>>>> quatro gaúchos
e 10.000 destinos
Engenheiros do Hawaii
>>>>Os
gaúchos do Engenheiros do Hawaii chegam às lojas de todo Brasil com um novo
trabalho, gravado ao vivo, onde traçam uma retrospectiva dos 15 anos de carreira
da banda. Na última semana, o líder do grupo, Humberto Gessinger, deu uma entrevista
para a Saraiva.com.br e falou sobre o lançamento de "10.000
Destinos". "Talvez esse disco deva ser mandado para Marte, caso algum marciano
queira saber quem são os Engenheiros do Hawaii", brincou ele.
Saraiva
- "10.000 Destinos" é o terceiro disco do Engenheiros
do Hawaii gravado ao vivo. Qual a importância de uma experiência como esta para
a banda?
EngHaw - Dos dez mil destinos possíveis
de uma canção, no show se escolhe um... quase nunca o mais perfeito tecnicamente,
mas que sempre apresenta a força e a emoção da vida real, sem retoques. Correr
esse risco é maravilhoso. A participação dos fãs e a certeza de que aqueles
momentos não vão se repetir são o grande barato das gravações ao vivo.
Saraiva
- Como foi feita a seleção das músicas que entrariam no show?
EngHaw - "10.000 Destinos" viaja nesses
últimos 15 anos da banda. Há músicas de todos os discos do Engenheiros do Hawaii.
Só não regravamos nada do "!Tchau Radar!" (1999) por ser um disco muito recente.
Nós acabamos nos atendo àquelas músicas mais antigas e conhecidas.
Saraiva
- O que foi mais difícil na gravação de "10.000 Destinos"?
EngHaw - A escolha do repertório foi a parte
mais difícil pelo excesso de material. No fim, voltamos ao princípio e escolhemos
as que estávamos com mais vontade de tocar. Mudamos alguns arranjos...acho que
nunca se acaba de compor uma canção. Depois que ela é executada, já não pertence
mais só ao compositor. Revisitá-las é bom por isso: para mapear os caminhos
percorridos.
Saraiva
- Além das músicas ao vivo, há alguma gravada em estúdio?
EngHaw - Além das 15 músicas gravadas ao
vivo, gravamos quatro inéditas em estúdio: "Números" e "Novos Horizontes" (composições
minhas), "Quando o Carnaval Chegar" (um clássico de Chico Buarque) e "Rádio
Pirata" (RPM). "10.000 Destinos" é o 12º disco dos Engenheiros do Hawaii, terceiro
gravado ao vivo. Com ele mantivemos o ritmo de, a cada três discos de estúdio,
gravar um ao vivo.
Saraiva
- O cd traz algum convidado?
EngHaw - Há dois convidados muito especiais:
Borghettinho, grande gaiteiro dos pampas que participou no set acústico tocando
"Toda Forma de Poder" e "Refrão de Bolero". Paulo Ricardo dividiu os vocais
de "Rádio Pirata" comigo.
Saraiva
- O que levou vocês a regravarem a música "Radio Pirata" do RPM?
EngHaw - "Rádio Pirata" foi sugerida por
Gil Lopes, um dos produtores do disco. Me pareceu uma idéia tão boa e óbvia...daquelas
que a gente fica indignado por não ter tido antes. Foi participando de projetos
de tributo a Renato Russo e Cazuza que essa vontade tomou força. Fizemos uma
versão mais pesada, substituindo os teclados por guitarras. O megassucesso atingido
pelo RPM assustou um pouco todas as bandas dos anos 80. Acho que isto fez com
que o talento do Paulo para escrever grandes canções - descomplicadas como as
da Rita Lee, passasse um pouco desapercebido. Reler RPM, dá o que pensar: à
luz desses últimos anos de monocultura mais rasteira, parece inacreditável que
este tenha sido o mainstream no Brasil...hoje soa quase punk .
Saraiva
- Como foi regravar um dos clássicos de Chico Buarque?
EngHaw - Gravei "Quando o Carnaval Chegar"
no fim de uma sessão de ensaios. Era mais um exercício, a princípio não entraria
no disco. Depois de pronta, não resistimos...ficou uma mistura de "Dear Prudence",
do Beatles, e MPB.
Saraiva
- Como é tomada a decisão sobre regravar músicas de outros compositores?
EngHaw - Somos uma banda autoral, em 12
discos só fizemos sete regravações, mas nunca de alguém da minha geração.
Saraiva
- Suas músicas sempre têm uma mensagem. Qual a mensagem de "Números"
e "Novos Horizontes"?
EngHaw - "Números" fala da mania característica
dos nossos tempos de medir e comparar coisas que deveriam ser percebidas na
sua singularidade. O refrão (...a medida de amar é amar sem medida...) vem de
Santo Agostinho. "Novos Horizontes" é sobre a necessidade de mergulhar no escuro
(...quem constrói a ponte não conhece o lado de lá...), afinal, há mais de mil
destinos em cada esquina.
Saraiva
- Além das músicas gravadas ao vivo em São Paulo, como foi finalizado
o trabalho de estúdio e mixagem?
EngHaw - No espaço, 10.000 Destinos passeia
por algumas capitais do Mercosul: a banda é porto-alegrense... o show, ao vivo,
gravado em São Paulo (no Palace)... as músicas inéditas foram gravadas em estúdio
no Rio de Janeiro... e, finalmente, tudo foi mixado em Buenos Aires.
Saraiva
- Muitas bandas têm lançado CDs ao vivo. Você acha que isto pode se tornar
cada vez mais intenso?
EngHaw - Falam de um suposto modismo, como
se gravar ao vivo fosse um estilo de música - rock, pagode, axé, disco ao vivo...
bobagem. Se for modismo, que seja... pelo menos desta vez a moda está a nosso
favor. Desde 1985 na estrada, show sempre foi o que fizemos de melhor. Talvez
10.000 Destinos seja o disco que se deva mandar para Marte, caso algum marciano
queira saber quem são os Engenheiros do Hawaii.