Contos, Causos e Crônicas
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Textos de Elza Souza Teixeira Silveira - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2003 - Todos os direitos pertencem à Autora
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CANTO A MINHA TERRA
Meu pai, Sr. Juca como era conhecido nessas paragens, aqui nasceu e aqui cresceu.

Depois de sua viuvez deixou os 6 filhos pequenos espalhados em casa de parentes e viajou para o Recôncavo levando no coração a dor de haver perdido a esposa e uma saudade doida do sertão e de sua gente.

Algum tempo depois conheceu uma jovem com a qual veio a casar-se, organizou um novo lar, levou os filhos que aqui deixara e eu nasci.

Cresci ouvindo-os falar sobre o sertão. Para eles era o seu Shangri-la. O período da seca era triste, mas quando as chuvas chegavam, tudo se transformava. A galharia seca se envolvia em um manto verde e o campo se cobria de flores e frutas silvestres.

À noite, quando meu pai contava as estórias do sertão, algumas aprendidas com a gente da terra, outras narrando dificuldades por ele vividas, lutas que tivera de enfrentar, quaisquer que fossem, sempre me fascinavam.

E foi assim que comecei amar esta terra, antes mesmo de conhecê-la.

Hoje, quando tento me lembrar dessas estórias e passá-las adiante estou contribuindo para resgatar a memória de nossa gente e prestando uma homenagem a meu velho que tanto amou sua terra, lendas e costumes.

Um dia meu pai anunciou o desejo de voltar para esta cidade, eu porém ficaria interna no Colégio 2 de Julho, onde estudava, até o fim do ano letivo.

Finalmente o ano escolar terminou e eu vim para Caetité  onde fixei minhas raízes.

Fui conhecer as árvores das quais meus irmãos tanto falavam: a jabuticabeira cujos frutos em vez de nascerem nas pontas dos galhos, agarravam-se ao tronco e tantas outras que frutificavam após a chegada das chuvas.

Uma vez, estávamos alegres porque a seca terminara; um amigo exaltado falou: O sertão só precisa de Deus mandar chuva para nós; se os governantes não se preocuparem conosco, não tem importância, com terra molhada e água nas lagoas o sertanejo resolve seus problemas!

Até hoje ainda sinto aquela emoção ao olhar para o céu e ver nuvens escuras comunicando o início das águas.

Fiz o magistério na antiga Escola Normal e depois, com 17 anos, comecei a lecionar no Colégio de Ponte Nova, em Wagner (Chapada Diamantina). Mais tarde fui ensinar no Colégio 2 de Julho, em Salvador.

Cada ano, quando vinha passar as férias, a vinda para Caetité sempre significava estar voltando para casa.

Enfim, após aprovação em concurso público, fui nomeada para o Instituto de Educação Anísio Teixeira onde, apesar das dificuldades, lecionei feliz até me aposentar.

Não fui professora por acaso, mas por livre escolha, e foi com amor que realizei meu trabalho.

Fiz nesta cidade bons e leais amigos.

Casei, os filhos vieram, depois os netos. A única netinha que não é daqui, embora só tenha 3 anos de idade, já diz aos pais que quer vir para Caetité.

Tantos anos já passaram, sinto-me tanto integrada a esta terra que, às vezes, me esqueço de haver nascido em outro lugar.