O Treinamento Esotérico da Escola Arcana
Sarah McKechnie
Palestra dada na Conferência da Universidade dos Sete Raios
Estou agradecida por convidar-me a falar sobre o trabalho da Escola
Arcana. Fazê-lo me traz alegria, pelo muito que significou em minha própria
vida espiritual. Durante os últimos 18 anos tenho tido a oportunidade de
servir na Escola da perspectiva do grupo da sede, que a supervisiona e
administra. Tem sido um grande privilégio: observar aspirantes ao
discipulado ingressar na Escola e tornarem-se impulsionados espiritualmente
por sua estimulação, que é o impacto da vida grupal. Como sabem aqueles
que trabalham na Escola Arcana durante um longo período de tempo, o
treinamento no discipulado é verdadeiramente transformador, e conheço
muitas pessoas, incluindo algumas que estão aqui hoje, que sentem a mesma
profunda gratidão que eu pela Escola, seus trabalhadores e sua fundadora,
Alice Bailey.
Alice Bailey veio à encarnação como discípulo mais antigo do Mestre Koot
Humi ou “K.H.”, com duas missões às quais a sua alma havia se
comprometido. Uma foi a colaboração como amanuense, ou escriba, ou
secretária com o Mestre Djwhal Khul ou D.K., em geral chamado simplesmente
“o Tibetano”, ele mesmo um discípulo no Ashram de K.H. Como seguramente
todos vocês sabem, seus trabalhos juntos, que durou 30 anos, produziu os
livros de filosofia esotérica publicados sob o nome de Alice Bailey, mas que
eram totalmente do Tibetano. Esta entrega da Sabedoria Antiga era a segunda
de três fases de ensinamentos dirigidos no período de aproximadamente
150-200 anos que abarca a transição da era de Peixes para a era de
Aquário. E creio que todos estamos de acordo que a produção destes livros
assinalou uma impressionante conquista.
A outra tarefa escolhida pela alma de Alice Bailey foi a fundação de uma
escola esotérica para treinar homens e mulheres modernos a se converterem em
discípulos conscientes. O termo “discípulo” abarca um amplo espectro de
desenvolvimento espiritual, e significa simplesmente “jovem aprendiz”. Um
discípulo é alguém que está aprendendo, educando-se a si mesmo,
treinando-se para tornar-se sensível à divindade interna ou princípio
Crístico, a alma. Concluindo, a Escola Arcana é uma escola para preparar
pessoas para serem “discípulos aceitos” – aqueles que se encontram nas
últimas etapas do caminho de prova e preparados para treinarem-se numa
responsabilidade consciente e comprometida com o Plano.
A Escola, fundada em 1923, existe para treinar discípulos a ajudar a
Hierarquia numa época de crise planetária tão urgente que produzirá o
reaparecimento do Cristo, o Instrutor Mundial. A Escola Arcana não está se
preparando para ser uma das novas Escolas, seja de iniciação ou de
preparação para a iniciação, descritas em Cartas Sobre Meditação
Ocultista. Sua tarefa consiste em ajudar a estabelecer as bases do
treinamento esotérico, baseado nas Regras para Aspirantes e para Iniciados,
que podem ajudar a vencer a distância entre as atuais escolas esotéricas e
aquelas que estarão supervisionadas por antigos discípulos do Ashram.
O nome “Escola Arcana” vem de uma escola que H.P.Blavatsky intentou,
evidentemente, estabelecer, mas que nunca pôde. Em muitas coisas Alice
Bailey prosseguiu com o trabalho estabelecido por H.P.B. posto que, como já
mencionei, os livros que escreveu foram a segunda fase de uma entrega
tripartite da Sabedoria Antiga para o mundo moderno, sendo a primeira a
grande obra de H.P.B., A Doutrina Secreta. A base esotérica de Alice estava
na teosofia, e teve o raro privilégio de ser instruída por dois dos
estudantes pessoais de Blavatsky. Ela e seu futuro marido, Foster Bailey,
conheceram-se na propriedade da Sociedade Teosófica em Krotona, no sul da
Califórnia, e ambos estiveram ativos em postos de liderança na Sociedade
até que decidiram seguir um caminho à parte, na medida que seu trabalho com
o Tibetano e seus planos de fundar uma escola esotérica começaram a
exigir-lhe mais energia. Mas as lições iniciais da Escola Arcana, antes da
publicação dos livros, se basearam, em grande medida, na teosofia, e
continua animando os estudantes a estudar os escritos de Blavatsky e de Annie
Bessant, entre outros.
Como resultado de suas experiências na Sociedade Teosófica, Alice era
plenamente consciente dos problemas que surgem quando os buscadores
espirituais se juntam nos níveis externos – os sobejamente conhecidos
problemas da personalidade, com suas miragens e ilusões, que podem
obscurecer os verdadeiros laços da alma que unem um grupo de discípulos
ativos. Assim, a Escola Arcana se conduz, desde seu início, por
correspondência. Não há classes, nem há professores. As lições e o
ensinamento são proporcionados de modo que o estudante receba orientação e
apoio e, sem embargo, é deixado totalmente livre para tomar ou ignorar esse
apoio à sua escolha.
Um dos princípios básicos da Sabedoria Antiga é que, essencialmente, o
esoterista é autodidata. O estudante é animado a desenvolver uma
percepção do ser interno, a alma, que é o primeiro Mestre, o Mestre no
Coração. O primeiro trabalho de meditação está organizado para efetuar
este contato e conduzi-lo a uma percepção consciente. Todas as verdadeiras
escolas esotéricas enfatizam a obediência oculta, mas esta obediência não
é a uma autoridade exterior, mas à alma, que tem seu propósito vital, seu
dharma ou dever. O reconhecimento de um Plano divino e da parte que
desempenha a alma no Plano é atraído por certos discípulos que, de pronto,
são capazes de conduzi-lo a uma percepção consciente. Para outros,
trata-se de um reconhecimento que se realiza durante a meditação e, para
outros, por meio das lições, magnificamente práticas, de provas e ensaios.
Ninguém pode ser discípulo a não ser que esteja disposto a cometer erros,
já que – em geral – estes são nossos melhores mestres. Nossa
obrigação não é evitá-los na base de não fazer nada, mas aprender com
eles. Uma de minhas citações favoritas é do Cardeal Newman, que diz:
“num mundo superior é de outra maneira, mas aqui embaixo viver é mudar, e
ser perfeito é fazer mudanças constantes”. Entretanto, é um treinamento
grupal, e espera-se que o estudante participe do treinamento, ou a Escola
chega à conclusão lógica de que o trabalho não lhe é útil e o
exclui.
A relação do estudante com a Escola é observada pelo grupo da sede e por
estudante mais antigo ou secretário, a cujo grupo foi designado o estudante.
Cada mês o estudante envia um informe sobre sua prática diária de
meditação e, quando está preparado, envia um trabalho de estudo sobre a
lição de trabalho que esteve desenvolvendo – sempre sobre algum aspecto
do esoterismo com uma aplicação prática aos problemas e necessidades
especiais atuais. Estes escritos são lidos e registrados na sede; são
enviados ao secretário do estudante ou a um companheiro estudante, mais
antigo, que depois lhe escreve a cada mês. Também são enviadas à sede as
cópias destas cartas, de maneira que existe uma relação triangular
estudante/secretário/sede. Esta estrutura demonstrou ser sustentável e, sem
embargo, deixa o estudante em liberdade: livre para resolver seus problemas
espirituais e para desenvolver seu campo de serviço como lhe pareça
adequado e possível à luz de suas circunstâncias e compromissos pessoais.
O grupo da sede está presente para proporcionar orientação e para
responder as perguntas quando surgirem, mas o estudante deve fazer suas
próprias escolhas. É livre para deixar a Escola no momento que decidir, e
muitos a deixam depois de ter recebido o que estavam buscando e de decidir
que chegou o momento de passar a outra coisa. Outros ficam, literalmente,
durante uma vida inteira, continuando com seu serviço na Escola depois de
ter completado o curso de trabalho.
A preparação da Escola Arcana é tríplice em sua ênfase com respeito à
meditação, o estudo e o serviço. As técnicas de meditação, que são
progressivas, estão baseadas na Raja Ioga, a ciência da mente. O trabalho
de estudo se baseia, fundamentalmente, nos livros de Alice Bailey, mas
também em outros escritos esotéricos sólidos, incluindo o Agni Ioga, e
estimula-se os estudantes a ler extensamente. O aspecto de serviço varia
segundo as habilidades do estudante, seu ambiente e circunstâncias, e sobre
isto me estenderei mais adiante. Mas, essencialmente, meditar e estudar sem
servir é, como diz a Bíblia, “fé sem trabalhos”. Não pode separar-se
um do outro, posto que o discípulo deve aprender a pensar, e a meditação
lhe ensina como empregar a mente – a pensar de forma abstrata, enquanto
aplica o que conhece de forma prática e concreta. É uma lei espiritual que
todo desenvolvimento espiritual deve ser compartilhado, porque “aquilo que
se recebe verticalmente deve ser distribuído horizontalmente”.
O treinamento grupal é uma característica fundamental do disciplulado da
nova era que está desenvolvendo-se rapidamente na atualidade. O trabalho da
Universidade dos Sete Raios é um experimento em desenvolvimento, a Escola
Arcana é outro. Embora os estudantes não têm classes na Escola Arcana,
são uma parte inquestionável de um processo grupal de desenvolvimento
espiritual e, na medida que esta compreensão torna-se firme no estudante,
produz nele uma profunda alegria e uma percepção dos laços sustentadores
do companheirismo que são uma característica tão poderosa do Caminho, mas
que são virtualmente impossíveis de transmitir a ninguém mais. Este não
é mais que um aspecto da vida espiritual sobre o qual somente pode existir
silêncio frente àqueles que ainda não compartilham o Caminho. O
companheirismo subjetivo é tocado de diversas formas nas antigas “Regras
do Caminho”, que finalizam: “o Peregrino sabe que não viaja só”.
Este companheirismo é fomentado mediante as técnicas progressivas de
meditação da Escola, que são compartilhadas por todos os estudantes que
trabalham no mesmo grau, ou nível de curso de trabalho, independentemente de
sua língua ou nacionalidade. Na atualidade temos estudantes em numerosos
países de todo o mundo, em cada continente, exceto a Antártida. O trabalho
é coordenado através de um grupo na sede dos três centros, Nova York,
Londres e Genebra. Os estudantes que vivem na América e Ásia trabalham por
intermédio de Nova York, em inglês ou em espanhol. Os estudantes que vivem
na Comunidade Britânica e os estudantes de fala inglesa na Europa e na
África trabalham por intermédio de Londres, enquanto que Genebra serve os
estudantes em holandês, francês, alemão, italiano e espanhol para os que
vivem na Espanha.
A ênfase da Escola Arcana é colocada na impessoalidade e no trabalho
grupal, e um não pode existir sem o outro. A impessoalidade possui uma
conotação negativa para muitas pessoas no “quente e confuso” teor
destes tempos, e isto é muito triste, porque a impessoalidade é esse
bálsamo curativo que não somente torna possíveis as relações grupais,
mas também educativas, fomentadoras e invocativas. A alma é natural e
inevitavelmente consciente do grupo, porque a alma não conhece separações
e não reconhece barreiras. A impessoalidade é a capacidade de,
literalmente, não levar em consideração o ser inferior e tudo que nos
divide uns dos outros, e de nos concentrar em nosso terreno comum: nossa
unidade na alma una.
A Escola não pede nem nunca espera obediência ou lealdade, porque a única
escola que importa é a escola interna universal de ocultismo centrada em
Shamballa, onde todas as verdadeiras escolas esotéricas têm sua origem e
base. Todas as expressões exteriores pertencem à Escola una de Sabedoria
interna e esta filiação subjetiva, vertical, é sempre a relação
importante.
A Escola Arcana nunca pede honorários ou pagamentos, porque não se cobra
pela preparação e nunca pode afastar-se de alguém porque carece da quantia
necessária. Mas, para administrar qualquer projeto no plano físico existem
gastos, e espera-se que os estudantes compartilhem a responsabilidade de
financiar o trabalho da Escola e suas atividades de acordo com sua capacidade
de contribuir. Esta visão do dinheiro é uma característica significativa
da Escola Arcana, que anima os estudantes e qualquer outro interessado a
participar a cada Domingo num serviço de meditação mundial sobre a
reorientação do dinheiro para fins hierárquicos. Forma parte de um duplo
esforço de meditação, sendo o outro a meditação especial de Quinta-feira
realizada por numerosas pessoas de todo o mundo para ajudar na preparação
para o reaparecimento do Cristo. A reorientação do dinheiro para as mãos
daqueles que procuram servir e compartilhar é um desenvolvimento essencial
necessário para criar a atmosfera subjetiva adequada na qual o Cristo pode
trabalhar, porque indicará que o verdadeiro sentido de compartilhar
penetrou, finalmente, na consciência humana. Compartilhar é uma expressão
exterior essencial de amor, a energia encarnada pelo Cristo.
O serviço constitui a nota chave da Escola Arcana, porque o serviço é a
expressão mais natural da alma. O objetivo de uma consciência em expansão
é poder oferecer ao Plano da Hierarquia para a humanidade um serviço cada
vez maior. O crescimento e desenvolvimento pessoal são somente meios para
este fim. Alguns pensarão no serviço como trabalhar com a Cruz Vermelha ou
distribuir comida aos repatriados, mas é, todavia, muito mais que esses
louváveis esforços. Define-se o serviço como o correto satisfazer de uma
necessidade em qualquer nível de consciência, e é um processo que conduz,
mais que qualquer outra coisa, ao desenvolvimento espiritual. A luz nunca
pode ser contida, retida para uso próprio de alguém. É um dos tipos de
energia mais poderosos e deve ser compartilhada livremente, mas também com
sabedoria, porque o serviço requer sabedoria para ser efetivo. Sem
sabedoria, o serviço pode não ser mais que uma intromissão indiscreta. Com
sabedoria, que é uma expressão de amor, o serviço pode proporcionar o
impulso da alma, o morador interno, que permite a outro ser vivo, seja uma
flor, animal ou homem, acelerar-se e crescer para a luz. O serviço é o
efeito da radiação, e afeta o centro cardíaco, a “sede da vida”.
Na Escola Arcana anima-se e ajuda os estudantes a descobrir seu campo de
serviço e sabemos que o Novo Grupo de Servidores do Mundo, do qual todos os
discípulos em atividade formam parte, está servindo energicamente em muitos
setores da vida humana, incluindo os três departamentos principais da
Hierarquia – governo, religião e educação – e nos departamentos
menores de educação, incluindo a ciência, a psicologia, as artes e a
cultura, e as finanças ou economia.
Esta percepção de que o Novo Grupo de Servidores do Mundo encontra-se hoje
ativo em numerosas frentes é um grande alívio, já que nos assegura que
não se requer a ninguém que salve o mundo, e que desobriga qualquer um de
tendência messiânica que pudesse estar esperando, em silêncio, para
pôr-se em marcha. O ponto de identificação se encontra no centro cardíaco
do Novo Grupo de Servidores do Mundo, formado pelo núcleo esotérico de
trabalhadores ocultistas treinados de todo o mundo. Talvez seja útil aqui
ter presente o ponto de vista do Tibetano a respeito do serviço: que “o
discípulo – se é fiel à sua alma e ao ashram – serve seus semelhantes
como esoterista bem como benfeitor e psicólogo”. Em outras palavras,
servir dentro do mundo do significado e da significação no qual se originam
as causas. A alma é, antes de tudo, o corpo causal.
A necessidade de servir é um impulso da alma, não um requisito imposto pela
Escola Arcana. Para a alma, servir torna-se tão natural como respirar o é
para o corpo, porque o aspecto da alma é a consciência, que outorga
percepção das relações e, portanto, de identificação e
responsabilidade. O serviço é a nota de Aquário e, cada vez mais,
descobrimos que os estudantes que ingressam na Escola estão já bem
posicionados num campo específico com oportunidades para que sua presença
possa estabelecer uma real diferença. O treinamento da Escola outorga um
contexto espiritual para orientação de suas vidas, técnicas para
desenvolver uma polarização mental, e a vontade espiritual, que sempre é a
vontade para o bem da totalidade.
Outros estudantes ainda estão buscando o seu campo apropriado, e temos uma
série de lições chamadas “A Serviço do Plano” que se compõem de
extratos dos livros de Alice Bailey e que se focalizam num departamento
específico como o governo ou a psicologia. Cada uma destas lições contém
uma técnica de meditação para desenvolver a capacidade de perceber o
serviço nesse campo específico. Essas lições encontram-se disponíveis,
sob pedido, para qualquer um, seja ou não estudante da Escola Arcana.
Também existem duas atividades de serviço da Escola Arcana nas quais muitos
estudantes participam. Trata-se de Triângulos e de Boa Vontade Mundial. Seja
qual for a decisão do estudante sobre onde dirigir suas energias, não é
indicado aos estudantes qual deveria ser seu campo de serviço, mas são
animados a desenvolver um campo de atividade em que possam aprender a servir
como esoteristas; onde a expressão da alma, que são as corretas relações,
possa ser posta à prova, examinada e experimentada, de acordo com o
ensinamento de que um ashram é um centro no qual se põem à prova as
relações.
Esta definição toca num aspecto fundamental da Escola Arcana e de todas as
escolas do planeta: o fato de uma hierarquia ou gradação da vida e da
vivacidade conhecida como a grande cadeia do ser. Todos o seres vivos evoluem
e crescem em capacidade e potência mediante o efeito estimulante da
vibração superior de uma forma de vida mais avançada. A Hierarquia serve
à humanidade para este efeito, assim como a humanidade, por sua vez,
estimula e atua como supervisora dos chamados reinos inferiores, o animal, o
vegetal e o mineral. Este mesmo princípio é aplicável a um grupo de
discípulos e, assim, um ashram é um centro no qual se põem à prova as
relações – onde os discípulos se tornam potentes e estimulam uns aos
outros de acordo com seus níveis de desenvolvimento espiritual. É um sinal
de sabedoria quão agradecidos deveríamos nos sentir por este fato, sabendo
reconhecer àqueles que podem estimular assim nosso crescimento espiritual, e
a quem nós podemos, também, ajudar em seu desenvolvimento.
O novo discipulado que está sendo desenvolvido atualmente nas escolas
esotéricas é um experimento em trabalho grupal cujo objetivo principal não
é o aperfeiçoamento do indivíduo, mas a criação de um grupo útil e
produtivo. Isto significa que, em certos casos, o crescimento individual deve
atrasar-se para adaptar ao ritmo do grupo. Para outros, implica em acelerar
os esforços que alguém realiza – submetendo-se a um processo
impulsionador – para satisfazer os requerimentos da vida do grupo. Na
criação de um grupo internamente unificado e telepático, a crítica, a
análise e os juízos não têm lugar e tão somente criam barreiras ao livre
fluir do amor. Nesta aura de amor cada discípulo pode, finalmente, perder de
vista sua preciosa e única identidade – algo totalmente oposto à
tendência atual no mundo, que é enfatizar a individualidade e concentrar-se
sobre todas aquelas vias nas quais alguém e seu grupo sejam diferentes e se
encontrem separados do todo maior. Entretanto, ao se libertar de uma
identidade que é separada e única, alguém descobre uma gama mais extensa
de percepção e de identificação que é verdadeiramente libertadora e
expansível. Porque a inclusividade, nos é dito, é a chave para entender a
consciência.
Como já mencionei, uma característica fundamental do treinamento da Escola
Arcana é a meditação, já que é o meio pelo qual se desperta o centro da
cabeça, conduzindo à fusão da alma e personalidade, do homem interno e o
externo. O centro da cabeça consta do centro de recepção e o centro ajna
de direção e, em sua fusão, a alma e a personalidade se unem numa total
sincronicidade de propósito, cooperando consciente e voluntariamente com o
Plano de Deus. Depois desta etapa segue o desenvolvimento da expressão da
Mônada – Vida pura – através da Tríada espiritual, e então alguém
está em vias de ser um Mestre. Mas, para a maioria de nós, isso ainda está
muito longe, e devemos ser realistas em nossa avaliação do que nos é
possível, ao tempo para desenvolvermos uma compreensão do objetivo com o
tempo e da envergadura da progressão da Hierarquia. Nisto não há motivo
algum para desanimar-se, mas tão somente para reconhecer a oportunidade,
porque a Hierarquia depende de seus discípulos, que atuam na periferia do
Grande Ashram, já que são os que entraram em contato com o entendimento da
humanidade e podem colocar voz ao “grito da humanidade” para que a
Hierarquia a escute.
Ao longo do treinamento, a Escola Arcana põe ênfase sobre os Problemas da
Humanidade e isto cria um ponto de crise para numerosos estudantes. De fato,
quando se introduziu o curso dos Problemas, no final dos anos 40, me contaram
que provocou uma crise considerável no grupo. Então, a forma de pensamento
do esoterismo estava orientada só verticalmente, com um enfoque abstrato, e
concernia somente aos planos internos, enquanto que, de fato, a compreensão
esotérica deve sempre aplicar-se aos planos exteriores da vida, porque essa
é a esfera que necessita ser redimida, que é o propósito do treinamento
esotérico. Existe uma relação direta entre o estado externo das coisas e
os condicionamentos internos subjetivos, tanto na vida pessoal do indivíduo
como no mundo em si. A tarefa do discípulo é investigar o mundo do
significado em busca de um entendimento das causas subjetivas que se
encontram por trás das aparências externas e, deste modo, ajudar a produzir
essa reorientação do pensamento da humanidade tão urgentemente
necessitada.
Muitos esoteristas sinceros parecem crer que, para ser espiritual, deve-se
dar as costas para o mundo, para os problemas, para a estupidez e, em geral,
para os horrores da vida na Terra. Entretanto, de onde virá a solução para
os problemas do mundo, para a cura, se não dos esoteristas preparados –
daqueles que cultivaram a capacidade da “visão dual”? São os que podem
contemplar o mundo, a humanidade, e ver tanto sua origem divina como a raiz
de seus fracassos na miragem, ilusão e maya dos três mundos inferiores. O
desenvolvimento da visão esotérica permite ao discípulo observar o
significado e a importância por trás da aparente realidade externa e, desse
modo sinalizar o caminho para a solução dos problemas do mundo, muito dos
quais foram criados pela própria humanidade.
Sabemos que o conhecimento esotérico não está orientado para dirigir a
vida espiritual de ninguém mais e mais para o interior, já que isso conduz
a uma introversão espiritual que é o caminho do místico. O Tibetano disse
que “busca-se exatamente o oposto; tudo quanto o discípulo é
essencialmente nos planos interiores tem que tornar-se objetivo; deste modo
sua vivacidade espiritual se torna um assunto cotidiano”. Mediante o
cultivo da visão dual fomenta-se o sentido da síntese, e isto é o que se
encontra tão necessitado de desenvolvimento em todas as verdadeiras escolas
esotéricas atuais. Aqueles que se preparam em tais escolas podem transmitir
a realização da síntese de vida na Terra a uma humanidade necessitada,
esforçada e descrente. Especialmente num tempo de transição como este, de
uma era antiga para uma moderna, e de um ciclo de raio de 2000 anos para
outro, muitas coisas estão sendo questionadas. As velhas bases, estruturas e
métodos já não são aceitos sem serem questionados, mas o que os
substituirão ainda não está à vista. A síntese interna que mantém o
Plano para nosso mundo na tensão da Vontade para o Bem deve ser revelada por
aqueles que realizaram, eles mesmos, esse reconhecimento intuitivo.
Uma das 14 Regras para Discípulos e Iniciados dada em Os Raios e as
Iniciações é “O Todo macrocósmico é tudo quanto existe. Que o grupo
perceba esse Todo e depois não mais pense em: minha alma e tua alma”. Este
sentido de totalidade, de síntese da vida – de sua completa integridade e
perfeição na qual nenhuma parte, por pequena que seja, fica fora da esfera
da divindade – é a visão ocultista, não a mística. Esta demanda,
diz-se, será o requerimento básico das novas escolas de ocultismo. O
místico deseja a união com “o outro” – com algo fora e mais além de
si mesmo. Todos nós percorremos esse caminho. O ocultista, entretanto, sabe
que o que busca está esperando ser descoberto no seu interior, porque a Vida
divina permeia todo o mundo manifestado e “tudo quanto é, está sempre
presente”. A meditação, o estudo das antigas e eternas verdades que foram
transmitidas desde tempos imemoráveis e o serviço, constituem o caminho
tríplice, um caminho como o do fio de Ariadne, que é tecido com a
substância transfigurada de si mesma, conhecida como o antakarana.
Krishnamurti, em sua famosa renúncia à Teosofia em 1925, disse: “a
verdade é uma terra sem caminhos” e declarou que nenhum instrutor, escola
ou texto podia conduzir àquele lugar. Bem, não estou de acordo, mas talvez
Krishnamurti somente estava, pela sua audácia e intrépida maneira, tentando
expressar um fato central da vida oculta, que se experimenta como um caminho
pelo qual se anda, mas que gradualmente descobre-se como um caminho forjado
desde o interior de si mesmo, da sua própria substância, de forma similar
ao realizado por Ariadne. Todas as verdadeiras escolas esotéricas, incluída
a Escola Arcana, buscam dar ao discípulo em preparação as chaves para
abrir a porta de sua própria libertação. A necessidade do guru pertence ao
passado, porque os discípulos atuais têm a educação, a preparação e os
recursos grupais para planificar o avanço de seu próprio caminho.
Tampouco nunca deveríamos subestimar o poder invocativo da vida grupal no
desenvolvimento espiritual. A crescente polarização mental dos discípulos
de hoje é a que torna possível a vida do grupo. Sem capacidade para
atravessar com o pensamento até a realidade – livre ou esforçando-se para
ficar livre das miragens e ilusões que o condicionam – o discípulo é um
prisioneiro do reino astral com suas variáveis marés e sinais. Ter idéias
claras é um critério necessário para o discípulo, mas finalmente isto,
também, deve ser separado no esforço por fundir-se com a mente do grupo –
pensar como e com o grupo. “O poder do pensamento unificado”, nos é
dito, “embora pouco compreendido, e o poder inerente na luz de muitas
mentes, tornando-as instrumentos efetivos nos assuntos do mundo, penetrando e
dissipando a miragem mundial... será parte dos novos métodos de trabalho na
nova era”. Quê poderia constituir um farol mais poderoso para o mundo do
que a luz gerada pelos discípulos do mundo mediante a transformação de
suas vidas?