Os Primeiros Passos para o Discipulado
Cristo viveu silenciosamente em Seu lar com Seus pais, realizando a
mais difícil experiência da vida familiar, com sua monotonia, sua
invariável simplicidade, sua necessária subordinação à vontade e
necessidade do grupo, suas lições, que todo discípulo tem de aprender.
Enquanto não as houver aprendido, não pode progredir. Enquanto a divindade
não se expressar no lar, entre os que nos conhecem bem e são nossos amigos
familiares, não se pode esperar que se manifeste em outras partes. Devemos
viver como filhos de Deus no lugar – desinteressante, insípido, e às
vezes sórdido – que o destino nos coloca; não há nenhum outro lugar onde
esta etapa seja possível. O lugar em que nos encontramos é de onde começa
a nossa jornada, e dele não escaparemos. Se não tivermos êxito como
discípulos onde nos encontramos, no lugar onde nos descobrimos a nós
mesmos, nenhuma outra oportunidade nos será oferecida até que o consigamos.
Aqui está o nosso teste e o nosso campo de serviço.
Muitos estudantes verdadeiros e sinceros crêem, realmente, que eles poderiam
impressionar o seu meio ambiente e manifestar a sua divindade se tivessem uma
espécie diferente de lar, um ambiente ou cenário diferente. Se tivessem um
casamento diferente, ou tivessem mais dinheiro ou mais tempo livre, ou
tivessem melhor saúde física, quem sabe o que poderiam realizar. Um teste
é algo que julga nossa força para verificar de que espécie ela é; exige a
nossa capacidade máxima, e nos revela onde somos fracos e onde falhamos. A
necessidade hoje é de discípulos confiáveis e daqueles que foram então
testados e que não falharão ou cederão quando as dificuldades aparecerem e
se depararem com situações obscuras na vida.
Temos, se pudermos apenas entendê-lo, exatamente as circunstâncias e o
ambiente em que as lições de obediência ao superior, que está em nós,
podem ser aprendidas. Temos exatamente o tipo de corpo e as condições
físicas através dos quais a divindade pode se expressar. Temos os contatos
no mundo e a modalidade de trabalho que se requer para nos habilitar a dar o
próximo passo à frente no caminho do discipulado, o passo seguinte para
Deus. Até que os aspirantes compreendam esse fato essencial e se dediquem
alegres e amorosamente a uma vida de serviço e em seus próprios lares, não
poderão fazer nenhum progresso. Até que o caminho da vida seja trilhado,
alegre e silenciosamente e sem autopiedade no círculo familiar, nenhuma
outra lição ou oportunidade lhes será oferecida.
Muitos aspirantes bem intencionados precisam também entender que eles
próprios são responsáveis por muitas das dificuldades que passam. Confusos
por lhes parecer evocar tanto antagonismo por parte daqueles que os cercam,
lamentam-se por não encontrar aceitação amistosa na medida que tentam
levar uma vida espiritual, estudar, ler e pensar. A razão usualmente pode
ser encontrada no fato do seu egoísmo espiritual. Falam muito de suas
aspirações e sobre eles mesmos. Porque falham em suas primeiras
responsabilidades, não encontram nenhuma reação compreensível à procura
deles por tempo para meditar. Tem de ser reconhecido que estão meditando. A
casa deve estar quieta; ninguém pode perturbá-los. Nenhuma dessas
dificuldades surgiriam se os aspirantes se lembrassem de duas coisas.
Primeiro, que a meditação é um processo realizado secreta, silenciosa e
regularmente no templo secreto da própria mente do homem. Segundo, que muito
pode ser feito se as pessoas não falassem muito sobre o que estão fazendo.
Precisamos caminhar silenciosamente com Deus, mantermo-nos, como
personalidades, em segundo plano; organizar as nossas vidas de tal maneira
que possamos viver como almas, dedicando tempo para a cultura de nossas
almas, ao mesmo tempo preservando um senso de proporção, recebendo o afeto
daqueles que nos rodeiam, e cumprindo perfeitamente nossas responsabilidades
e obrigações. A autopiedade e o falar em demasia são os penhascos nos
quais muitos aspirantes temporariamente afundam.
Por intermédio do amor e da prática amorosa provamos a nós mesmos a
iniciação nos mistérios. Nascida no mundo de amor de Belém, a nota chave
de nossas vidas, desde então, é a obediência ao mais elevado que há em
nós, o amor a todos os seres e completa confiança no poder do Cristo
imanente para demonstrar – por meio da forma externa de nossa personalidade
– a vida de amor. A vida de Cristo é a vida para ser vivida agora,
eventualmente por todos nós. É uma vida de alegria e felicidade, de provas
e de problemas, mas a sua essência é amor e o seu método é amor.
Deixa-nos um exemplo para seguirmos Seus passos e continuar o trabalho que
Ele iniciou.