estivessem “labutando e sobrecarregados” para que viessem a ele e achassem ¾ exatamente naquela ocasião, e dali em diante ¾ revigoramento e descanso para suas almas.50 Seus líderes religiosos tinham jogado sobre eles fardos pesados por meio de seu rígido e inflexível legalismo, com sua ênfase a obter uma condição justa diante de Deus através de obras específicas. Jesus comparou isto a colocar cargas pesadas nos ombros de homens, algo certamente doloroso para se carregar. As boas novas trazidas pelo Filho de Deus os habilitaram a livrar-se de todos estes fardos, da frustração e da fadiga de empenhar-se em satisfazer tais requisitos opressivos, e assim acabar com a dor, tanto emocional como mental, causada por este esforço.51

As expressões, as “as coisas anteriores já passaram” e “eis que faço novas todas as coisas,” também têm um claro paralelo em declarações escritas pelos apóstolos ¾ com referência a um relaciona-mento e situação vigente na ocasião, e não limitada a uma época futura distante.52 Em linguagem quase idêntica à de Revelação, o apóstolo João escreve:

 

Conseqüentemente, se alguém estiver em união com Cristo, ele é uma nova criação; as coisas antigas passaram, eis que novas coisas vieram à existência!53

 

Quão verdadeiras eram essas palavras na época! Um velho pacto fora substituído por um novo, e as leis de Deus estavam agora escritas nos corações daqueles que se tinham juntado a seu Filho. Embora anteriormente mortos no pecado, os cristãos tinham sido levantados para viver uma nova vida, como se tivessem tido um novo nasci-mento, servindo no novo caminho do Espírito e não no velho caminho do código escrito; os crentes, judeus e gentios, constituíram “um novo homem” e se reconciliram com Deus, entrando numa relação como filhos Dele. Uma nova força agora moldava seu pensamento e eles se desfizeram do velho procedimento de vida e se revestiram de um novo, constantemente renovado à semelhança de seu Criador. Não mais sujeitos a um sacerdócio humano em seus tratos com Deus, podiam agora aproximar-se Dele na plena certeza por um “caminho novo e vivente,” aberto a eles por seu único Sumo Sacer-dote e Mediador, o Filho de Deus.54

 

Transferência para o Reino

 

Que mudança maravilhosa o ato sacrificial de Cristo tinha produzi-do para seus discípulos e que novo relacionamento maravilhoso ele proporcionou! Cristo tem deveras uma “nação” espiritual sobre a qual ele reina, mas esta é composta de todas as pessoas na terra que Nele depositaram fé e que a Ele prestam submissão como Cabeça espiritual e como único mediador entre eles e Deus.55 A sujeição, as fronteiras e o aumento numérico da organização nada têm a ver com isto. Tam-pouco estão relacionados ao cumprimento das profecias messiânicas. Estas sem dúvida tiveram cumprimento, mas de uma maneira mais extensa e muito diferente da apresentada pelas explicações da Torre de Vigia.

Esta transferência dos servos de Deus para o reino de Cristo de modo algum está ligada a uma filiação organizacional, nem à data de 1914. Ela retroage até o primeiro século e a provisão de redenção de Cristo mediante o sacrifício de si mesmo. As Escrituras mostram que seus discípulos tinham até sido “livrados da autoridade da escuridão e “transferidos para o reino do Filho do seu amor.” O apóstolo Paulo pôde, por conseguinte, dizer a respeito de Deus:

 

Ele nos levantou junto e nos assentou junto nos lugares celestiais, em união com Cristo Jesus.57

 

Ele não falou disto como algo futuro, mas usou o tempo passado ¾ “levantou,” não “levantará”; “assentou,” não “assentará” ¾ ao descre-ver a posição espiritualmente elevada que sua transferência para “o reino do Filho de seu amor” tinha realizado. Devido a seu livramento da “autoridade da escuridão” estavam agora como que assentados com o rei celestial, o Filho de Deus.

Jesus tinha dito: “Felizes os de temperamento brando, porque her-darão a terra . . . Felizes os pacíficos, porque serão chamados ‘filhos de Deus.’”58 Em resultado da morte e da ressurreição de Cristo e da fé deles no poder destas, Seus seguidores tinham agora se tornado “filhos de Deus” e portanto tornaram-se também co-herdeiros de Cristo e herdeiros de Deus, a quem ‘pertence a terra e o que a enche.’59 Porque eles agora eram adotados na família real de Deus, o apóstolo pôde falar no tempo presente ao dizer a seus concristãos:

 

Porque a vós pertencem todas as coisas, quer Paulo, quer Apolo, quer Cefas, quer o mundo, quer a vida, quer a morte, quer as coisas agora aqui, quer as coisas por vir, a vós pertencem todas as coisas; por sua vez, vós pertenceis a Cristo; Cristo, por sua vez, pertence a Deus.60

 

Em tom similar, o apóstolo Pedro escreveu, também no tempo presente:

 

Vós sois “raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo para propriedade especial, para que divulgueis as excelências” daquele que vos chamou da escuridão para a sua maravilhosa luz.61

 

Eles não eram meramente sacerdotes de Deus, mas sacerdotes “reais,” e o termo “real” no grego (basileios) vem da mesma raiz que a palavra “reino” (basiléia). Pedro afirma que os cristãos a quem ele escreveu já eram naquele tempo um “sacerdócio real” ou “reino de sacerdotes.”62 Em Revelação 1:6, portanto, João emprega o tempo passado ao dizer que Cristo “fez de nós um reino [fez de nós uma casa real, NEB], sacerdotes para seu Deus e Pai.” Tudo isto certamente tem de ser considerado para se entender expressões posteriores do livro de Revelação, como quando se diz no capítulo 5, versículo 10:

 

Fizeste deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus, e hão de reinar sobre a terra.63

 

Pode-se observar que a Tradução do Novo Mundo aqui reza “sobre a terra,” e no entanto o próprio gráfico da Torre de Vigia no frontispí-cio da Tradução Interlinear do Reino (em inglês) mostra que a prepo-sição grega usada aqui (epi) tem o sentido básico de “upon” (em cima da, na) e não “over” (sobre, grego hyper). Embora epi possa ser vertida como “sobre” quando o contexto exigir tal mudança no sentido básico, essa mudança, como se pode ver, dificilmente é necessária aqui.

                 (SCAN DA KINGDOM INTERLINEAR)

 

Seja como for, todas as declarações apostólicas já citadas demonstram claramente que os discípulos de Cristo na terra já eram “um reino e sacerdotes de Deus” num sentido espiritual. Eles faziam parte da família real de Deus, filhos do Rei, e o poder do Rei atuava neles e através deles. A posição real deles como filhos do Rei do universo não se expressava em termos de majestade terrena ou riqueza material, nem pelo exercício de poder político, ou por ditar ordens aos outros como se fosse exaltado sobre eles e superior a eles.64 Mas o Pai deles, para quem “as nações são como uma gota dum balde; e como a camada fina de pó na balança,” para quem “todos os habitantes da terra são considerados como simplesmente nada, e ele age segundo a sua própria vontade entre o exército dos céus e os habitantes da terra,” os tinha autorizado a ser seus representantes reais para cumprir sua missão na terra, a declarar seus decretos e julgamentos reais.65 Muito tempo atrás, Jeová comissionou Jeremias para “estar sobre as nações e sobre os reinos, para desarraigar, e para demolir, e para destruir, e para derrubar, para construir e para plantar.” Ele fez isso, não colocando Jeremias sobre eles como um governante literal, mas ‘pondo suas palavras na boca de Jeremias,’ pois a palavra de Deus é poderosa, irresistível, e o que ele prediz é tão eficaz como se já estivesse feito.66 Tendo falado à humanidade por intermédio dos profetas, Deus agora nos falou por intermédio do seu Filho e a palavra ou mensagem falada por ele tinha de servir, ela própria, como juiz para toda a humanidade.67 Esse Filho, desde sua ascensão em diante, tem exercido “toda a autoridade no céu e na terra,” e seus discípulos e co-herdeiros na terra têm o privilégio real de dar a conhcer sua palavra. Quando apresentada livre de alterações e adulterações, essa palavra tem seu próprio efeito julgador resultante.68 Como discípulos de seu Filho, servem com a confiança de que o poder soberano de Deus os apóia e sustém, e que não há na terra nada que Ele não possa ou não vá usar para apoiá-los e abençoá-los, pois eles fazem parte de sua família real. Jamais sentirão falta de algo de que realmente neces-sitem para posseguirem e cumprirem seu propósito na terra; jamais perderão algo de valor genuíno e duradouro, pois:

 

Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?... Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?... Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.69

 

Estas são, sem dúvida, as melhores novas para os que entendem o valor vital e superior das bênçãos espirituais. Essas genuínas boas novas, infelizmente, são obscurecidas quando as pessoas em vez disso são encorajadas a concentrar seus pensamentos e desejos em benefí-cios essencialmente materiais perpetuamente descritos como “logo à frente,” como boas novas substitutas, de concepção humana.

 

As Testemunhas, se refletirem um pouco no assunto, dificilmente deixarão de reconhecer que as boas novas conforme apresentadas no primeiro século, são uma versão diferente das que estão habituadas a ouvir, ler e falar às portas, como se a versão original tivesse de algum modo ficado desatualizada, ultrapassada, inadequada para a época. O apóstolo Paulo disse aos Coríntios que, quando foi ter com eles, tinha decidido “não saber coisa alguma entre vós, exceto Jesus Cristo, e este pregado numa estaca.”70  Se algum representante viajante da Torre de Vigia fizesse hoje tal afirmação, ele passaria imediata-mente a ser visto com suspeita, como se fosse de outra religião. Se um orador numa reunião simplesmente parafraseasse uma das cartas de Paulo, tal como sua carta aos efésios, sem primeiro informar a assis-tência de que estava fazendo isso, seria também visto como alguém que “soa estranho,” que fala uma linguagem diferente daquela a que seus ouvintes estão habituados e como se fosse representante de outra religião. Creio que qualquer um que releia essa carta inspirada e reflita no assunto admitirá que isto é verdade.

Estranhamente, gasta-se pouco tempo na consideração dos grandes e primitivos ensinos cristãos apresentados, e isto não surpreende, visto que se crê que estes só se aplicam a menos de um por cento (na verdade, só dois décimos de um por cento) do total de membros da organização.

 

O poder das boas novas transforma vidas

 

O mundo atual e o domínio político existente na terra geram inegavel-mente muitos problemas, irritações, frustrações, dificuladades e até sofrimentos, para todos nós. Mas todos estes juntos parecem pouco em comparação com os efeitos desastrosos, humanamente insolúveis e irremediáveis que nos impõem os reis Pecado e Morte.71 No primeiro século as boas novas eram de que os que tivessem fé no ato resgatador de Cristo podiam então ficar livres da pesada sensação de culpa indu-zida por sua condição pecaminosa, e de que seus pecados estavam plenamente perdoados e eles estavam reconciliados com Deus e em paz e amizade com Ele. Mais ainda, eles agora eram aceitos por Ele na sua família como Seus filhos, filhos do Altíssimo.

Os repetitivos sacrifícios feitos sob o Pacto da Lei e por meio de uma classe sacerdotal especial tinham constantemente servido como lembrete do pecado, com seu conseqüente sentimento de culpa, e apesar dos muitos sacrifícios que o povo tinha feito ao longo dos anos, havia sempre a consciência de que isto ainda era insuficiente para de fato obter uma condição justa e o prêmio da vida por meio deles. Mas agora, com um único sacrifício, Cristo acabara com qualquer necessi-dade de mais sacrifícios expiatórios de pecados.72 Agora, os servos de Deus podiam oferecer uma forma de sacrifício totalmente diferente, os sacrifícios de louvor e de amor. Estes eram manifestados, não por ações praticadas segundo procedimentos e regulamentos, mas em ações que eram livre e espontaneamente motivadas pelo coração, sem nenhuma sensação de expiação pelos pecados, nem de remissão de dívidas com o conseqüente sentimento de culpa. Os cristãos do primeio século tinham entado no “descanso de Deus,” em que os repetitivos esforços para provar a própria justiça eram agora coisa do passado.73

Antes disto, o acesso à presença de Deus conforme simbolizado no Santíssimo do templo, limitava-se a poucos, os do sacerdócio. Qual-quer um que tentasse aproximar-se para entrar ali, o fazia com perigo de vida. Mas agora que Cristo se tornara seu Sumo Sacerdote nos céus, à mão direita de Deus, seus seguidores todos podiam, pessoal e individualmente, “ter denodo para com o caminho de entrada no lugar santo, pelo sangue de Jesus” e foram de fato encorajados a aproxi-mar-se com franqueza no falar, do trono de benignidade imerecida,” sem ter de depender de quaisquer intermediários humanos para isso.74 Não mais estavam sob o Código da Lei, que constantemente os lem-brava de suas fraquezas e de sua falha em não atingir a perfeição dela, pois agora as leis de Deus estavam escritas em suas mentes e corações. Não mais precisariam de uma classe sacerdotal especiali-zada para ensiná-los a conhecer a Deus, pois todos eles, “desde o menor até o maior deles,” conheceriam a Ele e Ele não “se lembraria mais dos seus  pecados.”75 Servir a Ele poderia ser, como nunca antes, uma verdadeira fonte de alegria.

Para a vasta maioria das Testemunhas de Jeová, o poder das boas novas perde lamentavelmente muito de sua alegria e vigor. A grandeza daquilo que Deus já fez por meio de Cristo, o significado sobrepujante das vitórias de Cristo sobre o pecado, a morte, o mundo e seu gover-nante, as bênçãos do relacioanamento que se abriu a todos da humani-dade que exercerem fé nele, são seriamente minimizados. Tudo isto resulta dos empenhos da organização em manter seu ensino de duas classes de cristãos, em que uma classe, a imensa maioria, não tem nenhuma posição própria diante de Deus, mas somente em virtude de sua associação com a outra classe. As boas novas originais e tudo o que ela agora oferece, estão restritas na aplicação a apenas alguns milhares de pessoas, sendo, na prática, postas em segundo plano e ofuscadas pelo evangelho dos benefícios físicos e materiais do tipo “logo usufruiremos,” e “está bem perto.” Diz-se à grande massa dos membros que o ingresso no Novo Pacto e até o atual pleno perdão de pécados que resulta na condição justa de filhos de Deus, ainda não são para eles. Os ensinos da Torre de Vigia, de fato, fizeram com que o relógio recuasse para eles, de modo que sua situação permanece em muito semelhante a das pessoas de antes da vinda de Cristo e do ato de resgate. É como se estes milhões da chamada classe da “grande multi-dão estivessem ainda no tempo do Velho Pacto, quando mesmo na nação de Israel as pessoas estavam divididas numa classe sacerdotal e numa classe não-sacerdotal. Assim, os cerca de seis milhões de “não-ungidos” que só conseguem chegar-se a Deus e ter uma posição diante Dele através dos “ungidos” atualmente na organização.76 Isto significa que estes, na prática, atuam como um sacerdócio que exerce mediação em favor de todos os outros, para que se tornem aceitáveis a Deus. O serviço prestado por estes últimos não tem validade a menos que seja feito nesse contexto.77 Cristo é declarado como Mediador apenas dos dos cerca de 8.000 “ungidos” que restam na terra, não dos milhões de outros associados.78

 

Revertendo às circunstâncias do Velho Pacto

 

Sob o Velho Pacto, o sacerdócio servia como tribunal superior onde todos as questões difíceis tinham de ser resolvidas, e suas decisões tinham cumprimento obrigatório, conforme dizia a Lei:

 

Eles têm de transmitir-te a palavra da decisão judicial. Então tens de proceder de acordo com a palavra que te transmitirão do lugar que Jeová escolher; e tens de cuidar em fazer segundo tudo o que te instruírem. Deves proceder de acordo com a lei que te indicarão e segundo a decisão judicial que te disserem. Não te deves desviar da palavra que te transmitirão, nem para a direita, nem para a esquerda.79

 

Não há descrição melhor para o conceito que as Testemunhas de Jeová têm atualmente das decisões que lhes são transmitidas pela organização Torre de Vigia e seu Corpo Governante, que estão, para elas, na mesma posição do sacerdócio do Velho Pacto. Em Crise de Consciência fiz referência a uma declaração usada por alguns superin-tendentes viajantes, quando seguravam uma publicação da Torre de Vigia, de cor verde, e diziam que ‘se a organização nos disser que este livro é preto, irmãos, então ele é preto!80 Eu pensava que esta defesa espalhafatosa da credulidade cega, uma declaração tão abertamente desprovida de inteligência, despareceria logo, reconhecida pelo que é, vítima de sua própria estupidez. Anos depois, porém, pessoas que se correspondiam comigo e que ainda se associavam com a organização contaram que esta mesma declaração era usada em sua região, não só nos Estados Unidos mas em outros países, inclusive a Austrália.81 Lá no ano de 1541, em sua obra, Exercitia spirituali, o fundador da ordem dos jesuítas, Inácio de Loyola, escreveu:

 

Devemos sempre estar dispostos a acreditar que aquilo que nos parece branco na verdade é preto, se a hierarquia da Igreja assim decidir.

 

Hoje, poucos católicos concordariam com Loyola, e todavia estas palavras descrevem exatamente a mentalidade adotada por muitas, se não a maioria das Testemunhas de Jeová, especialmente seus superin-tendentes viajantes.

Outra declaração popular que “pegou” entre alguns superintenden-tes viajantes e anciãos é: “Se a organização nos mandar saltar, nossa única pergunta deve ser ‘A que altura?’” Da mesma forma, quando alguém questiona a veracidade e o apoio bíblico de certos ensinos, o cliché que alguns destes homens usam em resposta é: “Prefiro estar errado com a organização do que estar certo sozinho.” Esta renúncia a todo o discernimneto pessoal mostra não apenas o tipo de pessoas que são tidas como “qualificadas” para responsabilidades na organização. O fato de estes chavões incrivelmente vazios e estas exigências de obediência cega e irracional não serem vigorosamente repudiados pela grande maioria dos ouvintes, revela também o grau em que a organiza-ção e seu Corpo Governate são agora vistos como equivalentes ao sacerdócio do antigo Israel. Essas dcelarações, para todos os fins, repetem as palavras do Velho Pacto: “Não te deves desviar da palavra que te transmitirão, nem para a direita, nem para a esquerda.” A organização e seu Corpo Governante se erguem na mesma posição em que ficava o sacerdócio aarônico. É como se o Messias libertador ainda não tivesse vindo. Em alguns aspectos, a posição destes milhões da chamada “grande multidão” é menor que a dos israelitas não-sacerdotais, pois eles são comparados nas publicações da Torre de Vigia a “gentios espirituais.” Os gentios que viviam em Israel, se se aproximasem ao templo de Deus, tinham de parar num muro do Pátio dos Gentios, um muro com a inscrição “Que nenhum estrangeiro ultrapasse a barreira e a cerca em torno do santuário. Quem for apa-nhado fazendo isso, será responsável por sua morte que virá como conseqüência.”82 Enquanto Cristo, por meio de sua morte, derrubou o muro que dividia judeus e gentios, um muro que fez pessoas serem “separadas da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto às alianças da promessa,” a organização Torre de Vigia ergue um novo muro, dividindo espiritualmente os “israelitas espirituais ungidos” (cujo número hoje é de cerca de 8.600) dos gentios espirituais (que chegam a milhões), e colocando os últimos num figurativo Pátio dos Gentios.83 Se um gentio atravessasse o muro divisório naquele pátio isto seria considerado um sacrilégio. Se quaisquer pessoas “não-ungidas” atravessarem o muro espiritual erguido pela doutrina da Torre de Vigia ¾ como por participar dos emblemas na refeição noturna do Senhor (ato que biblicamente nada mais significa que uma expressão de fé no sacrifício de resgate), ou por considerarem a si mesmas como estando no novo pacto que Cristo mediou em favor da humanidade ¾ isto seria tratado como um “sacrilégio” similar, a invasão de um recinto sagrado.

Até as Escrituras Cristãs, dizem-lhes, não foram escritas ou dirigidas para elas, mas para os “ungidos.” Paradoxalmente, todas as responsabilidades colocadas nessas Escrituras Cristãs são aplicadas pela organização a estes milhões de membros “não-ungidos,” enquan-to os principais privilégios lhes são negados. De certo modo, o conceito confuso da organização faz parecer que ser co-herdeiro de Cristo, posição que dizem que só a chamada “classe ungida” ocupa, é um privilégio menos rigoroso em seus requisitos que os da classe  da grande multidão.” Os “ungidos” entram em sua posição privilegiada como filhos de Deus, diretamente declarados justos, e por ocasião de sua morte, em alguns casos após apenas relativamente poucos anos de “serviço,” têm sua herança assegurada e no dia de julgamento de Deus são imediatamente aceitos em Sua presença ¾ e não mil anos mais tarde. Isso não acontece com os da classe da “grande multidão.” A “época deles” ainda não chegou, e, se quiserem vê-la, terão de labutar obedientemente sob a direção da organização, tendo de enfrentar depois uma “grande tribulação.” Tampouco termina aí, pois depois disto estarão, na prática, sendo julgados durante mil anos, visto que o milênio é representado como um “dia de julgamento de mil anos.” O sacrifício de Cristo trouxe os crentes de debaixo da Lei para a benignidade imerecida ou graça de Deus. Segundo o conceito da Torre de Vigia, os que sobreviverem ao Armagedom voltam a estar debaixo da lei, como afirma o livro “Caiu Babilônia, a Grande!” O Reino de Deus já Domina!” explicando Revelação 20:12, 13:

 

Os “rolos” que o apóstolo João viu serem abertos não são os registros da anterior vida terrestre dos que estão de pé perante o trono de julgamento, mas são os livros de lei de Jeová. Quer dizer, são as publicações que especificam a sua vontade para todos na terra, durante o reino milenar de Cristo. Depois de se ter publicado e divulgado o que está escrito nestes “rolos” de lei, as pessoas serão julgadas pelas leis e instruções encontradas nestes rolos, “segundo as suas ações”, não as ações praticadas nesta vida ou antes de se publicarem os rolos, mas as suas ações depois, enquanto estiverem em julgamento.

O Juiz de Jeová, Jesus Cristo, poderá durante todo o dia de julgamento de mil anos executar a sentença de destruição em qualquer humano que se mostre incorrigível. Mas, por meio deste dia de julgamento, todos os homens terão a oportunidade de aprender a justiça. (Isaías 26:9; 2 Pedro 3:8) Embora se mostrem obedientes e aprendam a justiça durante o dia de julgamento milenar de Cristo, ainda assim terão de passar pela prova final da devoção inabalável à soberania universal de Jeová, depois de terem terminado os mil anos, tempo em que serão soltos Satanás e seus demônios. Então ficarão de pé diante Daquele sentado no “grande trono branco” sem benefício dum intermediário, portanto, estarão por conta própria. Se passarem esta prova decisiva com obediência fiel a Jeová Deus, o Soberano Universal, então pela primeira vez escreverá ele, o Juiz Supremo de todos, seus nomes no “rolo da vida”, autorizando-os assim a usufruírem a vida humana perfeita para sempre na terra paradísica.84

 

Parece incrível que uma organização possa apresentar razões com base nesta criativa reversão de assuntos, ou que possa justificar ter assumido o direito de “fazer ajustes” às boas novas do primeiro século, de fato “reescrevendo-as” de modo a acomodá-las ao sistema doutrinal que elaboraram. Certamente que a proclamação internacio-nal, na qual substituem as boas novas do primeiro século pela sua própria versão do século vinte, não os qualifica como cumpridores da profecia de Jesus sobre a pregação das boas novas a todas as nações. Quando ele disse “Estas boas novas do reino serão pregadas em todo o mundo,” ele se referia claramente às boas novas conforme ele as apresentou e conforme elas foram anunciadas dali em diante por seus apóstolos e discípulos, e não à forma reescrita dessas boas novas que seriam encontradas 1900 anos depois, apenas nas publicações e revis-tas de um determinado movimento religioso. Aquelas boas novas originais, ouvidas no primeiro século, continuam sendo as “boas novas eternas” que não precisam de atualização, e que servem de base para “a fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos.”85

 

1         2 Coríntios 4:4; Lucas 2:10.

2         Mateus 24:14.

3         Ezequiel 9:1-11; veja A Sentinela de 1º de março de 1985, página 14.

4         A Sentinela, 15 de setembro de 1988, páginas 14, 15.

5         Revelação 14:6.

6         Por exemplo, em 1961 as Testemunhas de Jeová relataram 900.000 membros e os adventistas 1.200.000 membros. Em 2002, as Testemunhas de Jeová tinham aumen-tado para 6.200.000 e os adventistas para 12.566.000. Os mórmons também cres-ceram na mesma proporção durante este período. Em 2002, a Igreja Mórmom (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) relata um rol de membros de 11.639.000, dos quais _____________ estavam em cerca de ___ países fora dos Estados Unidos. Os critérios para se determinar quem é membro certamente variam ¾  as Testemunhas alistam apenas os que relatam horas no “serviço de campo,” ao passo que outras religiões mencionadas incluem um espectro maior ¾ mas qualquer que seja o padrão, permanece o fato de que a taxa de crescimento ou percentual de aumento numérico é aproximadamente o mesmo.

7         Podemos considerar como apenas um exemplo moderno a religião chamada Igreja de Jesus Cristo, fundada nos anos 20 por Simon Kimbangu no país africano do Zaire. Tinha, há alguns anos, aproximadamente 7 milhões de membros em vários países.

8         Esta média é calculada a partir das horas dos “pioneiros” de tempo integral somadas às dos “publicadores de congregação.”

9         Como na Sentinela de 1º de março de 1985, página 21.

10      Os dados citados nestes parágrafos são tirados dos gráficos dos números de A Sentinela de 1º de janeiro de 1990 e de 1991.

11      Esta regra visava evitar que fossem expulsos do país sob acusação de proselitismo.

12      Veja A Sentinela de 15 de outubro de 1971, páginas 623, 624; 15 de dezembro de 1965, páginas 747, 749; Despertai! de 22 de março de 1964, página 29.

13      Veja, por exemplo, A Sentinela (em inglês) de novembro de 1957, páginas 694, 695.

14      A assembléia realizou-se de 7 a 10 de agosto no Salão de Assembléias das Testemu-nhas de Jeová de Long Island City.

15      Veja a Despertai! de 8 de julho de 1990, página 28.

16      Mesmo na China (onde as Testemunhas mal se estabeleceram) há cerca de 4.000 igrejas protestantes que reabriram desde a violenta Revolução Cultural de 1966-76. Ao todo, cerca de 2,9 milhões de Bíblias foram produzidas na China só desde 1980, e o projeto de 5 milhões de dólares da United Bible Society para 1986 em equipa-mento de impressão aumentou consideravelmente a produção. Em vista das fortes restrições governamentais que permanecem, isto é ainda mais notável. No entanto, os que promovem e realizam esta tarefa são todos classificados, segundo a doutrina da Torre de Vigia, como parte de “Babilônia a Grande,” a grande meretriz e inimiga violenta do cristianismo.

17      Veja as declarações de representantes em altas posições citadas no capítulo 6, páginas ___, ___, ___, ___, ___, dizendo que relatar horas e “colocar” literatura são geralmente os objetivos da maioria dos “publicadores.”

18      Evidência adicional desta ineficácia é vista, sem dúvida, na incrível quantidade de tempo gasto mundialmente cada ano em comparação com o número de pessoas batizadas. Durante os dez anos de 1981 a 1990, levou-se em média 3003 horas de serviço de campo para cada pessoa levada ao batismo. Isto é equivalente a gastar 8 horas por dia durante 375 dias para encontrar e levar uma pessoa ao batismo. A média de 1990 era mais que o dobro da média durante os anos 50 (a média então era de 1283 horas de serviço de campo por pessoa batizada).

19      Memorando de Dallas F. Wallace, que ainda é ancião proeminente e figura destacada na aquisição de propriedades pela organização.

20      De um memorando entregue por Charles F. Leibensperger, de 1º  de março de 1978. Ele é um ex-membro do pessoal da sede mundial e ainda é um ancião destacado.

21      Certa ocasião, quando havia um grande estoque de certa publicação, embora esse livro tivesse sido estudado anteriormente por todas as congregações nos grupos “de estudo de livro,” a sede mundial voltou a programar o uso dessa publicação, sabendo que o número de pessoas novatas que nesse ínterim tinham começado a se associar levaria grande parte senão todo o estoque. A necessidade de acabar com aquele estoque determinou como centenas de milhares de pessoas gastariam muitas horas no seu estudo. O que as necessidades espirituais delas de fato indicavam como apropria-do não foi o fator determinante.

22      2 Coríntios 4:4.

23      A Sentinela, 15 de outubro de 1983, páginas 16-21; 1º de maio de 1982, páginas 8-11. Embora celestial deverá ter representantes terrestres, “príncipes,” incluindo pro-eminentes servos de Deus do período pré-cristão e homens “qualificados” dentre as Testemunhas dos tempos modernos. Veja A Sentinela de 15 de agosto de 1989, página 17; Está Próxima a Salvação do Homem da Aflição Mundial! (1975), páginas 360-365.

24      A preocupação em traçar tais comparações está sem dúvida implícita na referência ao Reino como não sendo simplesmente um “governo” mas “um governo real,” um arranjo governamental real.” Veja, por exemplo, Raciocínios à Base das Escrituras, página 298; A Sentinela de 1º de novembro de 1982, páginas 9 e 10.

25      Exemplos podem ser vistos em Brilhando Como Iluminadores no Mundo (um manual de 1977 para Testemunhas “pioneiras”), páginas 108-110; e A Sentinela de 15 de junho de 1988, página 5; A Sentinela de 1o de novembro de 1981, página 10, traz uma gravura das capitais políticas americana, britânica e soviética, e uma montanha simbolizando o Reino, junto com a legenda, “O governo celestial do Reino é tão real quanto os governos humanos.” A Sentinela de 1º de janeiro de 1991, página 4, declara que a “nação” das Testemunhas ultrapassava então em população “umas 60 das 159 nações-membros das Nações Unidas.”

26      Veja o capítulo 12, páginas ___-___.

27      Esta aura de impressionante autoridade governamental é reforçada pelo ensino de que os “qualificados” dentre estes anciãos se tornarão “príncipes” no Novo Mundo. As palavras de Judas sobre “desconsiderar o senhorio, e falar de modo ultrajante dos gloriosos” são também aplicadas aos “seguidores ungidos de Cristo que servem fiel-mente quais superintendentes cristãos designados,” e aos “homens responsáveis da congregação,” advertindo contra deixar de mostrar submissão a estes homens como “os gloriosos” mencionados. Veja A Sentinela, 15 de fevereiro de 1983, páginas 28, 29; 15 de julho de 1979, página 4.

28      O Índice das Publicações da Torre de Vigia 1960-1990, página 829, debaixo de “Reino” traz os subtópicos “bênçãos para os súditos terrestres.” Em suas referências encontram-se itens como “paternidade de Jesus Cristo,” “prosperidade espiritual” e “relação com Jeová,” mas estes constituem uma pequeníssima fração de aproximada-mente 43 listagens. A maioria é sobre assuntos como “abundância de alimentos,” “administração da economia,” “bebês saudáveis,” “deficiências físicas eliminadas,” “depressão curada,” “desertos florescerão,” “ecologia restaurada,” “equilíbrio popu-lacional,” “fim da escravidão econômica,” “fim da pobreza,” “fim da poluição,” “fim do crime,” “florestas restauradas,” “forças naturais controladas,” “paz com animais,” “prosperidade espiritual” e assim por diante. O que predomina nestas listagens reflete exatamente a ênfase dada à prometida satisfação dos desejos materiais e físicos conforme mostram os livros e revistas.

29      Compare Atos 8:12 com Atos 5:42, 8:4, 5, 35.

30      O termo “reino” conforme se acha nas Escrituras Cristãs vem do termo grego basiléia, que não tem o sentido moderno de “governo” que a Sociedade Torre de Vigia gostaria de atribuir-lhe. Como afirma o Theological Dictionary of the New Testament, o termo “refere-se ao ser, natureza ou condição de um rei, i. e., à sua dignidade, e secundariamente à expressão disto no território que ele governa. O sentido de dignidade prevalece na LXX, em Filo e no NT.” O foco é numa pessoa, assim como nas terras orientais o reino residia (como poder e autoridade) na pessoa do rei. Obras de referência, de modo geral, combinam-se para mostrar que o sentido é o de “realeza” ou “reinado,” não é a idéia governamental organizacional que as pessoas fazem hoje. Embora o significado do termo basiléia possa também referir-se ao domínio no qual o poder régio é exercido, este sentido é secundário.

31      Compare Lucas 19:11-15; Revelação 12:10; deve-se notar que nos versículos 12 e 15 do texto de Lucas a Tradução do Novo Mundo verte basiléia por “poder régio,” enquanto as notas de rodapé de certas edições mostram a tradução alternativa de “reino.” O homem nobre da parábola de Lucas19 não viajou para um país distante para receber um “governo” e voltar com ele, mas com a realeza e autoridade real.

32      1 João 2:1, 2; considere também a pregação de Pedro em Pentecostes e ao falar aos gentios na casa de Cornélio, conforme registrado em Atos 2:14-36; 10:34-43.

33      1 Coríntios 2:2; confira 2 Timóteo 2:8.

34      Revelação 1:1 diz que a revelação dada a João era para mostrar “as coisas que têm de ocorrer em breve.” Todavia, embora suas visões freqüentemente apontassem para o futuro, especialmente com relação aos atos finais do julgamento de Deus, a leitura de Revelação demonstra que muitas das coisas declaradas ou já tinham ocorrido ou estavam acontecendo na ocasião. Os capítulos 2 e 3, como só um exemplo, tratam das condições das sete congregaçãos da Ásia Menor, condições que existiam na época, e não algo futuro. As visões no capítulo 4 da glória celestial de Deus, do cordeiro sacrificial que compra a humanidade, não eram de situações ou eventos futuros, eram de situações e eventos que se davam na ocasião. O “rio de água da vida” de Revelação capítulo 22 estava certamente fluindo na época, de modo que o convite a “quem quisesse” para vir e “tomar de graça a água da vida” não precisava aguardar até o futuro distante, mas já estava sendo estendido à pessoas por meio da divulçação das boas novas. (Revelação 22:1, 2, 17; confira João 4:7-14; 6:35;7:37, 38.) Apenas por comparar as visões com o que se declara nas Escrituras Cristãs pode-se determinar o elemento presente e o futuro e sua aplicação, pois é uma regra sólida que o significado do que é simbólico deve estar sempre em harmonia com o que real e claramente se afirma em outras partes, nunca o contrário.

35      2 Pedro 3:13.

36      Romanos 5:10; 8:7; Lucas 16:9; confira Tiago 2:23.

37      2 Coríntios 6:16; veja também 1 Coríntios 3:16.

38      1 Pedro 2:10.

39      Podemos observar também que em Hebreus, capítulos 8 a 10, o escritor inspirado mostra que o primitivo tabernáculo terrestre, no qual Deus estava simbolicamente presente entre o seu povo de Israel, retratava a “tenda” maior, celestial de Deus, e diz que isto era uma “ilustração para o tempo designado que agora chegou.” (Hebreus 9:9) Ele prosseque deixando claro que a tenda celestial já estava em seu lugar e que Cristo, como sumo sacerdote “das boas coisas que se realizaram,” estava então ministrando ali em favor da humanidade pecadora.

40      Efésios 2:1

41      Romanos 5:21; 6:4.

42      1 João 3:14

43      João 3:36; 5:24, 39, 40; 6:47; 20:31.

44      João 11:26; confira Romanos 6:9-11

45      Isaías 61:1-3, NVI.

46      Lucas 4:18-21

47      Lucas 6:21-23; confira Tiago 1:2, 9, 12.

48      Veja The New Englishman’s Greek Concordance and Lexicon, página 738.

49      A Jerusalem Bible a traduz por “tristeza.”

50      Mateus 11:28-30.

51      Mateus 23:1-4; 12:1-13; 15:1-11; podemos observar que em Atos 15:10 o apóstolo Pedro também fala da própria Lei como um “jugo que nem os nossos antepassados nem nós somos capazes de levar.” Cristo os libertou deste pesado jugo.

52      Revelação 21:4, 5.

53      2 Coríntios 5:17.

54      Hebreus 8:7-10; 1 Pedro 1:3; Romanos 6:11; 7:6; 8:10-14; Efésios 2:14-18; 4:22-24; Colossenses 3:9, 10; Hebreus 10:19-22.

55      1 Pedro 2:4-9; 1 Coríntios 11:3; 1 Timóteo 2:5, 6.

56      Colossenses 1:13.

57      Efésios 2:6.

58      Mateus 5:5, 9.

59      Romanos 8:14-17; Gálatas 3:29; 4:4-6; 1 Coríntios 10:26; Salmo 24:1; 1 Coríntios 10:25, 26.

60      1 Coríntios 3:21-23; Romanos 8:17; Gálatas 4:6, 7.

61      1 Pedro 2:9.

62      Este entendimento da frase grega é indicado também na tradução da Septuaginta grega de Êxodo 19:6, onde aparece a expressão habraica “um reino de sacerdotes”; veja The Expositor’s Greek Testament, Vol. 5, página 57.

63      Como mostra a leitura interlinear da Kingdom Interlinear Translation of the Greek Scriptures, o verbo traduzido por “reinar” está na forma participial do grego: “estão reinando.”

64      Confira 1 Coríntios 4:8; Revelação 3:17, 18.

65      Isaías 40:15, 17; Daniel 4:35; Atos 17:30, 31.

66      Jeremias 1:9, 10; Isaías 55:11; 44:26; Romanos 4:17.

67      Hebreus 1:1, 2; João 12:48.

68      Mateus 28:18-20; Atos 13:44-48; 28:23-28.

69      Romanos 8:31-39, NVI.

70      1 Coríntios 2:1, 2.

71      Romanos 5:21

72      Hebreus 10:1-4.

73      Hebreus 4:3, 10.

74      Hebreus 4:14-16.

75      Hebreus 8:10-13; Gálatas 4:6-9.

76      As publicações da Torre de Vigia têm usado as palavras de Zacarias 8:23 quanto a ‘dez homens dentre todas as línguas das nações agarrarem a veste dum homem judeu,’ aplicando-as à “grande multidão” de pessoas não-ungidas que figurativa-mente agarraram a veste do “restante ungido” das Testemunhas de Jeová, e, utili-zando Revelação 3:9, as publicações dizem sobre estes não-ungidos que “vêm aos irmãos ungidos de Jesus e ‘se curvam’ diante deles, em sentido espiritual, porque ‘ouviram que Deus está com eles,’” e eles “ministram a estes ungidos.” Veja  Revelação — Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, páginas 60, 61; também A Sentinela de 1o de janeiro de 1988, página 16; Segurança Mundial sob o “Príncipe da Paz” (1986), páginas 88, 89.

77      Contraste Êxodo 30:30-33; Levítico 2:1, 2; 17:1-5; Números 4:15, 17, 18; 18:7 com 1 João 2:20; Hebreus 4:14-16; 8:1, 2, 10-12; 10:19-22; 13:15, 16.

78      A Sentinela, 15 de agosto de 1989, páginas 30, 31.

79      Deuteronômio 17:8-13.

80      Crise de Consciência, páginas ___, ___.

81      A pessoa que transmitiu esta informação da Austrália imigrou para lá da Alemanha. Ele escreveu que ao ouvir esta declaração sobre a autoridade da organização de fazer o “verde” tornar-se “preto,” feita por um superintendente de distrito em uma reunião para anciãos, ele murmurou consigo mesmo, “Heil Hitler!”

82      Veja A Sentinela de 1o de abril de 1973, páginas 222-223; 1o de julho de 1973, páginas 401, 402; Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 3, página 682.

83      Efésios 2:11-18, NVI.

84      Veja “Caiu Babilônia, a Grande!” O Reino de Deus já Domina!, páginas 232, 233. O livro mais recente Revelação — Seu Grandioso Clímax Está Próximo, página 296, diz similarmente sobre os sobreviventes do Armagedom, “o julgamento deles tem de continuar durante os mil anos, ao passo que Jesus prossegue guiando-os a “fontes de águas da vida.”

85      Revelação 14:6; Judas 3.