“DIFERENTES MANEIRAS DE VIVER ....
ALGUMAS FORMAS DE COMUNICAR...”
1ª PARTE
(Preliminar ou Pré-textual)
FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
Este
Trabalho, foi realizado por motivos curriculares, no Curso de Estudos Superiores Especializados, em Educação Especial, que os seus autores (Grupo), se encontram a
frequentar, no Complexo de Ensino
Superior "Jean Piaget" -Viseu - Escola Superior de Educação
(Turma, B em Macedo de Cavaleiros.)
Foi
o mesmo Trabalho elaborado, com base nas normas definidas, na Disciplina:
"DEFICIÊNCIA AUDITIVA E PROBLEMAS
DE LINGUAGEM", a qual foi orientada pelo Docente, Drª Constança Glória Verdelho Vieira.
Macedo, 8 de Novembro de 1996
DEDICATÓRIA
A uma criança diferente, que um dia escreveu...
Olha para mim... não tenhas receio,
fala comigo...mesmo que penses não te poder ouvir.
Sorri para mim...mesmo que eu não te consiga ver,
ensina-me...mesmo que pareça não te entender.
Tenta, vale a pena. Tenta mais um pouco,
pois chegarás a me aceitar
e eu aprenderei a te amar!
PEREIRA, Olívia (1980) Educação Especial, actuais desafios. Ed.
Interamericana Sindicato Nacional de Editores de Livros. Rio de Janeiro.
RESUMO ANALÍTICO
Comunicação
e Linguagem, deficiência auditiva, sistemas de Comunicação
alternativos/aumentativos, são estes os pontos essenciais que tentaremos
ligeiramente abordar neste nosso trabalho.
Assim
primeiramente versaremos os conceitos de Comunicação e Linguagem.
Em
seguida abordaremos e definiremos o que se entende por Sistemas
alternativos/aumentativos.
Referir-nos-emos
na especialidade aos Sistemas de Comunicação mais conhecidos e aplicados em
Portugal nomeadamente à Comunicação Bimodal, Português Gestual, Gestuário,
Sistemas de Comunicação Amerind, Bliss, P.I.C., Makaton, S.P.C., Cued Speech e
A.K.A.
Finalmente
abordaremos a Comunicação Total.
Concluiremos
com a dificuldade de se optar por um sistema alternativo, na qual, sempre que
possível deverá ser o próprio deficiente auditivo (nomeadamente as Associações
de Surdos) a tomarem e apontarem as melhores soluções para a melhor opção.
ÍNDICE GERAL
I.
Introdução
II. Resumo Analítico
III. Comunicação e Linguagem
· O
que é a Comunicação ?
· Perturbações
na Linguagem
IV. Sistemas alternativos /aumentativos de
comunicação
· O
que é a comunicação alternativa / aumentativa ?
V. Sistemas de comunicação mais conhecidos em
Portugal
· Comunicação
Bimodal, Português Gestual e Gestuário
· Sistema
de comunicação Amerind
· Sistema
Bliss
· PIC
· Vocabulário
Makaton
· Qued
Speaka
· Sistema
Aka
· Sistema
Dinamarquês
VI. Comunicação Total
VII. Conclusão
VIII. Bibliografia
IX. Anexos
2ª PARTE
(Textual)
I
INTRODUÇÃO
O
ser humano não pode viver isolado, por ser habitado
pela Linguagem, suporte da sua Comunicação e também sinónimo de qualquer meio
que forneça expressão.
O
Homem, este ser deveras singular e excepcional, é dotado duma tal inteligência,
que o torna capaz de pôr em funcionamento todos os meios susceptíveis de
exprimir os seus sentimentos ou mesmo juízos.
A
Comunicação é sem dúvida a obra humana prima e em sua génese quase lembra a
velha questão meramente académica, se “primeiro nasceu o ovo ou a galinha
?!” Agora a grande interrogação é impregnada duma profundidade ainda mais
filosófica e dialéctica : Comunicação e Homem!... qual dos dois fez o
outro ?! Seria a Comunicação que nasceu do Homem ou seria ela então que
o humanizou, fazendo-o evoluir de
simples animal a pensador, lógico,
cumpridor de normas morais e éticas ?!
Mas,
o que é certamente inquestionável é a importância da Linguagem para o
desenvolvimento global do homem, entendendo nós por Linguagem um sistema usado
por um grupo de pessoas (ainda que em maioria), para dar significado a sons,
palavras, gestos, símbolos, etc., permitindo a esse grupo a comunicação entre
si.
O
objectivo principal do nosso trabalho é (sem desprezar um só momento a
Linguagem oral, quanto a nós, de longe a mais evoluída e até a mais cómoda),
fazer uma pequena abordagem, talvez até dar um pequeno contributo, sobre a
Problemática dos Sistemas de Comunicação, nomeadamente para os designados
aumentativos/alternativos. É que na base da maior parte da investigação neste
domínio, reside uma enorme preocupação e solidariedade humana para com aqueles,
que, por infortúnio, não foram capazes ou se encontram em sérias dificuldades,
para poderem usufruir duma Linguagem oral, dita normal. E entre todos eles ...
não podemos deixar de nos referir às Crianças com N.E.E., nomeadamente às possuidoras
de deficiências auditivas. Diremos que se atinge assim, com essa solidariedade
o feedback e uma função hermenêutica da própria Comunicação.
II
COMUNICAÇÃO / LINGUAGEM
1- O que é a Comunicação ?
“
A Comunicação é uma daquelas actividades
que todos reconhecem, mas que poucos sabem definir satisfatoriamente.
Comunicação é falarem uns com os outros, é a televisão, é divulgar informação,
é o nosso penteado; é a crítica literária : A lista é interminável.”
(Fiske, 1993)
Comunicação
é uma necessidade humana fundamental.
Comunicação
é um conceito demasiado vasto e tão complexo, que é quase impossível abordá-lo
em todos os seus aspectos neste trabalho.
Comunicar
é interagir. Transmitimos aos que nos rodeiam emoções, pensamentos, desejos ...
é transmitir o que sentimos através de qualquer meio.
A
Comunicação envolve o conhecimento e domínio das formas e instrumentos (dos
signos e códigos), para poderem ser transmitidos e recebidos, pondo-se em
prática as relações sociais.
Toda
a Comunicação sofre um longo processo de aperfeiçoamento e aprendizagem, desde
o nascimento da criança à idade adulta.
Na
sociedade a partilha de hábitos, valores, costumes, língua, assume um papel
privilegiado na comunicação, a linguagem falada.
“A comunicação existe a partir do momento em
que através da mímica e dos gestos queremos significar qualquer coisa para o
outro “ - Jean Le Boulon.
Para
Dobblelaire esta expressão (comunicação) nasce com a própria vida. Todas as
sensações viscerais do recém nascido provocam reacções como gritos, movimentos
... é uma forma de expressão, é uma forma de comunicar o seu sentir.
Pode-se hoje
afirmar, sem medo de dúvidas, que foi com o Homo Sapiens, há já várias
centenas de milhares de anos, que surgiram os primeiros episódios da História
da Comunicação. Sabemos que a cria
humana, é a mais pobre e frágil talvez da natureza...é fora do útero materno,
que irá acabar de se formar. No aspecto neurobiológico, diremos até que os seus
esquemas sensoriais e motores, bem como
as inúmeras interconexões dos seus
neurónios cerebrais (sinapses), irão acontecer fora já do ventre
materno. Esta configuração somatossensorial e neurológica, é influenciada pelas
relações familiares e sociais, é ainda indispensável o factor afectividade.
Diremos então, que a maturação humana é condicionada e caracterizada pela
própria socialização, na qual a
comunicação, desempenha um papel indispensável. O homem primitivo, ver-se-ia
assim vencido à partida no combate com os outros animais (cujas crias, nascem
mais completas e mais aptas a enfrentarem o mundo que as rodeia muito mais
cedo.) Como caçador que era, seria
também um simples derrotado pelas suas presas, por correrem muito mais
rápido. Estaria assim condenado a desaparecer, se não compensasse a sua
fraqueza com a sua astúcia e até habilidade manual, em relação aos outros
animais. E deste modo o homo sapiens tornou-se assim
simultaneamente em homo faber e homo loquens ( homem fabricante
de... e homem comunicador com...) Aprendeu assim a exteriorizar as suas
necessidades, os seus desejos, as suas
ideias até. Estabeleceu aos poucos um sistema de comunicação cada vez mais bem
elaborado a partir do seu próprio corpo. Começou com os gestos, que foram
acabando por possuírem cada vez mais
precisão de sentido e simultaneamente, começa por emitir sons, que se
tornam pouco a pouco em códigos significativos.
Os seus sentidos, encontram-se então mais
harmoniosamente desenvolvidos que os do homem actual (que desenvolveu em
contrapartida muito mais o neo-córtex cerebral). Para a caça, por exemplo, o
seu olfacto era-lhe muito precioso, o gosto determinava a sua alimentação, o
tacto permitia-lhe já bater-se, mas também...já amar. Na comunicação é com os olhos e com a vista ( que não são a mesma
coisa!), que começa a perceber melhor as mensagens dos outros homens e até as
de todo o meio ambiente.
A
vista e o ouvido, tornam-se assim desde o início, nos dois principais sentidos
da Comunicação, nascendo sobretudo destes dois sentidos respectivamente o gesto
e a palavra, que serão os dois modos de comunicar mais antigos. A harmonia é
grande entre estes dois sentidos, que vão ter uma influência futura, nas
relações ambientais e nas aquisições espaço- temporais. O gesto, bem como toda
a forma de expressão corporal, é assim já desde a origem, acompanhado duma
fenomímica O canto e a dança, adequadas às mais diversas situações e estados de
espírito, permitiu-lhes assim exprimir os próprios sentimentos, manifestar
alegria, tristeza, até mesmo fazer as
primeiras orações. A pouco e pouco este homem primitivo, irá transformar o
gesto, codificando-o e dando-lhe significações, as quais se transmitirão de
geração em geração, como uma herança cultural evolutiva. Os sons, que
acompanhavam os gestos, articulam-se pouco a pouco formando palavras, acabando
por surgir assim, a Linguagem Verbal.
O
Homem, diferenciou-se deste modo imparavelmente na sua evolução filogenética,
de todos os outros animais, conseguindo
um sistema de comunicação paulatinamente progressivo e aberto, que pôde e
conseguiu transmitir e aperfeiçoar ao longo dos séculos.
A
comunicação foi evoluindo, tal qual o próprio homem É talvez interessante
verificar quatro fases desta mesma evolução:
1ª Fase -
Exteriorização: o homem exprime-se pelo seu corpo, graças aos gestos e à sua palavra. É a fase de comunicação
interpessoal, em que ela se referencia com o seu meio, mas duma forma somente
imediata.
2ª Fase -
É já uma fase mais evoluída, o das denominadas
linguagens de transposição, onde
estão presentes já o desenho e mesmo o esquema, o ritmo e a música e sobretudo
a grande e verdadeira revolução, que foi a escrita fonética. É já a conquista
do espaço e do tempo...As mensagens, começam a serem movidas e a serem transmitidas e confiadas ao papiro
e aos pergaminhos. Começa por surgir já aqui uma verdadeira rede de informação
e surge a primeira comunicação de
elite, pela existência já nesta fase, da
diferença, da desigualdade, da arte,
da habilidade e até da criatividade e originalidade, entre os diversos
comunicadores. Surge talvez aqui o primeiro discurso político (quiçá já talvez
repleto de demagogia!)
3ª- Fase - É a chamada fase da Amplificação,
caracterizada pela implantação geral da Imprensa, atingindo o apogeu com as
comunicações por satélite. Os médias colectivos, os mass média conseguem deste
modo criar uma sociedade nova baseada na comunicação de massa, é a massificação
da comunicação, onde os sons e a imagens a cores invadem as casas, influenciam
a própria vontade individual, é a fase da difusão e do próprio consumo.
4ª Fase:
Nova fase no entanto, se deslumbra desde
já, a qual começou a surgir durante o apogeu da era da comunicação de massa e
que passou despercebida a muitos
analistas: são os chamados médias individuais ou os self-media . Baseiam-se na
gravação e nas chamadas novas grafias.
Vão desde a fotografia, à audiografia, à audiovideografia, à reprografia
A
comunicação é assim entendido como um fenómeno global de funções múltiplas, nas
quais estão inseridas sobretudo a informação, a educação, a animação e a
própria distracção. E modernamente ( até
pelo avanço do câncer, da hepatite B, do SIDA ou mesmo da encefalopatia dos bovinos, com transmissão ao homem), a
comunicação acaba até por estar ligada à própria conservação da espécie e à
inerente selecção natural... só que
agora talvez uma selecção cultural.
O
certo porém é que a Comunicação tanto pode oral como não vocal, estando assim
também presente em expressões faciais, gestos, mímica ou grafismos. No entanto,
a linguagem não verbal (ou não linguística) é diferente da verbal
(linguística), esta última traduzida num conjunto de símbolos e regras, mais ou
menos rígidos.
Podemos
então dizer que comunicar é um processo activo de troca de informação e de
ideias entre pessoas, utilizando os vários tipos de linguagem.
2- Linguagem.
A
linguagem pressupõe uma interacção, por ser um sistema de sinais ou
instrumentos que favorecem a comunicação e portanto as relações interpessoais.
Segundo
João dos Santos, “Linguagem é aquilo que fazemos para aprender a exprimir-nos
corporalmente, e depois adquirirmos uma linguagem verbal, isto é, aprendermos pouco a pouco a eliminar os
estímulos que estão a mais e a responder de forma cada vez mais adequada aos mais importantes”.
O
desenvolvimento dos órgãos de fonação, audição, visão e de estruturas
sensório-motoras estão intimamente ligados à aquisição de linguagem, ajudados
pelos centros cerebrais que regem as funções da linguagem: a área de Brocca
para a fala e de Wernicke, para a compreensão da linguagem.
Agindo
e interagindo todos estes factores, partem de uma intencionalidade - a
comunicação - para que a actividade linguística se desenvolva.
“Linguagem sob o ponto de vista
desenvolvimental é uma habilidade para compreender símbolos, particularmente
verbais, para pensar e como forma de comunicação” (Cooper; J. e outros,
1978).
Pode-se
dizer que linguagem e pensamento estão
ligados. Não é possível falar se no nosso pensamento não surgirem as
representações mentais das palavras que articulamos.
Da
ligação entre pensamento e linguagem é que decorre a grande importância da
aprendizagem da mesma.
Contudo
e apesar desta realidade sabe-se que certas crianças com paralisia cerebral,
não falando, desenvolvem no entanto conceitos linguísticos: são prova que por
vezes existe um pensamento independente da produção do discurso. A criança
surda tem habitualmente dificuldade na conceptualização e abstracção, pois
tanto o raciocínio e o pensamento, como tudo o que se passa à sua volta
dependem dos símbolos verbais que têm disponíveis.
Qual
será então a influência da linguagem no desenvolvimento e na formação de
conceitos nas crianças surdas ?
Furth
contribuiu com um trabalho, onde tentou demonstrar que a capacidade das
crianças surdas para enfrentar e resolver tarefas conceptuais não era de modo
nenhum deficitária.
Achava
que a capacidade cognitiva da criança surda se desenvolvia da mesma forma,
independentemente da linguagem. Isto, no entanto, parece ser exactamente ao
contrário. É em tarefas conceptuais, que as crianças que estão familiarizadas
com a linguagem, como as crianças ouvintes, têm vantagens em relação às não
ouvintes.
Contudo
Furth ao aplicar três tipos de tarefas para demonstrar aquilo que afirmava,
verifica que em algumas tarefas como igualdade e simetria, os surdos se
igualavam aos ouvintes. Nas tarefas de conceitos de oposição eram os surdos
inferiores aos ouvintes.
Se
havia por um lado, teorias que afirmavam que os surdos tinham níveis inferiores
de pensamento conceptual e outras que estabeleciam relações entre este déficit
de conceitos e o déficit de linguagem, Furth, diz-nos que existem certas
diferenças e atraso entre os ouvintes e não ouvintes apenas em determinados
conceitos, não se podendo generalizar. Assim o problema não se situa no
sujeito, mas na sua incapacidade de adquirir determinadas habilidades ou
características presentes em determinadas tarefas por isso factores exógenos ao
indivíduo.
Ele
situou a linguagem ao nível de habilidades mais específicas.
Resumindo,
para Furth, a linguagem pode dar alguma vantagem e eficiência em certas tarefas
e situações que necessitem de certos conceitos mas não é uma necessidade
premente para que surjam capacidades de abstracção e generalização.
Ele
afirma que :
“A
capacidade de aprendizagem de uma criança surda, em igualdade de condições, é
similar a uma criança ouvinte, se lhe é apresentada uma tarefa adequada às suas
possibilidades.
O
uso dos conceitos previamente adquiridos não dependem das habilidades de
aprendizagem da criança surda, mas de outras habilidades como a capacidade de
representação e manipulação mental, sendo aqui que a linguagem desempenharia um
papel decisivo, na hora de demonstrar uma eficácia similar aos dos ouvintes, na
hora de manipular e usar conceitos.”
Furth,
afirma que o funcionamento intelectual não depende exclusivamente da linguagem,
e as dificuldades da criança surda na aprendizagem da linguagem deve-se ao
facto da maior pobreza do seu uso, em relação aos ouvintes.
Recebeu,
no entanto, inúmeras críticas metodológicas de autores como Oleron (1971 e
1972) e Conrad (1979), porque achavam que houve descuido nos problemas
relacionados com a influência da linguagem sobre o conhecimento cognitivo.
Oleron (1976) diz não se poder descurar esse ponto fundamental. A criança surda
apresenta atraso nas formas abstractas de pensamento em relação à criança
ouvinte por não poder usar convenientemente a linguagem e por isso haver um atraso da mesma.
Furth,
defendeu sempre a igualdade de capacidades dos surdos em relação aos ouvintes,
conferindo diferenças apenas pelos factores externos ou ambientais, a que as
crianças surdas estão mais expostas, não
lhes permitindo um bom conhecimento cognitivo, a esse nível.
A
fala nas crianças ouvintes converte-se em ferramenta cognitiva, que dirige as
demais acções.
O
desenvolvimento da linguagem e pensamento, acompanha as restantes habilidades.
A
criança fica habilitada e com os requisitos para entrar na escola, e aprender a
ler.
A
criança surda, nesta fase, ainda se encontra muitas vezes, nos primeiros
degraus da linguagem. A estas crianças terá que ser ensinada uma língua
materna, uma linguagem, que lhe permita comunicar, pensar, para se desenvolver
a nível cognitivo. A escola, deve optar por dotar estas crianças, de uma
linguagem para o pensamento.
Apesar
de Piaget e outros, afirmarem que a permanência do objecto, é um
pré-requisito para adquirir a linguagem, provou-se que as crianças surdas a
adquiriam na mesma idade das crianças ouvintes. Por vezes mostram o uso
apropriado de signos muito mais cedo do que as ouvintes com as palavras.
O
mais importante é que o jogo simbólico na criança é uma das condições
essenciais para que a actividade linguística e não linguística se desenvolva.
O
desenvolvimento inicial da linguagem faz-se através do desenvolvimento da fala,
mais propriamente da linguagem verbal, nos seus componentes (fonológica,
morfológica, sintática, semântica e pragmática).
As
teorias da linguagem dividem-se em :
Condutal ou
Condutista - onde se dá
importância ao papel do ambiente no conjunto E-R. A “imitação” e “reforço” são
primordiais.
No entanto, hoje
reconhece-se que estes conceitos (reforços, aprovação, etc.) têm pouca
importância na aquisição da linguagem da criança.
Gramática Generativo -
Transformacional - Os estudos de Chomsky, basearam-se
exclusivamente na sintaxe. Esta teoria afirma que cada criança tem uma
predisposição inata para a linguagem.
Teorias cognitivas
- Os teóricos cognitivos afirmam que a linguagem potencia
as habilidades cognitivas existentes na criança.
O desenvolvimento
cognitivo é um pré-requisito para o desenvolvimento gramatical e lexical.
Teorias socioculturais
- Dão ênfase à interacção entre outros
membros da sociedade no desenvolvimento da
linguagem. O contexto social é importante para as regras linguísticas.
Este contexto
proporciona a interpretação das regras e do conteúdo da conversação.
A
linguagem da criança, deve ser analisada dentro de determinado contexto.
2.1-Linguagem
oral / linguagem de signos
Quadro comparativo
|
Linguagem falada |
Linguagem de signos |
Instrumento |
Ar, boca, língua |
Mãos, corpo |
Produção |
Fala articulada mediante fonemas de uma linguagem |
Articulação de signos mediante os gestemas de uma
linguagem |
Recepção |
Pelos ouvidos |
Pelos olhos |
Unidades |
Morfemas, palavras |
Morfemas, signos |
Combinação |
Gramática de uma determinada linguagem falada |
A gramática de uma determinada linguagem de signos |
Dados universais |
Cada linguagem utiliza um subconjunto destas estruturas Igual à linguagem de signos |
Cada linguagem utiliza um subconjunto destas estruturas
igual à linguagem falada |
Quadro
retirado de “La deficiencia auditiva : um
enfoque cognitivo” (1990) José Miguel R. Santos; Univ. Pontifícia,
Salamanca.
Verifica-se
que a velocidade das palavras é superior à fala dos signos. Mas ao comparar-se
a velocidade das proposições, verifica-se que não há diferenças entre as
linguagens. Existem, no entanto,
processos temporais e cognitivos básicos comuns, que controlam a
velocidade de produção de ambas.
Como
se desenvolvem cognitiva e linguisticamente as crianças surdas ?
Ainda
é ideia assente, para muitos, que a linguagem de signos atrasa a aquisição da
linguagem nas crianças surdas. A compreensão e uso desta linguagem, como
conjunto de gestos icónicos e com referências a objectos e situações concretas,
punham em causa a aprendizagem da linguagem oral. Daí, que foi o seu ensino,
posto de parte, em relação às crianças surdas.
Sabemos,
no entanto, que a linguagem oral não é aquela que é a mais válida para as
crianças surdas profundas. Podem e devem aprender a linguagem oral, mas é
preciso ir-se mais além.
Sobre
a linguagem de signos foram feitos vários estudos que vieram provar que,
contrariamente ao que se supunha, ela está organizada e tem uma estrutura
interna.
A
sua aquisição, o mais precoce possível, pelas crianças surdas, passa pelas
mesmas fases da linguagem oral para as crianças ouvintes.
O
seu uso não atrasa em nada o desenvolvimento cognitivo nem linguístico, mas até
o facilita.
A
linguagem de signos, permite à criança surda comunicar e por isso
desenvolver-se. Ela é sobretudo válida e primordial para a criança surda
profunda.
3-
Perturbações na Linguagem
A
perda auditiva interfere tanto na recepção da linguagem, como na sua produção.
E como a linguagem interfere em todas as dimensões do desenvolvimento, a
incapacidade de poder ouvir e falar é uma deficiência, que dificulta a
ajustamento social e académico.
Tanto
a Linguagem expressiva como a receptiva da criança, têm deficiências
significativas comparadas a outros padrões de desenvolvimento. Ela é
considerada como portadora duma desordem de Comunicação.
Segundo
Bouton (1977) uma perturbação de linguagem por vezes não existe em si mesma,
mas é mais um sintoma de outros problemas associados.
Nem
para todos os tipos de desordens da fala, existe terapia disponível. Em certos casos tais como
na fenda palatina, a cirurgia também pode ser necessária para melhorar a fala.
Na maior parte dos casos, os defeitos de fala afectam o desenvolvimento menos,
do que o fazem as demais desordens de comunicação.
No entanto uma criança, cuja fala apresenta disfunção muito grave, a ponto de
interferir com as suas habilidades de comunicação, experimentará também
problemas de desenvolvimento.
Existem
algumas perturbações que passamos a descrever; a título de curiosidade :
Afasia. Perda da função de
linguagem. É uma quebra da
capacidade de formular ou encontrar e descodificar os símbolos arbitrários de
linguagem.
A
afasia resulta de problemas no sistema nervoso central que podem ser adquiridos
(traumatismos cranianos, tumores, tromboses) ou congénitos (disfasia ou afasia
do desenvolvimento).
As
crianças com afasia adquirida têm
dificuldade em compreender o que lhe dizem (afasia receptiva) e em expressar os
seus pensamentos (afasia expressiva). A fala pode estar limitada ao uso de
palavras soltas sem ligações gramaticais (estilo telegráfico), a ordem das
palavras na frase pode ser incorrecta e pode haver troca de palavras ou sons
com uso de palavras sem sentido.
Frequentemente
a criança tem também dificuldades na aprendizagem da escrita, leitura e
cálculo.
Desconhece-se
a causa da afasia do desenvolvimento. Há uma perturbação no desenvolvimento da
linguagem que impede a criança de comunicar embora ela tenha audição e
inteligência normais e ambiente social estimulante. Pode haver afasia receptiva
e expressiva nestes casos e por vezes também atrasos na motricidade, disfunção
na motricidade oral, convulsões e comportamento autista. Todo o ensino deve ser
baseado em métodos de estabelecer comunicação. Por exemplo : a linguagem
Gestual.
Para
muitas destas crianças é necessário ordenar e sequenciar as actividades e
individualizar o ensino, preparando-as para o trabalho de grupo.
Afonia. Voz
baixa, quase ciciada. Pode iniciar-se por rouquidão, até ao desaparecimento
total da voz, conservando-se no entanto a
articulação.
Disartria - Dificuldades
de articulação das palavras que originam fala arrastada, escondida ou até
impossibilidade de articulação da palavra.
Disfasia -
Forma perturbada da organização da linguagem que se constrói sobre bases não
conformes às da linguagem comum.
Disfonia - Rouquidão.
Dislálias - Substituição,
omissão ou distorção de sons na palavra falada; são frequentes nas crianças com
atraso de linguagem.
Dislexias - O
termo dislexia abrange várias dificuldades que interferem com a aquisição da
leitura e da linguagem simbólica. O principal sinal de alerta é uma grande
dificuldade na ordenação espacial e sequencial de letras e números. A dislexia
não depende da inteligência tal como ela é definida pelos testes psicológicos
tradicionais. Daí que algumas crianças com uma
boa expressão oral possam necessitar de ajuda para aprender a ler,
escrever e ou aprender matemática.
Muitas
crianças com dislexia beneficiam dos métodos de ensino baseados em
aprendizagens multi-sensoriais. Essas aprendizagens multi-sensoriais asseguram
que sejam utilizados todos os canais de comunicação possíveis : ver, ouvir,
falar, tocar, dando à criança vários modos simultâneos de reter o significado
dos símbolos. Também são úteis as aprendizagens que realçam o significado e a
associação dos símbolos.
Algumas
estratégias para ajudar a criança com dislexia :
* Tarefas que permitam a participação na
discussão em trabalhos de projecto;
* Valorização das respostas correctas
assinalando o que está bem ;
* Utilização de etapas pequenas
arranjando formas variadas para apresentar o material nas áreas em que a
criança tem mais dificuldades;
* Não se deve forçar a memorização, deve
permitir-se que a criança marque o sítio enquanto está a ler ou a copiar;
utilizar formas lógicas, para a resolução de situações problemáticas; ler alto
o que se escreve no quadro;
* Usar auxiliares de memória, por ex.
mnemónicas e técnicas de associação, para ajudar a sequência;
* Usar métodos concretos para
estabelecer padrões de sequência e usar ajudas para a sequência. Por exemplo, tábuas de Matemática;
* Ensinar especificamente cada regra
ortográfica;
* Utilizar papel com linhas mais largas.
Normalmente as crianças com dislexia têm fraco controle dos movimentos finos.
As
crianças com dislexia, por vezes, sentem-se preocupadas e frustradas por não
progredirem. Sentem que as suas dificuldades são agravadas pela falta de
compreensão do professor ou dos colegas. o que pode levar a que tenham
comportamentos desajustados.
Fenda palatina. Malformação
devida a uma irregularidade no crescimento dos dois lados do palatino durante a
gestação e que aparece frequentemente associada ao lábio leporino.
Gaguez clónica. Repetição
de sílabas no início da palavra. A criança não demonstra tensão ou ansiedade.
Gaguez fisiológica ou de evolução. Repetição
de sons e palavras que pode surgir durante o desenvolvimento da criança, na
fase de aprendizagem da fala. Usualmente é ultrapassada sem problemas.
Gaguez tónica.
Repetição de sílabas, que a pessoa tenta evitar, agravando os bloqueios da
fala, com perturbações respiratórias e sincinésias (movimentos de cabeça, mãos
ou braços que acompanham as tentativas verbais infrutíferas).
Gaguez tónico-clónica. Repetição
de sílabas no início das palavras, mas com bloqueio e algumas sincinésias.
Lábio leporino. Malformação
que decorre da falta de união dos dois lados do lábio superior, durante o
período de gestação.
Mutismo - Impossibilidade da criança se exprimir pela
linguagem falada. A mudez pode ser total ou parcial. Parcial quando há fluência
de linguagem mas a pronúncia é tão pobre, no seu tom ou forma, que se assemelha
às tentativas frustadas do mudo quando pronuncia palavras isoladas. Uma
variante é o mutismo electivo, entendido
como a recusa de falar, que surge em crianças com desenvolvimento normal da
linguagem e da fala.
Rinofonia ou rinolalia. Alteração
do timbre da voz devido a modificações de ressonância nasal.
Taquifonia. Fala
acelerada com tempo silábico curto, supressão de sílabas e deformação de
palavras.
Ecolália. Imitação
de palavras ou frases ditas por outra pessoa sem a compreensão do significado
da palavra. Também há quem a defina como repetição dos sons.
Surdez
- Termo surdez está exclusivamente ligadoo ao conceito de alteração coclear.
Estas dificuldades podem ter origem em vários momentos da vida de uma criança.
A etiologia da surdez é um dos aspectos que mais condiciona a reabilitação
auditiva.
A
falta de audição afecta na criança a sua inteligência abstracta e conceptual,
principalmente quando se começa tardiamente a reabilitação.
É
importante a estimulação precoce, tanto auditiva como labial para que chegue a
compreender que há um simbolismo e que este se expressa com palavras. A
inteligência e linguagem estão associados e apoiam-se uma na outra. No
deficiente auditivo essa associação não existe. Quando adquire linguagem
estabelece-se a dita relação mas, em determinados casos a lacuna ente
inteligência e linguagem existirá sempre (Gonzalez e Aguilera Manso).
III
SISTEMAS ALTERNATIVOS /AUMENTATIVOS DE COMUNICAÇÃO
O
que é a comunicação alternativa/aumentativa ?
Pode-se
definir como sendo toda e qualquer forma de expressão à excepção da fala.
Partindo
deste pressuposto será interessante mencionarmos a relação que existe entre o
desenvolvimento da linguagem oral e escrita e os sistemas alternativos /
aumentativos de comunicação, através do seguinte quadro :
Linguagem oral / escrita |
Sistemas aumentativos /alternativos de comunicação |
1 - Estrutura física / técnica para transmitir
mensagens (aparelho pneufónico; movimentos para falar). |
1- Estrutura física Ajudas técnicas - máquina de escrever, tabelas de
comunicação, ponteiros; computadores |
2 - Conjunto de símbolos que representam a
realidade -
Palavra (falada e escrita) |
2- Leque variadíssimo de sistemas de símbolos de
diversa complexidade. Gestos, desenhos, pictogramas, letras / palavras |
3 - Conjunto de regras e procedimentos para
combinar as palavras. Morfologia e sintaxe |
3 - As mesmas regras e por vezes regras próprias
quanto à forma e combinação. |
4 - Comportamentos de interacção e função
comunicativa |
4 - Processo de comunicação começa antes da fala |
Tradicionalmente
as técnicas de comunicação aumentativa utilizavam-se nas pessoas com
deficiências motoras que apresentavam dificuldades na fala, com graves défices
auditivos ou ainda em pessoas com disfunções na comunicação da linguagem, tanto
na origem congénita como adquirida, na visão e desenvolvimento intelectual.
Para
dar resposta a algumas destas crianças tornou-se necessário procurar formar
alternativas de comunicação baseadas em diferentes meios de comunicação ou
expressões individuais que se tornam eficazes se houver um receptor e um
emissor.
A
utilização da maioria destes meios, requer o emprego de meios adicionais (técnicas) dado que são uma resposta técnica para
problemas humanos. Assim a sua escolha deve ser criteriosa e baseada nas
necessidades pessoais e emocionais de quem os vai usar.
Esta
escolha deve ser feita sempre de acordo com o modo de comunicação em diferentes
locais : casa, escola, comunidade.
Para
recorrer a este método aumentativo / alternativo à comunicação oral é
necessário à criança compreender, tentar
fazer entender-se, e não desistir.
Estes
sistemas dividem-se ainda em dois conjuntos:
1 - Sistemas sem ajuda
- que utilizam apenas o corpo para transmmitir a mensagem.
Podem-se
incluir :
a) Os
gestos de uso comum : (adeus, já vou, ...)
b) Códigos
gestuais: códigos não linguísticos com vocabulário limitado.(fechar os olhos ® estou
cansado, quero dormir)
c) Linguagens
gestuais : conjunto de gestos que apresentam unidades linguísticas, com
estruturas sintácticas. Isto tendo por base boas capacidades de memorização e
discriminação visual.
Linguagens gestuais
pedagógicas.
d) Representam
a organização morfosintática da fala ; por ex.: vocabulário Makaton.
e) Linguagem
codificada : gestos que representam segmentos e não unidades linguísticas. Ex.:
Alfabeto Manual.
Todos
os sistemas expostos são utilizados em não ouvintes, mas vai sendo usado cada
vez mais na comunicação o sistema gestual como um auxiliar.
Daqui
se pode concluir que os sistemas sem ajuda não são só para os não ouvintes.
2- Sistemas com ajuda -
São sistemas que exigem assistência externa (quadro; computador ...), são
apresentados sob a forma visual e gráfica. Exemplos :
a) Icónicos
Podem
ser apresentados sob a forma de :
-
Objectos reais ou miniaturas
-
Gravuras e fotos
-
Gravuras mais estilizadas ou abstractas
b) Pictogramas
-
O sistema P.I.C.
-
O sistema S.P.C.
-
O sistema Bliss
c) Ortografia tradicional
-
Alfabeto
-
Palavras - Frases
d) Códigos
-
Braille
-
Morse
IV
SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO MAIS CONHECIDOS EM PORTUGAL
1- Comunicação Bimodal e Português Gestual
Este
é um sistema de fácil compreensão podendo ser praticado pelos ouvintes e pelos
não ouvintes. Possibilitando a compreensão das mensagens, estimulando a
expressão, quer na comunicação com os ouvintes, quer com os não ouvintes.
Implica
a utilização ao mesmo tempo da linguagem oral, como da Gestual, originando um
benefício mútuo decorrente da informação oral e Gestual. Apesar da utilização
das duas linguagens, existe emissão de uma só língua (a oral), acompanhada de
símbolos gestuais.
As
mensagens são assim transmitidas de duas formas, oferecendo dois canais
informativos aos seus utilizadores.
Este
tipo de comunicação permite tornar visível ao surdo a língua oral, através da
linguagem Gestual.
A
comunicação Bimodal utiliza a dactilologia (soletração manual das palavras com
recurso ao alfabeto manual) para palavras e elementos gramaticais que não
tenham um gesto que lhe corresponda, assim como artigos, preposições, etc.
É
de referir também o chamada bilinguismo. E o
que se entende por bilinguismo?
Psicólogos, sociólogos, linguistas e
educadores têm tentado responder a esta pergunta formulando uma definição
satisfatória. A mais satisfatória e útil encontrada é a que diz que “uma pessoa bilingue é aquela que fala com
facilidade, duas línguas embora revele maior «competência e performance» quanto
à língua materna”. Tal asserção aplica-se também às pessoas surdas visto
ser possível que cada cidadão surdo possa ter conhecimento e usar a Língua
Gestual Portuguesa (L.G.P.) e a Língua Portuguesa (L.P.).
Mas
os surdos devem ser considerados como bilingues ? Para se dar uma resposta
teremos primeiro que saber se os surdos terão de facto uma língua.
Segundo
C.W. Morris “uma língua é composta por uma pluralidade de signos cuja significação
deve ser compreendida por um conjunto de intérpretes. Além disso, os signos
devem ser de natureza a poder ser produzidos por seres humanos e a manter a
mesma significação em situações diversas”.
Perante
a definição acima transcrita podemos afirmar que os surdos têm uma língua que
em Portugal é a Língua Gestual Portuguesa, a língua natural de todas as pessoas
surdas, uma língua de corpo inteiro e por isso rica e completa, com a sua
estrutura própria e a sua gramática.
A
criança surda, filha de pais surdos, é um bilingue composto e mistura a L.G.P.
com a L.P., enquanto que a criança surda, filha de pais ouvintes, pode ser um
bilingue coordenado, utilizando a L.G.P. com os cidadãos da comunidade surda e
a L.P. com os cidadãos ouvintes.
Diz-se
que o bilinguismo é um fenómeno de sociedade na comunidade surda. A maioria dos
surdos não têm competência satisfatória em L.P., embora todos possam situar-se
sobre um continuum entre a L.G.P. e a L.P.
Qualquer
projecto bilingue deve autorizar a livre utilização da L.G.P., não servindo
apenas de instrumento para adquirir certas aprendizagens.
Não
deverá ser unicamente uma educação de compensação para a pessoa surda mas sim
ser algo que exista por si e não apenas temporariamente.
É
de referir o papel fundamental da Língua Gestual Portuguesa (a língua materna
de cada um de nós) na educação e formação da criança surda.
A
L.G.P. (assim como as outras línguas gestuais de outros países) é falada a vários níveis, através das mãos, do
movimento corporal, da expressão facial.
A
localização e orientação das mãos traduzem os sentimentos, pensamentos através
do sentido das palavras.
A
L.G.P. possui uma fonética (gestos articulados), uma fonologia (elementos de
outra natureza diferente da forma sonora), um léxico (vocabulário), uma sintaxe
(regras para construir frases), uma semântica (significado de palavras ou
frases) e uma pragmática (modos de utilização da língua).
Assim
podemos dizer que a Língua Gestual utiliza não só os gestos produzidos mas
também a visualização dos mesmos.
Esta
Língua é importantíssima para as crianças deficientes auditivas uma vez que vai
contribuir para o pleno desenvolvimento e integração na sociedade. Não se pode
ignorar que a criança e os que a rodeiam (família, principalmente) devem
aprender os elementos básicos da Língua Gestual.
Não
se pode isolar a criança do mundo sem lhe permitir comunicar.
Os
defensores da Língua Gestual não querem minimizar a comunicação oral, mas acham
que a criança para a atingir deve primeiro desenvolver a sua capacidade de
comunicação e inter-relacionamento com o mundo que a rodeia.
O
que conta é comunicar com a criança, ensinar-lhe a transmitir o que deseja, a
pedir, a brincar.
Preconizam
que a educação e o ensino da criança surda, deve começar pela Língua
Materna seguindo com a escrita e depois
a Língua oral do país.
No
entanto, Portugal, como grande parte dos países da Europa, desde 1891, têm
vindo a adoptar as metodologias oralistas para o ensino dos surdos, como foi
ditado pelo Congresso de Milão de 1880. Metodologias, que como se entende,
privilegiam a educação do tacto, vista, órgãos vocais, etc., afirmando da
necessidade “de quem souber pronunciar sabe falar”.
Não
nos podemos esquecer que na década de 1960 e princípios de 70, apareceram na
Europa duas metodologias oralistas; uma Holandesa - método de Van Uden, e outra
da ex-Jugoslávia - método Guberina.
Portugal
adopta principalmente, em algumas das
escolas de surdos, como é o Instituto
Jacob Rodrigues Pereira, a metodologia de Guberina.
Estas
foram metodologias que retiraram das suas linhas programáticas a Língua
Gestual.
Entretanto
os professores deste Instituto, deram-se conta que apesar das exigências, de um
diagnóstico precoce, disponibilidade dos pais, apoios individualizados, equipas
técnicas diversificadas e qualificadas, verificaram que as suas crianças não
atingiam os objectivos planificados de forma a terem uma compreensão e
utilização da língua oral.
Daí
partiram para um estudo sobre a competência dos seus alunos sendo cerca de 93%
deles surdos profundos.
Os
resultados foram desastrosos, uma vez que a maioria das crianças escolhidas para este estudo, podiam
ser incluídas numa situação de quase analfabetismo da compreensão da língua
oral.
Chegou-se
à conclusão que o Instituto tinha de tomar medidas para colmatar todas estas
dificuldades. Concluíram que não seria necessário procurar linguagens
alternativas, mas sabendo que o surdo possui uma língua , a Gestual, esta devia
ser a primeira língua das crianças surdas profundas.
Daí
se passou a utilizar as duas línguas
Gestual e Escrita e / ou Oral, podendo desde já afirmar-se que a
aquisição precoce desta língua permite à criança surda um rápido e total
conhecimento cognitivo, permitindo-lhe melhores resultados na leitura escrita e
fala.
Do
exposto emerge a ideia, que a Língua Gestual pertença de uma minoria, com
traços culturais próprios, com uma Língua, tenha de passar pelo reconhecimento
social e protecção legal. Ela é própria da Comunidade Surda Portuguesa.
Tem
de se apostar em todos os elementos e necessidades, daqueles que estão perto
dos surdos. Apostar na sua formação. Estamos a falar de Monitores de L.G.P. que
na maioria são pessoas surdas que além da L.G.P. ser a sua língua materna,
dominam a Língua Portuguesa em especial a escrita.
Eles
são fundamentais para a formação de Intérpretes, que são indispensáveis para
dar conhecimento tanto a pais, como técnicos, professores, conhecimentos da
L.G.P.
Também
os Intérpretes são importantíssimos para toda a comunidade de surdos. São eles,
pessoas ouvintes que servem para mediar a comunidade surda com a ouvinte. Tem
de dominar não só o Português e a L.G.P. bem como uma língua estrangeira. Tem
de aprender a Língua Gestual Internacional (chamada o “esperanto” gestual).
Todos
estes e alguns outros meios de apoio à Língua desta Comunidade podem e devem
ser apoiados, para que a L.G.P., possa deixar de ser um “ghetto”, dentro da
Sociedade ouvinte.
A
criação de um Gestuário surgiu através do Ministério do Emprego e Segurança
Social e o Ministério da Educação com a colaboração do Secretariado Nacional de
Reabilitação, que através de apoio técnico e financeiro, levaram por diante a
investigação desta Língua.
Tendo
em vista, com a criação deste Gestuário, servir de guia para a comunicação dos
surdos, dirigida aos Pais, Professores e Educadores, Técnicos de Saúde,
Reabilitação, Intérpretes, assim como à população em geral.
No
entanto, verifica-se que se tornou difícil elaborar o Gestuário, uma vez que
dependendo das várias localidades do País, a comunidade surda, tem a sua
própria língua, a sua capacidade de descrever aquilo que os rodeia e as suas
próprias realidades e vivências.
Houve
uma tentativa de aproximação, que teve como resultado a criação de uma
Associação de Surdos, Técnicos e Professores que trabalham com os surdos, tendo
em vista a elaboração do Gestuário. Este
descreve o vocabulário da Língua Gestual Portuguesa. Apresenta unidades
gestuais equivalentes à “palavra” da língua verbal. Este gestuário é bastante
complexo.
O
gesto, como unidade de significação, pode ser analisado em outras sub-unidades
- os queremas (iguais aos fonemas),
que são definidos pela localização, configuração, movimento da mão ou mãos.
Pode ser indicador da prosódia, pela intensidade e velocidade com que é
executado, e ainda indicador de expressividade, ironia, etc. ... expressões
faciais codificadas que são acompanhadas pelo gesto.
Para
além disto também possui uma sintaxe, a organização e a sequencialidade dos
gestos no espaço e no tempo da sua realização.
Por
exemplo uma frase afirmativa, realizada com a expressão facial neutra, pode
tornar-se interrogativa pela expressão facial (levantar as sobrancelhas com um
ligeiro movimento da cabeça para a frente) e outros aspectos gramaticais que se
podiam ainda referir.
Esta
Língua, considerada como uma língua materna dos surdos vivendo em comunidade,
têm variantes gestuais para o mesmo conceito, dependendo das Instituições, onde
é aprendida, criando variações gestuais regionais.
A
Comissão Técnica e Equipa Redactorial para a elaboração do Gestuário, realizou
uma listagem de palavras, que os elementos representantes da comunidade surda
mostraram ser de interesse incluir no vocabulário prático relacionado com o
quotidiano, diversificado para várias áreas : lazer, trabalho, etc.
Também
os gestos procuraram ser organizados de acordo com a diversidade de realização
gestual, procurando um consenso entre os representantes das Associações de
Surdos e Associações Nacionais de Intérpretes.
O
uso deste Gestuário, e uma vez que é composto por fichas individualizadas, cada
utilizador pode usufruir dele, de acordo com os objectivos imediatos,
ocasionais ou programados.
Existem
três hipóteses de utilização, dependendo das respectivas classificações :
Classificação alfabética - mais indicada para quem quer aprender a
Língua Gestual.
Classificação temática
- para professores e aprendizes da Línguaa Gestual, quer surdos quer ouvintes.
É
baseado na classificação dos sentidos e ideias ao nível do significado das
palavras.
Classificação figurativa ou por
configuração - específica da Língua Gestual tem o
mesmo valor que tem a classificação alfabética. (Ver Anexo)
2- Sistema de Comunicação Amer Ind (Amerind)
Este
sistema de comunicação gestual foi desenvolvido por Madge Skell Hakanson, nos
E.U.A. Era utilizado por diferentes tribos de índios para comunicarem entre si.
Inicialmente
foi usado em indivíduos com lesão cerebral e actualmente passou a ser utilizado
por crianças com problemas de comunicação.
É
formado por 250 gestos muito elementares e não possui regras sintácticas.
3- Sistema S.P.C.
(Picture Communication Symbols)
Este
sistema foi criado por Roxanna Mayer Johnson, nos E.U.A. e baseia-se em
símbolos pictográficos, com palavra escrita na parte superior do cartão onde
cada um está fixado.
Este
sistema inclui alguns conceitos abstractos que são representados pela própria
palavra escrita.
O
S.P.C. divide-se em :
*Pessoas
*Acções / Verbos
*Adjectivos / Advérbios
*Substantivos
*Vários (Artigos, Conjunções, Cores,
Alfabeto)
*Social
Cada
grupo de símbolos tem uma cor idêntica ao do sistema Bliss, o que facilita a
localização do símbolo mais rapidamente.
Este
sistema pode ser utilizado por crianças com atraso no desenvolvimento
intelectual e fala. ( Ver em Anexo)
4- Sistema Bliss
O
Bliss é um sistema visual gráfico representado por símbolos que estão
acompanhados do seu significado e que representam pessoas, objectos, acções,
conceitos (vestuário, transportes, ...), sentimentos, etc. Estão dispostos num
quadro com determinada ordem e significado.
Este
sistema surgiu dos trabalhos de um austríaco, de nome Karl Blitz, que Hitler
enviou para um campo de concentração durante a 2ª Guerra Mundial.
Lá
sentiu a necessidade de comunicar independentemente da língua de cada um. Karl
Blitz fugiu para Inglaterra, mudou de nome para Charles Bliss e em 1940 foi
para Changai - China. Aí sofreu influência dos símbolos chineses e em 1942
criou um sistema de comunicação pictográfico que podia ser entendido
internacionalmente.
Depois
de vários anos de pesquisa publicou o seu livro “Semantografia” onde estão
traçados todas as ideias básicas deste sistema alternativo de comunicação.
Em
1971 uma equipa multidisciplinar do Centro de Ontário - Toronto, investigou
vários métodos alternativos de comunicação e seleccionaram o Bliss para
crianças com Paralisia Cerebral devido aos seus conceitos relacionados, quer
pictográficos, quer ideográficos ultrapassarem muitas das suas limitações.
Tem
sido muito usado como um sistema alternativo à linguagem oral em crianças com
deficiências motoras, nomeadamente Paralisia Cerebral.
É
um sistema escrito mais baseado no significado do que nos sons.
Tem
como objectivos :
* Uma Linguagem Expressiva para aumentar
o desenvolvimento da Linguagem Receptiva.
* Uma Linguagem Expressiva
paralela, contribuindo para o
desenvolvimento da Língua Materna.
* Um Sistema de Comunicação Básico.
Este
sistema destina-se a :
* Deficientes motores com Paralisia
Cerebral
* Deficientes auditivos, visuais,
mentais
* Afásicos
* Autistas
* Atrasos de desenvolvimento de
linguagem
* Deficiências múltiplas
* Adultos com doenças degenerativas
Pretende-se
que a criança / jovem ou adulto adquira uma maior independência, haja um
desenvolvimento da linguagem, uma
interacção sócio-familiar melhorada e exista uma estimulação intelectual.
Este
sistema alternativo de comunicação possui vantagens pois pode-se utilizar em
casa, na escola ou em qualquer outro local, visto o quadro ser fácil de
transportar.
É
de fácil compreensão visto em cima de cada símbolo existir a palavra escrita.
É
fundamental para a aprendizagem da leitura e da escrita, reforça a construção
correcta das frases e o reforço visual é constante.
Com
os símbolos é possível associar ideias e desenvolver o raciocínio.
No
Bliss existem símbolos pictográficos (parecem-se com o que representam).
Outros
são ideográficos (representam ideias).
Outros
ainda são arbitrários.
Outros
internacionais.
É
de realçar que o tamanho, a forma e a posição são importantes ao desenhar os
símbolos do Bliss pois eles determinam o significado do símbolo.
Através
da adição ou substituição de indicadores, um símbolo pode ter vários
significados.
Os elementos dos símbolos, podem combinar-se e
dar origem a novos símbolos.
Um
grupo de símbolos, designados como estratégias permite aumentar o seu
vocabulário.
Os
símbolos permitem escrever frases:
Existem
dois quadros do Bliss :
* Um com 100 símbolos
* Outro com 400 símbolos
Os
símbolos encontram-se dispostos no quadro por cores e áreas.
A B C D E F G H I J L M N OP Q R S T
U V X Z |
|||||
Branco |
Amarelo |
Verde |
Laranja |
Azul |
1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 10 100 1000 ! ; |
BRANCO - os símbolos indicam :
· perguntas (como ? quando?)
· preposições
· noções de quantidade
· noções espaço-temporais
AMARELO - pronomes
VERDE - acções
LARANJA - corpo humano, vestuário, ...
AZUL - adjectivos
O
alfabeto está na parte superior do quadro e a numeração na parte lateral
direita.
“Esta
organização permite que a criança tenha uma comunicação paralela ao discurso
oral” (Ver em Anexo).
5- P.I.C. Pictogram Ideogram
Communication
Nos
últimos anos temos assistido, em todo o mundo a uma grande pesquisa e
experimentação de vários sistemas de comunicação que podem, em certa medida,
substituir a fala.
Recentemente
surgiu um sistema gráfico de comunicação, conhecido por “Pictogramas” - P.I.C.,
abreviatura de Pictogram Ideogram Communication.
Os
“Pictogramas” são um sistema que foi concebido com o objectivo de possibilitar
a comunicação e assim estimular e desenvolver as capacidades de percepção e
conceptualização de pessoas impossibilitadas de comunicar oralmente.
É
da autoria de Subhas Maharaj, terapeuta da fala que exerce a sua função numa
Instituição para jovens e adultos deficientes mentais, em Saskatchewan, no
Canadá.
Em
1980, Subhas Maharaj publicou este método, depois de árduas investigações e
necessidade de criar um sistema gráfico simples que resultasse onde outros
(como o Bliss) não tinham tido êxito.
Ele
pode ser usado por crianças e jovens com atrasos acentuados no desenvolvimento
intelectual, com dificuldades na fala e/ou com problemas a nível perceptivo.
O
PIC pode funcionar como uma alternativa para crianças que não falam e que não
possuem capacidades para usar um nível de abstracção razoável e um método de leitura e escrita.
Em
Portugal, este sistema foi implantado em 1985 sendo a tradução dos vocábulos e
dos conceitos efectuada com a preciosa colaboração de uma Equipa de Ensino
Especial.
O
objectivo deste sistema será que a criança consiga descrever situações vividas,
passeios, contar o que viu e o que fez, pequenas histórias, enfim, registar
todo o tipo de actividades que desenvolva na sua vida diária.
Este
método é composto por 400 símbolos que englobam mais de 400 conceitos.
Os
símbolos graficamente são constituídos por figuras brancas, estilizadas, sobre
um fundo preto; podem ser agrupadas por áreas de interesse, facilitando assim à
criança a construção de frases.
Estes
símbolos são agrupados por doze famílias (também chamadas categorias) como por
exemplo :
* Casa
* Comida
* Escola
* ....
Eles
são colocados numa tabela desdobrável e de fácil transporte e são destacadas
sobre um fundo de cor. A cada família corresponde um campo de cor diferente
11 |
22 |
33 |
34 |
55 |
56 |
77 |
88 |
99 |
110 |
111 |
112 |
A
organização desta tabela deverá ter em conta as capacidades e necessidade do
aluno que a irá utilizar.
Contudo,
os símbolos deverão ser agrupados segundo uma área lógica, independentemente da
classe gramatical a que pertençam.
No
entanto devemos ter em atenção a escolha dos símbolos pois deverá ter como base
o conhecimento, as necessidades, as aspirações e as expectativas do aluno.
O
número de símbolos escolhidos também é variável podendo ir de 5 até 400 e
depende da capacidade de aprendizagem e de memorização do aluno.
Tudo
isto exige um treino (aprendizagem) que visa aumentar a capacidade de
concentração e de comportamento adequado a essa situação.
Além
deste factor será necessário que o professor avalie as capacidades para indicar
(apontar) um símbolo, utilizando se necessário técnicas e ajudas exteriores; é
fundamental também que o aluno seja capaz de se concentrar e estar atento sobre
uma tarefa, pelo menos algum tempo. (Ver
em Anexo)
6- Sistema Makaton
O
Sistema Makaton é um programa de
linguagem completo.
Teve
origem nos anos setenta em Inglaterra e foi desenvolvido pela terapeuta
Margareth Walker.
Inicialmente
usava apenas o gesto a acompanhar a fala. Depois foi-se desenvolvendo um
sistema gráfico com os símbolos que correspondiam ao vocabulário utilizado.
Actualmente
inclui um corpo de vocabulário básico ensinado com o recurso a gestos e
símbolos em simultâneo com a fala e pressupõe a utilização de estratégias
estruturadas de ensino.
O
Sistema Makaton é constituído por 350 vocábulos / palavras / gestos
distribuídos por oito níveis de complexidade crescente.
O
número de vocábulos é restrito, evitando assim a sobrecarga de memória.
Este
método tem como objectivo principal fornecer um meio de comunicação a
deficientes mentais, auditivos, etc.
Mesmo
naqueles casos em que a capacidade intelectual para a aprendizagem e
memorização é bastante fraca e desse modo não se consigam verificar grandes
evoluções para além dos estados iniciais, permite à criança ter um sistema
alternativo de comunicação muito útil ainda que bastante limitado.
É
muito utilizado em crianças com bastante dificuldades intelectuais pois usa
estímulos visuais, auditivos e gestuais.
Quando
a criança apresenta uma grande evolução a nível da linguagem e é fundamental a
aprendizagem de novos gestos, recorre-se à língua gestual para superar as
lacunas do Sistema Makaton.
Para
ser utilizado em Portugal sofreu remodelações de ordem linguística e teve-se em
atenção os gestos usados pela comunidade de surdos portugueses. (Ver em Anexo)
7 -Cued Speech
Orin
Cornett usou pela primeira vez o sistema alternativo e aumentativo de
comunicação - Cued Speech - nos U.S.A. em 1967.
Tem
por objectivo ultrapassar as numerosas
ambiguidades da leitura labial ou leitura da fala completando-a por chaves
manuais.
“Estas
chaves consistem num número limitado de configurações da mão fornecendo
informações complementares sobre as consoantes e de posições da mão com o apoio
da face que dão uma informação sobre as vogais. “ Constança G.
Verdelho Vieira(1).
Dá
informações rigorosas sobre cada sílaba e completa a leitura labial através da
combinação de configurações e de posições da mão.
Tem
por finalidade tornar visível a fala ao surdo, fazer com que a criança surda
tenha acesso ao mesmo vocabulário que a criança ouvinte.
Este
sistema permite a percepção completa da estrutura da frase, da forma dos verbos
e da análise fonética e fonológica.
Apesar
disto tudo, tem dificuldades inerentes à aprendizagem da técnica de projecção
que se propõe.
Existem
versões francesa, inglesa e espanhola mas não existe uma versão portuguesa.
(1)
- >VIEIRA, Constança Glória
Verdelho - Acetatos das Aulas no Instituto Piaget C.E.S.E em Educação
Especial.
8- A.K.A. - Alphabet
des Kinèmes Assistés
Este
sistema alternativo e aumentativo de comunicação foi criado por Walter Wouts em
1972 e mais tarde revisto (1981).
Teve
como destinatários as crianças e jovens surdas profundas.
É
um sistema formado por 30 elementos necessários e suficientes para a
compreensão da mensagem “percebidos pela vista e pelo ouvido, em sincronia
plurisensorial” que são completados por um número limitado de formas dos dedos
e das mãos e pelos movimentos buco-faciais.
Este
sistema é conhecido pela ajuda que assegura à recepção e produção da palavra.
O
A.K.A. auxilia a leitura labial através dos movimentos codificados ao lado da
boca, melhora a lisibilidade das “sósias” labiais, facilita os movimentos que
reproduzem características articulatórias.
Dentre
os inconvenientes salientamos alguns como o ser difícil de adquirir, o ser
abandonado quando a criança atinge um certo nível de linguagem e não ser
acessível a todos os adultos.
V
COMUNICAÇÃO TOTAL
A
Comunicação total foi introduzida pela primeira vez nos Estados Unidos em 1969.
Apesar de quase há duas décadas, ainda hoje as discussões persistem,
nomeadamente em definir se a comunicação total se deveria ficar por um processo
redutor, que consistiria em simples dobragem da Língua falada a partir da
Língua Gestual (uma espécie de decalque), ou fazer o que se define por uma
educação realmente bilingue. A Comunicação total, tenta no fundo acabar com as
centenárias controvérsias (hoje cada vez menos justificáveis) entre os
partidários dos métodos orais e os dos gestuais. Está aos poucos, até pelo
avanço dos média, a surgir um autêntico e comensural Paradigma educacional, que
assenta a Educação total em qualquer modalidade de Comunicação. A grande
novidade está porventura na pedagogia implicada, que terá que possuir uma
abertura total a todos os métodos, com o fim de retirar de todos eles, aquilo
que de específico, em Comunicação, possuem, fazendo assim uso adequado das
contribuições de cada um.
No
dizer de Denton (1), citado por Constança Vieira (2) :
“O termo Comunicação Total implica que
a criança surda, deve ser submetida, nas primeiras etapas do seu
desenvolvimento, a um sistema fiável de símbolos receptivo-expressivos, o qual
deverá manipular por si mesmo e do qual poderá abstrair significado no curso da
livre interacção com outras pessoas.
A filosofia da Comunicação Total
inclui o aspecto global das modalidades da linguagem : gestos inventados pela
criança, linguagem gestual, articulação, leitura labial, dactilologia, leitura
e escrita.
A filosofia da Comunicação Total
incorpora o desenvolvimento dos resíduos auditivos da criança para melhorar a
articulação e a leitura labial, através do uso constante de aparelhagem
individual e colectiva de alta qualidade de som e fidelidade.”
Pensamos
que cada vez mais é necessário fazer o enquadramento duma filosofia de
Comunicação, que pretenda e se esforce por aproveitar todos os meios possíveis
ao alcance do Homem, com vista a se relacionar com todos os seus semelhantes,
independentemente do seu tipo ou grau de handycap.
(1) DENTON, O. (1976) -
REMARKS IN SUPPORT OF A SYSTEM OF TOTAL COMMUNICATION FOR DEAF CHILDREN, in
Symposium on communication, Maryland School for the Deaf, Frederick - Mary land
p. 22-29
(2) VIEIRA, Constança G. Verdelho (1988) Os Deficientes Auditivos e a sua Integração
no Sistema Escolar Normal pags. 159 a 163. Universidade do Minho - Braga
É
a Comunicação Total defendida pelos métodos mistos ou de Orientação ecléctica.
Na verdade, à criança com handycap auditivo, não lhe será fácil a linguagem
verbal, sem antes fazer uso de todo o tipo de gestos, signos, que a levem a
fazer uma interacção com todos os que a rodeiam, compreendendo-os melhor,
expressando-lhes desejos, necessidades, dúvidas ou mesmo contestações. É neste
enfoque, que se deverá situar todo o desenvolvimento e aprendizagem das
crianças com deficiências auditivas.
Na
Comunicação Total, o aluno é o centro de todas as preocupações, esforços e
inovações pedagógicas. O objectivo, como filosofia, é a Comunicação a todo o
custo, aumentando e valorizando todas as suas formas e recursos.
É
óbvio, no entanto, que o êxito da Comunicação Total, está muito dependente da
criatividade, capacidade de inovação e
da própria habilidade da pessoa , não só da que comunica (envia a mensagem) mas
também de quem a recebe (receptor).
Após
uma observação diagnóstica apropriada e competente feita à criança, onde terão
que ser levados em devida conta os aspectos físicos, psicológicos,
sócio-emocionais, etc., está nas mãos do educador um uso adequado de vário tipo
de “habilidades orais, habiliades de reforço e habiliades resultantes”, como
refere Constança Vieira(1). Ainda, segundo esta autora, os
benefícios que a criança surda obtém com a Comunicação Total, são enormes,
referindo sobretudo:
”1.Atitude
de descontracção, em relação à sua deficiência (aspecto físico)
2.Melhor
aceitação da prótese (aspecto audiológico)
3.Melhor
conceito e imagem de si mesmo (aspecto psicológico)
4.Facilidade
de comunicação tanto com surdos, como com ouvintes.
5.Maior
facilidade de ajustamento (aspecto afectivo)
6.Satisfação
no seu trabalho e sentido de superação (aspecto profissional)”
Só
que, para se atingirem os Objectivos Gerais preconizados pela Comunicação
Total, seria necessário um macro esforço de todos quantos lidam (ou deveriam
lidar) com a criança, desde os pais, aos professores, passando pelos
companheiros (surdos ou ouvintes), não esquecendo ainda médicos, enfermeiros,
autarquias e público em geral.
Numa
problemática de integração-inclusão autêntica, com certeza que ninguém é
demais, o essencial é que cada qual, na sua especialidade, actue com zelo, competência,
lançando mão de todos os recursos disponíveis e sobretudo não
desesperando nem querendo andar demasiado depressa. O resto acontecerá e
surgirá por acréscimo.
VI
CONCLUSÃO
Ao
terminarmos este nosso trabalho queremos afirmar essencialmente, que não se
esgotam aqui todas as conclusões, ou mesmo que não existe ou não se adivinha
para tão cedo, o surgimento dum Paradigma consensual, que nos aponte para um
sistema de Comunicação Aumentativo / alternativo ideal, entre os vários que
quisemos abordar.
Pensamos,
no entanto, que a chamada Comunicação total é a que reúne um consenso mais
geral. Esta exige que não se negligencie ou despreze nenhum meio, que permita
melhorar a Comunicação, desde as aparelhagens electrónicas (computadores),
passando pela leitura, educação auditiva, leitura labial, leitura escrita,
signos, gestos naturais, desenho, cor, movimento, etc.
O
avanço constante no campo do conhecimento científico, nomeadamente em Ciências
da Educação, fez surgir um novo conceito em relação a Deficiente Auditivo. Ele
é sem dúvida muito mais que uma simples pessoa que não pode ouvir, já que é por
si só capaz de organizar o seu próprio mundo, não desperdiçando nenhum dos
aspectos específicos e muito próprios, que o definem, como uma pessoas
diferente.
O
deficiente auditivo viverá então num Mundo diferente e transformado pelo seu
próprio handycap, mas nem por isso desorganizado ou desumanizado. É no próprio Deficiente
auditivo, que residirá também uma competente e justa opinião, na escolha ou
adopção dum sistema de Comunicação adequado , que se traduzirá no fundo, num
cordão umbilical entre dois mundos diferentes nos quais existirão dúvidas
sérias de parte a parte, sobre qual o mais bem organizado. Há que penetrar
nesse Mundo, com os devidos cuidados, sempre num intuito universal e humanitário, que se resume no próprio acto de COMUNICAR... Mas fazê-lo sempre, não por
imposição ou esmagamento duma cultura ou duma ideia por outra, mas no respeito e na
solidariedade pela singularidade e diferenças de cada um.
Cremos
e fazemos votos, que este nosso trabalho seja mais um pequeno contributo, no
estudo da Problemática da Intervenção e Inserção Social (inclusão) do cidadão
com handycap auditivo. Pensamos, que
apesar do muito que já se fez, é necessário reflectir e programar ainda muito
mais, agora sobretudo à luz da “Declaração de
Salamanca”, realizada em 10 de Junho de 1994, em Espanha, que foi aprovada por mais de 300 participantes, em representação de 92
Governos e 25 Organizações Internacionais.
3ª Parte
(Referencial)
I
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& VIEIRA,
Constança Glória Verdelho (1988) Os
Deficientes Auditivos e a sua Integração no Sistema Escolar Normal
Universidade do Minho - Braga
II
BREVE RESENHA SOBRE A PROBLEMÁTICA DA DEFICIÊNCIA
AUDITIVA EM PORTUGAL
Nos últimos vinte
anos muita coisa mudou em todo o mundo. Neste espaço de tempo a reabilitação
oral de deficientes auditivos registou um progresso considerável. Da época da desmutização
ou da pedagogia da surdez, passou-se à época da criança deficiente auditiva.
É sempre bom lembrar
que à luz dos conhecimentos actuais, surdez e deficiência auditiva são coisas
diferentes. Um surdo é um deficiente auditivo, mas um deficiente auditivo pode
não ser um surdo. O conceito de surdez está ligado à noção de alteração cóclear.
Hoje conhecemos
melhor as causas da surdez, a genética alargou os seus horizontes e ainda bem
para todos nós e principalmente para os deficientes; o diagnóstico e a
reabilitação passaram da idade pré-escolar ao período neo-natal; a adaptação
protética é feita por computador, aproxima-se a passos largos a época das
próteses digitais com tratamento do sinal, já em fase de experiência; e para
além de tudo existe um conhecimento mais perfeito da organização do sistema
nervoso auditivo, da estruturação das áreas cerebrais de associação, da
dependência entre o cérebro reptiliano e sistema límbico e o neocortex.
Conhecem-se as etapas
do desenvolvimento humano e a reabilitação apresenta-se sob uma perspectiva
integrada em que as etapas filogenéticas e ontogenéticas têm de ser
respeitadas.
Perante tão
assinaláveis progressos parece lógico perguntar : Deficientes auditivos, que
futuro ?
Desde o célebre
Congresso de Milão de 1880 que o oralismo se impôs como conceito social e
humano.
Infelizmente os
oralistas do Congresso de Milão não dispunham da amplificação protética e
desconheciam tudo sobre o desenvolvimento do sistema nervoso auditivo.
Após o termo da II
Guerra Mundial os pedagogos da surdez apoiaram-se nos progressos técnicos a
nível da qualidade das próteses acústicas e dos amplificadores de mesa para
tentarem a obtenção dum nível psico-linguistico traduzido numa verdadeira
linguagem oral.
E pensaram que isso
seria sempre possível, fosse qual fosse a idade do educando. Enganaram-se. Eles
desconheciam o que felizmente hoje sabemos sobre maturação nervosa em geral e
do sistema nervoso auditivo em particular.
Devido a esta
decepção, bastantes pedagogos voltaram os seus olhares para um sistema
educacional desenvolvido nos Estados Unidos, a partir das concepções de Edmund
Gallaudet (1837-1917). E desde então a confusão instalou-se na Europa.
Com o aparecimento de
um verdadeiro «gestualismo ideológico»
que defende a «língua dos sinais»
como verdade universal para os surdos e a identidade cultural da «comunidade surda» ( e isto
independentemente do grau de
deficiência), a confusão na Europa atingiu o paroxismo.
Perante tal confusão
é necessário ter ideias claras e bem definidas.
O estudo da
deficiência auditiva é uma ciência complexa porque está relacionado com a
estruturação simbólica.
Os graus de
deficiência são muito variados (ligeiro - médio - severo - profundo) e os tipos
de deficiência são muito diferentes.
Por isso, as
repercussões a nível da harmonia do desenvolvimento são extremamente variáveis.
Os maiores problemas
surgem a nível da surdez profunda. Porém as possibilidades auditivas no domínio
da surdez profunda apresentam uma vasta gama de disponibilidades biológicas.
Na surdez profunda de
grau I o oralismo poderá ser obtido se o sistema nervoso auditivo for normal.
Os problemas começam
a complicar-se na surdez de grau II. É indiscutível que os 90 db Hl são uma
fronteira onde tudo vai mudar.
O futuro do
deficiente auditivo vai depender da equipa multidisciplinar que se ocupar do
caso e do meio familiar, social e económico em que a criança estiver inserida.
É bom lembrar que o
surdo profundo de grau II é capaz de ter uma certa percepção da organização do
tempo pela captação da energia dos transitórios. É reconhecida uma
periodicidade na medida em que cada transitório faz aparecer uma actividade no
sistema nervoso auditivo.
Se a palavra é um
gesto que é reconhecido pelo ouvido e pela vista (no surdo profundo de grau II pela vista e pelo ouvido), é
necessário neste grau de deficiência um trabalho integrado multifactorial e
pluridisciplinar que exige uma rigorosa planificação.
As dificuldades
motoras, especialmente na execução de gestos finos e nas sequências dos mesmos,
são encontrados em todos os atrasos de desenvolvimento da linguagem, incluindo
os desencadeados pela surdez.
No domínio específico
da surdez, os trabalhos realizados demonstram que a criança surda, tem
dificuldades na estruturação do espaço, no conhecimento do mundo que a rodeia,
na organização do tempo, muito antes de manifestar as suas dificuldades na
expressão oral da linguagem. Neste contexto, a planificação duma educação
precoce adaptada ultrapassa em muito o problema da emissão de palavras. De tudo
isto resulta a necessidade de uma visão integrada dum problema multifactorial.
Este aspecto é fundamental na surdez profunda de grau II.
Os problemas maiores
surgem na surdez profunda de grau III. Nestes casos a palma da mão tem por
vezes maior capacidade de transmissão de informação de que o ouvido. Temos a
opinião de que é nestes casos que uma comunicação bimodal se impõe.
Entre o que acabamos
de expor e o gestualismo ideológico que muitas vezes se apregoa, há uma
diferença, não de planeta, mas de galáxia.
Se o oralismo se
impõe como concepção social e humana, se a comunidade a que pertencemos utiliza
uma certa língua, parece-nos pouco lógico (e
até desumano) negar essa faculdade a quem tem capacidades para a
desenvolver.
É inegável que as
línguas gestuais e as línguas codificadas gestualmente sejam verdadeiras
línguas. O que se nega é o direito de se querer impor essas línguas
minoritárias a deficientes auditivos que têm capacidade para dominar a língua
que todos utilizamos.
Ou defender-se-á a
segregação em comunidades minoritárias, quando uma das maiores conquistas dos
tempos modernos foi a integração dos deficientes ?
Nunca como nos dias
de hoje, se pôs com tanta acuidade uma meditação serena sobre o significado da
pergunta : Deficientes auditivos, que futuro ?
Em 1982 foi feito no
Centro de Audiofonologia de Alhos Vedros um estudo incidindo sobre 1800
crianças sofrendo de surdez neuro-sensorial.
Em todos os casos foi
feito um inquérito abarcando os seguintes factores :
a) -
Informação relativa à família.
b) - Informação
sobre a mãe, a gravidez e parto.
c) - Informação sobre a saúde do doente.
d) -
Informação auditiva.
e) - Informação sobre o comportamento em geral.
A insuficiência de
dados colhidos, quer pela família da criança ser incapaz de os fornecer, quer
pelas crianças estarem em instituições que desconheciam os dados solicitados,
levaram à eliminação de 371 casos.
O estudo incidiu por
isso, na fase de tratamento de dados, sobre 1429 crianças.
Numa perspectiva
etiológica as percentagens encontradas foram as seguintes :
PERCENTAGEM DAS DIVERSAS ETIOLOGIAS
Indeterminada.......................................................... 33,5
% Genética.................................................................... 22,3
% Meningite
Encefalite.................................................... 9,5
% Rubéola...................................................................... 9,2
% Anóxia........................................................................ 8,4
% Icterícia
Neo-Natal...................................................... 5,5
% Prematuridade........................................................... 5,2
% Embriopatias
e Fetopatias........................................... 3,8
% Medicº.
Ototóxicos...................................................... 1,2
% Papeira....................................................................... 0,5
% Trausmatismo
coclear................................................. 0,48
% Sarampo..................................................................... 0,40
% Outras causas
mais raras............................................ 0,02
% |
É
grande em Portugal a confusão sobre métodos e finalidades a atingir na
reabilitação de Deficientes Auditivos.
Como
se já não bastasse tal confusão apareceu quem afirme que a integração é o fruto
de Maio de 68. Fazendo-se tábua rasa dos assinaláveis avanços do conhecimento
científico que se registaram nos últimos 20 anos, alguns dos quais já foram
referidos, e que permitem uma progressiva normalidade do deficiente auditivo
numa perspectiva social e humana, ataca-se a integração associando-a a uma
coisa que ninguém defende : a integração selvagem.
Outros
atacam o método oral tendo em conta os resultados obtidos com esse método em
Portugal. Tal atitude parece-nos ilógica e em certas situações pouco honesta.
No
livro «A Criança Deficiente Auditiva -
Situação Educativa em Portugal» -
Ed. Fundação Gulbenkian, demonstra-se que os resultados do método oral são maus
no nosso país.
No
mesmo livro também se demonstra que a despistagem e o diagnóstico são tardios,
que a acústica e alguns sectores educativos são uma verdadeira lástima.
Podemos
acrescentar ainda, fruto um pouca da experiência e da leitura de certos
trabalhos, que os diagnósticos para além de tardios, são muitas vezes mal
feitos, muitas vezes desconhecendo-se alguns acidentes de percurso (quedas
cocleares súbitas) que não sendo corrigidas comprometem irremediavelmente o
oralismo, que as próteses acústicas muitas vezes são um caos, que a parte
pedagógica sofreu nos últimos anos uma considerável degradação.
Sendo
assim, como atribuir a um método, culpas que pertencem às estruturas de um país
?
A
reabilitação oral dum deficiente auditivo severo ou profundo é uma tarefa
complexa :
1) - Exige um diagnóstico precoce e preciso da deficiência;
2) - Exige uma equipa pedagógica com profundos conhecimentos
de desenvolvimento infantil, de audiofonologia infantil e de amplificação
prótetica ;
3) - Exige uma família que participe nas várias etapas do
processo educativo, que conheça as dificuldades de cada etapa ;
4) - Exige recursos financeiros suficientes para manter em
funcionamento uma estrutura médica, pedagógica, familiar e social que necessita
de investimentos elevados.
Há
que programar rigorosamente um trabalho multifactorial e pluridisciplinar que exige
uma visão integrada numa equipa complexa. Esta equipa deve funcionar como as
peças de um relógio. E isto é o que não existe em Portugal.
O
que se verifica no nosso país é um trabalho desgarrado em que os vários
intervenientes no processo trabalham em locais diferentes, pertencem a
diferentes instituições, não existindo qualquer espécie de coordenação para
além duma coordenação burocrática.
Todo
este conjunto funciona aos solavancos e a maioria das vezes mal.
Sendo
assim como se poderá obter bons resultados globais ?
Por
outro lado continua a verificar-se por parte de muitas pessoas e algumas com
responsabilidades educacionais, políticas e de investigação, sobre o que é o oralismo verdadeiro.
O
Oralismo verdadeiro é a passagem do concreto ao abstracto, é o desenvolvimento
harmonioso das funções simbólicas, é a manipulação de conceitos, e a expressão
oral dum pensamento conceptual.
A
linguagem não é um telegrama, em que é suprimido « tudo quanto é colorido e agradável» e em que se dá prioridade «aos vocábulos, verbos e expressões
gramaticais absolutamente indispensáveis».
A
aquisição da linguagem não é uma aquisição progressiva de substantivos,
adjectivos e verbos. A aquisição da linguagem é a consequência duma maturação
global do sistema nervoso por todas as percepções sensoriais que são
indispensáveis a um desenvolvimento harmonioso.
O
desenvolvimento da linguagem está ligado ao desenvolvimento geral da criança e
a educação será portanto global.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA NA ELABORAÇÃO
DESTA RESENHA :
& MELO, António Pinho (1987) Deficientes Auditivos, que futuro? Revista Portuguesa de
Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-facial - Lisboa.
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& VIEIRA, Constança Glória Verdelho (1969) Resenha da História de Surdos. Trabalho
Policopiado.
III
ANEXOS