18

 

            Uma Congregação de Pessoas Livres


 

Persisti em falar de tal modo e persisti em proceder de modo tal como os que hão de ser julgados pela lei dum povo livre.

¾ Tiago 2:12.

 

E

LES TINHAM chegado a um brusco e penoso despertar. As coisas onde encontravam sensação de segurança ¾ as rotinas religiosas e a sensação de justiça que estas lhes proporcionavam, as pessoas a quem mais reverenciavam e a quem viam como guias religiosos, de fato, toda a estrutura de autoridade que governava sua vida religiosa ¾ viram que tudo isto estava seriamente em falta, que os havia conduzido ao erro com conseqüências potencialmente fatais. E a abalada reação deles fora: “Irmãos, o que havemos de fazer?”

O apelo vem do primeiro século. Foi feito por pessoas que tinham ouvido Pedro deixar claro que a estrutura de autoridade religiosa que eles viam como representação de Deus tinha não só se oposto ao homem que falava a verdade de Deus, mas por fim aprovado sua eliminação. Eram agora exortados a repudiar a ação daquele corpo governante religioso, a ação que tinha apoiado e da qual se havia tornado cúmplice, e a serem batizados exatamente em nome daquele que fora violentamente eliminado.1

Não vivemos hoje as circunstâncias históricas daquelas pessoas. Não tivemos entre nós o próprio Messias de Deus, e nenhuma estrutura de autoridade religiosa pode hoje declará-lo rejeitado do modo exato que fez o Sinédrio do tempo de Jesus. Apesar disso, todos nós estamos em posição de mostrar pessoalmente que rejeitamos a ação que na época se tomou contra ele, e que nele depositamos agora plena fé como nossa esperança de vida dada por Deus. Iguais a Pedro e aos outros apóstolos, podemos dizer as palavras que eles disseram ao corpo governante religioso do seu povo: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens.”2 Podemos mostrar que aceitamos o Filho dele como nosso único Cabeça, designado por Deus, o Condutor de nossas vidas. A questão é: como fazemos isto? Naquelas palavras do primeiro século: “Irmãos, o que havemos de fazer”?

 

Servir a Deus ¾  o que está envolvido

 

Se lermos o relato que acompanha estas palavras, bem como o resto das Escrituras Cristãs, veremos que não apresentam o cristianismo como forma de vida e adoração voltada para instituições ou edifícios; não é definido por credos ou códigos de lei. Tampouco se centraliza em atividades específicas vistas de modo especial e distinto como devotas e religiosas, que tenham, aos olhos de Deus, maior mérito que outras atividades que não são assim classificadas. É um modo de vida que abrange toda a vida e todas as atividades da vida. Lendo as palavras do Filho de Deus e os escritos de seus apóstolos, constatamos que não é uma questão de pertencer a um sistema religioso, praticando certos atos religiosos em certas ocasiões e certos locais, mas aquilo que somos como pessoas em nossa vida diária é que mostra se somos seus seguidores  ou não seguidores. Apenas por isto ser verdade é que seu apóstolo pôde dizer: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome [como representante do, Living Bible] do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” Ele pôde mesmo dizer àqueles que então eram escravos: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança.”3
Creio que por não perceberem isto é que muitos que se desligaram de uma organização religiosa autoritária, legalista e voltada para obras (e destas há várias) sentem-se muitas vezes perplexos quanto a como encarar a questão de servir a Deus em sua nova condição de liberdade. Em 1976, como membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, fui designado para elaborar matéria sobre o assunto do “serviço sagrado.” Os artigos resultantes foram intitulados “Apreço do Tesouro do Serviço Sagrado” e “Preste Serviço Sagrado Noite e Dia.”4 Em grande parte, a matéria analisava o significado do termo grego latreuo, traduzido como “prestar serviço sagrado” na Tradução do Novo Mundo (geralmente “servir” ou “adorar” em outras traduções). Ambos os artigos apresentavam evidência bíblica de que servir a Deus não é algo restrito a determinadas atividades, tais como pregar ou assistir a reuniões, algo que se deve praticar em certas ocasiões específicas especiais, em certos locais ou de maneiras especiais, mas é todo-abrangente, algo para se viver, um serviço que ocupa toda a vida. Mostravam que as Escrituras falam de “sacrifícios a Deus” que incluem não só o “sacrifício de lábios que fazem declaração pública do seu nome,” mas também “fazer o bem e partilhar as coisas com outros, porque Deus se agrada bem de tais sacrifícios.”5 Este parágrafo é típico (página 338):

       [SCAN da Sentinela de 1º de junho de 1977, p. 338]

 

9 O “serviço sagrado”, portanto, não é algo que ocupa apenas parte de nossa vida. Não se limita apenas a uma só atividade ou a certo número de atividades, mas abrange todo aspecto de nossa vida diária. Em suma, significa ‘fazer todas as coisas como para Jeová, quer comer, quer beber ou fazer qualquer outra coisa’. (1 Cor. 10:31) Mostrando quão inclusivo esse serviço deve ser, o apóstolo diz em Romanos 12:1, 2: “Eu vos suplico, irmãos, pelas compaixões de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e aceitável a Deus, um serviço sagrado com a vossa faculdade de raciocínio. E cessai de ser modelados segundo este sistema de coisas.”
 
Em harmonia com isto, após afirmar que “há muitas coisas envolvi-das, mas nosso objetivo, nosso alvo e nossa motivação de coração são fatores-chaves para sabermos se o que fazemos realmente é ‘serviço sagrado’ou não,” o segundo artigo de A Sentinela mostrou que grande parte do serviço sagrado dos pais envolvia seus filhos, “uma herança da parte de Jeová” e “santos” para Ele.6 O cuidado dos pais com os filhos era um dos aspectos “noite e dia” do seu serviço sagrado. Os cônjuges prestam serviço sagrado mantendo o casamento honroso, na relação entre ambos, trabalhando para o êxito de seu casamento.7 Uma dona de casa pode trabalhar no lar como “para o Senhor” e contribuir para que outros apreciem as boas novas pela qualidade de sua vida doméstica, sua hospitalidade, sua bondade e por ser boa vizinha.8  Os homens podem promover e trazer crédito às boas novas pelo modo como realizam seu trabalho diário, pondo o coração no que fazem “como para o Senhor e não para homens.”9 Quando se faz algo com esse espírito, como pode isso ser outra coisa senão servir a Deus?
Muitos acharam esta informação revigorante, dizendo que ela deu maior sentido às suas vidas e os fez sentir que há outras coisas que contam, além do “serviço de campo” e da assistência às reuniões. Porém, nem todos gostaram. Após algum tempo, alguns superinten-dentes viajantes, cuja tarefa principal era (e é) incentivar o “serviço de campo,” se queixaram ao Departamento de Serviço de que a perspectiva apresentada prejudicava a promoção desta atividade. Colocar outros aspectos da vida em pé de igualdade com o “serviço de campo” diminuía a importância do trabalho deles e tirava-lhes parte da força quando pediam ‘mais horas no campo.’ Pessoalmente, não soube de outros que expressaram objeções.
Em 1980, pouco após minha renúncia ao Corpo Governante, outra série de artigos veio na Sentinela (em inglês) de 15 de agosto, desti-nada a reaplicar a expressão “serviço sagrado” apenas a coisas como serviço de campo e assistência às reuniões. Estes artigos frisavam o fato, e na verdade nele baseavam muito da argumentação, de que para os judeus da época pré-cristã “o serviço sagrado sempre se relacionava com a adoração em obediência ao pacto da Lei” e “não se referia às coisas quotidianas do povo.”10 Argumentava que já que outros, além das Testemunhas de Jeová, comem, trabalham, limpam suas casas e obedecem às autoridades, como era possível que fazer essas coisas fosse considerado prestação deste tipo de serviço a Deus? Não, só atividades “especiais,” “fora do comum,” tais como publicar a mensa-gem das publicações da Torre de Vigia e assistir às reuniões em que elas são estudadas, mereciam ser consideradas como serviço sagrado a Deus. Desprezava qualquer idéia de que a motivação pudesse fazer alguma diferença e conferir valor espiritual a ações de natureza comum de modo a transformá-las em serviço sagrado a Deus, fazendo dessas atividades uma expressão de nossa adoração a Deus.

A seção “Perguntas dos Leitores” da mesma edição apoiou-se nesta argumentação da comparação com o serviço dos israelitas sob o antigo pacto da Lei. Buscou também descartar a idéia de que quando um homem trabalha, cuida da família e do lar, ou de atividades similares, ele esteja prestando um “serviço sagrado” a Deus. Não, tem de ser “algo fora do comum.” De fato, o artigo trazia uma lista autorizada deste tipo de atividades. As principais eram: pregação (“serviço de campo”), assistência às reuniões, estudo familiar e consideração do texto diário da Torre de Vigia, serviço de pioneiro e missionário, serviço de Betel (na sede mundial ou numa filial), serviço de superintendente viajante, ancião ou servo ministerial. Assim, por definição, se um pai dirige um estudo bíblico formal com a esposa e os filhos (e isto sempre é feito com o uso de uma publicação da Sociedade Torre de Vigia), isto é serviço sagrado, serviço a Deus (pode também incluir a hora gasta em seu “relatório de serviço de campo”). Se o pai gasta tempo informalmente em simplesmente conversar com o filho sobre sua vida e atividades diárias ― examinar o que pensa, deixar que expresse suas idéias, sentimentos e interesses, ajudá-lo em seus problemas escolares ou a desenvolver uma atitude saudável para com a vida, ou ensinar-lhe habilidades que o preparem para a vida adulta como cristão responsável ― isto não é considerado parte do “serviço sagrado” a Deus. Este conceito rígido é, sem dúvida, uma das principais razões do inegável fraco desempenho das Teste-munhas de Jeová quanto a fazer os jovens permanecerem na organi-zação depois de atingirem à maioridade. Recordo que quando fui enviado a Belize, país da América Central, nos anos 70, um dos representantes da organização ali, informou-me, por sua iniciativa, que de todos os rapazes que tinham sido criados como Testemunhas naquele país, nenhum tinha até então continuado na organização. Embora este seja um caso extremo, o fato é que em todos os países o número de jovens que deixam a organização quando atingem a idade adulta é desproporcionalmente elevado.

O efeito destes decretos organizacinais sobre a perspectiva mental das Testemunhas  ― definindo ‘o que é e o que não é serviço sagrado a Deus’ ― é ilustrado pelo que ocorreu quando os artigos acima mencionados foram considerados no Salão do Reino em Gadsden, Alabama. No final do estudo, o ancião que dirigia o estudo de A Sentinela, Tim Gregerson, fez uma pergunta à assistência. Ele disse: “Suponhamos que haja na congregação uma irmã cujo marido morreu e esteja passando por um período difícil, e um de nós vai ajudá-la com seus problemas. Seria isso ‘serviço sagrado’?” No início não houve resposta, mas finalmente uma pessoa se ofereceu para responder e disse: “Não, isso não seria serviço sagrado.” Tim então destacou que os artigos tinham enfatizado o aspecto religioso da “adoração” envolvido no “serviço sagrado” e aí  recordou à assistência as palavras do discípulo Tiago:

 

A forma de adoração que é pura e imaculada do ponto de vista de nosso Deus e Pai é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas na sua tribulação, e manter-se sem mancha do mundo.11 

 

Ele então afirmou que Tiago descreve especificamente o cuidar desta irmã viúva como “adoração,” de modo que isto certamente era “serviço sagrado.”12  Estando presente, chamei também a atenção para a referência a “serviço sagrado” no capítulo 13 de Hebreus, que inclui fazer o bem e mostrar bondade para com outros como “sacrifícios” que o cristão oferece num altar espiritual. Típica, porém, do efeito desta matéria sobre muitas Testemunhas, foi a declaração de outro ancião, Dan Gregerson.13 Após ouvir a evidência bíblica já mencio-nada, ele mostrou-se insatisfeito e disse: “Gostaria de chamar a atenção dos irmãos para a “Pergunta dos Leitores” no final desta revista, e ali a Sentinela mostra exatamente o que realmente é ‘serviço sagrado.’” Não refutou biblicamente o que fora dito, mas para ele o fator decisivo era claramente aquilo que A Sentinela dizia.

De fato, embora não a colocasse na lista de ações definidas como “serviço sagrado,” a “Pergunta dos Leitores fez breve menção da declaração de Hebreus sobre ‘fazer o bem e partilhar coisas com outros,’ dizendo que isso incluía prestar assistência quando “nossos irmãos [co-Testemunhas] estão padecendo necessidades, sofrem calamidade ou estão em apuros.”14 Mas, assim como A Sentinela limitava arbitrariamente a oferta de “sacrifício de louvor” a Deus à “pregação pública,” também restringia-se ‘fazer o bem’ e ‘partilhar coisas boas’ às limitações acima, como se aplicando apenas ao socorro prestado às co-Testemunhas, não a outros.

Todavia, a própria Bíblia não impõe tais limites ao significado da expressão ampla “fazer o bem.” Tampouco o faz com relação à referência igualmente não específica sobre “partilhar com outros.”15 De novo, o efeito desta definição “autorizada” que limita a expressão apostólica apenas à ajuda especial ou emergencial aos de sua própria religião, contribui para que muitas Testemunhas manifestem uma atitude muito indiferente, às vezes mesmo fria, distante, para com vizinhos e pessoas de sua comunidade, atitude bem semelhante à do sacerdote e do levita na parábola que Jesus deu em resposta à pergunta: “Quem é o meu próximo?” Aquelas pessoas religiosas, ativas no “serviço sagrado,” tinham coisas mais importantes a fazer que se preocupar com um próximo em dificuldades, e foi um samaritano, um homem de uma religião diferente, que veio em socorro da pessoa em dificuldade, que mostrou ser o verdadeiro próximo.16 A atitude estrita anunciada não se harmoniza com o ensino de Jesus:

 

Sede filhos de vosso Pai celestial, que faz seu sol levantar-se tanto sobre os maus como sobre os bons, e envia a chuva sobre os honestos e os desonestos. Se amais apenas os que vos amam, que recompensa podeis esperar? Certamente que os cobradores de impostos fazem isso também. E se cumprimentais apenas os vossos irmãos, que há nisso de extraordinário? Até os pagãos fazem isso. Não deve haver limites à vossa bondade, assim como a bondade de vosso Pai celestial não conhece medidas.17
 
A matéria da Sentinela de 1981 empenha-se toda em pôr o serviço a Deus numa categoria separada das atividades da vida. Tenta fazer diferença entre “serviço” e “serviço sagrado” a Deus, restringindo o último a ações de natureza bem distintiva e incomum. É verdade que o termo específico em questão (latreuo) só é usado nas Escrituras com referência a “serviço a Deus (ou a um deus ou deuses).”18 Para os pagãos, tal serviço envolvia coisas feitas nos templos, em edifícios especiais, rituais especiais e ofertas especiais a seus deuses. Para o povo judeu, aplicava-se geralmente a atos realizados em cumprimento do pacto da Lei, incluindo cerimônias, sacrifícios, festividades sagradas e serviço sacerdotal. Tudo isto é evidente. A coisa notável no cristianismo, porém, é exatamente o fato de que o serviço a Deus é muito mais amplo,muito mais abrangente, e não se limita a atividades realizadas em certos edifícios ou de formas prescritas, que afetam apenas parte da vida da pessoa.
O autor dos artigos da Sentinela de 1981 está certo quando diz que, “para os judeus, o serviço sagrado sempre se relacionava com a adoração em obediência ao pacto da Lei.” Está errado quando afirma que isto descarta sua aplicação a “esses atos básicos e essenciais da vida humana.” Enquanto a “obediência ao pacto da Lei” de fato incluía algumas das atividades “fora do comum,” distintas das atividades quotidianas, a obediência àquele pacto da Lei também incluía muitas coisas que eram parte da vida diária dos israelitas. O pacto da Lei não prescrevia meramente sacrifícios periódicos de animais, jejuns, festividades sagradas e cerimônias, mas requeria também a prática diária de imparcialidade, justiça, retidão, honestidade e compaixão nos tratos quotidianos entre eles. Suas leis requeriam a bondade não só para com co-israelitas, mas também para com escravos e residentes estrangeiros, e até a consideração com animais e pássaros.19 Todavia, os israelitas comumente minimizavam estes fatores em favor dos aspectos mais cerimoniais e distintamente religiosos, orgulhando-se deles como prova de sua devoção a Deus, em vez daqueles ligados aos aspectos diários da vida. O artigo da Sentinela segue linha semelhante, mostra o mesmo ponto de vista equivocado.

Diante do fato de que os apóstolos de Jesus Cristo de fato falaram de “atos básicos e essenciais da vida humana” como “feitos para com o Senhor” e “feitos para a glória de Deus,” o escritor de A Sentinela se apóia numa distinção errônea entre serviço a Deus e serviço sagrado a Deus. Como pode o serviço a Deus ser outra coisa senão sagrado? É como se Deus atribuísse um prêmio, um valor maior, aos atos especiais em vez dos atos diários, ao incomum em vez do costumeiro. Jeová, ao repreender Israel, mostrou claramente que não é assim. Mostrou que a prática diária da misericórdia, compaixão e justiça era sempre de maior valor para ele que os atos especiais que os israelitas achavam distintamente “sagrados.” Conforme Ele disse:

 

Pois, agrado-me da benevolência e não do sacrifício; e do conhecimento de Deus antes do que de holocaustos.20

 

Quanto a este “conhecimento de Deus,” através de seu profeta Jeremias, Jeová pergunta ao filho do rei Josias:

 

Quanto a teu pai, acaso ele não comeu e bebeu, e executou o juízo e a justiça? Neste caso ia-lhe bem. Ele pleiteou a demanda judicial do atribulado e do pobre. Neste caso ia bem. “Não era este o caso de conhecer-me?” é a pronunciação de Jeová.21

 

Assim como as pessoas clamavam em Pentecostes, “Irmãos, o que havemos de fazer?”, também os israelitas perguntavam como prestar serviço aceitável a Deus. Por meio de seu profeta Miquéias, Jeová apresentou a pergunta deles e resumiu a questão deste modo:

 

Com que eu poderia comparecer diante do SENHOR [Jeová] e curvar-me perante o Deus exaltado? Deveria oferecer holocaustos de bezerros de um ano? Ficaria o SENHOR [Jeová] satisfeito com milhares de carneiros, com dez mil ribeiros de azeite? Devo oferecer o meu filho mais velho por causa da minha transgressão, o fruto do meu corpo por causa do pecado que eu cometi?

Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o SENHOR [Jeová] exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus.22

 

O redator da Sentinela minimiza a importância da motivação como algo capaz de converter atos corriqueiros em serviço sagrado a Deus. Pode-se, todavia, ver a importância da motivação mesmo naqueles tempos pré-cristãos, do pacto da Lei, pois foi precisamente a falta da motivação correta de coração (evidenciada por seus tratos injustos e desamorosos com outros na sua vida diária) que fez Deus “detestar” os próprios atos de “serviço sagrado” — sacrifícios, observância de dias santos, festividades e jejuns — realizados pela maioria da nação judaica.23 Isto ocorreu apesar de aqueles serem atos especiais, “fora do comum,” relacionados com a “adoração em obediência ao pacto da Lei,” como diz o artigo da Sentinela. Jeová deixou claro que sem a motivação correta na vida diária e no curso diário das atividades, todos os sacrifícios, festividades e outros serviços perdiam todo o sentido ou valor.

O novo pacto resulta em a lei de Deus ser escrita nos corações, e essa lei não é um código mas é a lei do amor e a lei da fé, fatores que devem exercer, e de fato exercem, um papel na vida como um todo, e não só durante épocas especiais. É isto que habilita, não só pessoas de uma classe especial sacerdotal, mas qualquer pessoa a oferecer a ‘si mesma em sacrifício vivo em serviço a Deus,’ de modo que toda a sua vida seja de adoração a Deus.24 Deve ser óbvio que a abrangência da oferta não dá margem a que o “sacrifício vivo” seja algo que a pessoa liga ou ativa, em certas épocas em certas atividades, e desliga ou desativa, em todas as outras épocas e em todas as outras atividades. Basta ler o restante de Romanos capítulo 12 para entender que, após a exortação do apóstolo a seus irmãos para ‘se oferecerem como tal sacrifício vivo,’ ele considera um espectro bem amplo de atividades. As relações pessoais com outros, expressões de afeição e humildade, hospitalidade e bondade, vivendo em paz com “todos os homens,” não só dentro da comunidade cristã mas fora dela, fazem todos parte deste “sacrifício vivo.” Quando oferecem todo o seu ser, eles estão dando não só certas horas mas suas vidas inteiras a Deus. Em tudo isto mostram que não ‘se conformam ao mundo’ mas dão em sua vida diária e em seus tratos com outros, exemplo dos padrões e princípios ensinados pelo Filho de Deus. Como prova de que a insistência da Sentinela de 1981 na aplicação muito estrita do termo grego latreuo não tem fundamento do ponto de vista lexicográfico, The New International Dictionary of New Testament Theology, comenta deste modo o uso de latreuo pelo apóstolo em Romanos 12:1:

 

Envolve a dedicação da pessoa inteira a Deus de um modo que é racional, abrangendo toda a mente, e prático, alcançando os aspectos práticos da vida diária na igreja e no mundo.25

 

Em parte alguma o apóstolo alista “serviço de campo,” assistir a reuniões, servir numa sede religiosa institucional ou qualquer uma de tais atividades como aquela que define que alguém está oferecendo este “sacrifício vivo.” O conceito de serviço a Deus, de adoração, em que insiste a organização Torre de Vigia, na realidade nada mais é que uma regressão a um ponto de vista pré-cristão, não meramente ao tempo do pacto da Lei, mas a um conceito nocivo típico de uma atitude voltada para a Lei, voltada para obras. Este diminui o papel do coração — e toda a sua espontaneidade — pela ênfase às formas e funções prescritas e regulamentadas como o critério para determinar aquilo que se classifica ou não como “serviço a Deus.” Retrocede ao tempo anterior à introdução da “liberdade pela qual Cristo nos libertou.” Entre as religiões atuais, a organização Torre de Vigia não é a única a fazer isso.

Foi um conceito similar, distorcido e anacrônico, do que envolvia o serviço cristão a Deus que, nos séculos seguintes ao período apostólico, levou à idéia de que participar na “adoração” significava “ir à igreja,” e isso elevou o que se fazia “na igreja” a um nível espiritual superior ao que o crente podia fazer fora da “igreja.” Em conseqüência, os edifícios onde se realizavam os “serviços da igreja” assumiram um caráter sagrado especial. Isso gerou o conceito de que o homem que era sacerdote ou ministro vivia uma vida espiritual de nível mais elevado e maior mérito espiritual do que a alcançada pelo homem comum, tal como o pai de família que por meio de seu trabalho mantinha sua família. O sacerdote ou ministro era proeminentemente “um homem de Deus.” Os outros eram do laikos (que significa “do laos ou povo”), e assim criou-se a divisão clero-leigos. Este mesmo conceito eventualmente exaltou o celibato, praticado por sacerdotes, monges e freiras, como condição espiritual superior, e “indiretamente depreciou o casamento... como uma condição imperfeita, de segunda classe.” Embora a Reforma corrigisse algumas das distorções neste respeito, muito disso ainda permanece.26 

 
Uma transição difícil

 

Em grande parte, a carta bíblica aos Hebreus foi escrita para ajudar as pessoas a ajustar-se a uma perspectiva nova e superior. Para aqueles a quem a carta se dirigia, o cristianismo representava uma mudança notável e difícil. Exigia que abandonassem muitos conceitos estereotipados que ao longo da vida tinham dominado suas mentes com relação a adorar a Deus. Creio que entre os cristãos professos, mesmo hoje, a maioria se restringe pelos vestígios da mesma atitude que bloqueava, àqueles a quem a carta foi escrita, o apreço pela superioridade do cristianismo. Muitas pessoas passam hoje por um conflito comparável ao vivido no primeiro século, e sentem igual falta de confiança quanto ao rumo que tomam. Estão inseguros quanto aos valores que devem guiar suas decisões com relação ao modo pelo qual buscam servir a Deus. Embora as circunstâncias atuais difiram em sua origem histórica, creio que grande parte do problema enfrentado por muitos vem da falta de compreensão da lição essencial vista nessa carta do primeiro século. As pessoas podem, pelo menos, obter consolo em saber que qualquer que seja o conflito que agora estejam enfrentando, este de modo algum é maior que o daqueles a quem foi dirigida a carta aos Hebreus. Em sua introdução à carta aos Hebreus, The Expositor’s Greek Testament faz estas observações perspicazes:

 

O objetivo do escritor... era revelar o verdadeiro significado de Cristo e Sua obra, e assim remover os escrúpulos, hesitações e suspeitas que assustavam a mente do cristão judaico, embaraçando-lhe a fé, reduzindo-lhe o usufruto e rebaixando-lhe a vitalidade.... Uma transição de igual importância e cercada de tanta obscuridade que os homens raramente, se é que tanto, foram chamados a fazer... Tendo se criado numa religião de que estava persuadido ser de autoridade divina, o judeu era agora convocado a considerar grande parte de sua crença e adoração como antiquada. Acostumado a orgulhar-se de uma história assinalada em várias etapas por visitas angélicas, vozes divinas e intervenções milagrosas, ele agora é convidado a transferir sua fé das instituições e costumes veneráveis para uma Pessoa, Pessoa esta cuja glória terrena só é sugerida por sua ausência e na qual aqueles aparentemente mais qualificados nada poderiam descobrir senão a impostura que lhe valeu a morte como malfeitor.

Estimando com extraordinário entusiasmo, como sua herança exclusiva, o Templo com todas as suas conotações sagradas, seu Deus que ali habita, seu altar, seu augusto sacerdócio e todo o seu sistema de ordenanças, ele ainda está obcecado pelo recém-nascido instinto cristão de que falta algo vital em todos estes arranjos e de que para ele estes são irrelevantes e obsoletos...

Para o judeu, em resumo, Cristo deve ter criado tantos problemas quanto os que resolveu... muitos cristãos judeus devem ter passado esses primeiros dias em penosa inquietação, levados a confiar em Jesus por tudo o que sabiam  de Sua santidade e verdade e, no entanto, dolorosamente perplexos e estorvados em obter a confiança perfeita pela inesperada espiritualidade da nova religião, pelo desprezo de seus ex-companheiros de religião, pelo abandono forçado de todos os adornos e glórias exteriores, e pela aparente impossibilidade de encaixar num todo consistente o esplendor do antigo e a simplicidade do novo.27

 

“O esplendor do antigo e a simplicidade do novo...” A verdade é que no antigo havia muito para atrair os sentidos — a vista, o som e o tato — coisas de natureza visível e tangível, para impressionar e até atemorizar. A grandeza e beleza do templo, o tamanho de sua equipe de servidores, os trajes cerimoniais e a atividade dos sacerdotes e levitas quando atuavam em mediação entre o povo e Deus perante seu altar, o som do coral de cantores levitas, a sensação de ir a um lugar onde se acreditava que a presença de Deus era especialmente evidente, de estar assim em comunhão com Ele por meio de oferendas visíveis e tangíveis, acorrer a este local junto com milhares de outros três vezes por ano para as festividades sagradas — simplesmente não havia nada disto na nova fé cristã. Seus seguidores não tinham um só edifício próprio dedicado a fins religiosos, reuniam-se nos lares, não tinham assembléias festivas três vezes por ano, classe ou paramentos sacerdotais, ritos cerimoniais, nem altar visível nem sacrifícios materiais, nem, de fato, símbolos distintivos de qualquer espécie, pois mesmo na celebração da refeição noturna do Senhor as coisas usadas para representar o corpo e o sangue de seu Senhor (e tudo que estava implícito nestas oferendas) eram simples pão e vinho, artigos básicos de mesa. A aparente “simplicidade do novo...”

 
Por que é uma transição difícil ainda hoje
 
No primeiro século muitos obviamente fizeram a transição necessária e aprenderam que servir e adorar a Deus não consistia nem dependia de freqüentar algum lugar especial, um edifício “sagrado”, e nem obtinham algum mérito por isso. Nem o ato de reunir-se com outros era visto como distintamente “religioso,” isto é, algo acima dos outros aspectos da vida deles. Passaram a entender que suas reuniões visavam a edificação mútua e a expressão do amor fraternal, encorajar-se uns aos outros, manifestar apreço uns pelos outros como membros de uma relação familiar debaixo do Filho de Deus, e não prover-lhes um sentimento especial de “religiosidade” ou a sensação de estar “religiosamente limpos” por meio do ato de reunir-se.

Qualquer que tenha sido o progresso neste respeito nos tempos apostólicos, os professos cristãos, nos períodos seguintes, retornaram de modo gradual, mas constante, a muito do que era antigo.Voltaram em grande parte àquilo que atrai os sentidos físicos. Ao longo dos séculos, regrediram aos edifícios sagrados, altares visíveis, uma classe separada de especiais “servos de Deus” (sacerdotes ou ministros) vestidos de modo distinto, e a muitas coisas similares que impressio-nam os olhos, apelam aos ouvidos e podem ser tocadas. Sob a influência sedutora destas coisas, o entendimento era, muitas vezes, suplantado pelo mero sentimento emocional. A refeição noturna do Senhor, caracterizada de início pela intimidade informal e a associação cordial numa expressão de fé compartilhada, convertia-se amiúde numa observância amplamente cerimonial, em que o participante ia a uma autoridade da igreja que, à moda sacerdotal, administrava-lhe o “sacramento.” O povo, os leigos, sentia-se “aco-modado” em sua relação com Deus em virtude de sua regularidade nos serviços religiosos, ou por cumprir certos atos religiosos de modo regular. Isto, junto com o conhecimento de que faziam, coletivamente, parte de um grande sistema religioso, dava-lhes uma sensação de segurança e justiça. Deixavam de apreciar o excelente valor espiritual do que era novo por causa de sua “simplicidade” e mostravam preferência por uma glória exterior igual à das coisas antigas. E, apesar de afirmarem se destacar muito de “outras religiões,” creio que as Testemunhas de Jeová manifestam muitas destas mesmas evidências de retorno a coisas antigas.

Os que se associam com as Testemunhas de Jeová são repetidamente lembrados de que fazem parte de uma grande organização, até mesmo destacando-se que seu número ultrapassa a população de algumas pequenas nações do mundo. Ouvem com  freqüência que, em certas fases da história da organização, Deus trouxe através dela revelações, “verdade revelada,” “nova luz,” tal como fazia através dos antigos profetas. Foram ensinados a viver em estrita obediência a um código de leis incrivelmente extenso, decretado por homens que afirmam fazer isso como representantes de Deus, e que comparam a rejeição a suas normas com a rebelião de Miriam e Aarão contra Moisés. Através das publicações da organiza-ção recebem um fluxo constante de estatísticas de aumento numérico; vêem periodicamente fotos de impressionantes e grandes edifícios em diferentes países, construídos ou adquiridos pela organização, lugares chamados de “Betel,” do hebraico beth el, que significa “casa de Deus.” Muitas destas estruturas igualam ou ultrapassam o terreno do templo de Jerusalém em tamanho e área. Alguns fazem peregrinações em grupo à sede internacional em Brooklyn, a principal “Casa de Deus,” onde a organização tem propriedades enormes e de muitos andares, que ocupam quadras inteiras da cidade, ou visitam as instalações de Betel em seu próprio país. Ali, eles vêem como as equipes da “Casa de Deus,” que talvez cheguem às centenas e às vezes milhares de pessoas, se empenham no que é oficialmente chamado de “serviço sagrado,” algo comparável, portanto, ao serviço dos trabalhadores levitas no antigo templo. O impacto sobre a visão e a mente deles traz uma sensação de poder, de força visível. Sentem-se atraídos a ela e temem separar-se dela.

Tendo trabalhado por 15 anos na sede internacional, e servido no Corpo Governante por 9 desses anos, não tenho dúvida de que os dirigentes têm uma virtual compulsão de estar continuamente comprando propriedades e construindo novas estruturas, e que derivam desta expansão física, não um mero senso de força, mas a certeza de sua posição exclusiva no mundo, como o “canal de Deus.” Também não duvido, com base nos mesmos 15 anos que ali passei, que em termos do que realmente é produzido — seja em literatura ou comunicação escrita ou qualquer outro produto —  isto poderia ser realizado com eficiência bem maior por outras organizações e com apenas uma fração do pessoal e das instalações usados pela organização Torre de Vigia. O programa de expansão física (em propriedades e número de trabalhadores) adotado parece alimentar-se de si mesmo e gerar a necessidade de se auto-perpetuar em fazer cada vez mais a mesma coisa. Já que isto, de fato, impressiona, e que a organização equipara a expansão física à prosperidade e bênção espirituais, e as Testemunhas fornecem o dinheiro necessário, este processo infindável de comprar e construir sempre foi bem visto pela liderança. (Para mais detalhes do programa de construções da Torre de Vigia, veja o Apêndice.)

Como no antigo Israel, as Testemunhas de Jeová comparecem a três assembléias “sagradas” (por sua própria definição) por ano, nas quais se reúnem grandes multidões que às vezes chegam aos milhares. Assistem, três vezes por semana, a cinco reuniões distintas, sendo as principais realizadas em seus Salões do Reino, onde lhes garantem que seu comparecimento constante e fiel é um fator importante para uma condição aprovada diante de Deus. De todas as oferendas que podem fazer a Deus, nenhuma é mais enfatizada e considerada de maior valor que levar às pessoas a mensagem das publicações da organização e inculcá-la em suas mentes; a esta é que a expressão “sacrifício de louvor” se aplica quase exclusivamente, com grande destaque para as oferendas regulares semanais de tal sacrifício em seu altar de serviço como um fator importante e decisivo para sua relação com Deus.28 E, a vasta maioria delas é atraída a tudo isto pelo constante cenário que lhes apresentam, onde todos os tipos de recompensas físicas e materiais os aguardam, num paraíso ao alcance da mão, se derem irrestrito apoio a estas coisas.

 

Após serem imersos nesta atmosfera por um período de tempo, qual seria o efeito sobre estas pessoas se fossem transportadas — não para o ambiente físico — mas para o tipo de vida religiosa vivida pelos primitivos cristãos? Acho que a vasta maioria consideraria a mudança tão difícil quanto foi para aqueles a quem se dirigia a carta aos Hebreus. Achariam difícil aceitar a incrível simplicidade daquela vida religiosa, a falta de praticamente qualquer coisa impressionante em sentido físico e material, o apelo à fé que deriva sua força das coisas não-vistas e não das coisas vistas, do que é eterno e não do que é temporário, transitório. O apóstolo enfatizou a diferença, dizendo: “Estamos andando pela fé, não pela vista.”29

Creio que esta é pelo menos uma das razões pelas quais, ao deixar a organização Torre de Vigia, muitas pessoas acham que devem procurar algo que ofereça as mesmas coisas — não as mesmas doutrinas, mas algo que tenha certa força numérica, tenha lugares especiais em que se cumpram formas distintas de serviço religioso. Muitos parecem incapazes de ter a sensação de identidade pessoal sem “pertencer” a um sistema, a uma organização com aspectos visíveis e tangíveis que a identifiquem. Acham também que devem estar “fazendo algo,” isto é, algum tipo de atividade que seja “diferente,” distintiva. Ainda mantêm a perspectiva ensinada pela Sentinela de que o serviço a Deus só é sagrado se envolver aquilo que é “fora do comum.” Não conseguem ver que o cristianismo mudava as vidas das pessoas, não por mudar o que faziam normalmente no dia a dia, mas principalmente em virtude de dar um novo sentido a tudo o que faziam, uma qualidade diferente, um espírito diferente, uma motivação diferente, a todas as suas atividades.

 
O único essencial indispensável
 
Quanto àquilo de que os cristãos judeus tinham antes feito parte, e à mudança que enfrentaram, lemos este comentário:

 

Toda a dispensação [mosaica] [estava] envolvida com coisas visíveis, tangíveis, materiais, evanescentes.... Foi uma sombra das boas coisas vindouras; e a estas coisas reais, eternas, é que Cristo apresenta os homens.... Nele temos tudo a ver, não com cerimônias externas e arranjos temporais, mas com o que é espiritual; Nele entramos em contato, não com revelações imperfeitas de Deus, feitas através de símbolos e mediação humanos, mas com a própria imagem de Deus. Ele faz mediação entre Deus e o homem em virtude de sua ligação com ambos. Ele conduz os homens à verdadeira relação com Deus através de Si mesmo, cumprindo perfeitamente a vida humana em obediência à vontade de Deus.... Ele é sacerdote, não em virtude daquilo que é carne, nem por um cargo herdado, mas em virtude de Sua compaixão pelos homens e Sua pureza pessoal... reunindo os homens e Deus pela entrega pura e perfeita de Si próprio a Deus.30

 

Todos aquelas coisas visíveis e tangíveis, e os homens e atos especiais envolvidos em seu uso, tinham na verdade sido apenas uma sombra das boas coisas vindouras. Alguns se agarraram à sombra, às coisas que atraíam os sentidos, coisas que podiam ver, ouvir e sentir, e isto os impedia de apreciar e abraçar genuinamente as realidades espirituais bem maiores e mais grandiosas prefiguradas.31 Não se aperceberam de que o objetivo comum do antigo pacto e do novo pacto era levar os homens a uma relação com Deus, e que o antigo, com todos os seus impressionantes aspectos materiais, não se destinava a realizar isto no pleno e completo sentido que o novo podia realizar.32 Contrastando os dois, o apóstolo escreve:

 

Se o ministério de condenação [o antigo] foi glorioso, quanto mais ainda será o ministério da justiça! Não, mesmo o que então foi tocado pela glória já não o é, diante desta glória incomparável. Pois, se o que era passageiro foi assinalado pela glória, quanto mais o será o que permanece?.... O nosso objetivo não é o que se vê, mas o que não se vê; o que se vê é provisório, mas o que não se vê é eterno.33

 

Era preciso fé para aceitar isso, atribuir valor superior ao espiritual em vez do visível, praticar uma adoração que não impressionava os olhos, não atraía de modo especial os ouvidos, não estava sujeita ao tato, mas que apelava ao coração e ao entendimento; uma adoração que dispensava locais especiais, datas especiais, formas e funções especiais, mas que ocorria ao longo do dia, na vida diária da pessoa. Era preciso fé para aceitar que a relação pessoal com Deus por meio de seu Filho era a única coisa essencial, que todas as outras coisas são secundárias, e, se for o caso, até dispensáveis. É preciso o mesmo tipo de fé para fazer, em nossa época, uma adoção similar de valores.

 
O “corpo de Cristo,” uma organização religiosa

         ou uma comunidade do tipo familiar?

 

Se entramos nesta relação pessoal com Deus por meio da fé em seu Filho e no sacrifício de de seu Filho, não ficamos sós. Tormano-nos parte desse “povo livre” cuja “lei” é a lei do amor, escrita não em tábuas, mas nos corações humanos.34   
Todos estes são descritos como formando “o corpo de Cristo.”35 Ingressar numa organização religiosa, denominação ou igreja nada tem a ver com fazer parte desse corpo. Tornamo-nos membros desse corpo de Cristo apenas de uma maneira, pela nossa fé. Quem aceitou o Filho de Deus como sua Cabeça torna-se parte desse corpo.36 É a individual, pessoal, de cada um que o liga a essa Cabeça, e a liderança orientadora de Cristo continua sempre disponível a cada um como pessoa. Embora fazendo parte de uma coletividade em virtude de uma fé mutuamente partilhada, ninguém depende da intervenção de outro membro ou de um grupo de membros para ter acesso a essa liderança ou receber sua orientação. Pois Cristo é “a cabeça de todo homem” e, através de Cristo, “a manifestação do Espírito é concedida a cada um [a cada homem e cada mulher], visando a um fim proveitoso,” distribuindo Seus dons “a cada um, individualmente.”37 Os “dons são diversos,” há “diversidade nos serviços” e “diversidade nas reali-zações,” mas o “mesmo “Espírito,” o “mesmo Senhor” e o “mesmo Deus é quem opera tudo em todos.”38
Este fato da relação pessoal com Deus e Cristo é declarado de outro modo nas palavras de Jesus registradas no capítulo 15 de João. Ali, ele se apresenta como uma videira, e a seus seguidores como ramos unidos a esta videira. Não se apresenta simplesmente como a raiz da videira dizendo que a congregação é o tronco ao qual seus seguidores devem estar ligados. Tampouco é a ligação com outros ramos o vínculo vital. Este é com Cristo, a videira, e só a ele. É por se apegarem firmemente a ele, só a ele, como a videira vivificante, que todos são levados à unidade. Permanecem nessa videira por ‘permanecerem no seu amor.’ Esse amor é a força que os agrupa numa unidade, o corpo de Cristo.39

Como membros desse corpo, é certo também que individualmente somos “membros uns dos outros.”40 Mostra-se que os cristãos são membros, não de um sistema religioso, mas de uma comunidade religiosa, um corpo familiar de pessoas sob um chefe de família, o Filho de Deus. O termo “família,” como em “família da fé,” é usado para descrevê-la, e este enfatiza a natureza familiar da comunidade.41 Descrevendo o efeito das boas novas sobre os crentes gentios, em abrir-lhes um novo relacionamento, o apóstolo escreve:

 

Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz... e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz... porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento  dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor; no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.42

 

É verdade que, embora chamados de “família de Deus,” fala-se deles também como “concidadãos,” membros de uma “nação santa.”43 Isto pode parecer dar apoio a um forte aspecto “organizacional” para essa comunidade. Mas apesar de os cristãos serem comparados a uma nação, não se atribui ênfase alguma ao conceito de uma organização terrestre visível. Eles são lembrados de que sua “cidadania existe nos céus,” e que devem ser como os homens da antiguidade, que aguardavam “a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador,” a “uma pátria superior, isto é, celestial.”44 São todos “concidadãos” de igual posição, e seu único governante é celestial. São concidadãos, de fato, em virtude de terem todos a Cristo como seu Rei, e por não terem nenhum governante terrestre, nem qualquer forma de corpo governante servindo numa capital terrestre — em Jerusalém, Roma, Brooklyn ou qualquer outro lugar — por meio da qual fluem as leis e diretrizes. O canal do rei é através do Espírito santo, que guia, dirige e instrui. Se os apóstolos tivessem querido enfatizar o conceito de organização, esta analogia de uma nação teria sido ideal para fazê-lo. Em vez disso, em seus escritos, apenas raramente se referem a este aspecto e nunca o destacam como algo dominante. Por outro lado, é à relação familiar que se dá o destaque maior. Quando se dirigem aos concrentes, nunca dizem “meus concidadãos,” mas constante e predominantemente “meus irmãos.” (Do mesmo modo, embora constituam um templo espiritual e um sacerdócio real, não se dirigem aos outros como “meus co-sacerdotes.”)45 Todos eles fazem parte da família de Deus, irmãos e irmãs numa única família sob Cristo.46 O próprio Cristo lançara o alicerce para este conceito de família, dizendo:

 

“Quem é minha mãe e meus irmãos?” E, correndo o olhar pelos que estavam sentados ao redor, disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.”47

 

No mesmo espírito, Paulo escreveu a Timóteo:

 

Não repreendas ao homem idoso, antes exorta-o como a pai; aos moços como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza.48 

 

Por que, em face de toda esta evidência e do exemplo apostólico, desejaria um sistema religioso preferir dar maior ênfase a um conceito organizacional do que a esta relação familiar? A razão evidente é porque a última, se realmente aplicada, não favorece uma atitude autoritária, pois nesta família, “um só é o vosso Pai, o celeste,” e “um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos.”49 

 
A ekklesia cristã do primeiro século

 

A expressão mais freqüente encontrada nas Escrituras Cristãs para descrever coletivamente os cristãos é o termo grego ekklesia, geralmente traduzido “igreja” ou “congregação.” É notável, porém, que este termo em si não tem significado religioso intrínseco. Seu uso comum no grego descrevia um “assembléia” de cidadãos convocados para decidir assuntos que afetavam seu bem-estar. É neste sentido típico, secular e não-religioso que é usado em Atos 19:32, 39, 41, ao descrever a reunião dos prateiros de Éfeso convocada às pressas. É evidente que, em si, ele não traz nenhuma idéia de uma “organização” no sentido de um arranjo estruturado, mas simplesmente a de um agrupamento de pessoas para considerar alguma questão de interesse mútuo, ou das próprias pessoas assim reunidas.50     

No primeiro século, os cristãos não “pertenciam” a uma eclésia, igreja ou congregação local, no sentido de pertencerem ou serem formalmente filiados a uma organização religiosa. Se se reuniam com outros, eles faziam, em virtude do ato de se reunir, parte do “agrupamento” ou “assembléia” (ekklesia) local. O “chamado” que os congregava não vinha de alguma autoridade religiosa. Era o chamado das boas novas que os atraía, não um mero chamado para partilhar suas próprias idéias e opiniões, mas primariamente para ouvir a mensagem de Deus. E ao longo dos dois primeiros séculos, quando se reuniam, não era em edifícios religiosos especiais, mas nos lares.51 Considerando o termo ekklesia conforme usado por Paulo em suas primeiras cartas, o erudito Robert Banks afirma:

 

...nunca, durante este período, o termo é aplicado ao edifício no qual os cristãos se reuniam. Quer consideremos as pequenas reuniões de apenas alguns cristãos de uma cidade quer as reuniões maiores de toda a população cristã [daquela cidade], é na casa de um dos membros que a ekklesia se realiza — por exemplo, no ‘quarto de andar superior’ [Atos 20:8]. Até o terceiro século não temos evidência de que edifícios especiais fossem construídos para as reuniões cristãs e, mesmo depois disso, seu modelo era o das salas em que se recebiam convidados nas típicas casas de família romana e grega.52

 

Do mesmo modo, o comentário The Expositor’s Greek Testament afirma:

 

Até o terceiro século não temos nenhuma evidência segura da existência de edifícios de igrejas para propósitos de adoração; para este fim, todas as referências apontam para casas particulares.53

 

Visto que eles próprios constituíam um “lugar para Deus habitar” espiritual, não necessitavam de edifícios especiais para adoração (tampouco o fato de Deus “habitar” neles limitava-se a certos horários de certos dias).54 Como mostra a evidência arqueológica, as casas naquela época raramente tinham uma sala capaz de receber mais que cerca de quarenta pessoas.55 As reuniões, portanto, eram relativamente pequenas. Tais reuniões em lares proviam um contexto em que a sensação de relação familiar podia se desenvolver, pois geravam uma atmosfera em que a manifestação dos vínculos que os uniam numa fraternidade, favoráveis a essa sensação de fraternidade, crescessem e se aprofundassem. Podiam mais prontamente vir a conhecer melhor uns aos outros, conscientizar-se mais das necessidades, interesses e preocupações mútuas.

Esta imagem de congregação pode ser muito diferente do conceito hoje prevalecente da maioria das pessoas, e certamente difere daquilo a que a maioria está acostumada. Todavia, ela envolve um aspecto talvez ainda mais fundamental do cristianismo e do sentido básico da palavra “congregação” ou “igreja” (ekklesia) em termos cristãos. Destacando isto, o conhecido erudito suiço Emil Brünner escreve:

 

Onde se prega e se crê na Palavra de Deus, onde dois ou mais se reúnem em nome de Cristo, ali está a Igreja. Mesmo que se diga qualquer coisa além disso a respeito da Igreja, isto é fundamental. Esta declaração nunca — nem mesmo nos dias atuais — foi compreendida em toda a sua força revolu-cionária. A reunião de dois ou três deve ser reconhecida como Igreja, ainda que numa forma imperfeita. Quando um pai reúne a família ao seu redor para lhe explicar o Evangelho à sua maneira humilde e simples, ou onde um leigo, motivado por um coração pleno, proclama a Palavra de Deus a um grupo de jovens, ali está a Igreja. Quem se afastar desta regra, quem achar que algo mais tem de ser acrescentado para tornar isto uma verdadeira Igreja, entendeu mal o significado do próprio âmago da Fé evangélica.56

 

A maioria hoje acha que “algo mais tem de ser acrescentado.” A própria simplicidade da questão vai contra seu conceito de “congrega-ção.” As religiões geralmente buscam acoplar à idéia de “organiza-ção” ou “denominação” a idéia de uma estrutura de autoridade como algo necessário para validar qualquer agrupamento como “verdadeira” congregação cristã. A mensagem bíblica não apoia isso. A promessa de Cristo não os apoia.57 Isso não quer dizer que se deva contentar-se com uma reunião de dois ou três, nem deve isso reduzir o empenho de alcançar outros mais, mas é suficiente para que se apliquem as pala-vras de Cristo: “Ali estou no meio deles.” O acréscimo de cem ou mil pessoas às duas ou três, a transferência do local de reuniões para um grande edifício, ou a presença de uma dúzia ou mais de homens com cargos designados por uma organização, não acrescenta um milímetro à “realidade” de que aquilo é um agrupamento ou congregação cristã. A presença do Filho de Deus, o Cabeça da congregação, é a única validação necessária.

 

Reunindo-se para encorajar ao amor e às boas obras
 
Estes fatos nos ajudam a apreciar o sentido e a força desta exortação muito citada:

 

E consideremos uns aos outros para nos incentivarmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.58 

 

A liberdade cristã não admite a apatia para com outros, viver apenas para si mesmo. O amor une as pessoas. Como membros do corpo de Cristo, somos individualmente “membros uns dos outros.”59 Será, então, que esta ênfase a reunir-se declarada no texto citado, limita nossa liberdade cristã, inibe nossa manifestação dela, ou mais uma vez nos sujeita à lei, a regras? Pelo contrário, ela confere maior significado e maior valor. à nossa liberdade.

Não há nada relacionado com a rigidez ou o formalismo das obras da lei no nosso interesse pessoal pelos outros, em mostrarmos afeição fraternal por eles e por seu crescimento espiritual, em buscarmos nos reunir fraternalmente com eles. Tampouco vemos na exortação de Hebreus 10:24, 25 ou qualquer outra parte das Escrituras um conjunto expresso de regras regulando as reuniões entre os concrentes.60 Embora alguns usem este texto como uma espécie de “cassetete” espiritual para impor o estrito comparecimento a reuniões de rotina realizadas em datas específicas, isto exige que se vá além do que a exortação diz. A palavra grega neste texto traduzida por “deixemos” (ou traduções similares) implica em deserção ou abandono, algo muito mais sério que a mera irregularidade ou faltas ocasionais no comparecimento às reuniões.61 Tampouco há nada que mostre que os apóstolos de Jesus tenham alguma vez descrito a assistência a essas reuniões como de maior mérito na “adoração” que outras expressões de amor e de fé feitas na vida cristã diária. Não encontramos esta idéia em nenhum escrito apostólico. Como explica a obra já citada, os cristãos aprendera, ou foram encorajados a aprender que:

 

...a adoração envolve a vida da pessoa como um todo, cada palavra e ação, e não conhece local ou hora especial.... Visto que todos os lugares e horas tornaram-se agora palco para a adoração, Paulo não pode falar de cristãos que se reúnem na igreja [ekklesia] distintivamente com este objetivo. Eles já estão adorando a Deus, de modo aceitável ou inaceitável, em tudo que estiverem fazendo.62 

 

Ao considerar a evidência bíblica da primitiva comunidade cristã, o fato notável é que simplesmente não encontramos nenhum padrão quanto a como devem ser as reuniões cristãs. De início, depois de Pentecostes, os apóstolos e outros reuniam-se diariamente no templo para debate e exortação.63  Não é realista presumir que a maioria seria capaz de fazer isso após aquele período inicial, e não há qualquer indício de que o faziam. O fato de partilharem refeições com seus irmãos em vários lares é mencionado junto com as reuniões no templo, e, visto que as refeições eram muitas vezes ocasiões para que os cristãos trasmitissem informalmente benefícios espirituais, era isto o que provavelmente ocorria neste caso.

Em Éfeso, durante os primeiros três meses Paulo fez reuniões na sinagoga em base semanal, cada sábado.64 Ao mudar-se da sinagoga, proferia “diariamente discursos no auditório de Tirano,” fazendo isto por dois anos.65 Não é lógico supor que os que se reuniam com ele eram as mesmas pessoas, todo dia, já que poucas pessoas podiam estar livres para gastar seu tempo deste modo durante dois anos. Sabemos que Paulo estava ali dia após dia; não sabemos definitivamente de alguém mais que estivesse. Tampouco há nada que mostre que dali em diante em Éfeso — ou em algum outro lugar — os cristãos se reunissem com idêntica freqüência. Em muitas cidades do império romano a população escrava era muito grande, compondo plenamente um terço da população das maiores cidades, tais como Roma, Éfeso, Antioquia e Corinto.66 Embora muitos destes não fossem meros traba-lhadores, mas tivessem às vezes posições de alta responsabilidade, ainda é improvável que a maioria dos escravos estivesse livre para assistir reuniões à vontade.

 

Fora estes relatos do livro de Atos, as Escrituras Cristãs, embora cheias de todo tipo de exortações, simplesmente não trazem esboço ou recomendação de qualquer programa específico para as reuniões cristãs, com respeito a horários, freqüência ou formato. A exortação para reunir-se existe, sendo o amor ao próximo a força motivadora. Declara-se que o objetivo e propósito essencial é estimular-se ao amor e às obras excelentes; mas a maneira e a forma estão em aberto.

Este aspecto de reuniões informais entre os primitivos cristãos permitia que as pessoas se expressassem, fossem elas mesmas, falassem de sua própria mente e coração, não simplesmente repetissem uma matéria fornecida, participando numa sessão de perguntas e respostas rigidamente controlada, pré-programada, catequística. As pessoas vinham realmente a conhecer umas às outras, saber como de fato encaravam as questões, não simplesmente ouvindo pessoas fazerem declarações que na verdade representavam o raciocínio e os conceitos de outras, não os do próprio indivíduo.

Na falta do rígido controle de uma estrutura de autoridade, o que impede que tais reuniões degenerem em debates sobre opiniões dissidentes? Mesmo durante a época dos apóstolos, que tinham uma autoridade especial divinamente designada, não há nada que mostre que eles ou quaisquer outros, individual ou coletivamente, exercessem um controle rígido sobre as reuniões e debates dos cristãos. A mais extensa, talvez praticamente a única explanação sobre reuniões é a de Primeira aos Coríntios, capítulo 14. E ali a única ênfase que se dá é à ordem básica e respeitosa e à busca de transmitir entendimento.

Em outras partes, é claro, há exortações contra debater e falar de modo antagônico, envolver-se inutilmente em discussões e práticas igualmente negativas.67 Mas, em vez de exercer um poder coercivo sobre os crentes, o meio de combater estes erros era principalmente persuasivo, enfatizando e encorajando qualidades positivas.

Esta abertura, portanto, representava tanto uma oportunidade como uma prova. Exigia que todos os participantes demonstrassem que de fato se reuniam para edificar-se uns aos outros e encorajar-se ao amor e a obras excelentes — não meramente para exibir conhecimento pessoal ou promulgar e debater teorias pessoais. Ao invés, iam para mostrar consideração aos outros, exercendo auto-domínio para o bem de todos, manifestando humildade, paciência, compreensão, compa-nheirismo, compaixão e interesse sincero em refletir a chefia do Filho de Deus.68 Estes são os verdadeiros remédios contra confusão e contendas, a fonte apropriada de paz e harmonia. São fruto do Espírito santo de Deus, e esse Espírito é que serviria de elemento controlador, preservando a ordem e assegurando às reuniões ambiente e qualidade saudáveis e proveitosos.69 Desde que as pessoas mostrassem o espírito de profundo respeito pela chefia de Cristo, vendo-o como estando “entre eles,” ainda que seu número visível pudesse ser aparentemente tão insignificante quanto dois ou três, as questões não fugiriam ao controle nem degenerariam em disputas inúteis e perniciosas.70 O mesmo se aplica à nossa época.

As divisões surgem quando as pessoas tentam tornar definido, explícito e conclusivo aquilo que as próprias Escrituras deixam indefi-nido ou sujeito a mais de um entendimento possível. Surgem quando as pessoas transformam em grandes questões — quando se considera o todo — coisas de menor importância; quando criam regras a partir do que é simples conselho ou declaração geral de um princípio. Podem surgir também quando as pessoas deixam de reconhecer que, enquanto elas próprias têm uma relação pessoal com Deus e Cristo, o mesmo ocorre com todos os irmãos e irmãs, e que ninguém tem uma “linha de comunicação” especial com Deus e seu Filho que não esteja disponível a cada membro do corpo. Isto pode nos proteger de pensar que temos um discernimento exclusivo ou uma relação especialmente íntima que nos separa de outros, que nos torna um “canal” divino para eles.

Quando Paulo escreveu aos Coríntios aconselhando-os a estar “unidos na mesma mente e na mesma maneira de pensar,” o contexto mostra que estava pedindo, não a uniformidade total no entendimento de cada ponto das Escrituras, mas sim para pôr de lado as atitudes desagregadoras que os estavam separando em facções, de modo que pudessem ter disposição e perspectiva unidas.71 

A prova da verdadeira unidade não é a uniformidade de crença em cada ponto. As cartas de Paulo, quase sem exceção, mostram que entre os cristãos de diferentes lugares aos quais escreveu, alguns encaravam certos assuntos de modo diferente de outros. A unidade cristã se prova genuína quando existem diferenças de ponto de vista e assim mesmo as pessoas que têm estas opiniões divergentes não permitem que isto as divida. E fazem isto por reconhecerem que, embora divergindo no entendimento de certos pontos, fazem parte de uma família espiritual que partilha uma fé comum baseada em ensinos claramente declarados e fundamentais, contidos nas boas novas.72 O amor é que “é o perfeito vínculo de união,” não a uniformidade, e muito menos a uniformidade imposta por homens.73

Isto também provê o clima favorável no qual o conhecimento e o entendimento podem crescer e se aprofundar. Diferenças de ponto de vista, em vez de dividir, podem motivar pessoas a um esforço maior para compreender — tanto no que se relaciona à opinião em si como  à pessoa que a expressa. As diferenças podem nos levar a estudar e refletir mais, de modo a podermos lidar com qualquer problema que esseas opiniões possam apresentar, e podem nos impelir ao esforço de achar uma solução para elas no amor. Podem, desta maneira, resultar em tornar evidente quão genuíno é o cristianismo de cada um, exatamente como indica o apóstolo em 1 Coríntios 11:19.

Assim, a liberdade cristã nos apresenta um desafio em nossa relação com outros, pois requer que demonstremos ter verdadeira-mente “a mente de Cristo.”74 Se constante e sinceramente ‘nos apegarmos a ele como nossa cabeça’ em todas as coisas e em todas as épocas, jamais falharemos em mostrar ser membros harmoniosos “que se pertencem uns aos outros” em seu corpo de seguidores.75 

 

É necessária uma estrutura de autoridade?

 

Como vieram a existir congregações cristãs no primeiro século? Nada há que indique que as pessoas foram “organizadas” numa congrega-ção. Como se formava uma congregação? Formava-se simplesmente em resultado de as pessoas se congregarem, fazendo-o em razão da fé mútua e do interesse mútuo em edificar uns aos outros na fé. Que dizer então dos diferentes termos encontrados nas Escrituras Cristãs, tais como ancião, superintendente, diácono, instrutor, pastor?

Neste respeito, as circunstâncias do primeiro século podem servir de modelo. Este não pode, contudo, ser um modelo preciso. A razão é que nem todas as circunstâncias permanecem hoje as mesmas.

Lemos que os da casa ou família de Deus foram “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular.” Embora não esteja presente na terra, Cristo Jesus permanece conosco, “no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor.”76 Mas esse não é o caso dos apóstolos. Eles já não estão aqui. O próprio fato de que serviam de ‘fundamento’ ou ‘alicerce’ implica em que suas funções se ajustavam aos estágios iniciais do cristianismo. Os “profetas” citados podem ser profetas cristãos, em vez dos profetas pré-cristãos das Escrituras Hebraicas.77 Se for assim, o fato de que os profetas são mencionados do mesmo modo que os apóstolos indicaria um papel inicial similar no cristia-nismo, papel que, como o dos apóstolos, estava destinado a acabar..78 

Como muitas outras religiões, as Testemunhas de Jeová crêem que não existe sucessão apostólica além do primeiro século. Todavia, como vimos, mesmo não assumindo o título de apóstolo, nem falando que ocupam o cargo de apóstolo, homens de diferentes religiões tentam revestir-se da autoridade apostólica. O Corpo Governante das Testemunhas de Jeová assume uma autoridade igual a dos apóstolos, chegando às vezes a ir além da dos apóstolos.79 A liderança de várias outras religiões faz o mesmo. Só podemos ser “apostólicos” hoje no sentido de nos apegarmos ao ensino apostólico. Além de Cristo Jesus, do Espírito santo e da Palavra de Deus, aqueles poucos homens eram, em virtude de sua designação divina, a única fonte externa de autori-dade que qualquer grupo congregado de cristãos podia corretamente reconhecer. Mas sua designação e autoridade apostólicas divinamente recebidas eram exclusivas. Não existem hoje. Isso tem um efeito considerável sobre nosso entendimento de como certas circunstâncias do etapa inicial do cristianismo podem diferir da nossa própria época

 

Um arranjo dinâmico ¾  não estático

 

Outro fator de peso para nossa compreensão é o princípio estabelecido em Efésios 4:11-16. Ele afirma que os serviços prestados por indivíduos dentro das congregações, inclusive os providos pelos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e instrutores, visavam todos levar as pessoas a um objetivo. Como vimos, o objetivo era, não que permanecessem como crianças, precisando que outros os instruíssem e pastoreassem, mas que “crescessem em tudo naquele que é o cabeça, Cristo.”80 O passar do tempo diminuiria a necessidade de outros lhes prestarem tais serviços e aumentaria sua própria capacidade de agir como pessoas adultas, maduras, que não estivessem constantemente dependentes de outros. Na carta aos Hebreus, o autor reprova aqueles a quem ele se dirige, dizendo: “Depois de tanto tempo, vocês já deviam ser mestres.”81

Otro factor que contribuye a nuestro entendimiento es el principio establecido en Efesios 4:11-16. Afirma que los servicios que rinden las personas en las congregaciones, incluyendo los realizados por los apóstoles, profetas, evangelizadores, pastores y maestros, fueron todos diseñados para llevar a la gente a una meta. Como hemos visto, la meta era, no que permaneciesen siendo niños, necesitando que otros les enseñasen y les pastoreasen, sino que tenían que “crecer en toda forma unidos en Cristo, quien es la cabeza del cuerpo” 80 El paso del tiempo debería reducir su necesidad de que otros les rindiesen tales servicios y debería aumentar su propia habilidad para actuar como personas adultas, maduras, que no son constantemente dependientes de otros. En la carta a los Hebreos el escritor reprende a aquéllos a los que se dirige, diciendo: “Después de tanto tiempo ya debíais ser maestros” 81

Todo sistema religioso que perpetua a dependência de seus membros aos serviços de certos homens trabalha contra o objetivo estabelecido. Não se trata de esperar que cada pessoa se desenvolva para tornar-se igual a todas as outras pessoas, tendo as mesmas capacidades ou “dons” em igual medida. Mas todos deviam tornar-se cristãos “adultos,” maduros em entendimento e capacidade de levar uma vida cristã, de tomar decisões maduras por sua conta, não de outros. Deviam todos ser membros ativos do “corpo de Cristo,” não apenas recebendo os serviços de outros membros, mas cada um contribuindo, por si mesmo, com serviço valioso e proveitoso. Esse é o quadro que nos transmitem as Escrituras Cristãs.82

Cualquier sistema religioso que perpetúa la dependencia de sus miembros de los servicios de ciertos hombres, está actuando en contra de la meta propuesta. No es que se espere que cada persona se desarrolle para llegar a ser igual que todas las demás, teniendo las idénticas habilidades o “dádivas” en la misma medida. Pero todos deberían llegar a ser cristianos “adultos”, maduros en entendimiento y en la habilidad de vivir una vida cristiana, de tomar decisiones maduras que sean suyas propias, no las de alguna otra persona. Todos deberían ser miembros activos del “cuerpo de Cristo”, y no deberían estar meramente recibiendo los servicios de otros miembros, sino contribuyendo por sí mismos un servicio valioso y beneficioso. Esa es la imagen que se nos transmite en las Escrituras Cristianas.82

Em vez de continuar a precisar constantemente do serviço de pastoreio de outros, têm de se fortalecer de modo que eles mesmos se habilitem a ajudar outros. Não foi aos encarregados da igreja ou líderes organizacionais, mas aos cristãos da Galácia, de modo geral, que Paulo escreveu:

En lugar de continuar en la necesidad constante de un servicio de pastoreo por parte de otros, deben adquirir fuerza para ser capaces de acudir por sí mismos en ayuda de los demás. No a los representantes de una iglesia o a los líderes de una organización, sino a los cristianos en Galacia en general, es a quienes Pablo escribe:

 

Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós que sois espirituais, corrigi-o, com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.83

Hermanos, si alguno incurre en falta, vosotros que sois hombres de espíritu, debéis corregirle con amabilidad. Y manteneos todos sobre aviso, porque nadie está libre de ser puesto a prueba. Ayudaos mutuamente a llevar las cargas, y así cumpliréis la ley de Cristo.83

 

Explicando esta exortação, diz um comentário:

Discutiendo esta exhortación, un comentario afirma:

 

É bem impressionante que ‘amar uns aos outros,’ ‘levar as cargas uns dos outros’ e ‘cumprir a lei’ sejam três expressões equivalentes. Mostra que amar uns aos outros como Cristo nos amou pode nos levar não a algum feito heróico e espetacular de auto-sacrifício, mas ao minstério muito mais mundano e não-espetacular de levar cargas. Quando vemos uma mulher,  uma criança ou uma pessoa idosa levando uma caixa pesada, não nos oferecemos a levá-la por ela? Assim também, quando vemos alguém com uma carga pesada no coração ou na mente devemos estar prontos a levá-la junto com ele e partilhar sua carga. Similarmente, temos de ser humildes o bastante para deixar que outros partilhem a nossa. Levar cargas é um grande ministério. É algo que todo cristão pode e deve fazer. É a conseqüência natural de ser espiritual. Cumpre a lei do Cristo.84

Es muy impresionante que ‘amarse unos a otros’, ‘llevar las cargas de los demás’ y ‘cumplir la ley’ sean tres expresiones equivalentes. Esto indica que amarse unos a otros como Cristo nos amó, puede llevarnos no a algún acto heroico espectacular de autosacrificio, sino al ministerio mucho más mundano y falto de espectacularidad de llevar las cargas. Cuando vemos a una mujer, un niño o un anciano llevando una carga pesada, ¿no nos ofrecemos para llevarla por ellos? Así, cuando vemos a alguien con cargas pesadas en su corazón o mente, debemos estar dispuestos a ponernos a su lado y compartir su carga. De modo similar, debemos ser suficientemente humildes para permitir que otros compartan las nuestras. Ser un llevador de cargas es un gran ministerio. Es algo que puede hacer y debe hacer cada cristiano. Es una consecuencia natural de andar en el Espíritu. Cumple la ley de Cristo. 84

 
Ênfase ao serviço e à função,
  não ao cargo e à posição

 

Um fator final que requer consideração é que as várias designações de pastor, instrutor, evangelizador, e assim por diante, descrevem serviços a serem prestados, trabalho a ser feito em favor da comunidade cristã, não cargos no sentido de posições institucionais num arranjo estruturado.85 Como vimos, o apóstolo de fato menciona “apóstolos, profetas, mestres” quando compara a comunidade cristã ao corpo humano. Mas, antes disso, ele descreve os dons espirituais que habilitam a todos, a cada um individualmente, (incluindo, assim, os apóstolos, profetas e mestres) a cuidarem uns dos outros, e ao fazê-lo ele focaliza não cargos ou posições organizacionais, mas serviços e trabalho, dizendo:

Un factor final que requiere consideración es que las diferentes designaciones de pastor, maestro, evangelizador, y así por el estilo, describen servicios que deben rendirse, trabajo que debe hacerse a favor de la comunidad cristiana, no cargos en el sentido de posiciones institucionales en un arreglo estructurado.[1][85] Como hemos visto, el apóstol menciona “apóstoles, profetas, maestros” en su comparación de la comunidad cristiana con el cuerpo humano. Pero antes de eso él describe las dádivas espirituales que capacitan a todos, a cada uno de los miembros (por tanto, incluso a los apóstoles, profetas y maestros) para cuidarse mutuamente unos de otros, y al hacerlo así, él pone la atención, no en cargos o posiciones organizacionales, sino en servicios y trabajo, diciendo:

 
Há variedades de serviço, mas o mesmo Senhor. Há muitas formas de trabalho, mas todas estas, em todos os homens, são trabalho do mesmo Deus. Em cada um de nós o Espírito é manifestado de uma maneira particular, para algum propósito útil... Mas todos estes dons são trabalho do único e mesmo Espírito, distribuindo-os separadamente a cada indivíduo assim como quer.86

Hay diferentes maneras de servir, pero es a un mismo Señor a quien servimos Y hay diferentes maneras de hacer las cosas, pero es un mismo Dios el que las hace en todas las personas. Dios da a cada uno alguna prueba de la presencia del Espíritu, para el provecho de todos... Pero todas estas cosas las hace el único y mismo Espíritu, el cual reparte las diferentes capacidades a cada persona según él mismo quiere. 86

 

O apóstolo Paulo demonstra a ênfase ao serviço ou atividade realizada, não ao cargo, por utilizar às vezes simplesmente uma forma verbal em vez de um substantivo. Como ilustração, se alguém usa o substantivo “presidente” transmite-se imediatamente a idéia de um cargo. Se, ao invés, usa-se a forma verbal “presidindo,” a idéia passa a ser de ação, não de cargo ou posição. No versículo 28 do trecho da carta de Paulo aos Coríntios do qual foi feita a citação anterior, junto com substantivos tais como “apóstolos,” “instrutores” e “profetas,” o apóstolo alista também alguns verbos, literalmente “ajudar” e “dirigir.”87 Algumas traduções em inglês convertem estes verbos em substantivos tais como “ajudadores, administradores” (Revised Standard Version), “ajudadores, bons líderes,” (Jerusalem Bible), “ajudadores, conselheiros,” (Phillips Modern English), “assistentes, administradores,” (New American Bible). Outras traduções, reconhecendo claramente que o que ali se descreve não são posições oficiais mas funções e serviços, traduzem estas expressões por “formas de assistência, formas de liderança,” (New Revised Standard Version) “prestar ajuda, administração,” (NVI), “assistência e direção” (TEB). Conforme declara o erudito Robert Banks:

El apóstol Pablo demuestra el énfasis en el servicio o en la actividad realizada, más bien que en el cargo, empleando a veces simplemente una forma verbal en lugar de un nombre. Como ilustración, si uno emplea el nombre “presidente”, se transmite inmediatamente la idea de un cargo. Si en su lugar se emplea la forma verbal “presidir”, la idea recae sobre la acción y no sobre el cargo o la posición. En el versículo 28 de la porción antes citada de 1 Corintios 12, junto con nombres tales como “apóstoles”, “maestros”, “profetas”, el apóstol también lista algunos formas verbales como “asistir a los necesitados” y “presidir la asamblea”.87 Algunas traducciones convierten estas formas verbales en nombres, tales como “ayudantes, administradores” (The Revised Standard Version), “ayudantes, buenos guías” (Jerusalem Bible), “ayudantes, consejeros” (Phillips Modern English), “asistentes, administradores” (New American Bible, Edición Revisada), “[los que tienen] habilidad para ayudar a otros o poder para guiarlos”, (The New English Bible). Como afirma el erudito Robert Banks:

 

Estas [as duas formas participiais gregas] significam simplesmente prestação de assistência e de orientação de modo menos personalizado.... ‘ações prestimosas’ e ‘iniciativas práticas’ são mais ou menos tão íntimas quanto se possa dar. Mais uma vez, estes termos não são de caráter técnico. Certamente o que se tem em vista não são posições oficiais. Sua aplicação mais a funções do que às pessoas que se empenham nelas, sua posição no final da lista dos dons e, talvez, sua ocorrência apenas aqui no Novo Testamento, todas apoiam isto.88

[Las dos formas verbales griegas] simplemente significan prestar asistencia y dar dirección de un modo menos personalizado.... ‘obras de ayuda’ e ‘iniciativas prácticas’ son tan cercanas entre ellas como sea posible. Otra vez, estos términos no son de carácter técnico. Ciertamente, no tienen que ver con posiciones oficiales en la iglesia. Su aplicación a funciones, más bien que a personas envueltas en esas funciones, su rango tan bajo en la lista de dádivas y, quizás, su aparición sólo aquí en el Nuevo Testamento, apoyan esto.88

 

No New International Dictionary of the New Testament, Vol. I, página 197, achamos este comentário relacionado:

En la obra New International Dictionary of New Testament Theology, Tomo I, página 197, encontramos este comentario:

 

Este autor crê que não existiam ainda quaisquer cargos institucionalizados ou precisamente diferenciados na igreja que Paulo conheceu.... Isto é confirmado pela lista de dons em Rom. 12:8, onde prohistamenos [“prover direção” ou “cuidar”] é caracterizado pelo spoude (zelo). Prohistamenos é alistado aqui junto com com didaskon (aquele que ensina), parakalon (aquele que exorta), e eleon (aquele que pratica atos de misericórdia) Todas estas palavra são particípios que sugerem mais uma atividade que um cargo.

El presente escritor cree que en la iglesia conocida por Pablo todavía no había cargos institucionalizados o diferenciados con precisión.... Esto se confirma por la lista de dádivas en Rom. 12:8, donde el prohistamenos [“dar dirección” o “cuidar de”] se caracteriza por spoude (celo). El prohistamenos se lista junto al didaskon (el que enseña), el parakalon (el que exhorta), el eleon (el que hace obras de caridad). Todas estas palabras son formas verbales, que sugieren una actividad más bien que un cargo.

 

Outro fator que se deve ter em mente é se temos de desenvolver um ponto de visto exato neste setor é que muitas vezes as palavras do idioma original dão margem a uma variedade razoavelmente ampla de significados. Alguns tradutores optam pelos significados que dão apoio ao conceito de um arranjo estruturado e com considerável autoridade oficial. Como exemplo, a New American Bible em Romanos 12:8, emprega a expressão “aquele que governa deve exercer sua autoridade com cuidado.” Aqui a expressão “aquele que governa” traduz o grego ho proistámenos (literalmente, o que fica na dianteira). Outras traduções que dão um sentido de autoridade à sua tradução, usam termos como “Quem tem autoridade” (BLH), “líder” (NEB), “liderança” (NVI), “que preside” (ARA, BJ e TEB), “encarregados” (American Translation). Todavia, a Revised Standard Version traduz esta mesma expressão simplesmente por “aquele que dá ajuda.” Por que tal diferença?

Otro factor digno de tener en mente, si queremos desarrollar un punto de vista exacto en este campo, es que a menudo las palabras del lenguaje original permiten una variedad bastante amplia de significados. Algunos traductores escogen aquellos significados que dan apoyo al concepto de un arreglo estructurado y de considerable autoridad oficial. Como ejemplo, la New American Bible emplea en Romanos 12:8 la expresión “el que manda debería ejercer su autoridad con cuidado”. Aquí la expresión “el que manda” es una traducción del griego ho proistámenos (literalmente, el [uno] que está de pié delante). Otras traducciones que dan un tono autoritario a su traducción emplean términos tales como “el hombre con autoridad” (Phillips Modern English), “líder” (The New English Bible, The New Revised Standard Version) “liderazgo.... gobierno” (The New International Version). No obstante, la Revised Standard Version vierte esta misma expresión simplemente como “el que da ayuda”. ¿A qué es debida esta diferencia?

É porque o termo da língua original (proistemi) tem grande latitude de sentidos. As fontes mostram que pode significar liderar, dirigir, assistir, proteger, representar, cuidar, apoiar, preocupar-se, dedicar-se.89 O contexto nos guia quanto ao significado envolvido, e, geralmente, nos lugares onde este termo aparece nas Escrituras Gregas, os tradutores escolhem entre os dois sentidos de “liderar” e “cuidar.”90 Os que se inclinam ao tom da autoridade fazem isso; os que são a favor do sentido de cuidar e apoiar mostram isso por meio de sua tradução. Seja como for, a tradução “aquele que dá ajuda” tem plena validade e certamente harmoniza-se bem com o esírito geral das Escrituras Cristãs, particularmente com o exemplo e o espírito do Filho de Deus.

Es debida a que el término del lenguaje original (proistemi) tiene una amplia gama de significados. Fuentes consultadas indican que puede significar guiar, dirigir, asistir, proteger, representar, cuidar de, apoyar, preocuparse de, aplicarse en 89 El contexto es la guía para saber cuál de estos significados es apropiado y generalmente en los lugares de las Escrituras Cristianas donde aparece este término, los traductores escogen entre los dos sentidos de “dirigir” y “cuidar de“.90 Los que se inclinan por dar un tono de autoridad, lo hacen; los que favorecen un sentido de cuidar y de apoyar, lo indican de modo similar con su traducción. Sea cual sea el caso, la traducción “el que da ayuda” tiene validez plena y ciertamente armoniza bien con el espíritu de las Escrituras Cristianas como un todo, y particularmente con el ejemplo y el espíritu del Hijo de Dios.

A mesma expressão aparece em 1 Tessalonicenses 5:12, onde encontramos esta exortação (New Revised Standard Version):

La misma expresión aparece en 1 Tesalonicenses 5:12, donde encontramos esta exhortación (según vierte The New Revised Standard Version):

 

Apelamo-vos, irmãos e irmãs, para que respeiteis os que labutam entre vós, e que estão encarregados de vós no Senhor e vos admoestam.

Apelamos a vosotros, hermanos y hermanas, para que respetéis a los que trabajan duro entre vosotros, y están a cargo de vosotros en el Señor y os amonestan.

 

Mais uma vez encontramos um amplo espectro de versões desta expressão. Algumas rezam: “os que os presidem no Senhor” (ARA); “vos são superiores... no Senhor” (BJ); que os lideram no Senhor” (NVI). Outras traduções, contudo, rezam: “velam por vós no Senhor (TEB) e “aqueles que o Senhor escolheu para guiá-los” (BLH). Neste versículo, novamente, como em 1 Coríntios 12:28, não se usam substantivos, mas as três formas verbais participiais “trabalhando,” “cuidando (ou presidindo),” e “ensinando (ou admoestando).” Mostrando a diferença que isto faz, Banks comenta:

Encontramos otra vez un rango similar de traducciones de esta expresión. Algunas leen: “[los que] ejercen autoridad en el Señor” (New American Bible); “[aquéllos] sobre vosotros en el Señor” (The Revised Standard Version). Otras traducciones, sin embargo, leen: “[los] que os conducen en el servicio del Señor” (AT), “[los] que el Señor ha escogido para guiaros” (Today’s English Version), “[los] que os dirigen y aconsejan en el Señor” (Versión Popular), “[los que] os presiden en el Señor y os amonestan” (Versión Reina-Valera), “[los que] os presiden y os aconsejan en el nombre del Señor”, (Versión Interconfesional). Otra vez aquí en este versículo, igual que en 1 Corintios 12:28, no se emplean nombres, sino las formas verbales “trabajando”, “cuidando (o conduciendo)”, y “enseñando (o amonestando)”. Indicando las diferencias que esto produce, Banks comenta:

 

Juntas, estas três palavras simplesmente indicam o esforço gasto por tais pessoas em realizar suas tarefas, o caráter de apoio de seu trabalho e a nota de exortação e advertência que lhe é apropriada... o que se considera aqui não são posições oficiais dentro da comunidade, mas funções especiais.91

Estas tres palabras juntas indican simplemente el esfuerzo invertido  por estas personas en llevar a cabo sus tareas, el carácter apoyador de su trabajo y la nota de exhortación y de advertencia apropiada para ello. . . . lo que está en juego aquí no son posiciones oficiales dentro de la comunidad, sino funciones especiales. 91

 
Opiniões rígidas geradas por preconceitos

 

Além das tendências de certas traduções, nós mesmos podemos dar margem para que aquilo a que hoje estamos acostumados influencie nossa compreensão do passado.Temos a tendência natural de transpor ou projetar para trás os conceitos costumeiros existentes, sobrepondo-os a circunstâncias passadas. Se vivemos numa sociedade altamente organizada, ou estamos acostumados a um sistema religioso estruturado, talvez permitanos que isto influencie nossa expressão das expressões bíblicas de modos que vão além do que a evidência mostra.

Aparte de las preferencias de ciertas traducciones, nosotros mismos podemos permitir que nuestro entendimiento del pasado quede influenciado por lo que vemos que es normal en nuestro día. Tenemos la tendencia natural a transponer o proyectar hacia atrás los puntos de vista existentes, superponiéndolos a las circunstancias pasadas. Si vivimos en una sociedad altamente estructurada, o estamos acostumbrados a un sistema religioso estructurado, quizás permitamos que esto influya en el entendimiento que tenemos de algunas expresiones bíblicas de algunos modos que van más allá de lo que muestra la evidencia.

Se vemos a palavra “ministro” num texto bíblico podemos pensar nos “ministros” religiosos conforme os entendemos hoje. No entanto, a palavra usada pelos escritores cristãos (diakonos) significa apenas “servo, ajudante, asssistente.”92 O sentido modesto, humilde, que a palavra transmite talvez seja melhor expresso na declaração de Jesus:

Si vemos la palabra “ministro” en un texto bíblico, quizás pensemos en “ministros” religiosos tal como los vemos hoy día. Sin embargo, la palabra empleada por los escritores cristianos (diakonos) significa simplemente un “sirviente, ayudante, asistente” 92 El sentido llano, humilde que transmite la palabra tal vez se expresa del mejor modo en la declaración de Jesús:

 

No mundo, os governantes dominam sobre os seus súditos, e seus grandes homens os fazem sentir o peso da sua autoridade; mas não será assim entre vós. Entre vós, quem quiser ser grande tem de ser o vosso servo [diakonos, “ministro” (NM)] e quem quiser ser o primeiro tem de ser o servo mais disposto de todos — como o Filho do Homem; ele não veio para ser servido [do verbo diakoneo, “para que se lhe ministrasse” (NM), mas para servir.”93

Sabéis que los gobernantes de las naciones se enseñorean de ellas, y los que son grandes ejercen sobre ellas potestad. Mas entre vosotros no será así, sino el que quiera hacerse grande entre vosotros será vuestro servidor [diakonos, “ministro” (Traducción del Nuevo Mundo)], y el que quiera ser el primero entre vosotros será vuestro siervo; como el Hijo del Hombre no vino para ser servido [del verbo diakoneo, “para que se le ministrara” (Traducción del Nuevo Mundo)], sino para servir. 93

 

Neste sentido básico, todo cristão, não só uma ou poucas pessoas de um grupo, devem ser “ministros,” isto é, pessoas que se põem a serviço de outros. Ser “ministro” neste sentido é bem diferente do que a maioria das pessoas hoje entende como o significado do termo.94

En este sentido básico, todos los cristianos, no solamente una o unas pocas personas de un grupo, deberían ser “ministros”, es decir, personas que se ponen ellas mismas al servicio de otros. Ser un “ministro” en este sentido es bien diferente de lo que la mayoría de las personas entendería hoy que significa ese término. 94

A mesma palavra grega é traduzida como “diácono” em certos casos, e isto também, provavelmente nos faça pensar em termos de cargos eclesiásticos, embora o sentido, mais uma vez, seja simplesmente o de “ajudador” ou “assistente,” alguém que serve de algum modo necessário.95 As Escrituras não dão detalhes e nem estabelecem funções específicas ou formas de serviço para os que são chamados a servir em benefício de um grupo.

La misma palabra griega se vierte “diácono” en algunos casos, y esto también nos lleva a pensar en términos de un cargo de iglesia, mientras que otra vez el sentido es simplemente el de un “ayudante” o “asistente”, de alguien que sirve de alguna forma necesaria 95 Las Escrituras no dan ningún detalle ni establecen ninguna función específica ni forma de servicio para los llamados a servir de este modo para beneficio de un grupo.

As traduções amiúde vertem o termo episkopos como “bispo” e é quase impossível ao leitor não pensar em termos de cargo eclesiástico neste caso.96 Mesmo onde aparece a tradução mais correta “superin-tendente,” porém, pode ainda haver a tendência de pensar em superin-tendência  num sentido oficial e organizacional. Eu pensava assim até preparar o artigo “Superintendente” para a obra Ajuda ao Entendi-mento da Bíblia, e descobri então que o sentido básico do termo de modo algum exige tal conceito. Conforme a matéria preparada para essa obra diz com relação ao sentido original do termo:

Algunas traducciones a menudo vierten el término episkopos como “obispo” y para el lector es prácticamente imposible en este caso no pensar en términos de cargo eclesiástico.96 Incluso cuando se encuentra la traducción más correcta “superintendente”, todavía puede existir la tendencia a pensar en supervisión en sentido oficial y organizacional. Yo pensaba de ese modo hasta que trabajé en el artículo “Superintendente” para el libro Ayuda para entender la Biblia y vi entonces que el sentido básico del término no requiere en absoluto esa visión. Como afirma el material preparado para esa obra en relación con la fuente original del término:

 

Assim, o  Theological Dictionary of the New Testament... mostra que as formas verbais (episkópeo e episképtomai) eram empregadas no sentido secular básico de “encarar, considerar, mostrar consideração por algo, ou alguém”, “velar por”, “refletir sobre algo, examiná-lo, submetê-lo à investigação”, e “visitar”, sendo empregado neste último sentido especialmente ao se falar de visitas aos doentes, quer por parte de amigos, que lhes ministravam, quer por parte dum médico. O mesmo dicionário mostra que a Septuaginta emprega tais termos no sentido mais profundo de “preocupar-se com algo”, “cuidar de algo” e o aplica desta forma a um pastor e suas ovelhas.97

Por lo tanto, el Theological Dictionary of the New Testament . . . muestra que las formas verbales (episkopéo y  episképtomai) se usaban básicamente en el sentido extrabíblico de “mirar”, “pensar”, “tener en cuenta algo o alguien”, “velar por”, “reflexionar en algo”, “examinarlo”, “someterlo a investigación”, y “visitar”, usándose en este último sentido especialmente con referencia a visitar a enfermos, sean estas visitas de amigos para atender al enfermo o del médico mismo. La mencionada obra también dice que la Versión de los Setenta utiliza estos términos en el sentido más profundo de “estar interesado por algo”, “cuidar de algo”, y lo aplica de esta manera a un pastor y sus ovejas. 97

 
Visto que, em seu uso secular, o termo (episkopos) pode ser usado para significar superintender, escrutinar e inspecionar, poderíamos sobrepor às referências das Escrituras Cristãs a idéia de um superintendente ou supervisor organizacional que “superintende” a atividade de outros, inspecionando-os e exortando-os em seu trabalho designado.98 Mas por que deveríamos fazer isso quando o próprio termo não o requer? Mesmo onde tal definição pode ser admissível, por que adotá-la em preferência ao sentido igualmente básico e válido do interesse de cuidar, de velar por uma pessoa ou visitá-la por se preocupar com suas necessidades? Certamente esse sentido se harmoniza muito mais com o espírito das declarações de Cristo aos discípulos, os princípios de serviço humilde que ele estabeleceu. Paulo captou este espírito quando afirmou:
Puesto que en su uso seglar, el término (episkopos) puede emplearse para significar supervisar, escrutar e inspeccionar, podríamos superponer a las referencias de las Escrituras Cristianas la idea de un superintendente o supervisor organizacional que “supervisa” la actividad de otros, inspeccionándolos y urgiéndoles a su trabajo asignado. 98 Pero ¿por qué deberíamos hacerlo cuando el término por sí mismo no lo requiere? Incluso donde fuese admisible semejante definición, ¿por qué adoptarla preferentemente en lugar del sentido básico e igualmente válido de un interés aplicado, de mirar de visitar a una persona motivados por interés en sus necesidades? De seguro que este sentido armoniza mucho mejor con el espíritu de las declaraciones de Cristo a sus discípulos, con los principios de servicio humilde que él difundió. Pablo capturó este espíritu en su afirmación:
 
Não dominamos a vossa fé, mas cooperamos [colaboramos, BJ] para a vossa alegria, pois, quanto a fé, estais firmes.99
No es que queramos imponeros lo que tenéis que creer, pues ya estáis firmes en vuestra fe; más bien queremos ayudaros a tener más gozo. 99

 

Os anciãos da comunidade cristã

 

O termo mais básico relacionado à direção dentro da congregação é “ancião.” Nas línguas bíblicas, a palavra significa simplesmente “pessoa mais velha.” Seria um erro pensar que o conceito de ancião é algo inerentemente ligado à religião. Na verdade, talvez seja a mais antiga forma de direção comunitária que a história conhece.100 Nos tempos bíblicos, Egito, Moabe, Midiã e Gibeão tinham todos seus anciãos, que atuavam representando as famílias das comunidades em que residiam.101 Quando Israel se estabeleceu em Canaã, cada cidade e aldeia tinha seus anciãos, que serviam de modo similar.102 Eles não são descritos como uma espécie de corpo permanente de administradores funcionando continuamente de modo oficial. Em vez disso, eles eram evidente e simplesmente indivíduos respeitados que estavam disponíveis toda vez que surgia a necessidade, preparados quando chamados a prestar assistência ao lidar com dificuldades ou problemas, quer em favor do indivíduo quer em favor da comunidade como um todo.103  Não há nenhuma indicação do costume de designar os anciãos israelitas num sentido organizacional — nenhum rei ou sacerdote os “designava” como anciãos — nem que fossem encarados como alguém que ocupava um “cargo.” A ausência de qualquer evidência neste sentido parece indicar que tratava-se apenas da questão de ser considerado pela comunidade como uma pessoa que manifestava sabedoria madura e discernimento, e ser tido ou reconhecido como tal por aqueles que já eram contados como entre os anciãos da comunidade. Ele era visto como ancião primariamente em virtude daquilo que era como pessoa. O assunto todo reflete a atitude de respeito e deferência demonstrados naqueles tempos para com as pessoas de mais idade e experiência, quer na família quer na comunidade.

Quando se formaram as comunidades cristãs, um padrão similar de orientação e ajuda entrou em vigor. É verdade que lemos que Paulo e Barnabé “designaram anciãos” em várias cidades que visitaram e que Paulo instruiu Tito a fazer “designações de anciãos” (“estabeleças anciãos,” TEB) em locais por toda Creta.104 O Theological Dictionary of the New Testament, porém, diz com respeito a Atos 14:23:

 

No grego secular presbuteros significava simplesmente ‘homem mais maduro’ — pelo menos fora do Egito. Muito possivelmente Lucas entendeu o termo desta forma em Atos [14:23]. Se o fez, Paulo então designou alguns ‘anciãos’ para uma responsabilidade específica, não algumas pessoas para a posição de ancião.105

 

Seja como for, estas eram circunstâncias especiais e envolviam a autoridade apostólica, exercida quer diretamente quer por delegação (como no caso de Tito), autoridade que não mais existe. É certo que nem todos os anciãos de todos os lugares chegaram a essa condição por visita pessoal de apostólos ou representantes apostólicos, e  não há nada escrito quanto à condição de anciãos ser conferida por correspondência nos tempos cristãos. Eles a obtinham, evidentemente, em virtude de serem localmente estimados como pessoas de discernimento maduro e sabedoria, resultando em serem reconhecidos como irmãos mais velhos por aqueles com quem eles se congregavam. E como sugere a fonte citada acima, em tais casos, qualquer “designação” visava não tornar alguém ancião, mas designar alguém que já era ancião para prestar um determinado serviço dentro da congregação. (Veja o Apêndice para informações adicionais.)

Assim, os arranjos dos tempos bíblicos parecem ter seguido linhas muito naturais. Os cristãos são apresentados como uma fraternidade, com uma atmosfera do tipo familiar.106

Numa família, quando o chefe da casa  (neste caso, Cristo) está fora, os filhos mais velhos geralmente são encarregados de zelar pela família. Seu dever é o de servir a família de modo proveitoso e protetor por representar fielmente o chefe ausente, mas nunca agir como se eles mesmos fossem o chefe. Não proclamam sua própria vontade ou instituem regras de sua própria criação, mas em vez disso recordam fielmente aos outros membros as coisas que o chefe lhes deixou como conselho, instruções ou padrões a serem seguidos.

Em qualquer grupo de pessoas que se reunam como crentes cristãos hoje, existirão razoavelmente pessoas que são respeitadas porque demonstram discernimento e sabedoria maduros e que, quando a ocasião exige, podem atender a pedidos ou necessidades individuais de uma pessoa, ou podem atuar em favor do grupo como um todo em assuntos importantes. De modo algum as Escrituras estabelecem a “designação” formal como essencial. O próprio arranjo familiar retratado nas Escrituras parece ir contra tal formalidade.107

 

Uma comunidade internacional

 

Os cristãos do primeiro século reuniam-se em encontros relativamente pequenos nos lares, e, uma vez passado Pentecostes, em parte alguma aparecem promovendo grandes assembléias envolvendo grandes números de pessoas vindas de diferentes regiões. Eles todos, não obstante, faziam parte de uma comunidade, agrupamento ou congregação maior, mundial, em virtude de estarem todos espiritualmente reunidos ao Filho de Deus como seu Cabeça. Como mostramos, esta relação ampliada não se expressava por estarem ligados ou sujeitos a Jerusalém como centro de administração religiosa, pois eles olhavam, em vez disso, para uma fonte celestial como seu centro de orientação. Esta unidade expressava-se no seu amor para com todos os outros, vistos ou não-vistos, pessoalmente conhecidos ou não, que partilhavam uma fé em comum, pois esse amor é “o perfeito vínculo de união.”108  Demonstravam seu relacionamento unido por meio da hospitalidade, estendendo-a aos que antes eram estranhos, partilhando suas coisas boas uns com os outros, por vir em socorro dos necessitados onde eles estivessem, por partilhar cartas e outras notícias encorajadoras com os que se reuniam em outros lugares, por orarem em favor destes, sentindo por eles em suas provações e dificuldades, exatamente como os membros de uma família fariam naturalmente uns pelos outros.109 Portanto, faz-se este comentário sobre a participação de Paulo em tudo isto:

 

[Ele] busca edificar relacionamentos duradouros de caráter pessoal em vez de institucional . . . Estes grupos cristãos dispersos não expressavam sua unidade por se amoldarem a uma organização jurídica, mas, ao invés, através de uma rede de contato pessoais entre pessoas que se consideravam membros da mesma famíla cristã.110

 

Podemos fazer o mesmo hoje. Temos a liberdade para fazer o mesmo hoje. É correto que desejemos associação. Temos de estar abertos a ela, e não só abertos a ela, mas temos de desejá-la e buscá-la, lutar para mantê-la apesar das imperfeições. No entanto, se prezarmos  a liberdade cristã, nunca faremos isto pelo preço de sacrificar a integridade para com a verdade. Lembramos da exortação apostólica: “Vocês foram comprados por alto preço; não se tornem escravos de homens.”111 Não precisamos comprar relacionamentos pelo preço de deixar que um sistema religioso nos sujeite a seu credo e nos submeta a sua estrutura de autoridade, ou deixar que seus líderes nos façam sentir que devemos ver-nos como apoiadores da denominação deles. O vivo interesse, de mente e coração abertos, nas pessoas, a disposição até mesmo de comprometer-se com as pessoas com genuíno interesse e amizade, é uma coisa. Comprometer-se com um sistema é outra.

Na segunda carta a Timóteo, Paulo comparou os adeptos da fé cristã a “uma casa grande.” Essa “casa” está incrivelmente grande em nossa época. Ele descreveu a casa como tendo vasos de tipos opostos, alguns valiosos, e alguns usados apenas para fins ignóbeis. E aconselhou Timóteo a ter critério, do mesmo modo como alguém não usaria vasos que eram utilizados para lavar coisas sujas para comer e beber.112 Não que ele tenha de considerar-se acima dos outros, nem queira ter contato com eles, nem mostrar interesse por eles nem ajudá-los. Mas ele discerniria o benefício da associação com aqueles cujas qualidades e atitudes eram saudáveis, proveitosas, genuinamente edificantes.113 Faremos bem em mostrar tal critério hoje. Em vez de deixar que a pressão para encontrar associações nos faça tomar decisões rápidas, seremos sábios em demonstrar paciência, pesando o efeito que a associação oferecida terá sobre nossa liberdade cristã, avaliando cuidadosamente seus supostos benefícios, examinando a base do seu apelo. Pode levar tempo para encontrar relacionamentos que nos edifiquem e sobre os quais possamos ter um efeito edificante ― em liberdade. Mas vale a pena esperar.

Por algum tempo, poderemos enfrentar certo grau de solidão. Os exemplos que Deus nos dá por meio de seus servos como encorajamento à nossa fé são em grande parte de pessoas que suportaram épocas de solidão. Alguns até “vagueavam pelos desertos, e pelas montanhas, e pelas cavernas, e pelas covas da terra”! Lembrando deles e da recompensa que lhes foi assegurada, podemos persistir em ‘levantar as mãos pendentes, fortalecer os joelhos debilitados e endireitar as veredas para os nossos pés’ em vez de disparar por um caminho de menor resistência.114 Se a escolha tem de ser feita, podemos sem temor, por certo período, dispensar as associações humanas na convicção de que jamais estamos sós, que mantemos em todas as épocas a transcendente amizade de Deus e seu Filho. Apenas sem esta é que não podemos passar, tudo o mais podemos fazer, se for preciso. A fé nos assegura que eles nos carregarão junto com eles, sustentarão, fortalecerão e encorajarão com seu amor. Quando e ao passo que nossos esforços forem recompensados ao encontrarmos amizades edificantes com outros, poderemos ver isto como algo extra, acrescentado, nunca esssencial.

Creio que essa perspectiva pode resultar, de fato, em encontrarmos, se não maior número de amigos, pelo menos amigos mais dignos, genuínos, cuja amizade não esteja condicionada pelo modo como uma organização ou uma denominação ou homens em autoridade nos encara, mas por aquilo que nós mesmos somos. O que sei é que ganhei pessoalmente, em muitos países, mais de tais amigos sinceros nas décadas passadas do que em todos os sessenta anos anteriores.

Qualquer que seja o caso, nossa liberdade é fortalecida por sabermos que existem amizades superiores, amizades mais vitais. As pessoas podem nos faltar. Não importa quão sinceramente nós as respeitemos, admiremos ou amemos, elas podem nos faltar. As experiências de Davi e Daquele a quem ele às vezes tipificava, Cristo Jesus, ilustram vigorosamente isto.115 Mas Deus e seu Filho nunca nos faltarão, nunca nos deixarão “cambaleando,” estarão sempre ali em nosso favor nas épocas de necessidade.116 

 

1         Atos 2:22-38.

2         Atos 5:27-29, BJ.

3         Colossenses 3:17, 23, 24, ARA.

4         Publicado no número de 1º de junho de 1977 de A Sentinela, páginas 332 a 342.

5         Hebreus 13:15, 16; pode-se notar que antes, no versículo 10, o autor usa o termo latreuo quando considera o “servir” prestado por se oferecer sacrifícios e oferendas no tabernáculo ou no templo, e daí contrasta isto com os sacrifícios do tipo espiritual que os cristãos oferecem num “altar” diferente.

6         Salmo 127:3; 1 Coríntios 7:14.

7         Confira Efésios 5:21-29.

8         Tito 2:4; confira Provérbios 31:10-31; Atos 9:36-41.

9         Colossenses 3:17, 23, ARA.

10      A Sentinela, 15 de fevereiro de 1981, páginas 22 e 24.

11      Tiago 1:27, NM.

12      Tim Gregerson era “pioneiro” na época, já o era havia alguns anos e continuou ainda por algum tempo. Logo, não era alguém “falto de zelo para com o serviço sagrado.”

13      Dan é tio de Tim, irmão do pai de Tim, Tom Gregerson, e também de Peter Gregerson. Veja também Crise de Consciência, páginas ___-___.

14      Hebreus 13:10-16.

15      Embora tenham pelo menos mencionado o cuidado com as co-Testemunhas que “padecem necessidade” neste artigo sobre “serviço sagrado,” e embora artigos ocasionais que falam sobre mostrar interesse e preocupação com idosos e necessitados apareçam na revista Sentinela, já vimos nos capítulos 6, 10 e 16 que na prática isto raramente recebe alguma atenção notável. Embora não seja o caso de todas, é uma verdade simples que se tiver de escolher entre gastar tempo no “serviço de campo” ou em visitar tais idosos, doentes ou necessitados, a maioria das Testemunhas e a maioria dos anciãos sentir-se-ão sob pressão para optar pelo “serviço de campo,” especialmente se suas “horas” estiverem um pouco baixas. Tais visitas podem até ser incluídas como “serviço sagrado,” mas não é um serviço que possa ser incluído no relatório. Isto não devia fazer diferença, mas claramente faz, como diz francamente a carta de Karl Adams para Nathan Knorr. (Veja o capítulo 6, páginas ___, ___; veja também a página ___.)

16      Lucas 10:29-37; confira 17:15-19.

17      Mateus 5:45-48, New English Bible.

18      Veja o Theological Dictionary of the New Testament (Versão Resumida), páginas 503, 504.

19      Levítico 19:9, 10, 13-15, 17, 18, 32-37; 23:22; 25:35-43; Deuteronômio 15:7-11; 16:18-20; 22:1-4, 6-8; 24:10-15, 17-22; 25:4.

20      Oséias 6:6; confira Mateus 12:7.

21      Jeremias 22:15, 16.

22      Miquéias 6:6-8, NVI.

23      Isaías 1:11-17; Amós 5:11-15, 21-24.

24      Romanos 12:1, TEB.

25      Vol. I, página 885. Similarmente, o Dicionário Teológico do Novo Testamento (em inglês,Vol. IV, páginas 63, 64) citado numa nota de rodapé na Sentinela de 1o de junho de 1977 (página 338), diz sobre a forma do verbo latreuein: “O uso compreensivo de latreuin para toda a conduta do justo para com Deus é encontrado primeiro em Luc. 1:74 . . . em Fil. 3:3, encontramos novamente latréuein num amplo sentido metafísico, no qual abrange a inteireza da existência cristã.”

26      Estas últimas palavas citadas são de Steven Ozment em When Fathers Ruled—Family Life in Reformation Europe (London: Harvard University Press, 1983), página 10. Pode-se mencionar aqui que durante muitas décadas a sede mundial da Torre de Vigia teve um caráter monástico, sendo a vasta maioria do pessoal formada por homens solteiros, e a conservação do celibato era requisito para continuar ali (ou nos escritórios de filial). A mesma exigência aplicava-se a todas as pessoas solteiras formadas na Escola de Gileade.

27      The Expositor’s Greek Testament, Vol, IV, páginas 237, 238.

28      A Sentinela, 1º de fevereiro de 1983, páginas 18, 19.

29      2 Coríntios 5:7.

30      The Expositor’s Greek Testament, Vol. IV, página 239.

31      Colossenses 2:16, 17; Hebreus 9:11-14, 23-26; 10:1, 19-22; 12:18-24.

32      Enfatizando que o objetivo básico de sua obra era levar os homens a uma relação pessoal aprovada com Deus, o apóstolo Paulo a descreveu como “o ministério da reconciliação,” e afirmou: “Somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.”— 2 Coríntios 5:18-20, ARA.

33      2 Coríntios 3:9-11; 4:18, TEB.

34      Tiago 2:8, 12; Jeremias 31:33-34; Romanos 7:6; Hebreus 8:10-13.

35      Romanos 12:4, 5; 1 Coríntios 12:12, 13.

36      1 Coríntios 10:16, 17; Efésios 4:4-6, 15, 16. A doutrina da Torre de Vigia sobre duas classes de cristãos cria uma situação impossível para aqueles que não são vistos como da classe “ungida.” Se não são dessa classe, não estão incluídos no “corpo de Cristo.” Todavia, estes com certeza aceitam a Cristo como sua Cabeça, e se é assim, como podem eles não fazer parte do corpo de Cristo?

37      1 Coríntios 11:3; 12:6-11, ARA.

38      1 Coríntios 12:4-6, 27-31, ARA.

39      João 15:1-17.

40      Romanos 12:5 ARA.

41      Gálatas 6:10; confira Efésios 2:19.

42      Efésios 2:13-22, ARA; confira também 1 Coríntios 6:19.

43      Efésios 2:19; Hebreus 8:11; 1 Pedro 2:9.

44      Filipenses 3:20, NM; Hebreus 11:8-10, 15, 16, ARA.

45      Efésios 2:21, 22; 1 Pedro 2:5, 9.

46      1 Timóteo 3:15; 2 Timóteo 2:19-21; Hebreus 3:6; 1 Pedro 4:17.

47      Marcos 3:33-35, ARA.

48      1 Timóteo 5:1, 2, ARA.

49      Mateus 23:8, 9, BJ.

50      Veja, por exemplo, a consideração do termo em Paul’s Idea of Community, páginas 34, 35.

51      Confira Romanos 16:3-5; 1 Coríntios 16:19; Colossenses 4:15; Filêmon 2.

52      Paul’s Idea of Community, página 41.

53      Vol. IV, página 212 (comentando o versículo 2 de Filêmon.).

54      Efésios 2:21, 22.

55      Veja Paul’s Idea of Community, páginas 41 e 42; St. Paul’s Corinth, Texts e Archaeology, Jerome Murphy-O’Connor (Michael Glazier, Inc., Wilmington, 1983) páginas 153-159.

56      The Divine Imperative, Emil Brünner (The Westmisnter Press, Filadélfia, 1937), página 529.

57      Mateus 18:20.

58      Hebreus 10:24, 25, NVI.

59      Romanos 12:5, ARA.

60      O Expositor’s Greek Testament (Vol. IV, página 347), explicando Hebreus 10:25, comenta que o uso pelo autor da expressão um pouco longa epsynagoge eauton (ajuntando-se entre si mesmos) em vez do simples synagoge (assembléia, congregação), dizendo que synagoge “podia muito bem ter sugerido o edifício e reuniões formais declaradas, enquanto epsynagoge eauton denota simplesmente o ajuntamento dos cristãos.”

61      Confira seu uso em Mateus 27:46; 2 Coríntios 4:9.

62      Paul’s Idea of Community, página 92.

63      Atos 2:46; 5:42.

64      Atos 19:1, 8. A evidência aponta para a freqüência similar de muitos cristãos à sinagoga, de início, e essa freqüência continuou até que a oposição a tornou desaconselhável. (Atos 18:24-26; compare com João 16:1, 2)

65      Atos 19:8-10, NEB.

66      The International Standard Bible Encyclopedia, Vol. V, página 544.

67      Gálatas 1:13-15; 1 Timóteo 1:3-7;1 Timóteo 6:4, 5; 2 Timóteo 2:14-16; Tito 3:9.

68      Romanos 12:3, 9, 10, 16; Colossenses 3:7, 12-17; 2 Timóteo 2:23-26; Tito 1:9, 13; Tiago 3:13-17; 1 Pedro 4:8-11; 1 Pedro 5:2-5.

69      Efésios 4:3; Gálatas 5:13-21.

70      Mateus 18:20.

71      1 Coríntios 1:10-17. Sobre a palavra “mente” (grego, nous) conforme usada por Paulo, o Theological Dictionary of the New Testament (Edição Resumida), página 537, afirma: “Ela primeiro significa ‘mente’ ou ‘disposição’ no sentido da orientação interior ou atitude moral.” Confira também Romanos 15:5, 6.

72      Romanos 14:1-6, 13-22.

73      Colossenses 3:14.

74      1 Coríntios 2:16; 1 Timóteo 6:3-5; Tito 3:2-7.

75      Efésios 4:15, 16; Colossenses 2:17-19; Romanos 12:5.

76      Efésios 2:19, 20, ARA.

77      Confira Atos 15:32; 21:8-10; 1 Coríntios 12:10, 28; Efésios 4:11.

78      The New International Dictionary of New Testament Theology, Vol. III, página 84, comenta similarmente: “Em Efé. 2:20 os profetas formam parte do ‘alicerce’ da igreja. Esta imagem sugere que o período no qual foram lançados os alicerces da igreja terminou, isto é, o cargo profético é uma coisa do passado. Os apóstolos são no NT o equivalente dos profetas do AT. Juntos eles constituem o alicerce, ‘sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a principal pedra angular.’” Note-se que o termo “profeta” no grego original (prophétes) significa basicamente “proclamador, aquele que torna conhecidas mensagens de uma fonte divina.” (Isto foi analisado em detalhes nos artigos que preparei para Ajuda ao Entendimento da Bíblia nos tópicos “Profecia” e “Profeta,” a mesma matéria que se encontra na edição revisada Estudo Perspicaz das Escrituras.) A proclamação pode envolver ou não predição de eventos e circunstâncias futuras. (Confira Atos 15:30-32.) Os próprios apóstolos, de modo verbal ou por escrito, cumpriram a função essencial de um profeta, e a mensagem divina que divulgaram, dali em diante registrada e preservada, constitui parte integral do alicerce da nossa fé até o dia de hoje. Quaisquer mensagens divulgadas por outros profetas cristãos, não tinham, evidentemente, maior importância, pois não temos mais que duas proclamações registradas, ambas do mesmo indivíduo, Ágabo. — Atos 11:27, 28; 21:10, 11.

79      Veja capítulos 4, 5 e 12.

80      Efésios 4:11-16, ARA.

81      Hebreus 5:12-14, BLH.

82      1 Coríntios 12:4-25; 1 Pedro 4:10, 11.

83      Gálatas 6:1, 2, ARA.

84      Only One Way, The Message of Galatians, de John R. W. Stott, páginas 158, 159. Em Paul’s Idea of Community, página 147, Robert Banks indica correspondentemente que nas cartas do apóstolo aos Efésios, Filipenses e Colossenses, “Paulo dirige-se sempre à toda a comunidade. Em parte alguma [destas cartas] ele confere responsabilidades especiais a um único grupo em relação aos demais.” E acrescenta: “A responsabilidade pastoral jamais pode permanecer nas mãos de uns poucos seletos, mas existe sempre como uma obrigação para todos os membros da comunidade — mesmo que alguns tenham uma posição mais vantajosa ou um dom maior para isto, podendo assim devotar-se mais energicamente à tarefa.” (compare 1 Tessalonicenses 5:12-14 com 1 Coríntios 16:15-18; 15:58.)

85      O termo português “cargo” pode, é claro, referir-se a uma obrigação ou incumbência designada, mas infelizmente o conceito de posição e autoridade organizacional é o que mais prontamente vem à mente da maioria das pessoas. Enquanto muitas traduções trazem a expressão “cargo” em 1 Timóteo 3:1 com referência ao homem que deseja servir como superintendente, a redação original do apóstolo não contém um termo equivalente  a “cargo,” mas refere-se simplesmente a “superintendência” (episkope). Portanto, algumas traduções trazem versões como “Se alguém deseja ser bispo (superintendente).” (NVI) O fato do apóstolo imediatamente continuar dizendo, “deseja uma nobre função,” mostra também que era um trabalho (grego, ergon) ou serviço que se tinha em vista, não um cargo ou posição eclesiástica. Confira 1 Coríntios 16:10, 12; Efésios 4:12; 1 Tessalonicenses 5:13.

86      1 Coríntios 12:5-11, 28, NEB.

87      1 Coríntios 12:28, BLH.

88      Paul’s Idea of Community, páginas 144, 145.

94      A Sentinela, 1º de março de 1976, 15 de setembro de1981.

95      1 Timóteo 3:8-13.

96      “Bispo” é, na verdade, a forma aportuguesada, não a tradução do grego episkopos.

97      Ajuda ao Entendimento da Bíblia, página 1587. Robert Banks comenta: “Finalmente, os próprios termos episkopos [superintendente] e diakonos [diácono, ministro] devem ser libertados das conotações oficiais eclesiásticas que hoje têm para nós, pois eles não são essencialmente diferentes dos vários outros termos pastorais que Paulo usa. Nenhuma evidência real existe sugerindo que estes termos tinham qualquer sentido técnico neste tempo. Isto é confirmado pelo fato de que no segundo século Inácio e Policarpo não têm conhecimento de um padrão episcopal na igreja de Filipos.”― Paul´s Idea of Community, página 147.

98      The New International Dictionary of New Testament Theology, Vol. I, páginas 188, 189.

99      2 Coríntios 1:24, TEB.

100   Veja Ajuda ao Entendimento da Bíblia, páginas 83 e 84. Poucos percebem que tanto o termo hebraico (zaquen) como o termo grego (presbyteros) para “ancião” corresponde em significado ao árabe “xeque,” ao latim “senator” e o anglo-saxônico “alderman,” todos eles significando basicamente “homem mais maduro.”

101   Gênesis 50:7; Números 22:4, 7, 8; Josué 9:3-11.

102   Josué 20:4; Juízes 8:14, 16.

103   Confira Rute 4:1-11; Lucas 7:3-5.

104   Atos 14:23; Tito 1:5. Mesmo esta expressão (grego, cheirotonéo) está sujeita a uma variedade de entendimentos. O Theological Dictionary of the New Testament (Edição Resumida), página 1312, diz sobre cheirotonéo: “1. Levantar a mão expressa concordância, e desta forma cheirotonéo primeiro ‘votar em.’ Outros significados que se desenvolvem são ‘selecionar’ e ‘nomear.’. . . 2. 2 Cor. 8:19 usa o verbo no sentido de ‘selecionar.’ Paulo refere-se à pessoa que foi ‘escolhida’ para acompanhá-lo na questão da coleta. Em Atos 14:23 Paulo e Barnabé ‘nomeiam’ os anciãos e depois estabelecem-nos em seu trabalho com oração e jejum.”

105   Edição Resumida, página 1312.

106   1 Timóteo 4:6; 5:1, 2.

107   The New International Dictionary of New Testament Theology, Vol. I, página

108   Colossenses 3:12-14.

109   Mateus 25:34-40; Romanos 12:10, 13, 15; 2 Coríntios 7:5-7, 13; Filipenses 2:19, 25-29; Colossenses 4:16; 1 Tessalonicenses 5:14, 15; Hebreus 6:10; 10:32-34; 10:1-11.

110   Paul’s Idea of Community, página 48.

111   1 Coríntiuos 7:23, NVI.

112   2 Timóteo 2:20, 21.

113   Compare 2 Timóteo 2:16-26 com 1 Coríntios 15:1, 2, 12, 33, 34.

114   Hebreus 11:38; 12:1, 12, 13.

115   Salmo 35:11-15; 38:11; 55:12-14; confira João 1:11; Mateus 26:20, 21, 33-49.

116   2 Coríntios 4:8, 9; Hebreus 13:5, 6; Salmo 16:5-8; 30:5.

 


 

[1][85] La palabra española “cargo” puede, por supuesto, referirse a una tarea o deber asignado, pero desafortunadamente a la mayoría de las personas le trae más bien a la mente el concepto de posición y autoridad organizacional. Aunque muchas traducciones contienen la expresión “cargo” en 1 Timoteo 3:1, con referencia al deseo de un hombre de servir como un superintendente, el escrito original del apóstol no contiene un término equivalente a “cargo”, sino que se refiere simplemente a “superintendencia” (episkope). Por tanto, algunas traducciones contienen versiones como “Si alguien pone su corazón en ser un superintendente” (The New International Version). El que el apóstol inmediatamente continúe diciendo que “es un buen trabajo lo que quiere hacer” (Versión Popular) también muestra que era un trabajo (griego ergon) o servicio de lo que se trataba, no un cargo o posición eclesiástica u organizacional. Compare con 1 Corintios 16:10, 12; Efesios 4:12; 1 Tesalonicenses 5:13.