O
elogio da autonomia, o aprender a viver em grupo, o respeitar a democracia. A
Escola da Vila das Aves é diferente. A pedagogia é diferente. Porque não são
só os conhecimentos que importam.
A
Carla tem nove anos, está na Quarta Vez e faz as honras da casa na Escola Primária
da Ponte, em Vila das Aves, porque já fechou a sua Quinzena. Estes são termos
que não associamos normalmente ao ensino primário de Portugal, mas que são já
banais há vinte anos para as crianças que frequentam a inovadora Escola da
Ponte.
Nesta
escola primária da Vilas das Aves, os alunos não têm testes, a não ser no
final do ciclo (o que no sistema tradicional corresponde ao Quarto ano), não têm
turmas e também não têm uma professora que seja só deles. Estes meninos também
não têm livros deles e por isso só carregam na mochila os cadernos de casa.
Todo o restante material é comum.
Os
alunos são convidados a desenvolver a sua autonomia no estudo e, a partir dos
objectivos determinados pelos professores, deslocam-se diariamente às fichas
onde sabem estar os exercícios que devem fazer e comparam-nos depois com a
auto-correcção. "Hoje o meu objectivo de Matemática era o número 70.
Vim aqui ao cartaz e vi que era distinguir o círculo da conferência",
explica Carla.
Na
Escola da Ponte a primazia é também dada ao grupo. Sentam-se todos numa mesa:
meninos da 2ª, 3ª e 4ª vez. Se alguém tem alguma dúvida, perguntam primeiro
ao grupo. Se aí ninguém souber responder, perguntam então a um professor.
As
regras da aprendizagem são muitas na escola das Vila das Aves. De acordo com a
matéria que estejam a aprender, os alunos fazem o "jogo das
perguntas". Na ordem do dia da visita do EDUCARE.PT estava o Corpo Humano e
várias questões estavam escritas no cartaz afixado na parede. Desde cedo,
estas crianças são incentivadas a fazer pesquisa. Dado o tema, procuram a
informação que necessitam nos livros que têm disponíveis e também na
Internet, uma ferramenta que utilizam no dia-a-dia.
Mas
esta pedagogia dos conhecimentos é para o sistema da Escola das Ponte tão
importante como a aprendizagem das regras de Cidadania: respeitar os outros,
manter o local de trabalho limpo e asseado, cuidar do ambiente, velar pelo bom
funcionamento do recreio. Até o mapa das presenças é da responsabilidade das
crianças e, por exemplo, as bolinhas amarelas que indicam o atraso são
pintadas pelos atrasados...
A
partilha entre todos não é apenas das tarefas ou das decisões relativamente
ao funcionamento da escola, que tomam todos na Assembleia. Também os momentos
de festa são para viver em conjunto. Por isso, todos os meses há alguém que
é responsável pelos aniversários e que pergunta ao aniversariante se trouxe
bolo. Uma resposta negativa não fica sem festa e o responsável pede às
funcionárias que faça o bolo de anos. Para uma comemoração digna.
Durante
muito tempo, a escola da Ponte foi "ignorada" pelas autoridades. Hoje,
por estas razões atrás descritas, mais do que ser considerada inovadora pelo
Ministério da Educação, é apontada como uma "referência" para um
novo sistema de ensino que privilegie a Cidadania.