. Ela
disse que eu ia me machucar, que eu tinha que olhar a minha posição e a
dele por fim me pediu para sair do apartamento. Não sei se Vânia era a fim
dele. Fiquei muito chateada contei tudo para o Alex e ele me pediu em
casamento. Mas também pediu que eu saísse da empresa porque o pessoal não
iria entender. Realmente quando começamos a namorar muita gente insinuou
que eu estava atrás do sucesso e do dinheiro dele. Tanto não estava que
não aceitei me casar de cara. Queria primeiro experimentar um
relacionamento sem papel. Alex montou um apartamento e fomos morar juntos.
Sai da vigor e fiquei um ano inteiro acompanhando-o em viagens de
trabalho. Ele era muito bem relacionado abriu contas para mim nos bancos
mais importantes de São Paulo. Deu-me um carro. Colocou-me numa escola de
boas maneiras. Quando tive minha própria casa achei que era hora de
retornar o contato com minha família. Escrevi contando o que havia
acontecido. Pedi perdão. Falei: Papai aqui é tão diferente da nossa
cidade. Aqui as pessoas vivem e comem nas ruas, deitam em sacos de lixo,
os outros passam por cima e não tem coragem de estender a mão e perguntar
o que elas são sentindo. No final revelei que eu havia passado por isso.
Meu pai guardou essa carta até morrer. Quando nos encontramos ele chorou
tanto! Logo fiz um crediário na vasp e comprei uma passagem para minha
cidade. Comprei um vestido novo. Queria voltar por cima como sempre
sonhei. No aeroporto estavam, além da minha família, todas as minha
amigas. Realizei-me! Um ano depois Eu e Alex nos casamos numa
cerimônia civil, em casa. A Vânia veio. Mas tarde a convidei para ser
Madrinha da minha filha, mas ela estava morando em Pernambuco. Uma vez ela
me disse que acreditava que devia ter uma divida comigo numa vida passada.
Pois não havia motivo para seu carro ter quebrado naquela praça. Há mais
de dez anos perdemos contato. Mas onde ela estiver, sabe que tem alguém
que a admira muito. |
|
Depois de casada. Alex queria
que eu fizesse faculdade. Eu disse: já tenho a faculdade da rua. E quero
colocar tudo o que aprendi em prática, na vida de outras pessoas.Comecei a
visitar favelas, entrava nos barracos e conversava com as pessoas. Com
ajuda de voluntários distribuía cestas básicas, levava informações sobre
saúde. E depois de alguns anos, criamos cursos
profissionalizantes nas favelas. Alex
foi contra esse trabalho. Passamos uma temporada em Belo Horizonte – Ele
saiu da Vigor e foi trabalhar na Mannesmann uma empresa alemã. Lá
continuei indo as favelas. Nosso casamento chegou a entrar em declínio Por
ele não aceitar o que faço. Mas eu precisava aproveitar minha posição para
mudar a miséria do país. Usei o nome do meu marido para isso: me
apresentava como mulher dele para ter acesso as pessoas influentes.
Encontrei muita gente querendo ajudar, sem saber como. Atualmente existe
um comércio em cima dos moradores de rua. Há muitas religiões que acham
que dando o pão vão conquistar um espaço no céu. Passam pelas ruas dando
comida, roupa, cobertor. Acho que não é por ai. O que é mais importante?
Alguém dar um prato de comida todo dia ou te tirar daquela vida miserável?
Nós temos a oportunidade não só de dá o pão, mas de dizer: não sabe fazer
nada? Então eu vou te ensinar e você vai cuidar da sua vida. Vivi quase
dois anos na rua até que alguém me estendeu a mão. E isso era o que mais
queria, que alguém me tocasse se nojo. Eu não quero levar nem um dia para
estender uma mão a alguém. Hoje eu tenho uma casa, posso vestir a roupa
que quiser, posso usar perfume francês e calçar sapatos de marca. Mas
essas coisas não me fascinam. O que mais me fascina e a vida em si. Os
bens são importantes, mas até que ponto nos faz viver?
1
2
3 |
|
Eu cheguei a não
ter nada. Vida para mim é solidariedade. Para oferecer a ajuda que eu não
tive. Criei uma instituição que ensina uma profissão. Pretendo montar
nossa sede no Castelinho. Esse castelo sempre me encantou. Quando eu
morava nas ruas ele á era abandonado, e na frente havia uma parreira cheia
de cachos, foi lá que coloquei uma uva na boca ela primeira vez. Pedi para
o segurança me deixar entrar, ele me enxotou. Passei escondida pelas
folhagens, entrei e chupei uva a noite toda. Naquela noite tinha um luar
bonito. Pensei esse castelo deve ser de alguém, mas um dia vai ser meu.
Logo que casei a primeira coisa que queria era esse castelo. Alex disse
que eu era louca de querer um prédio abandonado. Lutei por ele na justiça
durante 17 anos e este ano consegui. Quero transformá-lo no Castelo da
Criança com salas de aula de jogos, uma mini - cozinha experimental. Quero
montar sala da vovó, onde as crianças vão ouvir histórias. Vou buscar
vovós que estejam jogadas nos asilos e trazer para alegrá-las. Por
enquanto temos uma casinha que abriga homens de rua. Eles recebem
alimento, ajudam a restaurar o prédio.As camas são velhas as cobertas
usadas. Muitos móveis foram pegos no lixo. Mas se você perguntar a
qualquer um deles a diferença entre dormir num beliche velho e na calçada
ele vão dizer aqui é meu palácio. A burocracia para restaurar o local é
grande. Os técnicos da prefeitura dizem que o espaço não é adequado. E
debaixo da ponte é? Riqueza e pobreza sempre vão existir. Mas. Miséria?! É
uma falta de compromisso dos governantes do país , do mundo, mas acima de
tudo, é um problema moral nosso.
|